quinta-feira, 31 de maio de 2012

Esperanto – Língua Internacional? por (*) Pedro Jacintho Cavalheiro





Com o Projeto de Lei (PL 6162/09) do Senador Cristovam Buarque, ex-reitor da UNB, que propõe a criação de um artigo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) que introduz do ensino da língua internacional Esperanto no Ensino Médio como matéria opcional, muitas perguntas, velhas e novas, sobre essa língua vem sendo feitas.

Reuni, então, algumas perguntas importantes para que você saiba exatamente o que o Esperanto é e o que ele não é. Sem mitos e sem bobagens. Esse questionário deixará você bem informado sobre esse assunto, que está na pauta do Congresso Nacional.

  • Esperanto não é uma língua morta?

Não. Ao contrário: Esperanto é uma língua moderna e jovem. Tem apenas 124 anos, o que para uma língua é uma criança. Esperanto é uma língua viva, com vocabulário para toda e qualquer situação contemporânea, com dicionários técnicos sobre aviação, computação etc.

Uma língua é considerada morta quando deixa de ser usada por um agrupamento humano, estaciona no tempo e não acompanha mais a evolução social e tecnológica. O Latim, por exemplo, embora usado em nomenclaturas biológicas, no Direito e em algumas situações pontuais e específicas, é uma língua morta. Por que? Sabe como se diria em Latim a frase “O ascensorista colocou a mão no bolso da calça e tirou o maço de cigarros”? Não é possível dizer! Porque na Roma Antiga não existiam elevadores e, portanto, não existiam ascensoristas; não existiam maços de cigarros, não existiam bolsos e nem calças. Assim, por ter deixado de ser usado por um agrupamento humano, por ter parado no tempo e não acompanhado a evolução do mundo, o Latim tornou-se uma língua morta. Apenas para dar mais um exemplo, o mesmo aconteceu com o Sânscrito védico e depois com o Sânscrito clássico, que embora existam em livros da tradição védica, não são usados como língua do dia a dia por nenhum agrupamento humano e, por isso, deixaram de acompanhar a evolução social e tecnológica da humanidade. Para que se tenha uma ideia da localização do Sânscrito no tempo, as primeiras formas dessa língua, que pode ter levado séculos se desenvolvendo, aparece por volta de 1200 a.C. e por volta do século V a.C., a gramática do Sânscrito clássico foi fixada por Panini. Hoje apesar de ser uma das 23 línguas oficiais da Índia, é utilizada apenas em liturgias e não na vida cotidiana. Tanto o Sânscrito quanto o Latim influenciaram várias línguas modernas, mas são línguas ditas tecnicamente mortas.

O Esperanto, com apenas 124 anos, é uma língua moderna, viva e pujante.

  • Esperanto não é um projeto que não deu certo?

Não. Nada disso. Esperanto não é um projeto e já faz tempo que deu certo. O Esperanto é uma língua em plena atividade. Seus falantes contam com uma organização mundial bem sólida. A Associação Universal de Esperanto, com sede na Holanda, possui mais 1900 Delegados em 90 países. Existe uma Academia Internacional de Letras Esperantista e associações mundiais de muitas atividades humanas profissionais ou não. A Academia de Ciência de San Marino, confere título de Mestre ou Doutor a quem apresenta lá seu trabalho de mestrado ou doutorado em Esperanto. Na Hungria o Esperanto já é matéria opcional nos vestibulares, desde o ano 2000, e é uma das quatro opções para língua não-nacional mais escolhidas pelos vestibulandos. Na China o Esperanto já é ensinado em várias escolas como língua opcional e algumas universidades do país existem cursos de pós-graduação em Esperanto e esperantologia. O site oficial do governo Chinês oferece versão em Esperanto. Por falar nisso existem sites não esperantistas que já utilizam o Esperanto como ferramenta de comunicação, como o do jornal francês “Le Monde Diplomatic”, a rede social “Face Book”, o buscador “Google” etc. O sistema operacional Linux também tem versão em Esperanto, o OpenOffice tem corretor ortográfico em Esperanto. Eu uso o navegador Mozilla Firefox em Esperanto. Aí você poderia pensar “Ah, o Linux e o Mozilla não valem porque suas versões são feitas por internautas pelo mundo afora”. Pois é: existem esperantistas no mundo em número suficiente para formar grupos e produzir muita coisa na língua, apesar de ser uma língua com pouco mais de um século de vida e de não pertencer a um país. A Wikipedia em Esperanto possui hoje mais de 144.000 artigos nessa língua, traduzidos ou escritos por esperantistas. Pense nisso.

Poderia oferecer muitos outros dados, mas já deu pra perceber que o Esperanto deu certo.

  • Mas não é absurdo uma língua universal para substituir as línguas nacionais?

Claro! Seria uma ideia não só absurda, mas também nefasta! O Esperanto nunca se propôs a ser “universal”. Esse adjetivo NUNCA foi utilizado pelo iniciador do Esperanto, pelo movimento esperantista organizado ou pela literatura esperantista. O Esperanto surgiu exatamente para evitar que línguas nacionais fossem descaracterizadas ou desaparecessem completamente pela imposição de línguas nacionais de nações  economicamente fortes. Fenômeno recorrente no mundo. Esse é o absurdo: línguas nacionais que são impostas por razões mercantilistas e de poder sobre nações mais pobres. A ambição humana tem estado historicamente acima da preservação do patrimônio linguístico e cultural da humanidade e da democracia linguística nas relações internacionais. O Esperanto surgiu exatamente para defender esses princípios, além de ser uma língua foneticamente possível de ser falada por todas as gentes e muito mais fácil que qualquer língua nacional. A ideia de universalização da língua vai contra os princípios esperantistas.

O Esperanto nasceu com outro nome. Chamava-se simplesmente “Língua Internacional”. Não “universal”. E quando surgiu se apresentava com o seguinte mote: “Para cada povo seu idioma, para todos os povos o Esperanto”. O Esperanto sempre se colocou como a melhor alternativa de língua neutra internacional para as relações internacionais e não como substituto das línguas étnicas.

  • Mas, eu já vi uma propaganda de curso de Esperanto chamando-o de “Língua Universal”...

Eu também já vi muita bobagem nessa vida. Acredite. Mas isso é fruto de ignorância. Um esperantista bem formado, com nível cultural mais elevado, sabe que a palavra “universal” é perigosa e incorreta para classificar o Esperanto, porque transmite a ideia de algo que existe parar substituir coisas que lhe são semelhantes, como “pino universal”, por exemplo. Embora existam outros significados para essa palavra, como no platonismo e no aristotelismo, seu significado geral é de algo global, mundial, que abrange tudo. Podemos pretender que o Esperanto tenha divulgação e utilização universal, no sentido de ser utilizado em todos os lugares do mundo, mas sempre e apenas como língua-ponte entre as gentes. O Esperanto em si não é universal. É Internacional. Caso você veja algum anúncio de curso de Esperanto adjetivando essa língua como “Universal”, melhor escolher outro curso.

  • Esperanto não é uma língua espírita?

Não. O Esperanto é uma língua neutra em todos os aspectos, inclusive o religioso. Em matéria de religião, é tão neutra quanto o Português, o Inglês, o Espanhol etc. O Esperanto é neutro também em matéria de etnia,  nação ou qualquer conceito nacionalista. Por isso carrega valores humanistas e devido a esses valores é apoiado por muitas religiões e por instituições como a UNESCO. Existem no mundo organizações de esperantistas de várias religiões, como católicos, evangélicos, quakers, bahaístas, oomotanos, budistas etc. O Papa, por exemplo, transmite a mensagem “Urbi et Orbi” em Esperanto. E não é o primeiro Papa a fazer isso. A rádio do Vaticano transmite programas em Esperanto três vezes por semana e quando faleceu o Papa João Paulo I, que era esperantista, transmitiu missa em Esperanto em sua intenção e homenagem. Esperanto é um instrumento de comunicação, assim como uma caneta é um instrumento de escrita, ou uma cadeira um móvel para nosso conforto. Todos podem ser usados por espíritas, católicos, evangélicos etc, mas isso não torna o Esperanto a caneta ou a cadeira espirita, nem catolica. Já a UNESCO emitiu duas Resoluções Oficiais favoráveis ao Esperanto, onde recomenda aos Estados-membro que divulguem e ensinem a língua, especialmente em suas universidades.

  • E por que, então, tem gente que pensa assim?

No Brasil o Esperanto vem sendo apoiado pelo Espiritismo há muitos anos e por isso pessoas mal informadas ou mal intencionadas, dizem por aí que Esperanto é língua espírita. Quem não sabe o que é o Esperanto tende a acreditar porque parece verdade: os nomes Esperanto e Espiritismo são meio parecidos, ambos começam com “esp”, um leigo que vê um livro de Esperanto publicado pela Federação Espírita Brasileira ou um livro espírita falando do Esperanto, pode rotular o Esperanto como coisa de espírita, fechar questão e sair repetindo a bobagem por aí. Isso funciona como uma boa antipropaganda porque uma escola de línguas, por exemplo, não se interessa em oferecer cursos de algo que acredita ser assunto religioso. Além disso profitentes de religiões refratárias ao Espiritismo, nem param pra saber o que é Esperanto se acreditarem ser coisa de espírita. Divulgar essa informação falsa tem sido uma forma ardilosa de frear o crescimento do Esperanto no Brasil.

  • Esperanto não é uma língua artificial?

Depende do que considerarmos “artificial”. O Esperanto deu certo justamente por não ser artificial como centenas de tentativas de “Língua Neutra”, que vieram antes dele e não funcionaram. Muita gente boa tentou uma solução neutra para a comunicação internacional, como os filósofos Descartes, Montesquieu e Voltaire, por exemplo. Mas, todos falharam porque língua não se “inventa”. A grande diferença do Esperanto é que suas palavras não foram “inventadas”, mas vieram das línguas-tronco das línguas modernas. Ou seja, das línguas que deram origem às línguas modernas. Tudo passando por uma pesquisa profunda dos radicais de palavras que já eram internacionais por si mesmos. É por isso que é comum reconhecermos palavras quando ouvimos um texto em Esperanto, mesmo sem nunca termos aprendido a língua. E o mais fantástico: isso acontece com gente do mundo todo. Até os falantes de línguas orientais sentem facilidade com o Esperanto porque a lógica da língua contempla o raciocínio oriental.

Então, resumindo pra responder: o Esperanto é artificial no seu arranjo mas não na origem de suas palavras ou na estrutura de sua gramática, que aproveitou o que de melhor o ser humano desenvolveu no campo gramatical. Convivemos no dia a dia com muitas coisas igualmente artificiais no seu arranjo, mas não em sua origem, como a casa em que moramos, bem diferente da natural caverna, como as verduras que comemos, produzidas pelo domínio do homem sobre a natureza, caso também do seu cãozinho doméstico, já que a natureza só produziu lobos. O Esperanto é tão natural e tão artificial quanto essas coisas.

  • Mas uma língua arranjada dessa forma pode funcionar?

Se qualquer outro projeto “a posteriori” (nome técnico de línguas cujas palavras vêm das línguas ditas “naturais”, em contraposição a línguas “a priori”, aquelas inventadas mesmo), poderia funcionar é difícil dizer. Mas o Esperanto é um fenômeno reconhecido por organizações como a União Internacional de Telecomunicações, ou melhor, por todas as organizações internacionais e seu iniciador, o médico e linguísta polonês Lázaro Luiz Zamenhof, considerado pela UNESCO como um gênio da humanidade. Talvez por isso o Esperanto seja um caso à parte.

O Esperanto funcionou de forma tão surpreendente, que em algumas universidades de alguns países existem estudos sobre esperantologia. Porque o Esperanto é realmente um fenômeno sóciolinguístico. Existem, por exemplo, pessoas que aprenderam o Esperanto desde o berço, dentro de casa, e nada faltou nele para que crescessem e se desenvolvessem como fariam falando qualquer outra língua.

  • Tem alguém que fala essa língua?

Há quem diga que o Esperanto é uma língua falada apenas por algumas pessoas excêntricas. Mais um equívoco de quem forma opinião sobre coisas sem pesquisá-las com seriedade. Talvez você não conheça ninguém que fale Esperanto porque as pessoas que falam a língua não andam pela rua com uma placa pendurada no pescoço dizendo “Eu falo Esperanto”. Ou porque, de fato, a quantidade de pessoas que fala a língua não seja tão grande assim. O Esperanto não tem tantos falantes quanto o Português, o Inglês, o Espanhol, mas já tem uma enorme capilaridade. Para esclarecer a diferença entre quantidade e capilaridade, tomemos o exemplo do Inglês e do Chinês (Mandarim). Qual das duas é mais falada? Em quantidade é o Chinês, sem dúvida, mas em capilaridade é o inglês, porque está em mais lugares do mundo. O Esperanto já tem hoje mais capilaridade que o inglês.

  • Mas eu não conheço ninguém...

Vejamos alguns números: a ONU registra que o planeta tem 191 países, mas o Banco Mundial jura que são 229. A FIFA tem 209 países associados e a empresa de cartões de crédito VISA recebe mensalmente faturas de 249 países. Em levantamento feito até 11 de dezembro de 2010, existem pessoas que falam Esperanto em 242 países do mundo. Isso é capilaridade. O Esperanto está em todos os cantos do planeta e  em muitos países existem clubes, associações, agremiações esperantistas. Existe uma rede mundial organizada de esperantistas que hospedam esperantistas, de forma que é comum viajar pelo mundo hospedando-se em casas de esperantistas. E mesmo quando o esperantista prefere ficar em hotéis, é recebido por esperantistas que lhes dão suporte nos países visitados.

Então, se você falar Esperanto vai conhecer muita gente que também fala. E do mundo todo.

  • Mas, se o Esperanto ainda é usado por pouca gente no mundo, embora com boa capilaridade, por que é chamado de “Língua Internacional”?

Porque no caso do Esperanto “Língua Internacional” é um adjetivo, um qualificativo e não um advérbio. Ou seja, o Esperanto é internacional independentemente de estar ou não internacional, porque nasceu internacional. O Esperanto tem raízes em todas as línguas do mundo, foi buscar na origem delas as suas palavras e sua gramática. Quando se ouve pela primeira vez alguém falando Esperanto, é possível identificar  algumas palavras e sentir uma certa familiaridade com a língua. Se a pessoa sabe Inglês, reconhece palavras que se assemelham ao Inglês, se sabe Francês, Grego, Italiano etc., acontece a mesma coisa. Se é oriental, encontra uma gramática mais próxima da lógica de sua língua. Ou seja, o Esperanto é internacional em si mesmo. Aliás, quando surgiu, o nome da língua não era Esperanto, mas apenas “Língua Internacional”. Doutor Esperanto era o pseudônimo de Zamenhof, que era médico, e depois de algum tempo os esperantistas resolveram homenageá-lo dando à “Língua Internacional” o nome de Esperanto. Não é interessante? O Esperanto é tão natural na origem de suas palavras que até o nome da língua aconteceu em um processo cultural e histórico natural. E nesse mesmo processo a língua já cresceu e se desenvolveu muito desde que surgiu.

  • Existe literatura em Esperanto?

Sim. E vasta! Existem livros tanto originalmente escritos em Esperanto quanto traduzidos para a língua, sobre todas as áreas do pensamento humano. A biblioteca Hector Hodler, da Associação Universal de Esperanto possuí algo em torno de 20.000 títulos de livros, além de jornais, periódicos, músicas etc. Você pode ler de Lusíadas de Camões aos quadrinhos do Asterix em Esperanto. Você pode ler livros de culinária  internacional a Goethe, ou se quiser Shakespeare, Molière, ou Karl Marx e Adam Smith. Livros infantis e adultos. Aliás, o Ministério da Educação Brasileiro mantém em seu portal na Internet a página “Domínio Público” onde disponibiliza livros para baixar, cujos direitos autorais já expiraram. Se você selecionar no menu a língua Esperanto, vai encontrar 220 títulos à disposição para baixar gratuitamente. No Brasil, várias instituições esperantistas vendem livros em Esperanto, como a Liga Brasileira de Esperanto, a Cooperativa Cultural dos Esperantistas e muitas outras.

  • Então o Esperanto não é língua de uma “tribo” social fechada?

O Esperanto nasceu e cresce por motivos diversos dos que regem o mercado. Nada contra o mercado. Tenho convicção que o Esperanto começará em breve a ter espaço nele. Se um exportador e importador brasileiro quiser hoje fazer negócios com a China em Esperanto, a iniciativa será recebida com simpatia pelos chineses. E isso vale para outros povos. Mas, o Esperanto surgiu pela necessidade de uma língua neutra para comunicação democrática entre os povos, ou seja, uma língua que não ferisse brios nacionalistas, que não colocasse os nativos de determinada língua em vantagem sobre os nativos de todas outras línguas, que ao contrário de línguas nacionais travestidas de internacionais, não praticasse a dilapidação do patrimônio cultural dos povos pela contaminação cultural forçada pelos interesses econômicos. Uma língua tecnicamente possível de ser falada por todos os povos do planeta, que não esbarrasse em barreiras fonéticas intransponíveis. O Esperanto surgiu pela preocupação única e desinteressada de atender à necessidade de comunicação fácil, quente, cara a cara, entre os povos, de forma a intensificar o intercâmbio cultural multilateral e não unilateral e de forma a facilitar o intercâmbio científico em prol da humanidade. O Esperanto nasceu neutro e com direitos autorais cedidos em cartório como domínio público. Portanto, nasceu na contra-mão da exploração do ensino de línguas como meio de produzir riqueza para determinados países. Isso sim é favorecer a uma tribo.

  • Então, por que não se encontra livros em Esperanto em livrarias comuns e não vê anúncios na TV de cursos de Esperanto?

O processo histórico do Esperanto fez com que ele crescesse sem o apoio de nenhuma super potência, de uma empresa ou de qualquer poder econômico e fez ainda com que fosse até perseguido por supostamente colocar em risco interesses diversos àqueles da humanidade como um todo. Por isso, esperantistas foram mortos por Hitler nos mesmos campos de extermínio onde morreram judeus e outras minorias, por isso as ditaduras tanto de direita quanto de esquerda e os totalitaristas o perseguiram também. O Esperanto precisou renascer depois da segunda guerra mundial e vem se desenvolvendo à medida que os países vão se democratizando. A Internet é também um grande marco no desenvolvimento do Esperanto.

Por isso, em uma história ainda tão curta e tão conturbada, lutando pelo direito à democracia linguística, pela igualdade entre os homens nas relações internacionais, por valores humanistas e pela proteção da diversidade cultural, contra interesses econômicos e de dominação históricos, é natural que ainda não tenha comprado espaços comerciais nas TVs e que venha conquistando pouco a pouco espaços nas grandes livrarias. Com a Internet, soluções como TVs na Internet, e livrarias virtuais, vieram atender às necessidades de divulgação do Esperanto. E para o futuro tem mais.

  • O mundo precisa de uma língua como o Esperanto?

Como você já deve ter percebido por tudo que foi escrito até aqui, sim. E precisa urgentemente. Tanto nas relações diplomáticas quanto nas relações interpessoais em escala mundial, o problema da língua-ponte não  está resolvido.

  • Mas, o Inglês já não é a língua internacional?

Vejamos dois aspectos: técnico e prático. No aspecto técnico a resposta é não. O Inglês é uma língua nacional travestida de internacional. É uma língua tecnicamente impossível de ser falada para muitas etnias, por isso 94% do planeta não fala Inglês. Uma língua nada fonética, com 12 sons para a letra “a”. Tente, por  exemplo, conversar com um japonês ou um grego em Inglês e você perceberá que a dificuldade é muito grande. E mencionei dois países onde o Inglês é bem difundido. Pense no caso brasileiro onde as crianças já nascem ouvindo músicas em Inglês, são bombardeadas pela língua inglesa por todos os lados, recebem aulas de inglês na escola regular desde muito cedo, em certos casos desde o ensino infantil, e quando saem do Ensino Médio, não sabem falar inglês. Por que? Porque é uma língua antípoda à língua portuguesa. É de origem anglo-saxônica enquanto o Português é de origem latina. É foneticamente difícil e sua gramática, embora relativamente fácil, é cheia de exceções e idiossincrasias.

Na prática o Inglês é uma língua comercialmente bastante usada no mundo capitalista ocidental. Mas não em todo o mundo. Falei da China que vem ensinando o Esperanto e vem também ensinando o Inglês. Mas, eles aprendem o Esperanto com mais facilidade, mais rapidamente e a língua é mais simpática por ser neutra. Então por que aprendem Inglês? Porque, embora tenha ordenamento político comunista, entraram no jogo capitalista para ganhar. E o jogo pede conhecimento do Inglês, já que Estados Unidos tem “mando” do jogo capitalista. Para a China, ganhar nesse jogo é questão de sobrevivência já que existe lá uma super população para alimentar. Mas isso não quer dizer que se a China obtiver o “mando” desse jogo continuará trabalhando com o Inglês. E nem conseguirá ensinar Mandarim para o mundo. Nem para todos os chineses  conseguiram ensinar. Então, o Esperanto seria uma opção digna. E eles já desenvolvem o ensino do Esperanto por lá.

Se o Inglês tivesse alcançado seu objetivo em ser a língua internacional a ONU não gastaria o equivalente a três vacinas contra poliomielite por palavra traduzida em suas assembléias. A foto abaixo ilustra o problema. Vemos a rainha da Inglaterra fazendo um pronunciamento na ONU e até mesmo os membros da mesa precisam de tradução simultânea.



  • Se eu aprender Esperanto vou conseguir um emprego melhor?

Por enquanto, não. Para tentar um emprego melhor no Brasil, você deve aprender Inglês ou Espanhol ou a língua que interessar à empresa onde você quer oportunidade. Se quiser trabalhar na Volkswagen, melhor aprender Alemão. Na Argentina está em alta fazer curso de Português. Quem domina o Português na Argentina está conseguindo melhores empregos devido ao bom momento econômico brasileiro. Também é importante dizer que apenas aprender uma língua estrangeira não garante a obtenção de um emprego melhor. É necessário estudar e cuidar do currículo. Esse negócio de mágica só existe em comercial feito pra vender cursos de línguas.
Com relação ao Esperanto, hoje, o que posso garantir é que você ampliará seu leque de contatos, em nível internacional e terá com ele uma ferramenta única de comunicação sem barreiras. E isso abra perspectivas.

  • Então, Esperanto pra quê?

Do ponto de vista pessoal, para seu crescimento cultural e humano. O conhecimento do Esperanto faz com que comecemos a pensar mundialmente de verdade e nos possibilita conhecer muito mais o mundo do que o conhecimento de qualquer língua nacional estrangeira. A questão não é só fazer amigos, mas a troca cultural que esses amigos acabam propiciando por estarem em todos os cantos do planeta. O Esperanto abre portas para que você conheça culturas e povos por dentro e não apenas da vitrine dos roteiros turísticos.

Se estendermos nosso olhar a partir do aspecto pessoal para o de nossa sociedade, veremos que o Esperanto é um tesouro a ser explorado.

Do ponto de vista da sociedade humana, o Esperanto promove a proteção à diversidade linguística e consequentemente à diversidade cultural, que é uma riqueza da humanidade a ser preservada. Já há algum tempo é uma preocupação dos países europeus a proteção de suas línguas locais. Na Alemanha, por exemplo, é proibida a exibição em cinemas de filmes falados em qualquer língua que não seja o Alemão. Todos os filmes tem que ser dublados. O problema da contaminação cultural invasiva é muito evidente na Europa, onde os países são pequenos e muito próximos. O Esperanto promove a democracia linguística nas relações internacionais, principalmente as diplomáticas por ser uma língua neutra de igual propriedade de todos os povos do mundo.

  • Esperanto é muito difícil?

Não. É muito fácil se comparado a qualquer outra língua. Por um lado possui uma gramática lógica e sem exceções, com apenas 16 regras fundamentais. Por outro lado, essa gramática lógica faz com que você aprenda mais vocabulário em menos tempo. Você aprende uma palavra e pode criar muitas outras, expressar muitas ideias a partir dela, devido ao conjunto de prefixos e sufixos que funcionam como um jogo de montar. Esses afixos são regulares também e por isso o “jogo” é automaticamente compreendido por quem fala Esperanto. A revista “News Week” de 11 de agosto de 2003, publicou matéria onde afirmou que o Esperanto é pelo menos 10 vezes mais fácil de aprender do que o Inglês. Mas, Esperanto é língua. Não dá pra aprender dormindo. Requer menos esforço, menos tempo, quanto mais línguas o aluno souber mais fácil fica de aprender. E se não souber língua estrangeira alguma, aprendendo Esperanto, aumentará sua facilidade para prendê-las. Mas requer alguma dedicação, claro.

  • E esse projeto do Senador Cristovam Buarque?

Existe um projeto de Lei do Senador Cristovam Buarque, um homem reconhecidamente envolvido com a educação, que propõe a introdução do Esperanto como matéria opcional no ensino médio. A aprovação desse projeto e a posterior e necessária adesão das escolas para o ensino do Esperanto, representaria um ganho enorme para nossos alunos, tanto no aprendizado de línguas, quanto no aprendizado humanista.

  • Mas, seria bom para o enisno?

Podemos afirmar, com base em pesquisas científicas como a publicada pelo Ministério da Instrução Pública da Itália, que aprendendo Esperanto você aprenderá Inglês ou qualquer outra língua com mais facilidade e mais rapidamente, porque o Esperanto é um facilitador comprovado para o aprendizado de línguas. O que incluí a própria língua nacional. Ou seja, aprender Esperanto ajuda no aprendizado do Português. Estudos demonstram também que o jovem que aprende Esperanto, melhora seu raciocínio lógico matemático e aumenta seu interesse por Geografia e História.

Além disso, o Esperanto é reconhecido pela UNESCO como um importante instrumento para o fomento de uma cultura de paz. O que é urgente nos dias atuais.

• No Culturoscópio você encontra o texto "Esperantono Ensino: uma Janela para o Mundo" com informações detalhadas sobre esse tema. Vale a pena ler. Clique aqui.

  • E tem professor em quantidade suficiente pra ensinar Esperanto?

 Clique aqui e leia nosso artigo "Os Elefantes Africanos Voam Melhor", que responde a essa questão.


(*) Pedro Jacintho Cavalheiro, é mestre em Arte, pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, especialista em autenticação de obras de arte (história da arte técnica). Designer de Produto, graduado e Designer Gráfico. Também graduado e licenciado em Arte, Desenho e História da Arte. Patrimônio Artístico é sua outra especialidade. Foi Jornalista e Repórter Fotográfico. Professor universitário em disciplinas relacionadas à arte e história da arte, tendo já incursionado pelas questões ambientais e lecionando em curso de pós-graduação em Gestão Ambiental. Doutorando em Metodologia Nuclear, sobre sua aplicação à autenticação de obras de arte (arqueometria). É dedicado à linguística e professor de Esperanto. Quando jovem cantou, atuou, e segundo ele próprio, arranhou instrumentos musicais e hoje é artista plástico, cinéfilo e teatrófilo.

Fonte: Blog “Culturoscópio” – Clique aqui para conferir



(*) Pedro Jacintho Cavalheiro, é mestre em Arte, pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, especialista em autenticação de obras de arte (história da arte técnica). Designer de Produto, graduado e Designer Gráfico. Também graduado e licenciado em Arte, Desenho e História da Arte. Patrimônio Artístico é sua outra especialidade. Foi Jornalista e Repórter Fotográfico. Professor universitário em disciplinas relacionadas à arte e história da arte, tendo já incursionado pelas questões ambientais e lecionando em curso de pós-graduação em Gestão Ambiental. Doutorando em Metodologia Nuclear, sobre sua aplicação à autenticação de obras de arte (arqueometria). É dedicado à linguística e professor de Esperanto. Quando jovem cantou, atuou, e segundo ele próprio, arranhou instrumentos musicais e hoje é artista plástico, cinéfilo e teatrófilo.

Fonte: Blog “Culturoscópio” – Clique aqui para conferir


terça-feira, 29 de maio de 2012

Chega ao fim mais uma semana da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos - Por Marcelo Deflino


domingo, 27 de maio de 2012




A semana é realizada há vários anos por diversas igrejas e comunidades cristãs em países do hemisfério sul entre o domingo de Ascensão de Jesus e o sábado véspera do dia de Pentecostes na liturgia católica romana, e em janeiro no hemisfério norte. A semana, como o nome diz, reúne líderes e fiéis de diversas denominações para fazerem orações pela unidade. Se não juridicamente, liturgicamente nem doutrinariamente, pelo menos na pertença e no seguimento de Jesus Cristo e pela coexistência pacífica entre os cristãos de todas as denominações.


No Rio de Janeiro, o evento é realizado pelo menos desde a década de 1990. Nesses anos todos, houve progressos. A única perda talvez tenha sido a saída formal da Igreja Metodista.


Mas neste ano, houve avanços como talvez nunca tenha havido no Rio de Janeiro. O culto de encerramento, realizado na noite de ontem, contou com líderes e fiéis de um número de denominações como provavelmente jamais houve. Além disso, o evento contou pela primeira vez com a presença de um pastor presidente de duas instituições inter e supraeclesiais do protestantismo. Uma é a Ordem dos Ministros Evangélicos do Brasil. A outra é nada mais nada menos que a editora que mais vende bíblias no país: a Sociedade Bíblica do Brasil. Outros detalhes do culto de ontem podem ser acompanhados no portal da arquidiocese católica.


O que é bacana neste tipo de evento é que eles são um contraponto a uma lamentável disputa teológica, política e corporativa promovida pelas denominações cristãs ao longo da história. Muita gente já matou e/ou morreu nesse confronto, que envolveu praticamente todas as denominações: Igreja Católica Romana, igrejas católicas orientais, igrejas ortodoxas, igrejas protestantes e igrejas pentecostais. A maioria da humanidade, que tem outras crenças ou não tem credo algum, observa a guerra dentro da cristandade e caçoam do fato de os cristãos pregaram a paz e a união enquanto não as conseguem nem entre eles. Não deixam de ter razão em caçoarem. 

Fonte: Blogue do Delfino - Clique neste link para conferir

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Esperanto – primeiro curso instalado no Brasil completa 100 anos neste mês de maio








Luiz Carlos Nogueira














Neste mês de maio o Esperanto está completando 100 anos, ou seja, a Língua Internacional Neutra, cujo primeiro curso, do qual se tem notícia, foi instalado no Brasil pela Federação Espírita Brasileira (FEB).


Segundo pesquisas, o Esperanto é a língua artificial mais falada no mundo e foi criada pelo médico polonês Ludwik Leizer Zamenhof , tendo publicado a sua versão inicial em 1887, com a idéia de proporcionar uma língua mais fácil de aprender, para que servisse como língua franca internacional, para ser utilizada pelas pessoas do mundo inteiro em suas comunicações, ao contrário de uma “Babel”.


O Esperanto teria contado com o apoio do espírito de Francisco Valdomiro Lorenz,  poliglota e filósofo nascido no Império Austro-Húngaro (hojeRepública Tcheca), que falava mais de 100 idiomas e que introduziu, junto à FEB, o   movimento esperantista no Brasil.


Caso o leitor tenha algum texto escrito em Esperanto, já pode traduzi-lo pelo Google Translation, bastando para isso acessá-lo por este link: http://translate.google.com/#


Veja um exemplo abaixo, retirado do Livro dos Espíritos. Trata-se da questão 147 escrita em Esperanto e traduzida através do citado mecanismo do Google:



147. Kial estas ke anatomistas, fiziologoj, kaj Ĝenerale, ili profundigas la scienco de la naturo, estas tiel ofte kondukis al materialismo?
"La fiziologo raportas al kio vidas. Fiero de viroj, kiu pensas ke ili scias ĉion kaj ne agnoskos ke estas io iu kiu ili estas super la kompreno. Mem kiu kultivas la scienco plenaj de okuloj. Pensu ke
Naturo nenio povas teni ilin kaŝita. "



147. Por que é que os anatomistas, os fisiologistas e, em geral, os que aprofundam a ciência da Natureza, são, com tanta freqüência, levados ao materialismo?
“O fisiologista refere tudo ao que vê. Orgulho dos homens, que julgam saber tudo e não admitem haja coisa alguma que lhes esteja acima do entendimento. A própria ciência que cultivam os enche de presunção. Pensam que a Natureza nada lhes pode conservar oculto.”

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quarta-feira, 23 de maio de 2012

OS QUATRO FANTASMAS – Por Martha Medeiros























Leiga, totalmente leiga em psicanálise, é o que eu sou. Mas interessada como se dela dependesse minha sobrevivência. Para saciar essa minha curiosidade, costumo ler alguns livros sobre o assunto, e outro dia, envolvida por um texto instigante - acho que da Viviane Mosé, que já foi mencionada nesta página anteriormente - me deparei com as quatro principais questões que assombram nossas vidas e que determinam nossa sanidade mental. São elas:


1) Sabemos que vamos morrer.


2) Somos livres para viver como desejamos.


3) Nossa solidão é intrínseca.


4) A vida não tem sentido.


Basicamente, isso. Nossas maiores angústias e dificuldades advêm da maneira como lidamos com nossa finitude, com nossa liberdade, com nossa solidão e com a gratuidade da vida. Sábio é aquele que, diante dessas quatro verdades, não se desespera.
 


Realmente, não são questões fáceis. A consciência de que vamos morrer talvez seja a mais desestabilizadora, mas costumamos pensar nisso apenas quando há uma ameaça concreta: o diagnóstico de uma doença ou o avanço da idade. As outras perturbações são mais corriqueiras.


Somos livres para escolher o que fazer de nossas vidas, e isso é amedrontador, pois coloca responsabilidade em nossas mãos. A solidão assusta, mas sabemos que há como conviver com ela: basta que a gente dê conteúdo à nossa existência, que tenhamos uma vontade incessante de aprender, de saber, de se autoconhecer.


Quanto à gratuidade da vida, alguns resolvem com religião, outros com bom humor e humildade. O que estamos fazendo aqui? Estamos todos de passagem. Portanto, não aborreça os outros e nem a si próprio, trate de fazer o bem e de se divertir, que já é um grande projeto pessoal.


Volto a destacar: bom humor e humildade são essenciais para ficarmos em paz. Os arrogantes são os que menos conseguem conviver com a finitude, a liberdade, com a solidão e com a falta de sentido da vida. Eles se julgam imortais, eles querem ditar as regras para os outros, eles recusam o silêncio e não vivem sem os aplausos e holofotes, dos quais são patéticos dependentes. A arrogância e a falta de humor conduzem muita gente a um sofrimento que poderia ser bastante minimizado: bastaria que eles tivessem mais tolerância diante das incertezas.


Tudo é incerto, a começar pelo dia e a hora da nossa morte. Incerto é o nosso destino, pois, por mais que façamos escolhas, elas só se mostrarão acertadas ou desastrosas lá adiante, na hora do balanço final. Incertos são nossos amores, e por isso é tão importante sentir-se bem mesmo estando só. Enfim, incerta é a vida e tudo o que ela comporta. Somos aprendizes, somos novatos, mas beneficiários de uma dádiva: nascemos. Tivemos a chance de existir. De se relacionar. De fazer tentativas. O sentido disso tudo? Fazer parte. Simplesmente fazer parte.


Muitos têm uma dificuldade tremenda em aceitar essa transitoriedade. Por isso a psicoterapia é tão benéfica. Ela estende a mão e ajuda a domar nosso medo. Só convivendo com esses quatro fantasmas - finitude, liberdade, solidão e falta de sentido da vida - é que conseguiremos atravessar os dias de forma mais alegre e desassombrada.


Fonte: Pensador.Info – Clique neste link para conferir

terça-feira, 22 de maio de 2012

EDUCAÇÃO DA ALMA - POR HUMBERTO PINHO DA SILVA



  

                                                                                                                


A propósito do modo como as crianças são educadas pelos progenitores reflecte François Mouriac (galardoado com o prémio Nobel de Literatura de 1952,) no livro “L’Education des Filles”.Paris,Corrêa, pag.61, e segts:

"Para muitos pais, o essencial é, antes de tudo o mais, que os filhos estejam de saúde: é esse o seu primeiro cuidado:” Estás a transpirar, não bebas ainda…”

“Parece-me que estás quente: vou ver se tens febre”(…) primeiro cuidar da saúde da criança; depois, da educação: “Põe-te direito: estás a fazer corcunda…Não limpes o prato…Não te sabes servir da faca...Não te espojes no chão dessa maneira…Põe as mãos em cima da mesa! As mãos, não os cotovelos…Com a idade que tens, ainda não sabes descascar um fruto?…” Sim, é preciso que sejam bem-educados! E o sentido que todos nós damos a esta expressão “bem-educados” mostra até que ponto nós a rebaixamos. O que conta é a impressão que possam causar aos outros, ou seja, a fachada. Desde que, exteriormente, não traiam nada que o mundo não aceita, achamos que tudo esta a correr bem.”

Os únicos educadores dignos desse nome - mas quantos há que o sejam? São aqueles para quem conta aquilo a que Barrés chamava a educação da alma. Para esses, o que importa naquela jovem vida, que lhes é confiada, não é só a fachada que dá para o mundo, mas as disposições interiores, aquilo que, num destino, só Deus e a consciência conhecem.”

Quantos, mesmo entre crentes inflamados pela fé, preocupam-se a educar a alma dos jovens? Tão poucos são, que a sociedade mal sente o fruto dessa esmerada educação.

Todos cuidam da “fachada”, das aparências: embelezam o rosto, , para que seja agradável à vista; incutem as elementares regras de etiqueta, para que possam frequentar salões elegantes, sem desdouro; ensinam a vencer, e quantas vezes por veredas desonestas; a ganhar dinheiro, montes de dinheiro, olvidando que a verdadeira educação é, a dos sentimentos, a da alma: a que consegue plasmar a índole, tornando-a mais virtuosa, nobre em sentimento, briosa na honra e digna e prestável.

E como assim não se faz, topa-se, nas encruzilhadas da vida, alçados a elevados cargos,  figuras públicas sem caracter, sem dignidade, que não passam de asquerosos, e enfeitados “sepulcros caiados”.

São, como bem disse a raposa de Esopo, ao presenciar máscaras de teatro:”Bonitas cabeças…mas nada têm dentro”.



HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal


segunda-feira, 21 de maio de 2012

Pessoas pequenas


21 de maio de 2012 

por (*) João Bosco Leal       

“Se o passado de uma pessoa fosse o seu passado, se a dor dessa pessoa fosse a sua dor, se o nível de consciência dela fosse o seu, você pensaria e agiria exatamente como ela. Ao compreender isso, fica mais fácil perdoar, desenvolver a compaixão e alcançar a paz.” – Eckchart Tolle.

Procurando conhecer seu passado, saber de suas alegrias, tristezas e dores, os especialistas tentam entender o comportamento de pessoas que possuem algum distúrbio psicológico, desde as bipolares até as permanentemente ou por um período desequilibradas, que passam por momentos de ansiedade, de euforia, ou agem de forma distinta da socialmente esperada.

Sem nenhum conhecimento técnico sobre o assunto, imagino como deve ser difícil desvendar mistérios e, através do entendimento de traumas passados, buscar ajuda para pessoas que por algum motivo se tornaram o que são ou como se comportam.

Penso, entretanto, que certos comportamentos não podem ser explicados, ou desculpados por experiências anteriormente vividas, pois tenho conhecido pessoas que brincando ou sérias são infantis, desagradáveis ou até agressivas em sua vida social, no relacionamento com terceiros.

Algumas, emocionalmente desestabilizadas, tomam atitudes que não acrescentam nada à vida de ninguém ou à própria, mas outras são realmente más e fingindo-se emocionalmente fracas, conscientemente articulam criando falsas histórias para prejudicar pessoas.

Outras, mesmo fisicamente grandes e fortes, são pequenas ou até insignificantes em suas atitudes e caráter e aproveitando-se de todos saberem de seus problemas, agem como se estivessem desequilibradas mesmo em seus momentos de sanidade.

Independentemente de sua situação cultural, educacional, econômica ou social, elas normalmente terminam sua história com vergonha de seu passado ou percebendo que nada de útil construíram e, quando fazem uma autoanálise sentem-se frustradas e, no seu mais profundo íntimo, percebem sua inutilidade.

Sempre me disseram: “Não espere atitudes dignas ou nobres de pessoas que são pobres de espírito” e realmente não é difícil perceber que pessoas assim que tentam impor suas ideias, desejos e fantasias mesmo sabendo-as indignas, com gritos, lutas e todas as armas – geralmente sujas – que dispõem e em seus momentos de lucidez.

Posteriormente, percebendo o que fizeram muitas vezes se arrependem, mas geralmente agiram com tanta sujeira e covardia que seus pedidos de desculpas, súplicas não a tranquilizarão, pois o que te deixa em paz e feliz é o que silenciosamente diz para si mesmo e o permite dormir tranquilo, e não o que diz de sua boca para fora.

Pessoas assim, que nunca criaram ou produziram nada, que viveram à custa, explorando ou tentando prejudicar outras, cultivam ressentimentos e mágoas, não permitindo a cicatrização de suas feridas e não percebem que com suas calúnias e difamações, provocam o crescimento daquelas que pretendiam prejudicar, pois como as ostras que da cicatriz de suas feridas produzem pérolas, os feridos por palavras rudes, acusados injustamente, que receberam duros golpes ou foram injustiçados, sempre se fortalecem com suas experiências.

Esse fortalecimento, o crescimento humano, machuca ainda mais aqueles que vivem de articulações maldosas com a finalidade de prejudicar aqueles que em seu íntimo, admiram exatamente por sua força.

Os fortes não se igualam a pessoas que parecem árvores secas ou ostras vazias que, por nada produzirem, odeiam os frutos alheios.

(*) João Bosco Leal - jornalista, reg. MTE nº 1019/MS, escritor, articulista político, produtor rural e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários.