Luiz Carlos Nogueira
Um leitor dos meus blogs
sugeriu-me para apresentar uma pesquisa que possa oferecer uma melhor compreensão
da composição trina do ser humano. Não tenho a pretensão de dizer que esta é a
verdade última, tampouco desejo polemizar o assunto, porque afinal de contas só
quem poderia mesmo dizer do acerto ou desacerto destas buscas seria o Deus
criador de tudo o que existe.
Todavia, remeto-me ao Novo
Testamento, em II
Tessalonicenses 5:23 (tradução de João Ferreira de Almeida),
onde se encontra referência sobre a composição fisico-espiritual do Homem,
ou seja, de que ele é constituído de espírito, alma e corpo:
“23 E mesmo Deus de paz vos
santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam
plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda do nosso Senhor Jesus
Cristo.”
Essa interpretação acima é
“tricotomista”.
Contrapondo-se a ela está a
interpretação “dicotomista”, segundo a qual sustenta que o homem possui apenas corpo
e alma, sendo esta última, dividida em duas substâncias: a alma
propriamente dita, ligada aos nossos sentimentos, e o espírito, que tem
consciência e possui o conhecimento de Deus.
Se consultarmos o Antigo
Testamento, iremos constatar que ele não faz muita distinção entre alma
e espírito — Gênesis 2:7: "E formou o Senhor Deus o homem do pó da
terra e SOPROU em seus narizes o fôlego da vida. E o homem foi feito ALMA
VIVENTE" ; Salmos 79:39: “Porque se lembrou de que eram carne, um VENTO
(rúach) que passa e não volta.” . Ezequiel 3:19: “[...] êle morrerá na
sua maldade, mas tu livraste a tua ALMA.”
Todavia o termo ESPÍRITO
deriva do hebraico "rúach", do grego "pneuma", do latim
"spiritus", e SIGNIFICA SOPRO, HÁLITO, VENTO, PRINCÍPIO DE VIDA.
Logo, nossa parte imaterial ou espiritual foi formada de uma parte da essência
(do sopro) de Deus. Os termos (rúach, pneuma, spiritus) são
utilizados também para aquilo que
permanece do individuo após a morte e não perece.
Vide Eclesiastes 12:7: “E o pó
volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.”
Já no Novo Testamento, iremos observar como
já foi citado bem no início, algumas DISTINÇÕES ENTRE ALMA E ESPÍRITO:
Lucas I: "46 – [...] A minha ALMA engrandece ao Senhor,” 47- E o meu
ESPÍRITO se alegra em Deus, meu Salvador". Outras referências: Hebreus
4.12: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do
que a espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da ALMA e do
ESPÍRITO [...] ; Primeira Epístola de S.Paulo Apóstolo aos Tessalonicenses, 5.23: “E o mesmo Deus de
paz vos santifique em tudo; e todo o vosso ESPÍRITO, e ALMA, e CORPO,
sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus
Cristo.”.
Dessa análise Bíblica podemos defluir que o
homem possui uma parte material (o corpo) formado do pó (átomos), e outra parte
imaterial formada do sopro de Deus. Quando esta parte imaterial se relaciona
com o corpo físico, em forma de sensações, emoções e vontade, chama-se ALMA;
quando serve de ligação com Deus, chama-se ESPÍRITO. Admite-se, portanto, que
alma e o espírito são inseparáveis e imortais, com funções distintas no corpo.
Como não disponho de meios
científicos para estabelecer as distinções entre os dois elementos presentes no
Homem, além do seu corpo físico, faço a presente análise à luz da Bíblia
Sagrada, para satisfazer a indagação proposta. E para embasá-la, trago para
este trabalho, as explicações do Dr. GÉRARD ANACLET VINCENT ENCAUSSE, o médico
que se tornou famoso no meio ocultista, pois em 1887, aos 22 anos, escreveu sua
primeira obra, denominada “O Ocultismo Contemporâneo”. E é do seu livro “O
TRATADO METÓDICO DE CIÊNCIA OCULTA” (escrito aos 26 anos de idade), de onde
podemos extrair um simbolismo muito simples para ilustrar o papel de cada um
dos três elementos que compõem o ser humano, conforme está representado pela
carruagem jungida ao cavalo, e o cocheiro que o dirige.
— A carruagem que é inerte
por sí mesma, representa o nosso corpo físico.
— O cavalo que a puxa ou
arrasta, representa o nosso corpo astral ou alma. É passivo, subjetivo,
consciência inferior, subconsciência, eu inferior.
— O cocheiro que dirige o
cavalo, representa o nosso corpo mental. É o ser ativo, consciência, o
eu pensante, o espírito.
O
corpo físico (carruagem), é formado (de átomos) da matéria como a
conhecemos, e tem as funções como a digestão, a assimilação, e locomoção e os
diversos fenômenos observáveis e perceptíveis, que são os fenômenos
fisiológicos. Os outros dois corpos, mais sutis, se encarregam das funções que
os filósofos consideram como faculdades da alma.
O corpo astral, é o
“perispírito” (cavalo) assim chamado pelos espíritas, ou a alma sensitiva
assim denominada pelos antigos filósofos. Este elemento é composto da matéria
do plano astral (matéria rarefeita) e serve como meio de ligação entre o corpo
físico e o corpo mental, ou seja, perispírito - (do grego: em torno, e do
latim: Spiritus, alma, espírito) é o envoltório sutil e perene da alma, que possibilita sua
interação com os meios espiritual e físico. Esta designação foi empregada pela
primeira vez por Allan Kardec,
no item 93 de “O Livro dos
Espíritos”. Alma e perispírito constituem o espírito.
É nele que são produzidas as
imaginações, a sensibilidade, a dor, as emoções, os desejos, as paixões e os
gozos de grau pouco elevado. E é por intermédio dele que se produzem os
fenômenos da telepatia, das aparições e visões que temos nos sonhos.
Nos animais irracionais, ele é a
sede dos instintos.
E quando dormimos vivemos pelo
corpo astral que se movimenta no plano astral, com plena liberdade. Pois esse
corpo se desloca pela imensidão do espaço, ligado ao nosso corpo físico, pelo
chamado “cordão de prata”.
O corpo mental (cocheiro),
formado pela matéria deste plano terrenal, é a sede da inteligência, do
pensamento e da vontade. É o nosso eu pensante, a alma dos filósofos (anima,
dos latinos; psiquê, dos gregos), no qual todos os fenômenos da
consciência são produzidos. Também fazem parte do seu domínio, o juízo, o
raciocínio, as resoluções e as deliberações, sendo ele, portanto, o princípio
superior que governa todas as nossas funções e preside todas as nossas ações.
Os corpos astral e mental,
possuem sentidos correspondentes aos que nós nos comunicamos diretamente com os
agentes físicos, porém, a diferença é que se considera o corpo mental mais
poderoso.
Quando um desses três corpos
embora sendo organismos distintos, porém unidos entre si, percebem uma
impressão, esta é imediatamente transmitida para os outros.
O corpo físico é dirigido ora
pelo corpo astral e ora pelo corpo mental. Durante o sono é o corpo astral que
o submete. Quando estamos em vigília ou acordados, o nosso corpo físico é
dirigido pelo corpo mental.
Nossos desejos e paixões nascem
em nosso corpo astral, mas é o nosso corpo mental que decide satisfazê-las ou
não, porque é o mais forte, exceto se o indivíduo for um louco ou obcecado.
Assim é que podemos agora,
começar a entender a posição dos “tricotomistas”, e que ainda passarei a
ilustrar, usando ainda o simbolismo de Gérard Encausse, representado pela
carruagem, pelo cavalo e pelo cocheiro.
Pois bem, o cavalo (corpo
astral), dirigido pelo cocheiro (corpo mental), puxa a carruagem (corpo
físico). A regularidade da marcha, representa as manifestações ordinárias de
nossa vida normal e equilibrada.
Como o corpo astral (cavalo) é a
sede das paixões, que quando despertadas, muitas vezes, tornam o corpo mental
(cocheiro) incapaz de controlá-lo. Este estado é representado pelo cavalo que
sai em carreira desordenada, arrastando a carruagem (corpo físico) juntamente
com o cocheiro (corpo mental) que não pôde dominá-lo.
Quando dormimos, o nosso corpo
físico (carruagem) fica como quase abandonado, porque o nosso corpo astral ou
alma (cavalo) é desatado da carruagem e o nosso corpo mental (cocheiro) fica
ligado a este último, pelas rédeas que se alongam e ameaçam romper-se.
É também nesse estado, que se
realizam as viagens astrais, só que nesse caso, a nossa alma fica ligada ao
nosso corpo físico pelo cordão de prata.
Esse fenômeno espiritual está
mencionado na Bíblia Sagrada (Católica), conforme Eclesiastes 12:6: “antes que se rompa o cordão de prata, que se
despedace a lâmpada de ouro, antes que se quebre a bilha na fonte, e que se fenda
a roldana sobre a cisterna;.”
Essa cadeia de prata ou cordão de
prata, também chamado de cordão fluídico ou cordão astral, é um fio de matéria
etérica que liga o corpo físico ao corpo astral. Ele é o meio condutor que
transmite energia vital para o corpo físico durante a projeção astral, como
também conduz energias do corpo físico para o psicossoma, criando um circuito
energético de ida e volta. Enquanto os dois corpos estão próximos, o cordão é
como um cabo grosso. À medida que o psicossoma se afasta das imediações do
corpo físico, o cordão se torna cada vez mais fino e sutil. O vigor e a
elasticidade do cordão de prata são incalculáveis e por mais longe que o
projetor estiver, o cordão de prata sempre o trará de volta ao corpo físico.
Ele possui uma espécie de automatismo subconsciente que funciona
independentemente da vontade do projetor e atrai o psicossoma de volta para o
físico, quer ele queira voltar ou não.
De outra forma, ou seja, se
não estamos dormindo e o cavalo (corpo astral ou alma) se liberta das rédeas do
cocheiro (corpo mental) — é a morte.
Então o cocheiro o
prende novamente, fazendo-lhe de sua montaria, e o leva para outro plano,
abandonando a carruagem (corpo físico).