Entre o reduzido número de amigos de meu pai, contava-se um frade.
Conhecera-o
em soalheira tarde de Verão, quando foi encarregado de realizar
reportagem sobre certo santo, de certa Ordem Religiosa.
E de tal modo ficaram amigos, que durante longos anos, visitava-o no seu conventinho.
Chegaram a trocar presentes e debater assuntos transcendentes, de interesse de ambos.
A
amizade era notada por todos, e de tal jeito, que aos poucos tornou-se
conhecido e amigos de quase todos os irmãos da comunidade, inclusivo o
Superior e o Provincial.
Um
dia, a doença que o levaria à morte, atirou-o para Casa de Saúde, onde
permaneceu semanas acamado e com poucas esperanças de vida.
Nas
suas horas de solidão e desespero, pedia para telefonarem aos amigos,
para que o fossem visitar, já que se sentia só, perdido e desanimado num
quarto de hospital.
Apareceram
familiares, principalmente o primo Júlio – sempre prestável, sempre
pronto a fazer pequenos favores, e a visitar e animar doentes.
Além do Júlio, poucos mais apareceram…Os inadiáveis afazeres não lhes permitiam….
Lastimoso, contava aos filhos e à empregada, que, por tanto tempo haver servido a nossa casa, tornou-se membro da família:
- “Parece impossível, nem o Frei X, que mora tão perto, apareceu…”
Mais tarde – no interregno que a doença lhe deu, – foi ao convento visitar o amigo “atarefado”.
Não estava. Atendeu o porteiro, que prestimoso, foi chamar “um senhor padre”.
Ao
abordar a hospitalização, meu pai referiu-se ao facto de Frei X, não
ter aparecido, devido a não ter transporte disponível. (Desculpa que lhe
deu, pelo telefone.)
Em resposta, ouviu:
- “Não tinha transporte?! … A Casa tem carro. Eu próprio o levaria, com muito gosto, no meu automóvel! …”
Uma das obras de caridade do cristão é visitar presos e doentes.
Que
haja receio de confortar presos, compreende-se, mas que não se visite
doentes, mormente conhecidos e amigos, é falta de Amor cristão e
humanamente imperdoável.
O desprezo. A indiferença, e principalmente a ingratidão, costuma doer mais que a doença, mesmo quando é grave e mortífera.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
publicado por solpaz às 16:11
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