terça-feira, 23 de julho de 2013

A importância da filosofia em nossas vidas


 

 


 


Luiz Carlos Nogueira


nogueirablog@gmail.com


 


 


 


 


 


 


Conforme Bertrand Russel[1], [...]“A filosofia, como todos os outros estudos, visa em primeiro lugar o conhecimento. O conhecimento que ela tem em vista é o tipo de conhecimento que confere unidade sistemática ao corpo das ciências, bem como o que resulta de um exame crítico dos fundamentos de nossas convicções, de nossos preconceitos, e de nossas crenças.[...] “Assim, em grande medida, a incerteza da filosofia é mais aparente do que real: aquelas questões para as quais já se tem respostas positivas vão sendo colocadas nas ciências, ao passo que aquelas para as quais não foi encontrada até o presente nenhuma resposta exata, continuam a constituir esse resíduo a que é chamado de filosofia.[..] [Negritei]


Adam Smith[2], explicava que: “[...]Muitas melhorias foram realizadas graças à engenhosidade dos que fabricavam máquinas, quando fabricá-las se tornou um negócio e uma atividade específicos; e algumas foram projetadas por aqueles que são chamados de filósofos, ou homens de especulação intelectual, cuja ocupação era a de não fazer nada a não ser observar tudo, e que, nessa qualidade, frequentemente são capazes de juntar e combinar os potenciais de coisas as mais distantes e dessemelhantes. Na evolução da sociedade, a filosofia ou especulação intelectual torna-se, como qualquer outro emprego, a principal ou única atividade e ocupação de uma classe específica de cidadãos. Como qualquer outro trabalho, também é subdividida em um grande número de setores diferentes, e cada um deles oferece ocupação para uma categoria, ou classe, de filósofos; e essa subdivisão do emprego na atividade da filosofia, como em qualquer outro negócio, incrementa a perícia e economiza tempo. Cada indivíduo torna-se mais perito em seu setor específico, mais trabalho é realizado como um todo, e quantidade de conhecimento é consideravelmente aumentada por isso.” [Negritei]


Assim é que a filósofa contemporânea Marilena Chauí[3], em seu livro Convite à Filosofia, lista e define os vários ramos da filosofia, conforme seguem:


“1- A Ontologia ou metafísica: ou seja, a ontologia é palavra grega que significa a Ciência do Ser, que aplicada ao ser humano ela designa o Conhecimento das leis divinas, o qual ele pode e deve adquirir no decurso da sua evolução espiritual, que para a filósofa, trata do conhecimento dos princípios e fundamentos últimos de toda a realidade, de todos os seres;


2- A Lógica: que trata do conhecimento das formas gerais e regras gerais do pensamento correto e verdadeiro, independentemente dos conteúdos pensados; regras para a demonstração científica verdadeira; regras para pensamentos não-científicos; regras sobre o modo de expor os conhecimentos; regras para a verificação da verdade ou falsidade de um pensamento, etc.;


3- A Epistemologia: análise crítica das ciências, tanto as ciências exatas ou matemáticas, quanto as naturais e as humanas; avaliação dos métodos e dos resultados das ciências; compatibilidades e incompatibilidades entre as ciências; formas de relações entre as ciências, etc.;


4- A Teoria do conhecimento ou estudo das diferentes modalidades de conhecimento humano: o conhecimento sensorial ou sensação e percepção; a memória e a imaginação; o conhecimento intelectual; a idéia de verdade e falsidade; a idéia de ilusão e realidade; formas de conhecer o espaço e o tempo; formas de conhecer relações; conhecimento ingênuo e conhecimento científico; diferença entre conhecimento científico e filosófico, etc.;

5- A Ética: estudo dos valores morais (as virtudes), da relação entre vontade e paixão, vontade e razão; finalidades e valores da ação moral; idéias de liberdade, responsabilidade, dever, obrigação, etc.;


6- A Filosofia política: estudo sobre a natureza do poder e da autoridade; idéia de direito, lei, justiça, dominação, violência; formas dos regimes políticos e suas fundamentações; nascimento e formas do Estado; idéias autoritárias, conservadoras, revolucionárias e libertárias; teorias da revolução e da reforma; análise e crítica das ideologias;


7- A Filosofia da História: estudo sobre a dimensão temporal da existência humana como existência sociopolítica e cultural; teorias do progresso, da evolução e teorias da descontinuidade histórica; significado das diferenças culturais e históricas, suas razões e conseqüências;


8- A Filosofia da arte ou estética: estudo das formas de arte, do trabalho artístico; idéia de obra de arte e de criação; relação entre matéria e forma nas artes; relação entre arte e sociedade, arte e política, arte e ética;


9-A Filosofia da linguagem: a linguagem como manifestação da humanidade do homem; signos, significações; a comunicação; passagem da linguagem oral à escrita, da linguagem cotidiana à filosófica, à literária, à científica; diferentes modalidades de linguagem como diferentes formas de expressão e de comunicação;


10- A História da Filosofia: estudo dos diferentes períodos da Filosofia e de seu papel ou finalidade."



Por conseguinte, a título de exemplo, inicialmente a teoria atomística[4], segundo se tem notícia, começou a ser formulada na Grécia, mais ou menos no quinto século A.C, pelos filósofos Leucipo e Demócrito, sendo que este último afirmava que o universo é constituído de um elemento único, denominado de átomo, que seria uma partícula invisível, indivisível, impenetrável e animada de movimento próprio, cujas vibrações são as que provocam todas as nossas sensações.


Tais idéias de Demócrito, foram registras nos poemas de Lito Lucrécio, poeta romano de grande nomeada (95-52 A.C.), em seu livro livro "De Rerum Natura", de muita repercussão na época do Renascimento.[5]

Todavia, teria sido Leucipo de Mileto (mais ou menos 500 a.C)  que deu o nome de átomo a essa partícula, por decorrência semântica da palavra grega “A-TOMOS”, que significa algo que não se pode dividir — indivisível. Para Leucipo, assim como o número infinito de átomos, o vácuo não só existia em nosso mundo, mas também no espaço infinito do cosmos, no qual existiam uma quantidade infinita de outros mundos.

Mas teria sido Demócrito de Abdera (mais ou menos 460 a.C), por ter sido discípulo de Leucipo, que explicou que a matéria era constituída de partículas em movimento pérpetuo, e dotadas das seguintes características: a-) a indivisibilidade; b-) a invisibilidade, pelo fato de serem absurdamente pequenas; c-) a solidez; d-) a eternidade,  por ser perfeita; e-) de diferentes densidades e cercada por espaços vazios, razão pela qual se movimentavam com extrema velocidade, alem de: f-) serem e dotadas de um número infinito de formas, o que explicada as diversidades na natureza.

Portanto, a idéia básica desses dois filósofos gregos, Leucipo e Demócrito consistia de que: no universo há duas coisas, os átomos e o vácuo, de tal sorte que o mundo é um composto de montes de matéria existindo num vazio total. Os átomos, diziam eles, são substâncias sólidas, infinitos em número e forma e,  muitíssimos pequenos para serem vistos. Além disso, um átomo não poderia ser cortado ou dividido de qualquer maneira, e é completamente sólido. Todos os átomos estão perpetuamente se movimentando no vácuo.

Como se vê, foi através da meditação e reflexão desses filósofos é que se chegou a conhecer a existência dos átomos, porque na época em que eles viveram, sequer havia um aparelho que permitisse que um átomo fosse visto. Do contrário nenhum cientista da atualidade teria aperfeiçoado esse conhecimento, mas assim mesmo porque desenvolveram aparelhos capazes até de fotografá-los.

Há controvérsias de que a teoria atomista não teria nascido na Grécia, mas sim, na Índia, como conseqüência da filosofia Vaiseshika, que já dizia ser a matéria formada de átomos indestrutíveis. De tal sorte, para os indianos a matéria era composta de partículas quase que infinitamente pequenas, por isso invisíveis aos olhos humanos, e que poderia se degradar, quando os “laços” entre os átomos se rompessem no final dos tempos para se reagruparem e reorganizarem em um novo mundo que seria formado. Mas seja de que forma for, o surgimento da idéia da existência do átomo, primeiramente ocorreu através da especulação intelectual ou sabe Deus, se através de inspiração mística que pôde conduzir a uma exploração científica que acabou por concluir que a formulação de tal idéia tinha agora uma realidade concreta.

O Professor Paulo César, em seu excelente trabalho no Portal de Estudos em Química, ensina que Em 1808, John Dalton a partir da idéia filosófica de átomo estabelecida por Leucipo e Demócrito, realizou experimentos fundamentados nas Leis Ponderais, propôs uma Teoria Atômica, também conhecido como modelo da bola de bilhar, a qual expressa, de um modo geral, o seguinte:

bullet
O átomo é constituído de partículas esféricas, maciças, indestrutíveis e indivisíveis.
bullet
A combinação de átomos de elementos diferentes, numa proporção de números inteiros, origina substâncias químicas diferentes.
bullet
Numa transformação química, os átomos não são criados nem destruídos: são simplesmente rearranjados, originando novas substâncias químicas.
bullet
Elementos químicos diferentes apresentam átomos com massas, formas e tamanhos diferentes.
bullet
Um conjunto de átomos com as mesmas massas, formas e tamanhos apresenta as mesmas propriedades e constitui um elemento químico.

 

 

 

Os símbolos de Dalton não eram muito diferentes dos símbolos mais antigos da alquimia, porém traziam uma inovação. Cada átomo possuía um símbolo próprio e a fórmula de um composto era representada pela combinação destes símbolos.

A nomenclatura utilizada por Dalton, que é basicamente a mesma utilizada até hoje, foi introduzida pelo Francês Antoine Lavoisier, em 1787, no livro Methods of Chemical Nomenclature. Antes de ser decapitado, em 1794 na revolução francesa, entre outras coisas, Lavoisier escreveu o livro Reflexions sur le Phlogistique (1783), que terminou com a teoria do flogistico e também escreveu o livro Traité Élémentaire de Chimie, em 1789, que é considerado como o primeiro livro da Químicamoderna.

O uso de símbolos abstratos só terminou por volta de 1813-1814, com Berzelius, que, além de ter isolado o cálcio, bário, estrôncio, silício, titânio e o zircônio, também descobriu o selênio, o tório e o césio. Quando Berzelius decidiu que era hora de mudar as coisas ele realmente mudou. Tendo em vista que os símbolos antigos não eram fáceis de escrever, desfiguravam os livros e não colaboravam em nada para a sua memorização, Berzelius propôs que os símbolos fossem representados por letras, baseadas na letra inicial do nome em Latim de cada substância elementar.

Com algumas alterações, os símbolos dos elementos continuam os mesmos até hoje.

Nota: Antoine-Laurent de Lavoisier é sempre mencionado, como tivesse dito: "Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". Há quem contesta e afirma que essa frase teria sido atribuída erroneamente a ele, posto que tal enunciado remonta ao filósofo, físico, matemático e astrônomo grego Anaxágoras de Clazómenas (500 – 428 a.C), muito antes de Lavoisier: "Nada nasce nem se perde mas as coisas existentes se combinam, depois se separam novamente"




[1] Russel, Bertrand, in Os Problemas da Filosofia, 1912, Oxford University Press, 1959, reimpresso em 1971-2, Capítulo XV, O Valor da Filosofia.
 
[2] Smith, Adam, “A Mão Invisível”; tradução Paulo Geiger -1ª ed. —São Paulo: Peguin Classics Companhia das Letras, 2013.
 

[3] Chaui, Marilena, "Convite à Filosofia", unidade 1, cap. 5, Ed.Átrica, São Paulo,2000

 
[4] L. Boutier, "El Atomismo Griego", Editorial Nova, Buenos Aires (1936).
 
[5] P. F. Schurmann, "História de la Física", Editorial Nova, Buenos Aires, Vol. I e Vol. II