segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

VISITAR DOENTES: DEVER DO CRENTE E NÃO CRENTE - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA

 




Entre o reduzido número de amigos de meu pai, contava-se um frade.

Conhecera-o em soalheira tarde de Verão, quando foi encarregado de realizar reportagem sobre certo santo, de certa Ordem Religiosa.

E de tal modo ficaram amigos, que durante longos anos, visitava-o no seu conventinho.

Chegaram a trocar presentes e debater assuntos transcendentes, de interesse de ambos.

A amizade era notada por todos, e de tal jeito, que aos poucos tornou-se conhecido e amigos de quase todos os irmãos da comunidade, inclusivo o Superior e o Provincial.

Um dia, a doença que o levaria à morte, atirou-o para Casa de Saúde, onde permaneceu semanas acamado e com poucas esperanças de vida.

Nas suas horas de solidão e desespero, pedia para telefonarem aos amigos, para que o fossem visitar, já que se sentia só, perdido e desanimado num quarto de hospital.

Apareceram familiares, principalmente o primo Júlio – sempre prestável, sempre pronto a fazer pequenos favores, e a visitar e animar doentes.

Além do Júlio, poucos mais apareceram…Os inadiáveis afazeres não lhes permitiam….

Lastimoso, contava aos filhos e à empregada, que, por tanto tempo haver servido a nossa casa, tornou-se membro da família:

 - “Parece impossível, nem o Frei X, que mora tão perto, apareceu…”

Mais tarde – no interregno que a doença lhe deu, – foi ao convento visitar o amigo “atarefado”.

Não estava. Atendeu o porteiro, que prestimoso, foi chamar “um senhor padre”.

Ao abordar a hospitalização, meu pai referiu-se ao facto de Frei X, não ter aparecido, devido a não ter transporte disponível. (Desculpa que lhe deu, pelo telefone.)

Em resposta, ouviu:

- “Não tinha transporte?! … A Casa tem carro. Eu próprio o levaria, com muito gosto, no meu automóvel! …

Uma das obras de caridade do cristão é visitar presos e doentes.

Que haja receio de confortar presos, compreende-se, mas que não se visite doentes, mormente conhecidos e amigos, é falta de Amor cristão e humanamente imperdoável.

O desprezo. A indiferença, e principalmente a ingratidão, costuma doer mais que a doença, mesmo quando é grave e mortífera.



HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal



terça-feira, 1 de dezembro de 2015

SOLILÓQUIOS COM O MEU EU - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA

 


 Dos prazeres peculiares do avô Alberto, um, era viajar só, para o litoral paulista.

Ia sozinho: sem mulher, sem filhos, sem netos e quase sem bagagem.

Ficava na casinha pitoresca de Itanhaém: entre a praia dos Sonhos e a secular Pedra do Anchieta.

Sentado à sombra refrescante do imponente alpendre ou na luxuriante vegetação do jardinzinho: lia, escrevia, reflectia e mantinha eruditos solilóquios.

Não eram bem solilóquios, mas conversações, travadas animadamente com o outro eu. Era espiritista – chegou a ser director de jornal exotérico, – mas abandonara, há muito, as sessões espíritas.

Asseverava que só personalidades fortes deviam assistir e participar; os outros, corriam sérios riscos de contraírem medos ou graves perturbações psicológicas. Nunca levou familiares ao Centro Espírita. Excepto uma neta.

Nas interessantes conversas com o outro eu, não havia espíritos nem mensagens do Além. Eram "diálogos", cavaqueava com ele próprio, em voz baixa ou em pensamento.

Comentava o que estava a ler. Dialogava pareceres. Criticava opiniões. Discorria sobre vários temas, que podiam ir da educação à violência no lar ou na via publica.

Nessas palestras, no intimo sossego da casa de praia – que as filhas adquiriram., – passava, enlevado, horas sem fim.

Ele próprio cozinhava. Quase sempre batatas cozidas com bacalhau. Prato que aprendera, na mocidade, com a mãe, em Portugal.

Por vezes – segundo dizia, – se as conversas descambavam para a política e temas prosaicos, logo as interrompia.

O outro eu era condescendente. Aceitava sem discutir, sem contrariar…


Desses curiosos colóquios, saiam interessantes ideias e meditações de elevada espiritualidade.
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Certa tarde de Janeiro, na casa de Alto de Pinheiros, confessou-me à puridade:
- Infelizmente não posso contar, a todos, o prazer que sinto nesses dias que passo sozinho. Não compreenderiam…Chamar-me-iam: doido. Mas é exercício salutar e enriquecedor…

Sei que o é. Quantas vezes surpreendo-me a dialogar com o outro eu.

Sempre que acontece, fico a compreender melhor o que é a vida, e o porquê de muitas coisas…

Só o isolamento e o silêncio, podem-nos dar esse sublime prazer.



HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal
publicado por solpaz às 10:55

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

TERIA EXISTIDO MESMO UMA MULHER QUE FOI PAPA, OU MAIS PRECISAMENTE UMA PAPISA?










Luiz Carlos Nogueira








Michel de Montaigne, em seus Ensaios, I, XXI, informa que Stendhal escreveu por volta do ano 1830: “Quem poderia acreditar que ainda hoje existem em Roma pessoas que dão muita importância à história da papisa Juana?”. A verdade é que a história de que houve uma papisa com o nome de Joana, é controvertida.


Todavia, Alain Boureau (historiador, medievalista francês, diretor de estudos na EHESS.) em seu livro “La Papesse Jeanne” (Paris: Aubier, 1988), traduzido do francês por Guadalupe Loiro do Urquía, sob o titulo de A Papisa Juana, refere-se a isso como sendo uma fábula em que uma mulher de nome Joana, teria dissimulado seu sexo, para ocupar a cadeira de São Pedro; e que isso só teria sido descoberto porque, a Igreja teria cumprido uma formalidade de verificar a virilidade dos papas eleitos, pois dessa forma estariam evitando que escândalos desse tipo ocorressem. Mas esse historiador faz uma ressalva de que não encontrou nenhuma testemunha contemporânea que pudesse afirmar a veracidade e a realidade desse rito de constatação, sendo como escreveu que “o certo é que o sistema de crenças ao que pertence o rumor impede sua invalidação, pois qualquer refutação neste sentido se interpreta como denegação, e em consequência como confirmação. Desta maneira, Juana passa à eternidade graças à rumorologia.”.

Referiam-se alguns cronistas sobre as duas “cadeiras furadas”, que quando um papa era eleito, os dignitários da Igreja o conduziam para a Capela de São Silvestre, depois de havê-lo feito sentar-se numa primeira cadeira de mármore branco, localizada no pórtico da igreja, o novo pontífice deveria recitar o Salmo 113: “Deus eleva do pó o humilde, para fazer sentar-se acima dos príncipes!”.

A seguir, antes de ser consagrado o novo papa, os bispos e os cardeais, o colocavam na segunda cadeira, com as pernas separadas, devendo permanecer assim exposto, com seus hábitos abertos, para que fosse mostrada aos observadores a prova da sua virilidade, que deveria passar por uma segunda constatação por dois diáconos que se asseguravam disso pelo tato, a fim de que nenhuma outra aparência enganadora pudesse iludir aos olhos. Concluindo davam seus testemunhos: “habemus papam!!” — Em português: “temos um papa!!!”. E a assembleia respondia: “Deo Gratias”, como prova de reconhecimento.

Há quem diga que a expressão “Puxa-saco”, teria se originado desse tipo de serviço cerimonial.

Aliás, essa cerimônia me parece ridícula e inverossímel, no entanto, era o que os cronistas contavam. Mas dizem que tal cerimônia teria sido abolida depois do papa Leão X, quando as cadeiras teriam sido retiradas e levadas para a galeria do Palácio de Latrão.


Já o escritor Maurice Lachatre, em seu livro “Os Crimes dos Papas, Mistérios e Iniquidades da Corte de Roma” (São Paulo: Madras Editora Ltda, 2004), afirma que : “Durante muitos séculos, a história da papisa Joana havia sido reputada pelo próprio clero como incontestável; mas, com o andar dos tempo, os ultramontanos, compreendendo o escândalos e o ridículo que o reinado de uma mulher devia lançar sobre a Igreja, trataram de fábula digna de desprezo dos homens esclarecidos o pontificado dessa mulher célebre. Autores mais justiceiros defenderam, pelo contrário, a reputação de Joana e provaram, com testemunhos os mais autênticos, que a papisa havia ilustrado o seu reinado com o brilho das suas luzes e com a prática das virtudes cristãs.”

No livro citado, Lachatre escreveu que João Hus, Jerônimo de Praga, Wiclef, Lutero e Calvino, foram acusados pelo padre Labbé, de terem sido eles que inventaram a história da papisa Joana, mas que, no entanto, ficou provado que Joana já havia se instalado na Santa Sé, por volta de seis séculos antes do aparecimento desses homens ilustres, portanto, não era possível que eles tivessem inventado essa fábula. Também Mariano Escoto, que já escrevia há 50 anos antes deles, sobre a vida da papisa, não poderia ter extraído tal história das obras daqueles homens.

A fábula da papisa Joana se resume mais ou menos assim: em torno do ano de 850, uma mulher de origem inglesa, porém natural de Maguncia, teria tomado a aparência de um homem, para poder acompanhar seu amante. Como era muito estudiosa acabou ingressando na hierarquia da cúria romana, tendo sido posteriormente eleita papa. Mas seu pontificado durou pouco mais de dois anos, que foi interrompido por conta de um escândalo, porque ela não renunciou aos prazeres do sexo e acabou ficando grávida, sendo que acabou falecendo quando participava de uma procissão, que percorria o trajeto entre São Pedro do Vaticano e São João do Letrán, depois de ter dado a luz a um menino, que teria sido sufocado pelos padres que cercavam a mãe. Dizem que o cadáver da criança teria sido enterrado junto com a mãe, no lugar onde havia ocorrido o trágico acontecimento.  

Assim, Lachatre argumenta que a história sob o ponto de vista moral, tem que elevar-se acima dos interesses das religiões e seitas, tendo, por conseguinte, que fazer prevalecer a verdade não obstante tenha que despertar a cólera dos sacerdotes — considerando, inclusive, que no caso, a existência da célebre papisa Joana, ao contrário de ferir a dignidade da Santa Igreja Católica, enobrece-a, porque no seu discurso enquanto papisa, ela não adotou as astúcias, traições e crueldades dos pontífices.

Segundo esse escritor, uma das provas de que Joana existiu realmente, está no fato que a corte de Roma decretou a proibição de colocar o nome da papisa no catálogo dos papas.

Porém, escreveu Lachartre que quando a Catedral de Siena foi restaurada no século XV, foi mandado esculpir em mármore, os bustos de todos os papas até Pio II que era, o que na época, estava na “Cadeira de Pedro”, de forma que o busto da papisa Joana teria sido colocado entre os de Leão IV e Bento III, tendo sido ela o 108º pontífice, que teria adotado o nome de João VIII. Claro que se isso é verdadeiro, logo o busto da papisa foi destruído.



sexta-feira, 30 de outubro de 2015

A MAIS CONVINCENTE CERIMÔNIA DE INICIAÇÃO










Luiz Carlos Nogueira









Desde que o ser humano tomou consciência da sua existência material aqui na Terra, começou a se preocupar e a indagar sobre finitude da vida e se haveria continuidade dela além-túmulo, pois repugna à sua razão a ideia do nada absoluto.

Sem nenhuma certeza da vida sempiterna, muitas pessoas, conforme recolhemos da Wikipédia, se deram às práticas  niilistas, como negação do desperdício da força vital diante da esperança vã de uma recompensa ou de um sentido para a vida, em oposição aos autores socráticos e, por conseguinte, à moral cristã, negando que a vida deva ser regida por quaisquer tipos de padrões morais, visando a um mundo superior, de sorte que isso faz com que o homem minta a si próprio, falsifique-se, enquanto vive a vida fixado numa mentira. Assim no niilismo não se promove a determinação de valores fixos, postulados, uma vez que tal determinação é considerada uma atitude negativa.

Segue-se, ainda, na Wikipédia, que o niilismo é: “De caráter fundamentalmente intelectual, o niilismo representou uma reação contra as antigas concepções religiosas, metafísicas e idealistas. Os jovens, retratados como rudes e cínicos, combateram e ridicularizaram as ideias de seus pais.”.

De outra forma, as pessoas se entregavam à prática do hedonismo, ou seja, doutrina que concorda na determinação do prazer como o bem supremo, finalidade e fundamento da vida moral, embora se afastem no momento de explicitar o conteúdo e as características da plena fruição, assim como os meios para obtê-la. Enfim, que se resume em dedicar-se ao prazer como estilo de vida.

Assim, as escolas iniciáticas foram criadas pelos antigos sacerdotes e hierofantes dos mistérios, principalmente do Egito Antigo, com a finalidade de transmitir através de iniciações aos sinceros buscadores da luz espiritual e do ocultismo, segundo eles, as verdades da vida e da morte.

Tais ensinamentos se baseavam na lendária morte (por assassinato) e ressurreição de Osíris, porém, a cerimônia, diferentemente das de hoje, era um ritual ao qual denominavam de ressurreição em vida, que na verdade era algo mais em benefício de uma pessoa viva do que propriamente um defunto.

O assassinato de Osíris, na verdade era uma simulação da qual todos os candidatos dispostos a participar nos Mistérios de Osíris, tinham que se submeter, para tornarem-se unos como o espírito de Osíris que foi o introdutor desses mistérios.

Os templos antigos eram planejados arquitetonicamente, de forma que possuíam dois amplos compartimentos, sendo um destinados aos cultos comuns e outro para os ensinamentos e iniciações nos mistérios secretos.

Os sacerdotes utilizavam-se da hipnose, passes mesméricos, fumigações e aspersões medicamentosas sobre o candidato, colocando-o dessa maneira em profundo transe como se estivesse morto. E enquanto o candidato jazia inerte, sua alma se desprendia do corpo ficando unida apenas pelo cordão místico de prata, que era visto apenas pelos iniciadores sensitivos videntes, senso que suas funções orgânicas do corpo eram conservadas, mesmo com todas as atividades vitais suspensas.

A finalidade desse tipo de iniciação era ensinar ao neófito, que não existe morte, pois esse era um meio mais claro e prático de demonstrar isso, fazendo-o passar pelo processo do que se chama morte, transpondo os limites da vida material e incursionando no outro lado da existência, ou no mundo espiritual.

O candidato estando em transe profundo, era colocado em um caixão feito para múmias, contendo inscrições hieroglíficas e pinturas, sendo depois, lacrado, como se tivesse sido de fato, assassinado.

Esgotado o tempo marcado para o transe, o caixão era aberto, fazendo por meios adequados, que o candidato fosse despertado. Assim essa trama alegórica indicava a ressurreição mística de Osíris, que na verdade significava a verdadeira ressurreição do candidato iniciado nesses Mistérios.

Após o candidato haver passado por essa prova (em transe) e estar desperto, era levado para receber os primeiros raios do Sol em sua face.

Assim é que, como expertises na prática do hipnotismo, alguns sacerdotes e todos os Sumos-sacerdotes egípcios, podiam induzir as pessoas ao sono cataléptico, como se mortas estivessem. Ao mesmo tempo podiam manter desperta a mente do candidato, e fazê-lo passar por inúmeras experiências fora do corpo físico nas dimensões do mundo espiritual e depois fazê-lo lembrar de tudo, quando voltasse ao estado normal de consciência.















quinta-feira, 15 de outubro de 2015

PARA QUE LERMOS E ESTUDARMOS TANTO, SE COM O TEMPO ESQUECEREMOS TUDO?









Luiz Carlos Nogueira








Esses dias eu estava pensando se tudo quanto já li e continuo lendo, o estudei com aplicação, às vezes já não consigo mais me recordar com nitidez, então para que teria servido e serve tudo isso?

Pois bem, hoje, fazendo uma limpeza nas gavetas da minha escrivaninha, achei um texto que não traz o nome do seu autor, mas que diz em outras palavras, justamente que não devermos nos inquietar por não conseguirmos manter mais em nossa memória, tudo quanto já lemos e estudamos, mesmo até os bons ensinamentos, pois, nesse caso — sentir é mais importante do que memorizar.

Assim prossegue o texto, contando uma estória do discípulo que pergunta ao seu mestre, num antigo mosteiro chinês, por que temos que ler, estudar e refletirmos sobre a sabedoria, já que não conseguimos memorizar tudo, retendo o que o tempo desmancha, como se fosse uma apagador invisível sobre as letras escritas em uma lousa?

Depois de algum tempo em silêncio, fitando o discípulo, o mestre pediu-lhe que apanhasse um cesto de junco, sujo e esquecido em um canto, e fosse até ao riacho enchê-lo de água e depois o trouxesse até ele.

Ante ao estranho pedido, não obstante, ensimesmado o discípulo obedeceu. Assim, chegando de volta ao mestre, como o cesto era cheio de furos, a água se escorreu ao longo do caminho, de sorte que nada restou e o mestre perguntou: então, meu filho, o que você aprendeu?

Um pouco atônito, respondeu-lhe o discípulo: ora, aconteceu o que eu já havia aprendido, ou seja, que um cesto de junco com furos, não pode reter a água.

De novo o mestre pediu ao discípulo que repetisse o que havia feito. E não podia ter acontecido outra coisa, senão que o discípulo voltasse novamente com o cesto vazio. E o mestre tornou a repetir a mesma pergunta: então, meu filho, o que você aprendeu? Respondeu-lhe o discípulo com as mesmas palavras ditas na primeira vez: um cesto de junco furando não pode reter a água.

E novamente o mestre pediu ao discípulo para executar a mesma ação por umas vinte vezes, descendo cem degraus da escadaria do mosteiro até ao riacho e de lá voltando carregando o cesto de junco furado, com a água que derramava pelo caminho. Isso fez com que o discípulo ficasse muitíssimo cansado e aflito, até que o mestre fê-lo parar e lhe perguntou novamente; então, meu filho, e agora, o que você aprendeu?

O discípulo desanimado olhou para dentro do certo e aí notou com visível admiração: o cesto está limpo!

Sim, estava limpo, pois, pelo fato da água escorrer pelos buracos acabou lavando-o, pelo que o mestre concluiu seu ensinamento:


Não é importante que não consigamos memorizar todos os ensinamentos obtidos durante a nossa vida, pois, nesse processo de nos conectarmos muitas e muitas vezes com a sabedoria, nossa mente e nosso coração vão se depurando. De tal sorte, nossos preconceitos vão se abrandando e a intolerância dá lugar à lucidez. Todo o pensamento destrutivo cede lugar à criatividade. As competições sem fundamentos cedem lugar à cooperação, e nesse processo todo, nós vamos trabalhando no tempo e sendo de forma contínua, tocados pela sabedoria. Todos aqueles aspectos grotescos vão se limpando, tirando-nos das sombras e nos tronando mais humanos.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

"COGITO ERGO SUM". MAS ONDE ENCONTRO EU?









Luiz Carlos Nogueira






Uma das primeiras descobertas do ser humano, é de que sente ter um EU separado, que pensa, interage e reponde aos estímulos externos. O cogito ergo sum (penso, logo existo), frase de René Descartes, também conhecido como Renatus Cartesius (filósofo, físico e matemático francês da Idade Moderna) que se notabilizou por suas inferências no campo das ideias filosóficas, principalmente no que diz respeito ao nosso EU, dando-lhe a significação de se penso, “eu sou”.

Segundo Ângela Maria La Sala Batà, autora de vários livros de Psicologia Espiritual, que se formou no ambiente espiritual da Escola Arcana de Alice A. Bailey e na atmosfera das pesquisas psicológicas de Roberto Assagioli, também autora de vários trabalhos nessa área, que muito tem contribuído para os ensinamentos esotéricos aplicados à terapia dos desajustamentos psíquicos e das enfermidades nervosas, diz que esse “eu” separado, um ser pensante, tem uma significância importante e não é algo mau por si só e nada tem de nocivo, porque indica um progresso se confrontado com a vaga consciência das massas. (O Caminho do Aspirante Espiritual).

O grande problema, diz a escritora, é que o homem ao confrontar-se com a descoberta da sua individualidade, se sente inicialmente inflado de orgulho e com força e superioridade, acreditando ser o único a sentir a vida e a ter a percepção da sua própria existência, acreditando-se, por isso, diferente, isolado e separado dos demais.

É desse sentimento que nascem todos os defeitos e vícios, transformando a mente num perigoso mecanismo que suscita o egoísmo, o orgulho, a presunção, a ambição, a crítica, a dureza, a intolerância, o desprezo e todos os demais sentimentos deletérios para vida em sociedade.

Alice Bailey, sua mestra, in Trattato di Magia Bianca, afirma que “A mente concreta é sempre egoísta, egocêntrica e expressa a ambição pessoal que traz dentro de sí o gérmen de sua destruição.”

De tal sorte, La Sala Batà orienta, para que o homem deva passar pela fase de desenvolvimento da mente inferior, e atravessar o estágio da polaridade mental, superando os perigos dos quais toma conhecimento, combatendo-os. Para isso terá que desenvolver a mente para torná-la mais poderosa e eficiente, buscando o equilíbrio e discernimento das dificuldades. Ela diz que “Pouco a pouco aprenderá a utilizar a mente, e mesmo a voltá-la para o interior, tornando-a um verdadeiro instrumento da Alma, que tenta comunicar-se com a personalidade.”.

Com vista ao MAS ONDE ENCONTRO EU?”, revivamos então, a história do menino que vivia distraído e esquecendo-se das coisas, pois nunca conseguia encontrar nada do que buscava, até que um dia teve uma ideia e resolveu pô-la em prática. Tomou um papel e um lápis e pôs-se a relacionar o que tinha que fazer e ter mãos, para que nada ficasse esquecido.

Ao acordar pela manhã, apanhou a sua lista de afazeres e coisas as quais tinha que levar consigo. Porém, quando já estava saindo, pôs-se a chorar. Sua mãe ao vê-lo daquele jeito, perguntou-lhe assustada: mas o que é que lhe aconteceu? E o menino, imediatamente respondeu: tudo quanto eu precisava achar, eu achei, exceto uma coisa. E qual é essa coisa redarguiu sua mãe. Eu...MAS ONDE ENCONTRO EU?

Mas qual é o sentido dessa história?


Essa é a grande questão, pois vermos o mundo, as coisas, as pessoas e tudo o que nos cercam, com os olhos de uma criança, nos coloca diante dos grandes desafios deixados para trás e que nós não os resolvemos e o esquecemos, mas, porém, que voltarão à nossa lembrança, fazendo-nos perdermo-nos do nosso EU, que deve ser é a nossa própria referência, ou tudo que concebemos, temos e herdamos de nós próprios. Assim, quando encontramos os pedaços que distorcem os nossos valores, começamos a resgatar o nosso EU, retificando-o de forma que possamos viver mais conscientes e melhor. Somente assim a criança que morava em nós deixará de chorar e perguntar:  MAS ONDE ENCONTRO EU?

segunda-feira, 27 de julho de 2015

AFINAR, RELIJÃO É COISA BOA?









Luiz Carlos Nogueira







Nunca fui interessado em piadas, mas uma vez alguém me contou uma, de sobre como um “caipira” (esse tipo de gente, analfabeta, simples, de roça, tem uma sabedoria que muitas vezes envergonha alguns letrados), que estava colhendo milhos do seu milharal, respondeu o que ele pensava a respeito das religiões.

Claro, a pergunta foi feita por um pesquisador, que havendo se formado em filosofia e teologia, pretendia escrever um livro sobre o assunto e, portanto, precisava colher os mais variados pontos de vista. Assim o jovem pesquisador, aproximou-se do “sinhozinho”, após cumprimentá-lo e este enxugar o suor do rosto, pôs-se a responder, à sua maneira:

Apois assunte bem seu dotô, prá ieu, relijão é iguar essa coieita de mio qui tô fazeno, uai!

Igual colheita de milho? Indagou o pesquisador: como?

O velho agricultor então começou a lhe explicar: O sinhô intão num sabe qui nóis aqui na roça, prá prantá quarqué coisa, primero nóis tem que saber o que vamo prantá, escoiê as semente, prepará a terra, sameá, cuidá até quando tivé dano prá coiê.

Intão. Despois de coído, nóis num tem que levá prá vendê na cidade? Aí ocê pode levá pela estrada de chão, pela estrada de asfarto ou intão í de canoa, né? I cono tem tréim di ferro, nóis leva de tréim, uai!

Cono nóis chega prá vendê prôs comerciante, elis num vão ti preguntá por quar caminho nóis veio — elis vão é querê sabê é se o mio é bão o num presta!.

Pois bem, a lição que se tira dessa piada é que vários são os caminhos que nos levam a Deus. O que é necessário é que sejamos bons.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

O TEMPLO MAÇÔNICO - UMA ABORDAGEM SOBRE A SUA GÊNESE TELEOLÓGICA.







Luiz Carlos Nogueira






Vamos começar definindo o que seja TELEOLOGIA. Pois bem, basicamente teleologia significa na filosofia, qualquer doutrina que identifica a presença de metas, fins ou objetivos últimos guiando a natureza e a humanidade, considerando a finalidade como o princípio explicativo fundamental na organização e nas transformações de todos os seres da realidade; teleologismo, finalismo.

Portanto, a finalidade dos templos maçônicos é para congregar os nossos IIr.'., para que nesse ambiente possamos usá-lo como uma oficina ou laboratório alquímico, onde cada obreiro é como um artífice ou alquimista, que trabalha para desbastar a pedra bruta que somos nós, ou para transmutar numa linguagem figurada, o chumbo em ouro, ou seja, para transformar as nossas imperfeições que são como o chumbo, no ouro que representa as virtudes, que fazem as nossas almas adquirir um brilho especial, fazendo aflorar a espiritualidade.

Assim é que nessa pratica maçônica, quando dizemos que estamos procurando desbastar e polir a pedra bruta, podemos inferir ou deduzir que estamos procurando eliminar os companheiros matadores de Hiram. Os companheiros a que referimos são: a ignorância, a mentira e a ambição, enquanto Hiram representa a verdade e a virtude.

Considerando essas deficiências e propensões do ser humano, Thomaz Hobbes, sistematizou o contratualismo como teoria justificativa da existência do Estado. Esse pensador, com essa ideia profana se aproximou da lição da Lenda de Hiram, como a entendemos. Afirmava esse filósofo que: “no estado de natureza o homem era inimigo feroz dos seus semelhantes; que cada homem era como lobo para os outros homens. Que por todos os lados havia guerra mútua, a luta de cada um contra todos. Que cada homem alimenta em si a ambição do poder, a tendência para o domínio sobre os outros homens. Que a força e a astúcia triunfam.”

Com vistas nisso, para sairmos desse estado caótico, refugiamo-nos em nossos templos para recebermos as luzes do entendimento, exercitando-nos para vencermos nossas paixões, submetermos a nossa vontade e fazermos progressos nessa caminhada.

Aqui abro parêntesis para observar que submeter a nossa vontade, não significa tornarmo-nos submissos a quem quer que seja. O que se deve entender é que a nossa vontade tem que se render aos nossos progressos como seres humanos. Portanto, havemos que ter vontade para cumprirmos com tal objetivo que nos propusemos.

Para o cumprimento de tal desiderato, os templos maçônicos comportam arranjos de importância, como a ordem, a postura, as cores, a mobília, as joias, a musicalidade, enfim todos os acessórios emblemáticos desde a construção do edifício, que se revestem de significados espirituais e filosóficos profundos, mais do que propriamente uma questão de ornamento e conforto.

Entretanto, busquemos a origem dos templos, desde as eras mais remotas, cuidando assim, do aspecto ontológico, ou seja, a ciência do ser.

“Ser”, tem o significado de aquilo que existe em todo o mundo material que nos cerca, incluindo nós próprios. Em filosofia, ser é considerado não só como um verbo (existir), mas também como substantivo ("tudo o que é").

Portanto, é preciso considerarmos que EXISTEM DUAS DOUTRINAS DO “SER”, que são: A DOUTRINA MECANICISTA E A DOUTRINA TELEOLÓGICA.

O MECANICISMO é uma teoria filosófica determinista segundo a qual todos os fenômenos se explicam pela causalidade mecânica ou em analogia à causalidade mecânica (causalidade linear ou, instrumentalmente, como meio para uma causa final).

Em filosofia, o mecanicismo é defendido pelo deísmo, que sustenta que o universo é um mecanismo, o qual pressupõe a existência um ser superior não mecânico (Deus), assim como um relógio pressupõe a existência do relojoeiro que o construiu.

Em biologia, mecanicismo refere-se às teorias que afirmam que todos os fenômenos que se manifestam nos seres vivos são mecanicamente determinados e, em última análise, essencialmente de natureza físico-química. Esta postura opõe-se às explicações vitalistas que postulam a existência de uma força ou impulso vital sem a qual a vida não poderia ser explicada.

A DOUTRINA MECANICISTA, por conseguinte, refere-se à mecânica e às coisas materiais, que afirma ser o nosso universo apenas um agrupamento de partes e não um todo como aparenta ser; não existindo nenhum plano ou ideia que o esteja regendo, porquanto, da ação e reação resultam o desenvolvimento das formas como as percebemos e que estão em várias partes do universo. Dai porque os mecanicistas defendem a ideia de que, pelos choques de forças mecânicas, por conta de partículas infinitesimais que se chocam, repercutem ou ricocheteiam aleatoriamente, tomando direções sem um plano previamente definido ou direcionado, apenas acontecendo por mero acaso ou eventualidade.

A DOUTRINA TELEOLÓGICA, contrapondo-se à MECANICISTA, afirma que todo o existir tem uma causa consciente, ou causa primeira que o planejou, ou seja, que tudo se originou de uma mente ou inteligência, inefável e incognoscível.
A TELEOLOGIA (do grego τέλος, finalidade, e -logía, estudo) é o estudo filosófico dos fins, isto é, do propósito, objetivo ou finalidade. Embora o estudo dos objetivos possa ser entendido como se referindo aos objetivos que os homens colocam em suas ações, em seu sentido filosófico, teleologia refere-se ao estudo das finalidades do universo.

Por conseguinte, essa doutrina afirma que tudo foi previamente traçado e planeado pelo G.'.A.'.D.'.U.'., que está por trás de todos os seres, dando-lhes a existência ou o desaparecimento de suas formas. Nada, portanto, ocorre fortuitamente ou por acaso. Todas as partes aparentemente criadas aleatoriamente, se encaixam perfeitamente para formarem harmonicamente uma unidade de tudo quanto compõe o nosso mundo.

Observe-se que, consoante essa Doutrina, isto também se aplica à vida de um modo geral, ou seja, desde a vida vegetal até à humana, que surge não do entrechoque de diferentes forças e energias ao acaso. A matéria viva, não é apenas resultante de processos físico-químicos, como pretendem os mecanicistas, pois ninguém ou nenhum cientista pode criar vida inteligente num tubo de ensaio. Assim fica impossível não admitir que para tal fim, não exista uma inteligência superior e inefável, agindo nesse sentido. E dessa maneira, uma vez constatado não haver diferença no processo de reprodução celular, isto LEVOU OS CIENTISTAS INCONFORMADOS EM ACEITAREM A DOUTRINA TELEOLÓGICA, A DIVIDIREM-NA EM DOIS RAMOS: A ESTÁTICA E A DINÂMICA.

A TELEOLOGIA ESTÁTICA afirma que há um propósito na própria ordem, que independe da vontade, por assim dizer, de uma mente inteligente agindo por detrás de tudo quanto existe. Esse pensamento é determinista, como se fosse o caso de houvessem vários dados, todos eles com três pontinhos em cada face. E sempre que fossem arremessados como num jogo de cassino, obteríamos sempre três pontos em todos eles. Dessa forma é evidente que não poderíamos afirmar que cada um dos dados tivesse vontade própria de cair marcando três pontos, porque estariam obedecendo a um propósito de sua ordem. Destarte, essa teoria não pôde se sustentar, como é óbvio, pois nada provava sobre o surgimento das coisas. Assim, deu lugar à TELEOLOGIA DINÂMICA.

A TELEOLOGIA DINÂMICA, afirma que a matéria viva goza de certa autonomia, que é resultante de uma vontade e uma causa pensante e, que a vida em si mesma contém um desiderato e uma inteligência de que é dotada para subsistir e cumprir sua finalidade, solucionando os óbices ou obstáculos que surgem à sua volta, o que significa dizer que a vida está impregnada de consciência, de inteligência e vontade, além de um propósito a desempenhar.

Agora, depois destas considerações preliminares, passemos a analisar a questão da nossa dualidade, isto é, a visão maçônica de que somos compostos dos mesmos elementos materiais de que é feito o universo, assim como de uma parte intangível, imaterial, etérea que controla e dirige a nossa constituição corporal e prevalecente a ela,  que denominamos de espírito, elemento este, imortal e que retorna à fonte quando do chamado fenômeno morte.

É desse elemento imaterial e imperecível, que tratamos como maçons, buscando harmonizá-lo com a nossa fonte criadora que denominamos G.'.A.'.D.'.U.'., que é Deus. E para isso é que nos refugiamos num local onde reina a paz e a harmonia, longe dos problemas do cotidiano, para meditarmos desligando-nos mesmo que por alguns momentos, dos estímulos que agitam a nossa consciência objetiva, absorvidos pelos nossos sentidos físicos. Esse local é o Templo Maçônico. Por consequência, esse local deve ser de quietude e tranquilidade. É por isso que o Ven.'. recomenda nos início dos trabalhos templários, para que nenhum ir.'. fale ou passe de uma coluna para outra, sem obter permissão, nem ocupar-se de assuntos proibidos pelas leis maçônicas.

Há que se notar pela história, que os homens primitivos careciam dessa mesma busca, para encontrarem-se consigo mesmo no seu interior e assim  poder reverenciar a tremenda Força que sustenta o Universo, não obstante não tivessem a ideia da unidade de Deus, não limitado pelo espaço e tempo, atribuindo a essa Força, que acreditavam proveniente de várias inteligências que chamavam de deuses semelhantes aos homens, tanto na forma quanto na disposição de temperamento, virtudes e deficiências, porém, com maior poder.

Esses povos primitivos também acreditavam que esses deuses se comportavam de forma igual aos humanos, casando-se, vivendo em família, tendo filhos às vezes até com humanos que se tornavam semideuses. Tais deuses habitavam regiões celestes ou de alguma forma, especiais e não desciam na Terra se o lugar não fosse importante e à altura da sua deidade, como por exemplo, num campo florido, em praias deslumbrantes, nos montes aprazíveis ou num oásis nos desertos. Esses lugares, acabaram tornando-se OS PRIMEIROS TEMPLOS DO HOMEM e, portanto, solos sagrados, ainda que não edificados com pedras ou madeiras, mas que podiam ser marcados colocando-se monólitos ou blocos de pedras pesando toneladas, que eram dispostos em pé ou formando retângulos ou círculos, enquanto o Homem não dominava a arte de construir e não dispunha de ferramental adequado. Com o passar dos tempos, construíram-se as edificações, com pedras talhadas ou tijolos.

Tais escolhas de locais considerados sagrados, deu origem ao termo TEOFANIA, que segundo o Dicionário Teológico Brasileiro Lázaro Soares de Assis, “O termo vem do grego, theophnaia, que por sua vez é uma palavra composta por dois vocábulos, também gregos: Théos, "Deus" e phanei, "aparecer". Isto é, Teofania é o termo utilizado para descrever alguma manifestação visível de Deus, na forma que Ele quiser. Alguns eruditos, definem Teofania como uma manifestação de Deus aparecendo, seja em forma humana, seja através de fenômenos da natureza gran­diosos e impressionantes. Em sua essência, Teofania é um termo teológico que serve para indicar qualquer manifestação temporária e normalmente visível de Deus. Por conseguinte, é preciso se distinguir de forma enfática que há uma grande diferença entre a Teofania (que é uma manifestação temporária) e a Encarnação (que é uma manifestação permanente), uma vez que muitas das Teofanias do AT eram manifestações de Jesus pré-encarnado.” (Nota: AT, Antigo Testamento).

Na atualidade, nossos TEMPLOS MAÇÔNICOS têm seu altar dos juramentos colocado no oriente, ou seja, situado ao leste da construção, consistindo de, como todos sabem, uma mezinha triangular ou uma coluneta, por sobre as quais são colocadas uma Bíblia Sagrada, com um esquadro e um compasso. Algumas têm em cada vértice um candelabro com uma vela. Tais arranjos, seriam consentâneos com o que afirmam ser uma réplica do Templo de Salomão, com base na herança que o povo hebreu teria herdado dos egípcios. Isso tudo se relaciona com uma representação alegórica dos altares antigos, como há relato bíblico sobre o Tabernáculo no deserto, construído por Moisés, destinado a guardar a Arca da Aliança e as Tábuas da Lei.

Nós, tais como os Homens primitivos que colocavam um marco para indicar a localização da presença de Deus em seus templos, fazemos a mesma coisa nos dias de hoje. Era e é nos Templos antigos e modernos, que o Homem busca refúgio para a sua alma e procura se harmonizar com o Criador dos Mundos. Portanto, nas aberturas das sessões das LLoj.'.MMaç.'. se invoca a presença do G.'.A.'.D.'.U.'. em seus altares.

Na antiguidade o Homem fazia seus toscos altares, na tentativa de  representar a possível forma de Deus, já que não conseguiam imaginá-lo amorfo, isto é, sem forma. Hoje, todavia, constroem-se altares triangulares, porque os triângulos simbolizam a perfeição. Aliás, os três vértices do triângulo representam, dois deles as duas fases da polaridade, uma positiva e outra negativa, necessárias para que se traga à existência – a unidade, que é a sua manifestação. Essa é uma explicação esotérica da manifestação ou existência de todas as coisas.

Encimadas em cada um dos vértices do Altar dos JJur\, ficam três velas acesas, por que se considera que o três é o número da perfeição, e o G\A\D\U\ para os MMaç\ é a Perfeição e a Luz. Dessa forma, simboliza-se a manifestação de Deus. E quanto ao fogo das velas, esse é o mais antigo dos símbolos, tanto para as religiões, para os filósofos e místicos, pois o fogo exerce um fascínio que atinge a nossa consciência espiritual, sugerindo-nos que há algo Maior em toda a criação. Suas chamas se movimentam com muita beleza, como que estejam vivas, coloridas, brilhantes, produzindo calor, e de certa forma, até algum som que pode ser ouvido se nos aproximarmos delas.

Na cultura da Pérsia, o zoroastrismo ou Mazdeísmo, religião fundada por Zoroastro (ou Zarathustra, designação Grega), cujo livro doutrinário é o Zend-Avesta, foca no Summum bonum ( 'sumo bem' ou 'bem maior, em latim), expressão latina usada na filosofia para descrever o bem maior que o ser humano deve buscar. Ahura Mazda,  Ormasde,  Ahura Mazda ou  Ormuz,  era princípio ou deus do bem, segundo o zoroastrismo e a mitologia persa O Criador do Mundo, por conseguinte, a figura da ética e da moral. Todavia, o culto a Mazda era prestado de forma simples, não havendo templos e estátuas. Seus símbolos eram a luz e o fogo; e seus santuários eram os lugares altos, a céu descoberto.

Os zoroastristas deram um significado especial ao fogo, que para eles foi a forma inicial da Luz Celestial, que em outras palavras significa a iluminação e a sabedoria de Deus, sendo, por isso mesmo, que na Terra tornou-se o símbolo dessa iluminação, e a fulgurância da divindade. Destarte, em algum lugar destinado aos seus cultos, mantinham uma chama acesa.

Eis, então que a descoberta do fogo foi uma das mais importantes, porque com ele, o homem pôde sair do seu estado primitivo tornando-se superior às outras formas de vida na Terra, criando desde as ferramentas mais simples às mais sofisticadas, que lhe permitiu desenvolver ao longo dos tempos, tecnologias que melhoraram a vida dos povos e nações.

Portanto, no correr dos séculos, muitos rituais se desenvolveram associados ao fogo. Alguns muito bonitos, como por exemplo, na Calábria, que é uma região do sul da Itália e ocupa uma estreita faixa da península itálica ao sul de Nápoles, fazia-se com que nas cerimônias de casamentos, os jovens noivos ficassem em pé diante de um fogo, e para santificarem seus juramentos tentassem, por fração de segundos, segurar as línguas de fogo, ou as chamas, com os dedos, sugerindo a purificação através desse elemento universal que funde e reduz todas as coisas materiais em seu estado mais simples, removendo-lhes todas as impurezas.

Havia, e não sei ainda há, em algum lugar, um rito relacionado com o fogo, que é o da “queima perpétua”, decorrente do que o Homem adotava nos tempos mais remotos, qual seja, o de manter continuamente o fogo aceso. Há quem afirme que tal prática devia-se ao fator de que naquelas épocas do passado distante, o Homem tinha dificuldade de produzir o fogo sempre no momento em que dele necessitasse, além do que isso não era uma tarefa fácil, porque dependia de que fosse friccionado um pedaço de pau em outra madeira, por muito tempo, até que o atrito começasse a aquecê-la até surgir uma faísca que a começava queimar.

Para resolverem essa dificuldade, as tribos sempre tinham alguém incumbido de manter o fogo sempre aceso, para ser usado por todos, sempre que dele necessitassem. E com o passar dos tempos, isso passou a ter um significado simbólico para essa “queima perpétua”, representando a devoção e a força espiritual no interior de cada ser humano, despertando-lhes a consciência para distinguirem o certo do errado. Na Maç\foi adotada essa simbologia do fogo, cuja “queima perpétua” é para ocorrer no templo interior de cada membro, estimulando-os a aquecerem o seu espírito e avivarem sempre essa chama por seus pensamentos e atos.

Essa é a lógica dessa atividade templária (teleológica) e a finalidade dos templos. Somos partes integrantes no sistema da Criação do G.'.A.'.D.'.U.'., agindo segundo seus planos para os quais fomos direcionados (o que não significa fatalismos; consideremos o livre-arbítrio de cada um), para operamos no Departamento da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, como pedreiros livres e de bons costumes, sob juramento diante do Livro da Lei Sagrada (a Bíblia), quando nos propusemos a construirmos o edifício do amor, trabalhando do meio-dia à meia noite, utilizando-nos da argamassa do bem e com a trolha perfeita, depois de planejada toda a obra com inteligência, reverência e razão, tornando-nos capazes de discernir o bem do mal, o justo do injusto, para assim contribuirmos para limpar as asperezas do nosso planeta, como as da pedra bruta que aprendemos a desbastar e a polir.

Por isso tudo, aprendemos com mais exatidão do que os homens primitivos, a construir os nossos Templos, as nossas Oficinas que retificam o nosso caráter, aparelhando-as com os instrumentos necessários para o nosso trabalho, usando como sustentação moral sólida, três colunas conhecidas como Sabedoria, Força e Beleza.

Enquanto que no seu interior, definimos as áreas de operosidade, montamos sistema de segurança, com obreiro armado com a Espada Flamejante, com a missão de impedir a intrusão dos males que acometem o mundo, tais como os vícios da corrupção, da desonra, da injustiça, a vileza ou a vilania e outros mais, para que não invadam e não ultrapassem dos nossos portais sagrados e assim não profanem o nosso santuário, onde se aprende os segredos dos números, a gnose e a geometria. Também a decoração alegórica e simbólica do nosso pequeno universo é para torná-lo agradável, produzindo em nossas mentes o fortalecimento dos ideais que buscamos, dentro de uma atmosfera psicológica adequada de paz e harmonia, onde podemos elevar as nossas consciências.

Eis que também, marcando uma direção no ponto Cardeal Norte, está um pentagrama ou a Estrela Flamejante, indicando iluminação que espanca as trevas, para que o viajor na senda, encontre o reino da luz, após haver trasposto o pórtico ladeado por duas colunas da ordem coríntia, cujos capitéis foram coroados por três romãs entreabertas, que simbolizam com as suas sementes, a prosperidade e a solidariedade da grande família maçônica.

Finalizando:

“Portanto, toda a ornamentação e divisão do templo não é fruto do acaso, a começar pela Sala dos Passos Perdidos, mais adiante o Átrio, a Câmara ou Caverna de Reflexões, e finalmente o Templo em si. Todos estes compartimentos são estágios há muito tempo utilizados para separar o sagrado do profano (VAN GUENNEP, 2011)...[...]
Nesse contexto, o ritual tem por objetivo a realização da passagem de um estado de consciência para outro, estados esses chamados maçonicamente de profano e sagrado, e em última análise, o templo com suas divisões simboliza o estado de consciência em que nos encontramos.
Desta forma, o templo em si representa um estado intransponível de pureza e santidade para seus membros. As funções-cargos expressas no ritual e as disposições do templo são personificações simbólicas das leis psicológicas que atuam na psique (CAMPBELL, 2007; MAXENCE, 2010) [...]”

Bibliografia:

Walton, J.Roberto. Universidad de Buenos Aires, Estud.filosoficos. ISSN 0121-3628 nº45 Junio de 2012. Universidad de Antioquia pp. 81-103. Teleología y teología en Edmund Husserl. Universidad de Santafé; Academia Nacional de Ciencias de Buenos Aires; Buenos Aires, Argentina. 26 de noviembre de 2011. grwalton@fibertel.com.ar

Guimarães, Raphael, Revista Ciência e Maçonaria, C&M | Brasília, Vol. 1, n.1, p. 21-28, Jan/Jun, 2013.

Figueiredo, Joaquim Gervásio, Dicionário de Maçonaria, 17ª Ed. Pensamento, SP,  06/2011