Luiz
Carlos Nogueira
Esses
dias eu estava pensando se tudo quanto já li e continuo lendo, o estudei com
aplicação, às vezes já não consigo mais me recordar com nitidez, então para que
teria servido e serve tudo isso?
Pois
bem, hoje, fazendo uma limpeza nas gavetas da minha escrivaninha, achei um
texto que não traz o nome do seu autor, mas que diz em outras palavras, justamente que não devermos
nos inquietar por não conseguirmos manter mais em nossa memória, tudo quanto já
lemos e estudamos, mesmo até os bons ensinamentos, pois, nesse caso — sentir é
mais importante do que memorizar.
Assim
prossegue o texto, contando uma estória do discípulo que pergunta ao seu
mestre, num antigo mosteiro chinês, por que temos que ler, estudar e
refletirmos sobre a sabedoria, já que não conseguimos memorizar tudo, retendo o
que o tempo desmancha, como se fosse uma apagador invisível sobre as letras
escritas em uma lousa?
Depois
de algum tempo em silêncio, fitando o discípulo, o mestre pediu-lhe que
apanhasse um cesto de junco, sujo e esquecido em um canto, e fosse até ao
riacho enchê-lo de água e depois o trouxesse até ele.
Ante
ao estranho pedido, não obstante, ensimesmado o discípulo obedeceu. Assim,
chegando de volta ao mestre, como o cesto era cheio de furos, a água se
escorreu ao longo do caminho, de sorte que nada restou e o mestre perguntou:
então, meu filho, o que você aprendeu?
Um
pouco atônito, respondeu-lhe o discípulo: ora, aconteceu o que eu já havia
aprendido, ou seja, que um cesto de junco com furos, não pode reter a água.
De
novo o mestre pediu ao discípulo que repetisse o que havia feito. E não podia
ter acontecido outra coisa, senão que o discípulo voltasse novamente com o
cesto vazio. E o mestre tornou a repetir a mesma pergunta: então, meu filho, o
que você aprendeu? Respondeu-lhe o discípulo com as mesmas palavras ditas na
primeira vez: um cesto de junco furando não pode reter a água.
E
novamente o mestre pediu ao discípulo para executar a mesma ação por umas vinte
vezes, descendo cem degraus da escadaria do mosteiro até ao riacho e de lá
voltando carregando o cesto de junco furado, com a água que derramava pelo
caminho. Isso fez com que o discípulo ficasse muitíssimo cansado e aflito, até
que o mestre fê-lo parar e lhe perguntou novamente; então, meu filho, e agora,
o que você aprendeu?
O
discípulo desanimado olhou para dentro do certo e aí notou com visível admiração:
o cesto está limpo!
Sim,
estava limpo, pois, pelo fato da água escorrer pelos buracos acabou lavando-o,
pelo que o mestre concluiu seu ensinamento:
Não
é importante que não consigamos memorizar todos os ensinamentos obtidos durante
a nossa vida, pois, nesse processo de nos conectarmos muitas e muitas vezes com
a sabedoria, nossa mente e nosso coração vão se depurando. De tal sorte, nossos
preconceitos vão se abrandando e a intolerância dá lugar à lucidez. Todo o
pensamento destrutivo cede lugar à criatividade. As competições sem fundamentos
cedem lugar à cooperação, e nesse processo todo, nós vamos trabalhando no tempo
e sendo de forma contínua, tocados pela sabedoria. Todos aqueles aspectos
grotescos vão se limpando, tirando-nos das sombras e nos tronando mais humanos.
Uma realidade.
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