quinta-feira, 15 de outubro de 2015

PARA QUE LERMOS E ESTUDARMOS TANTO, SE COM O TEMPO ESQUECEREMOS TUDO?









Luiz Carlos Nogueira








Esses dias eu estava pensando se tudo quanto já li e continuo lendo, o estudei com aplicação, às vezes já não consigo mais me recordar com nitidez, então para que teria servido e serve tudo isso?

Pois bem, hoje, fazendo uma limpeza nas gavetas da minha escrivaninha, achei um texto que não traz o nome do seu autor, mas que diz em outras palavras, justamente que não devermos nos inquietar por não conseguirmos manter mais em nossa memória, tudo quanto já lemos e estudamos, mesmo até os bons ensinamentos, pois, nesse caso — sentir é mais importante do que memorizar.

Assim prossegue o texto, contando uma estória do discípulo que pergunta ao seu mestre, num antigo mosteiro chinês, por que temos que ler, estudar e refletirmos sobre a sabedoria, já que não conseguimos memorizar tudo, retendo o que o tempo desmancha, como se fosse uma apagador invisível sobre as letras escritas em uma lousa?

Depois de algum tempo em silêncio, fitando o discípulo, o mestre pediu-lhe que apanhasse um cesto de junco, sujo e esquecido em um canto, e fosse até ao riacho enchê-lo de água e depois o trouxesse até ele.

Ante ao estranho pedido, não obstante, ensimesmado o discípulo obedeceu. Assim, chegando de volta ao mestre, como o cesto era cheio de furos, a água se escorreu ao longo do caminho, de sorte que nada restou e o mestre perguntou: então, meu filho, o que você aprendeu?

Um pouco atônito, respondeu-lhe o discípulo: ora, aconteceu o que eu já havia aprendido, ou seja, que um cesto de junco com furos, não pode reter a água.

De novo o mestre pediu ao discípulo que repetisse o que havia feito. E não podia ter acontecido outra coisa, senão que o discípulo voltasse novamente com o cesto vazio. E o mestre tornou a repetir a mesma pergunta: então, meu filho, o que você aprendeu? Respondeu-lhe o discípulo com as mesmas palavras ditas na primeira vez: um cesto de junco furando não pode reter a água.

E novamente o mestre pediu ao discípulo para executar a mesma ação por umas vinte vezes, descendo cem degraus da escadaria do mosteiro até ao riacho e de lá voltando carregando o cesto de junco furado, com a água que derramava pelo caminho. Isso fez com que o discípulo ficasse muitíssimo cansado e aflito, até que o mestre fê-lo parar e lhe perguntou novamente; então, meu filho, e agora, o que você aprendeu?

O discípulo desanimado olhou para dentro do certo e aí notou com visível admiração: o cesto está limpo!

Sim, estava limpo, pois, pelo fato da água escorrer pelos buracos acabou lavando-o, pelo que o mestre concluiu seu ensinamento:


Não é importante que não consigamos memorizar todos os ensinamentos obtidos durante a nossa vida, pois, nesse processo de nos conectarmos muitas e muitas vezes com a sabedoria, nossa mente e nosso coração vão se depurando. De tal sorte, nossos preconceitos vão se abrandando e a intolerância dá lugar à lucidez. Todo o pensamento destrutivo cede lugar à criatividade. As competições sem fundamentos cedem lugar à cooperação, e nesse processo todo, nós vamos trabalhando no tempo e sendo de forma contínua, tocados pela sabedoria. Todos aqueles aspectos grotescos vão se limpando, tirando-nos das sombras e nos tronando mais humanos.

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