domingo, 23 de novembro de 2014

Se Nada Vem do Nada, então como pode a Ordem Sair do Caos?










Luiz Carlos Nogueira












Diziam os antigos filósofos que Ex Nihilo Nihil fit, ou seja, nada vem do nada, então como puderam filosofar sobre o Ordo Ab Chao (A ordem saída do caos)?

A máxima filosófica de que nada vem do nada, pode significar que o nada estaria atribuindo a si mesmo o poder de se autogerar? Ou seja, gerar-se a si mesmo? E assim possibilitando a afirmativa filosófica sobre a ordem saída do caos? Qual caos se nada existia?

Por conta dessas especulações, Gottfried Wilhelm Leibniz[1], filósofo alemão, chegou a indagar “por que existe algo e não apenas o nada?” porque de outra forma se não houvesse o nada – não haveria a necessidade de explicar nada, nem haveria alguém para pedir explicação.

Mas é a ideia do nada que assombra o ser, conforme disse Jean-Paul Sartre em sua obra “O Ser e o Nada”[2], porque para os existencialistas como Martins Heidgger[3], o que  angustia o ser e lhe causa ansiedade, é pensar que a nossa existência sai do abismo do nada e acaba no nada da morte, e nisso está o temor — o caminho para o não ser.

Todavia, o filósofo judeu Moisés Maimônides[4] afirmava que Deus criou o mundo do nada, o que ele não queria que significasse dizer que o nada estaria na categoria de entidade – algo equiparável ao divino, mas somente ele quis informar que Deus não criou o mundo a partir de alguma coisa espiritual ou concreta, como também parece estar sustentado pelo festejado teólogo cristão Tomás de Aquino.

E Maimônides explica as três teorias diferentes sobre a origem do universo:

“A primeira teoria, sustenta que o Universo inteiro, à exceção de Deus, foi por ele trazido à existência a partir da não-existência. No início somente Deus havia, e mais nada; nem anjos, nem esferas celestes, nem o quanto nelas existiria. Ele então produziu do nada todas as coisas existentes, tais como são, por Sua vontade e desejo. Mesmo o tempo pertence às coisas criadas, pois o tempo depende do movimento, isto é, de uma acidente sobre as coisas que se movem. E as coisas de cujo movimento o tempo depende são, elas mesmas, seres criados, que passam da inexistência à existência. Afirmamos que Deus existe antes da Criação do Universo, embora o verbo existir implique a noção do tempo. Acreditamos também que Ele existe por um espaço de tempo infinito antes da Criação do Universo, mas, neste caso, não queremos dizer tempo no seu sentido concreto. Utilizamos o termo para significar algo análogo ou semelhante ao tempo, pois este é, indubitavelmente, um acidente e, de acordo com a nossa consideração, um dos acidentes criados — tais como a negrura ou a brancura — não é uma qualidade, mas um acidente ligado ao movimento. Isto deve ser claro para quem compreendeu o que Aristóteles afirmou sobre o tempo e sua real existência.
Vamos expor aqui uma ideia que, ainda que marginal à nossa abordagem, poderá ser útil no decurso de nossa discussão. Muitos cientistas não sabem realmente o que é o tempo, e homens como Galeno ficaram perplexos acerca deste assunto que questionaram se o tempo é real ou não. A razão para este dúvida por ser encontrada no fato de o tempo se um acidente de um acidente. Acidentes estão diretamente ligados a corpos materiais, como as cores e os sabores, são facilmente compreendidos e formam-se noções corretas a respeito deles. No entanto, há acidentes ligados a outros acidentes, como o brilho da cor, a inclinação ou a curvatura de uma linha; destes é muito difícil formar uma noção correta, principalmente quando o acidente que forma o substrato para outro acidente não é constante, mas variável. Ambas as dificuldades estão presentes na noção do tempo: ele é um acidente do movimento, que, por sua vez, é um acidente do objeto movido. Além disso, não é uma propriedade fixa. Ao contrário, sua condição verdadeira e essencial é não permanecer no mesmo estado nem por dois momentos consecutivos. Esta é a fonte da ignorância acerca da natureza do tempo.
Consideramos o tempo uma coisa criada: vem à existência assim como os demais acidentes e as demais substâncias que formam os substratos para os acidentes. Por esta razão, pelo fato de o tempo pertencer às coisas criadas, não se pode dizer que Deus produziu o Universo no início. Veja bem: este argumento serve para quem não compreende sua incapacidade de refutar as fortes objeções levantadas contra a teoria da Creatio ex nihilo. Se você admitir a existência do tempo antes da Criação, será compelido a aceitar a teoria da Eternidade do Universo — pelo fato de o tempo se tratar de um acidente que requeira um substrato. Então terá que admitir que algo (junto a Deus) existiu antes da Criação do Universo, posição à qual é seu dever se opor.” [...] (págs.105 a 107)

“A segunda teoria, e a teoria dos filósofos, cujas opiniões e trabalhos nos são conhecidos, é a seguinte: é impossível que Deus produza tudo do nada ou que reduza tudo a nada. Em outras palavras, é impossível que um objeto consistente de matéria e forma pudesse ser produzido quando a matéria era absolutamente inexistente ou que pudesse ser destruído de tal modo que a matéria passasse a não existir mais. Dizer que Deus pode produzir uma coisa do nada ou reduzir uma coisa a nada é, de acordo com a opinião desses filósofos, o mesmo que afirmar que Ele poderia levar uma substância a ter, simultaneamente, duas propriedades opostas, ou de criar outro ser semelhante a Ele, ou se transformar em corpo, ou ainda, produzir um quadrado cuja diagonal fosse igual a um de seus lados, ou coisas igualmente inviáveis. Os filósofos, portanto, acreditam que não é um defeito no Ser Supremo a não-criação de coisas impossíveis, pois a natureza do que é impossível é constante — independe da ação de um agente e, por esta razão, não pode ser modificada; do mesmo modo que, segundo eles, não há defeito na grandeza de Deus por Ele ser incapaz de produzir uma coisa do nada, pois eles consideram isto uma das impossibilidades. Consequentemente, admitem que uma determinada substância coexiste com Deus pela Eternidade, de tal forma que nem Deus possa existir sem ela, nem ela sem Deus. No entanto, não defendem que a existência desta substância seja equivalente à de Deus, pois Deus é a causa de sua existência. A substância está para Deus assim como a argila está para o ceramista ou o ferro, para o forjador, Deus pode fazer com isto o que lhe agrade: ora forma Céus e Terra, ora, qualquer outra coisa. Aqueles que sustentam esta visão assumem também que os Céus são transitórios, que vieram à existência — mas não do nada — e podem deixar de existir, embora não possam ser reduzidos a nada. Os Céus são transitórios do mesmo modo que os indivíduos, entre os seres vivos: são produzidos de uma mesma substância existente e são novamente reduzidos à mesma parte da substância, esta permanece existindo. O processo de gênese e destruição e, no caso dos Céus, o mesmo que em qualquer ser terrestre.
Os adeptos desta teoria se subdividem em várias escolas, cujas opiniões e princípios é desnecessário discutirmos aqui, mas o que mencionei é comum a todos eles. Também Platão sustenta a mesma opinião.
Aristóteles conta, em sua obra Física (Acrosis), que, de acordo com Platão, os Céus são transitórios. Esta visão é tratada também em seu livro Timaeus. Sua opinião, sem dúvida, é discordante da nossa crença. Somente pessoas superficiais e descuidadas admitem, de forma equivocada, que Platão acredita no mesmo que nós. Enquanto sustentamos que os Céus são criados do Nada Absoluto, Platão acredita que os Céus foram formados de algo.” (págs. 107 a 108)

“A terceira teoria é a de Aristóteles, seus discípulos e comentaristas. Aristóteles argumenta, assim como os adeptos da segunda teoria, que um corpo não pode ser produzido sem uma substância corpórea. Todavia, ele vai mais longe e defende que o Céu é indestrutível. Ele afirma que o Universo, em sua totalidade, nunca foi diferente e nunca se modificará: os Céus, que são um elemento permanente do Universo e não estão sujeitos à gênese nem à destruição, têm sido sempre assim. O Tempo e o movimento são eternos, permanentes e não possuem princípio nem fim. O mundo sublunar, que inclui os elementos transitórios, tem sido sempre o mesmo, porque a matéria-prima é eterna e simplesmente se combina sucessivamente de diferentes formas; quando uma forma é removida, outra é assumida. Portanto, toda esta organização, tanto lá em cima quanto aqui embaixo, nunca é perturbada ou interrompida, e nada é produzido fora das leis ou do curso normal da Natureza. Ele ainda diz — embora não nestes termos — que considera impossível para Deus modificar Sua Vontade ou conceber um novo desejo, que Deus produziu este Universo em sua totalidade por Sua Vontade, mas não do nada. Aristóteles considera impossível admitir que Deus mude Sua Vontade ou conceba um novo desejo, seria como acreditar que Ele é inexistente ou que Sua Essência é mutável. Consequentemente, conclui-se que este Universo tem sido sempre o mesmo desde o passado e será o mesmo eternamente. Esta é uma mostra completa das opiniões daqueles que consideram que a existência de Deus, a Primeira Causa do Universo, foi estabelecida por meio de demonstração. Mas seria desnecessário mencionar as opiniões daqueles que não reconhecem a existência de Deus, porém acreditam que o estado de existência das coisas é o resultado da combinação acidental e separação dos elementos e que o Universo não tem um Legislador ou governador. Esta é a teoria de Epícuro e sua escola, e de filósofos semelhantes, segundo Alexandre de Afrodísias. Seria supérfluo repetir seus pontos de vista, já que a existência de Deus já ficou demonstrada, enquanto a sua teoria e construída sobre uma base comprovadamente insustentável. É igualmente inútil corroborar a correção dos seguidores da segunda teoria quando afirmam que os Céus são transitórios, pois, ao mesmo em que acreditam na Eternidade do Universo, adotam aquela tória. Assim, é indiferente para nós se acreditam que os Céus são transitórios e que somente sua substância é eterna ou que os Céus são tidos como indestrutíveis, de acordo com a visão de Aristóteles. Aqueles que seguem a Lei de Moisés e do Patriarca Abraão — e todos aqueles que partilham de teorias semelhantes — assumem que nada é eterno exceto Deus e a teoria do Creatio ex nihilo não inclui qualquer coisa que seja impossível, enquanto alguns pensadores ainda consideram isto uma verdade estabelecida.” [...] (págs. 108 a 109)



[1] LEIBNIZ, Gottfried Wilhelm. Philosophical Papers and Letters, vol. 2. Chicago: University of Chicago Press, 1956 (Tradução via Google)
[2] SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada. Petrópolis: Vozes, 2005.
 [3] HEIDGGER, Martin. Introdução à Metafísica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1999
[4] MAIMÔNIDES. O Guia dos Perplexos, parte 2, Landy Livraria Editora e Distribuidora Ltda. São Paulo, 2003.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O QUE É A VIDA?










Luiz Carlos Nogueira











Hoje cedo um amigo ligou perguntando-me se eu dispunha de algum texto falando sobre o que é a vida, porque ele teria que apresentar um trabalho para um grupo interessado, mas cujo tempo de exposição estaria limitado em torno de uns 20 minutos.

Pois bem, tentei rebuscar nos arquivos da minha já desinteirada memória, algo que pudesse lhe socorrer nessa incumbência. Nada, porém, me aflorou à mente, que não fossem extensos e complexos ensaios ou obras de demoradas exposições, tal como “O Fenômeno Humano”, escrito pelo jesuíta francês Pierre Teilhad de Chardin (1881-1955), um dos grandes gênios do século XX, que era geólogo, paleontólogo e pensador autor de inumeráveis escritos sobre a condição humana e, portanto, o que obrigou-o a abordar a questão sobre o surgimento da vida em nosso planeta. Para lê-lo é necessário muito tempo e disposição, tempo, aliás, que Aurélio Augustinus (Agostinho de Hipona, Bispo de Hipona) o Santo Agostinho assim considerado pelas Igrejas Católica Romana e Anglicana, e também importante teólogo e doutor dessas Igrejas, em seu livro “Confissões” escreveu: “Que é, pois, o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; mas se quiser explicar a quem indaga, já não sei.[...]”
                  
As teorias mais aceitas é que o planeta Terra teria tido início da sua formação há aproximadamente 4.567 milhões de anos, através de várias nuvens de gás e poeira cósmica em alta rotação, que teria dado origem ao nosso Sistema Solar. Assim a vida teria começado na terra há pouco mais de 3600 milhões de anos, no período Arqueano, pois como foram encontrados vestígios de vida nesse período, sua formação, forçosamente deve ter sido, necessariamente, anterior.

Mas aí eu penso que há dois tempos na existência. Um tempo é o de Deus, que na verdade não deve existir — porque Deus É, e para os que acreditam Nele, a melhor explicação que me parece espiritualmente lógica é como está escrito na Bíblia: “Vivemos, nos movemos e temos o nosso ser em Deus” (ver Atos dos Apóstolos 17:28:,  "Porque nele (em Deus) vivemos, e nos movemos, e existimos;...").

Assim, o outro tempo que existe é o para nós seres humanos, que vemos a criação de Deus se completando e evoluindo a todo instante, embora tudo já estivesse pronto e acabado no tempo de Deus. Não parece uma loucura? Dá para entender isso? Só nós temos a necessidade de medir o tempo e o espaço para as nossas realizações no plano material.

Para Chardin, do anorgânico surge o orgânico e vivo, o que significa em outras palavras, que o anorgânico não se encontra em um estágio de inconsciência total, mas possui um certo grau de consciência. Assim ele explica em O fenômeno humano, que a Terra, há muito tempo atrás, era bastante fria e provavelmente envolvida numa camada aquosa donde apenas emergiam os primeiros rebentos dos futuros continentes, teria parecido deserta e inanimada a um observador munido de nossos mais modernos instrumentos de investigação. No entanto, naquele momento, formas de vida infinitamente simples e elementares começaram a surgir, possibilitando o nascimento de uma “nova ordem”: a Biosfera. É nela que se chegou depois de longo processo evolutivo: à gênese da vida.


Como se pode ver, não há como resumir essa questão. Só um estudo muito aprofundado poderá dos dar algumas respostas à luz da ciência, embora calcadas na espiritualidade. Para mim, se há milagres, um e o maior deles é o surgimento da vida e o outro — é a inteligência e a razão que Deus dotou ao ser humano. E a vida — eu considero um absurdo maravilhoso, que o Homem não desvendou, mas apenas pode supor o por que dela, construindo mitos, religiões e filosofias, nada conclusivas.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

FERNÃO CAPELO GAIVOTA - FILME DUBLADO

Fernão Capelo Gaivota — baseado no livro de Richard Bach que foi piloto da Força Aérea Americana entre um curto período de paz entre as guerras da Coréia e do Vietnã. Após dar baixa, resolveu dedicar-se à literatura. Seu primeiro sucesso veio com Fernão Capelo Gaivota, publicado em 1970. Através da história de Fernão Capelo, Bach transmitiu uma lição positiva de vida que, quatro décadas depois, continua emocionando leitores de todas as idades e nacionalidades. O livro é uma alegoria sobre a importância de se buscar propósitos mais nobres para a vida À primeira vista, é a história de uma gaivota um tanto incomum, diferente das outras de sua espécie, que não se preocupa apenas em conseguir comida. Fernão Gaivota está preocupado com a beleza de seu próprio voo, em aperfeiçoar sua técnica e executar o mais belo dos voos. Fernão Capelo Gaivota é um livro que fala sobre a sociedade humana e nossos dogmas, conceitos, restrições, e o mais importante, a busca pela perfeição.
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