Heitor
Rodrigues Freire – Corretor de imóveis, advogado e membro do Instituto
Histórico e Geográfico/MS.
À medida que o tempo
passa e as experiências vão se avolumando e enriquecendo a minha vida, em que
olho para trás e constato com satisfação que minha passagem por este
maravilhoso planeta azul me permitiu a oportunidade de contribuir efetivamente
para a realização de uma unidade familiar, em que cada uma das minhas filhas
criou a sua própria célula familiar, chega um momento em que o sentimento do
cumprimento da missão assumida se manifesta com uma frequência constante, então
começa a aparecer no canto da minha tela um lembrete que se torna cada vez mais
presente: a inexorabilidade da partida.
A qualquer momento, não
sei quando, chegará a hora de partir para novas realizações no plano
espiritual, de voltar para a pátria celestial, e ali assumir novas missões em
função do nosso plantio aqui na Terra.
E com essa perspectiva
natural e inevitável, comecei a conjecturar a respeito da morte, de sua
finalidade, dos benefícios que proporciona – embora para uma grande maioria que
não consegue alcançar esse entendimento, ela seja um castigo – e das suas
consequências.
A atual pandemia alterou
muitos usos e costumes – alguns arraigados, como a realização de velórios, que
na realidade não representam nenhum acréscimo ao falecido. O que este fez já
está feito, tanto de bom como de mau; qualquer coisa que se faça nesse momento
não vai acrescentar nada ao cidadão que ali se encontra com o rosto maquiado,
vestindo um terno, muitas vezes com sapato novo – no Rio Grande do Sul, tem até
um ditado: “Fulano se faz de morto para ganhar sapato novo” –, sendo que essa
indumentária em nada vai contribuir para uma entrada triunfal no mundo
espiritual.
Quantas famílias – quem
sabe até por arrependimento – gastam somas elevadas para comprar o melhor
caixão para o falecido.
Em vez de tristeza,
ansiedade e desesperança provocadas pela morte, deveríamos aceitá-la como um
dado perfeitamente natural da vida. E, para isso acontecer, é preciso que se
fale da morte, e não que se usem palavras ou expressões substitutas que
amenizem o seu significado. Isso significa admitir que, assim como outros
processos – como o nascimento –, a morte é um estágio da vida, o qual sabemos
que virá implacavelmente para todos nós.
Então entender essa
situação como natural, aceitando-a, representa uma libertação. A propósito
disso, transcrevo a seguir uma página, atribuída a Santo Agostinho:
A morte não é nada.
“A morte não é nada.
Eu somente passei para o
outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são
vocês.
O que eu era para vocês, eu
continuarei sendo.
Me dêem o nome que vocês
sempre me deram, falem comigo como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo no
mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador.
Não utilizem um tom
solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em
mim.
Rezem por mim.
Que meu nome seja
pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço de
sombra ou tristeza.
A vida significa tudo o
que ela sempre significou, o fio não foi cortado.
Por que eu estaria fora de
seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas?
Eu não estou longe, apenas
estou do outro lado do Caminho…
Você que aí ficou, siga
em frente, a vida continua, linda e bela como sempre foi.”
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