quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A voragem do tempo










Luiz Carlos Nogueira











Aurélio Augustinus (Agostinho  de Hipona, Bispo de Hipona) o Santo Agostinho, assim considerado pelas Igrejas Católica Romana e Anglicana, e também um importante teólogo e doutor dessas Igrejas, em um dos seus livros mais conhecidos — Confessiones[1], quando indagado — “Que é, pois, o tempo?” Disse: “Se ninguém me pergunta, eu sei; mas se quiser explicar a quem indaga, já não sei.” (p.268)


“Contudo”, dizia ele: “afirmo com certeza e sei que, se nada passasse, não haveria tempo passado; que se não houvesse os acontecimentos, não haveria tempo futuro; e que se nada existisse agora, não haveria tempo presente. Como então podem existir esses dois tempos, o passado e o futuro, se o passado já não existe e se o futuro ainda não chegou? Quanto ao presente, se continuasse sempre presente e não passasse ao pretérito, não seria tempo, mas eternidade. Portanto, se o presente, para ser tempo, deve tornar-se passado, como podemos afirmar que existe, se sua razão de ser é aquela pela qual deixará de existir? Por isso, o que nos permite afirmar que o tempo existe é a sua tendência para não existir.”

Aristóteles[2] definiu o tempo, dizendo:“O tempo é o número do movimento conforme o antes e o depois”(p.219b). Para ele, o tempo é causador da destruição, mas que, todavia e também, não é por acaso que ele (o tempo) poderia ser causa de criação e de ser (págs. 221 a, e 221b)

Os filósofos realistas defendem a existência do tempo separadamente da mente humana. Já os filósofos anti-realistas, mais específicamente os idealistas negam, duvidam ou se opõem a tal existência separada. A exemplo destes últimos, está incluído Immanuel Kant, (filósofo idealista), que nega a realidade do tempo[3]. Para ele, o tempo é uma noção a priori que não designa nada além de determinada característica do nosso modo humano de receber informações através dos sentidos.

Embora Kant tenha afirmado: "claro que o tempo é algo real [...]", no entanto, nega a realidade do tempo quando se discute entre realismo e anti-realismo a respeito do tempo. Assim na frase completa, Kant deixa o caráter mental do tempo mais evidente, ou seja, que o tempo inexiste fora da consciência: "Claro que o tempo é algo real, a saber, a forma real da intuição interna" (B53). Assim, não é dessa maneira que os realistas dissertam sobre a realidade do tempo. Os filósofos realistas discordam de Kant quando se completa logo a seguir da passagem acima citada, de que "o tempo nada mais é que a forma da nossa intuição interna" (B54). Para os realistas o tempo é mais do que isso, é algo que existe independente de nós humanos (da nossa elaboração mental) e da nossa "intuição interna".


Dizia Kant, que: O tempo, que não é senão uma condição subjetiva de nossa intuição geral (sempre sensível, quer dizer, só se produz quando somos afetados pelos objetos), considerado em si mesmo e fora do sujeito, não é nada. É, não obstante, necessariamente objetivo em relação a todos os fenômenos, e por conseguinte, também a todas as coisas que a experiência pode oferecer-nos. Não podemos dizer: todas as coisas existem no tempo, porque, no conceito de coisas em geral, faz-se abstração de toda maneira de intuição dessas coisas e sendo esta propriamente a condição pela qual o tempo pertence à representação dos objetos.” (excerto da versão eletrônica traduzida por J. Rodrigues de Merege, Créditos da  digitalização: Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia) Homepage do grupo: http://br.egroups.com/group/acropolis/).


Segundo Pierre Eugène Roy, em seu artigo “Centros Temporais no Homem”[4], não se atribui ao tempo nenhuma realidade externa. E ainda acrescenta que, o tempo é a medida ou duração da consciência (págs. 346, 347).


Todavia, como explicar a voragem do tempo ou sua ação sobre todas as coisas materiais existentes no mundo, inclusive o ser humano? Por acaso fora da consciência humana o tempo não existe e não age? Como explicar a evolução das espécies sem o transcurso do tempo, que possa ser percebido pela consciência? Assim como o tempo (considerado dependente da nossa consciência), pode o som não existir se por acaso todos fossem surdos? Ora, o som uma vez produzido existirá num determinado lapso de tempo, independentemente de alguém ter consciência dele, ou ter ouvidos capacitados para ouvi-lo.


Eis como vemos nas fotos, a ação do tempo sobre o velho reboque abandonado, apodrecendo e se desmanchando, por ter sido deixado exposto à luz do sol e às chuvas, ao relento, por muito tempo ou muitos anos.


Portanto, no mundo físico (material) o tempo é uma realidade necessariamente percebível e mensurável.


Esta era uma casinha de adobe* coberta de telhas,



que foi consumida pelo tempo e ficou assim:



 (a.do.be, a.do.bo)  [ô] * (conforme o Dicionário Caldas Aulete)

sm.
  1  Tijolo de argila seco ao sol, às vezes misturado com palha para ganhar mais resistência



[1] Confissões - Editora Martin Claret, São Paulo-SP, 2002.
[2] Física – vol. IV, Tratado do Tempo, Paris, Kimé, 1995.
[3] Crítica da Razão Pura, em Victor Civita (ed.), Os Pensadores: Kant, São Paulo: Abril Cultural, 1983, trad. Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger.
[4] Obra Coletiva “O Tempo”, 1ª Edição em Língua Portuguersa, publicada pela Ordem Rosacruz Amorc, 2010.

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