sábado, 21 de abril de 2018

O Garuda, ou Águia de Fogo, da lenda mitológica hindu.




Luiz Carlos Nogueira




Este ser da mitologia dos contos hindus, o Garuda, também conhecido como pássaro solar ou águia de fogo, cuja forma muito se parece com a Fénix das lendas gregas e egípcias, que segundo Joaquim Gervásio de Figueiredo (Dicionario de Maçonaria, Pensamento, 4ª Ed., São Paulo), era um belo pássaro solitário, fabuloso, do tamanho de uma águia, que viveu no deserto árabe um período de mil anos, findo o qual se consumiu no fogo, ressurgindo posteriormente de suas próprias cinzas, renovado, para reiniciar outra vida igualmente dilatada. Para os Rosacruzes, a Fênix simboliza a ressurreição na Eternidade; a roda da vida a girar incessantemente numa perpétua alternância entre a atividade e repouso, tal qual a do dia e da noite, e alude aos ciclos periódicos de manifestação cósmica e da reencarnação ou renascimentos da alma humana. Tem parentesco com a águia bicéfala da Maçonaria do Rito Escocês Antigo e Aceito.

Mas, quanto a Garuda, muitas vezes também é descrito como tendo uma cabeça humana no lugar da do pássaro; assim como também é descrito como possuindo três olhos, ou com tendo braços e pernas. Tal criatura é bastante enorme, segundo se acreditava, que poderia até produzir uma grande área de sombra, fazendo parecer noite.
Segundo a lenda, o Garuda servia de montaria para Vishnu, deusa dos hindus, que a levava como nas aventuras de Harry Potter, dado o seu imenso poder que o colocava a seu serviço como um escudeiro real.
Dizia a lenda, que a mãe de Garuda havia feito uma aposta com a mãe dos Nagas, que pertenciam, conforme o épico do Mahabharata, a uma tribo de pessoas muito más e que, por isso, mereciam ser castigadas, sendo sacrificadas por cobras e também pelos ataques da ave Garuda.
A aposta, no caso, era sobre qual seria a cor de um cavalo lendário, que surgiria do mar. Assim, quem não acertasse a cor do animal, perderia a aposta e se tornaria prisioneira da vencedora. E aconteceu que a mãe de Garuda perdeu a aposta, tornando-se, por isso, prisioneira da mãe dos Nagas.

Quando Garuda ficou sabendo, imediatamente foi até aos Nagas e perguntou-lhes o que ele poderia fazer, para que libertassem sua mãe.
Os Nagas disseram-lhe que iriam precisar de um tempo para resolverem como isso poderia ser feito. Quando Garuda voltou para saber a decisão dos Nagas, estes disseram-lhe que o preço da liberdade da sua mãe, seria que ele, Garuda, deveria roubar a água da imortalidade dos deuses e lhes entregar.
O desespero de Garuda para liberta sua mãe, fê-lo voar até uma montanha extremamente alta, difícil de escalá-la, onde a água da imortalidade dos deuses era guardada por um exército de deuses e dois ferozes dragões o que tornava a tarefa muito difícil; todavia, Garuda estava determinado a cumpri-la a qualquer custo, e tendo lutado ferozmente contra todos, os venceu.
Daí apossou-se da água, o bastante que podia carregar de forma improvisada, retornando rapidamente para entregá-la aos Nagas, que conforme haviam acertado, libertaram a mãe de Garuda.
No entanto, os Nagas não tiveram a chance de beberem da água da imortalidade dos deuses, porque antes que isso acontecesse, os deuses chegaram abruptamente e a recuperaram, levando-a com eles de volta para a montanha.
Por conta desse episódio, os Nagas imaginaram que isso havia sido combinado, surgindo daí a eterna rixa entre Garuda e os Nagas.
O que se extrai desses contos, é que o Bem e o Mal estão sempre em eterna contraposição, e que a vida ressurge ciclicamente.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Tolerância







Por Narciso Momenti












Para esta matéria, utilizei-me de pesquisa bibliográfica, especificamente a literatura sobre a Tolerância, além de revista, Bíblia, dicionários maçônicos e Rituais do Rito Escocês Antigo e Aceito, além do auxilio de Irmãos Mestres Maçons, que enriqueceram nosso trabalho, pois o tema é rico em conteúdo e se traduz em ensinamentos que foram obtidos dentro das Lojas Maçônicas regularmente constituídas.

A internet também serviu como fonte de pesquisa, exclusivamente nos sites do Supremo Conselho do Grau 33º do Rito Escocês Antigo e Aceito, e do Grande Oriente de Mato Grosso do Sul (GOMS), tendo em vista a confiabilidade dos ensinamentos reconhecidos oficialmente pelos maçons.

Optamos pelo tema, pois, o grau 15 nos revela que o Cavaleiro do Oriente é um maçom instruído e tolerante. Busca a liberdade através da instrução, pois a liberdade exige tolerância, porque o homem não goza a liberdade se outros não respeitarem o justo uso que dela fizer.

O dicionário de Cândido de Figueiredo (1899) registra a versão tradicional de "indulgência" e de "consentir tacitamente", acrescentando inclusive como inovação a palavra "tolerantismo", para significar a tolerância por parte do Estado a todas as manifestações religiosas.

Laudelino Freire, em seu Dicionário da Língua Portuguesa (1939), além do sentido de condescendência e indulgência, também a define como a "boa disposição dos que ouvem com paciência opiniões opostas às suas".

No dicionário do Aurélio (1983) tolerância é definida como "tendência a admitir modos de pensar, de agir e de sentir que diferem de um indivíduo ou de grupos determinados, políticos ou religiosos".

Rizzardo da Camino, no Dicionário Maçônico (2013) define tolerância: Do latim tolerare, que significa “Suportar”. Traduz, outrossim, os atos comuns de “consentir”, “condescender”, “admitir” e “aceitar”.

Duas grandes obras são referências obrigatórias para o entendimento do sentido moderno de tolerância: a Carta acerca da tolerância de John Locke, em 1689 e o Tratado sobre a tolerância, publicado por Voltaire em 1763.

John Locke defende nesta carta que as ações dos cidadãos, principalmente as religiosas, devem ser defendidas pelo Estado, desde que essas ações não contrariem a sua função principal: defender a vida, a liberdade e a propriedade. A reivindicação por tolerância tem como pressuposto a separação entre Estado e Igreja, ideia revolucionária para o cenário político de então.

O filósofo francês Voltaire define o termo Tolerância da seguinte forma: "É o apanágio da humanidade. Nós somos feitos de fraquezas e erros; a primeira lei da natureza é perdoarmo-nos reciprocamente as nossas loucuras" (p. 289).

O Irmão Nêodo Ambrosio de Castro, do Oriente de Juiz de Fora – MG, descreve: “A tolerância de que fala o filósofo francês visa à supressão da violência, tendo sido instaurada como lei prévia ao contrato, razão pela qual se considera um ‘atributo da humanidade’. Não se trata apenas de uma estratégia em ordem à pacificação; trata-se de um elemento constitutivo da verdadeira natureza humana, a qual se entende agora como uma estrutura de valores universais e trans-históricos cujo cerne reside na liberdade”.

Meus Irmãos, contudo, devemos lembrar que a tolerância não implica em compactuar ou transigir com o erro. Não é permitir a violação do direito ou ruptura da ordem jurídica ou mesmo atitudes de corrupção moral. A tolerância não é uma condescendência, mas sim a compreensão, aceitação e o reconhecimento do direito que têm àqueles que não pensam como nós, de se expressarem de forma diferente ou contrária às nossas crenças. A tolerância indiscriminada implica em complacência covarde evidenciando uma clara conduta de conivência inaceitável e transgressora dos princípios religiosos estabelecidos. Reconhecer o direito de o nosso semelhante ser diferente, não nos obriga ser igual a ele.

No Ritual do Aprendiz maçom, quando na iniciação de um novo irmão, o Orador da Loja, faz a leitura da Declaração de Princípios da Maçonaria, um deles “Proclama que os homens são livres e iguais em direitos, e que a tolerância constitui o principio cardeal nas relações humanas, para que sejam respeitadas as convicções e a dignidade de cada um”.

Já num dos rituais dos graus mais avançados, encontramos uma frase pronunciada por Zorobabel, transcrevendo o que lhe disse o Rei Ciro, quando na sua presença: “Ide reedificar o Templo; que ele seja o Templo da Liberdade, para todas as opiniões, e da tolerância, que é o alicerce da Fraternidade”.

É treinando seus adeptos que a Maçonaria combate intolerância, tirania, fanatismo, brutalidade e ignorância. O fato de desenvolver a tolerância, não significa que ela seja subserviente e sucumba diante da posição de homens mal-orientados, mas bem intencionados, pois se assim fosse, ela já teria caído no esquecimento há bastante tempo. No exercício da tolerância e em seu treinamento a Maçonaria ensina que tolerância exige a definição de limites. Quando o maçom filosofa, faz exercícios na arte de pensar, especula e teoriza dentre as mais variadas linhas de pensamento, aí ele exercita a tolerância. Respeita e defende o que o outro maçom diz e pensa, a tal ponto que afirma ser capaz até de sofrer consequências para defender o pensamento de seu irmão.

O maçom é condicionado na prática a combater a tolerância absoluta porque sabe que uma tolerância universal é moralmente condenável exatamente porque esqueceria as vítimas em casos intoleráveis de violência e abuso dos tiranos. Isto é, existem situações em que a tolerância em excesso perpetuaria o martírio das pobres vítimas. Dentro dos limites ditados pela moral, tolerar seria aceitar o que poderia ser condenado, seria deixar fazer o que se poderia impedir ou combater. Nesta linha podem-se tolerar os caprichos de uma criança ou as posições de um adversário, mas em nenhuma circunstancia o despotismo alienante de uma pessoa ou instituição.

A tolerância só vale dentro de certos limites, que são os da sua própria salvaguarda e da preservação de suas condições e possibilidades. Se o maçom enveredasse por uma tolerância absoluta, mesmo para com os intolerantes, e se não defendesse a sociedade tolerante contra seus assaltos, os tolerantes seriam aniquilados, e com eles acabaria também a própria tolerância.

Ser tolerante não significa ser "vaquinha de presépio" e aceitar posturas irresponsáveis, mesmo que não intencionais como algo natural e que deve "passar batido". E também, ser Fraterno significa ter respeito e ser respeitado, saber ser enérgico com o Irmão que comete um deslize com relação aos seus pares - especialmente num Grupo cuja finalidade precípua é a de debater assuntos em níveis elevados de interesse da comunidade maçônica, visando sempre o conhecimento e a evolução. Sem qualquer resquício de puritanismo ou de demagogia, mas fato é, que o cuidado e a cautela quando se referem a nossa Ordem devem ser redobrados, até porque a Maçonaria já sofreu muita perseguição ao longo da história e toda e qualquer ação que possa por em risco a dignidade da nossa Instituição deve ser prontamente repelida. Isso sim é sinal de responsabilidade, comprometimento e acima de tudo de fraternidade. Antes de falar, escute. Antes de escrever, pense. Antes de gastar, ganhe e antes de julgar, espere.

A tolerância como virtude depende do ponto de vista daqueles que não a têm. O justo é guiado pelos princípios da Justiça e não pelo fato do injusto não poder se queixar.

A tolerância é o que permite aos homens da Maçonaria viver em harmonia, onde, se esta última não existir, certamente não há tolerância com limites. Em consequência não existe amor, a única solução de todos os problemas da humanidade. E onde não existe amor também não se manifesta o Grande Arquiteto do Universo, o Deus que cada um venera a sua maneira, pois este só está onde as pessoas se tratam como irmãos, demonstram e praticam o mais profundo amor entre si.

“O Amor é paciente e prestativo, não é invejoso nem ostenta, não se incha de orgulho e nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita nem guarda rancor. Não se alegra com a injustiça e se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. – Primeira Epístola do apóstolo Paulo aos Coríntios, Capítulo 13, Versículos 4 a 7.

Concluindo meus irmãos, entendo que o Tolerar envolve “sacrifício” e “perda aparente”; é a condição de alguém demonstrar afeto e amor para com o semelhante, ainda mais se esse semelhante for um maçom. A tolerância é o atributo virtuoso máximo que a maçonaria cultiva e que lhe dá o retorno máximo. Dizeres de um sábio: “O mal que te faço não te faz mal; o mal que me fazes, esse é o que te faz mal”.

A tolerância é a boa disposição dos que ouvem com paciência opiniões opostas às próprias, e também suportar as faltas alheias. Constitui uma dádiva preciosa e frágil, que deve ser cultivada para solidificar a noção de fraternidade, igualdade e liberdade.

A prática da tolerância é difícil, mas é ai que está o seu valor — tolerar alguém.

Bibliografia:
- Bíblia Sagrada de Estudo - Novo Volume I;
- Dicionário da Língua Portuguesa de Laudelino Freire (1939)
- Dicionário Aurélio (1983);
- Dicionário de Cândido de Figueiredo (1899);
- Dicionário Maçônico – Rizzardo da Camino (2013) – Ed. Madras;
- Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia - Nicola Aslan;
- Revista Astréa;
- Rito Escocês Antigo e Aceito – 1º ao 33º - Rizzardo da Camino – Ed. Madras;
- Ritual do GR.`. 1 do REAA do GOMS;
- Ritual do GR.’. 15 do Sup. Cons. Do Gr 33 do REAA da Maçonaria para a Rep. Fed. do Brasil; e
- Internet - http://www.goms.org.br/ - http://sc33.org.br
 Narciso Momenti – Gr.’. 15 do R\E\A\A\