quinta-feira, 12 de abril de 2018

Tolerância







Por Narciso Momenti












Para esta matéria, utilizei-me de pesquisa bibliográfica, especificamente a literatura sobre a Tolerância, além de revista, Bíblia, dicionários maçônicos e Rituais do Rito Escocês Antigo e Aceito, além do auxilio de Irmãos Mestres Maçons, que enriqueceram nosso trabalho, pois o tema é rico em conteúdo e se traduz em ensinamentos que foram obtidos dentro das Lojas Maçônicas regularmente constituídas.

A internet também serviu como fonte de pesquisa, exclusivamente nos sites do Supremo Conselho do Grau 33º do Rito Escocês Antigo e Aceito, e do Grande Oriente de Mato Grosso do Sul (GOMS), tendo em vista a confiabilidade dos ensinamentos reconhecidos oficialmente pelos maçons.

Optamos pelo tema, pois, o grau 15 nos revela que o Cavaleiro do Oriente é um maçom instruído e tolerante. Busca a liberdade através da instrução, pois a liberdade exige tolerância, porque o homem não goza a liberdade se outros não respeitarem o justo uso que dela fizer.

O dicionário de Cândido de Figueiredo (1899) registra a versão tradicional de "indulgência" e de "consentir tacitamente", acrescentando inclusive como inovação a palavra "tolerantismo", para significar a tolerância por parte do Estado a todas as manifestações religiosas.

Laudelino Freire, em seu Dicionário da Língua Portuguesa (1939), além do sentido de condescendência e indulgência, também a define como a "boa disposição dos que ouvem com paciência opiniões opostas às suas".

No dicionário do Aurélio (1983) tolerância é definida como "tendência a admitir modos de pensar, de agir e de sentir que diferem de um indivíduo ou de grupos determinados, políticos ou religiosos".

Rizzardo da Camino, no Dicionário Maçônico (2013) define tolerância: Do latim tolerare, que significa “Suportar”. Traduz, outrossim, os atos comuns de “consentir”, “condescender”, “admitir” e “aceitar”.

Duas grandes obras são referências obrigatórias para o entendimento do sentido moderno de tolerância: a Carta acerca da tolerância de John Locke, em 1689 e o Tratado sobre a tolerância, publicado por Voltaire em 1763.

John Locke defende nesta carta que as ações dos cidadãos, principalmente as religiosas, devem ser defendidas pelo Estado, desde que essas ações não contrariem a sua função principal: defender a vida, a liberdade e a propriedade. A reivindicação por tolerância tem como pressuposto a separação entre Estado e Igreja, ideia revolucionária para o cenário político de então.

O filósofo francês Voltaire define o termo Tolerância da seguinte forma: "É o apanágio da humanidade. Nós somos feitos de fraquezas e erros; a primeira lei da natureza é perdoarmo-nos reciprocamente as nossas loucuras" (p. 289).

O Irmão Nêodo Ambrosio de Castro, do Oriente de Juiz de Fora – MG, descreve: “A tolerância de que fala o filósofo francês visa à supressão da violência, tendo sido instaurada como lei prévia ao contrato, razão pela qual se considera um ‘atributo da humanidade’. Não se trata apenas de uma estratégia em ordem à pacificação; trata-se de um elemento constitutivo da verdadeira natureza humana, a qual se entende agora como uma estrutura de valores universais e trans-históricos cujo cerne reside na liberdade”.

Meus Irmãos, contudo, devemos lembrar que a tolerância não implica em compactuar ou transigir com o erro. Não é permitir a violação do direito ou ruptura da ordem jurídica ou mesmo atitudes de corrupção moral. A tolerância não é uma condescendência, mas sim a compreensão, aceitação e o reconhecimento do direito que têm àqueles que não pensam como nós, de se expressarem de forma diferente ou contrária às nossas crenças. A tolerância indiscriminada implica em complacência covarde evidenciando uma clara conduta de conivência inaceitável e transgressora dos princípios religiosos estabelecidos. Reconhecer o direito de o nosso semelhante ser diferente, não nos obriga ser igual a ele.

No Ritual do Aprendiz maçom, quando na iniciação de um novo irmão, o Orador da Loja, faz a leitura da Declaração de Princípios da Maçonaria, um deles “Proclama que os homens são livres e iguais em direitos, e que a tolerância constitui o principio cardeal nas relações humanas, para que sejam respeitadas as convicções e a dignidade de cada um”.

Já num dos rituais dos graus mais avançados, encontramos uma frase pronunciada por Zorobabel, transcrevendo o que lhe disse o Rei Ciro, quando na sua presença: “Ide reedificar o Templo; que ele seja o Templo da Liberdade, para todas as opiniões, e da tolerância, que é o alicerce da Fraternidade”.

É treinando seus adeptos que a Maçonaria combate intolerância, tirania, fanatismo, brutalidade e ignorância. O fato de desenvolver a tolerância, não significa que ela seja subserviente e sucumba diante da posição de homens mal-orientados, mas bem intencionados, pois se assim fosse, ela já teria caído no esquecimento há bastante tempo. No exercício da tolerância e em seu treinamento a Maçonaria ensina que tolerância exige a definição de limites. Quando o maçom filosofa, faz exercícios na arte de pensar, especula e teoriza dentre as mais variadas linhas de pensamento, aí ele exercita a tolerância. Respeita e defende o que o outro maçom diz e pensa, a tal ponto que afirma ser capaz até de sofrer consequências para defender o pensamento de seu irmão.

O maçom é condicionado na prática a combater a tolerância absoluta porque sabe que uma tolerância universal é moralmente condenável exatamente porque esqueceria as vítimas em casos intoleráveis de violência e abuso dos tiranos. Isto é, existem situações em que a tolerância em excesso perpetuaria o martírio das pobres vítimas. Dentro dos limites ditados pela moral, tolerar seria aceitar o que poderia ser condenado, seria deixar fazer o que se poderia impedir ou combater. Nesta linha podem-se tolerar os caprichos de uma criança ou as posições de um adversário, mas em nenhuma circunstancia o despotismo alienante de uma pessoa ou instituição.

A tolerância só vale dentro de certos limites, que são os da sua própria salvaguarda e da preservação de suas condições e possibilidades. Se o maçom enveredasse por uma tolerância absoluta, mesmo para com os intolerantes, e se não defendesse a sociedade tolerante contra seus assaltos, os tolerantes seriam aniquilados, e com eles acabaria também a própria tolerância.

Ser tolerante não significa ser "vaquinha de presépio" e aceitar posturas irresponsáveis, mesmo que não intencionais como algo natural e que deve "passar batido". E também, ser Fraterno significa ter respeito e ser respeitado, saber ser enérgico com o Irmão que comete um deslize com relação aos seus pares - especialmente num Grupo cuja finalidade precípua é a de debater assuntos em níveis elevados de interesse da comunidade maçônica, visando sempre o conhecimento e a evolução. Sem qualquer resquício de puritanismo ou de demagogia, mas fato é, que o cuidado e a cautela quando se referem a nossa Ordem devem ser redobrados, até porque a Maçonaria já sofreu muita perseguição ao longo da história e toda e qualquer ação que possa por em risco a dignidade da nossa Instituição deve ser prontamente repelida. Isso sim é sinal de responsabilidade, comprometimento e acima de tudo de fraternidade. Antes de falar, escute. Antes de escrever, pense. Antes de gastar, ganhe e antes de julgar, espere.

A tolerância como virtude depende do ponto de vista daqueles que não a têm. O justo é guiado pelos princípios da Justiça e não pelo fato do injusto não poder se queixar.

A tolerância é o que permite aos homens da Maçonaria viver em harmonia, onde, se esta última não existir, certamente não há tolerância com limites. Em consequência não existe amor, a única solução de todos os problemas da humanidade. E onde não existe amor também não se manifesta o Grande Arquiteto do Universo, o Deus que cada um venera a sua maneira, pois este só está onde as pessoas se tratam como irmãos, demonstram e praticam o mais profundo amor entre si.

“O Amor é paciente e prestativo, não é invejoso nem ostenta, não se incha de orgulho e nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita nem guarda rancor. Não se alegra com a injustiça e se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. – Primeira Epístola do apóstolo Paulo aos Coríntios, Capítulo 13, Versículos 4 a 7.

Concluindo meus irmãos, entendo que o Tolerar envolve “sacrifício” e “perda aparente”; é a condição de alguém demonstrar afeto e amor para com o semelhante, ainda mais se esse semelhante for um maçom. A tolerância é o atributo virtuoso máximo que a maçonaria cultiva e que lhe dá o retorno máximo. Dizeres de um sábio: “O mal que te faço não te faz mal; o mal que me fazes, esse é o que te faz mal”.

A tolerância é a boa disposição dos que ouvem com paciência opiniões opostas às próprias, e também suportar as faltas alheias. Constitui uma dádiva preciosa e frágil, que deve ser cultivada para solidificar a noção de fraternidade, igualdade e liberdade.

A prática da tolerância é difícil, mas é ai que está o seu valor — tolerar alguém.

Bibliografia:
- Bíblia Sagrada de Estudo - Novo Volume I;
- Dicionário da Língua Portuguesa de Laudelino Freire (1939)
- Dicionário Aurélio (1983);
- Dicionário de Cândido de Figueiredo (1899);
- Dicionário Maçônico – Rizzardo da Camino (2013) – Ed. Madras;
- Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia - Nicola Aslan;
- Revista Astréa;
- Rito Escocês Antigo e Aceito – 1º ao 33º - Rizzardo da Camino – Ed. Madras;
- Ritual do GR.`. 1 do REAA do GOMS;
- Ritual do GR.’. 15 do Sup. Cons. Do Gr 33 do REAA da Maçonaria para a Rep. Fed. do Brasil; e
- Internet - http://www.goms.org.br/ - http://sc33.org.br
 Narciso Momenti – Gr.’. 15 do R\E\A\A\

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