Por
Narciso Momenti
Para
esta matéria, utilizei-me de pesquisa bibliográfica, especificamente a
literatura sobre a Tolerância, além de revista, Bíblia, dicionários maçônicos e
Rituais do Rito Escocês Antigo e Aceito, além do auxilio de Irmãos Mestres
Maçons, que enriqueceram nosso trabalho, pois o tema é rico em conteúdo e se
traduz em ensinamentos que foram obtidos dentro das Lojas Maçônicas
regularmente constituídas.
A
internet também serviu como fonte de pesquisa, exclusivamente nos sites do
Supremo Conselho do Grau 33º do Rito Escocês Antigo e Aceito, e do Grande
Oriente de Mato Grosso do Sul (GOMS), tendo em vista a confiabilidade dos
ensinamentos reconhecidos oficialmente pelos maçons.
Optamos pelo tema, pois, o grau 15 nos revela que o Cavaleiro do
Oriente é um maçom instruído e tolerante. Busca a liberdade através da instrução,
pois a liberdade exige tolerância, porque o homem não goza a liberdade se
outros não respeitarem o justo uso que dela fizer.
O dicionário de Cândido de Figueiredo (1899) registra a versão
tradicional de "indulgência" e de "consentir tacitamente",
acrescentando inclusive como inovação a palavra "tolerantismo", para
significar a tolerância por parte do Estado a todas as manifestações
religiosas.
Laudelino Freire, em seu Dicionário da Língua Portuguesa (1939), além
do sentido de condescendência e indulgência, também a define como a "boa
disposição dos que ouvem com paciência opiniões opostas às suas".
No dicionário do Aurélio (1983) tolerância é definida como
"tendência a admitir modos de pensar, de agir e de sentir que diferem de
um indivíduo ou de grupos determinados, políticos ou religiosos".
Rizzardo da Camino, no Dicionário Maçônico (2013) define tolerância: Do
latim tolerare, que significa
“Suportar”. Traduz, outrossim, os atos comuns de “consentir”, “condescender”,
“admitir” e “aceitar”.
Duas grandes obras são referências obrigatórias para o entendimento do
sentido moderno de tolerância: a Carta acerca da tolerância de John Locke, em
1689 e o Tratado sobre a tolerância, publicado por Voltaire em 1763.
John Locke defende nesta carta que as ações dos cidadãos,
principalmente as religiosas, devem ser defendidas pelo Estado, desde que essas
ações não contrariem a sua função principal: defender a vida, a liberdade e a propriedade.
A reivindicação por tolerância tem como pressuposto a separação entre Estado e
Igreja, ideia revolucionária para o cenário político de então.
O filósofo francês Voltaire define o termo Tolerância da seguinte
forma: "É o apanágio da humanidade. Nós somos feitos de fraquezas e erros;
a primeira lei da natureza é perdoarmo-nos reciprocamente as nossas
loucuras" (p. 289).
O Irmão Nêodo Ambrosio de Castro, do Oriente de Juiz de Fora – MG,
descreve: “A tolerância de que fala o filósofo francês visa à supressão da
violência, tendo sido instaurada como lei prévia ao contrato, razão pela qual
se considera um ‘atributo da humanidade’. Não se trata apenas de uma estratégia
em ordem à pacificação; trata-se de um elemento constitutivo da verdadeira
natureza humana, a qual se entende agora como uma estrutura de valores
universais e trans-históricos cujo cerne reside na liberdade”.
Meus Irmãos, contudo, devemos lembrar que a tolerância não implica em
compactuar ou transigir com o erro. Não é permitir a violação do direito ou
ruptura da ordem jurídica ou mesmo atitudes de corrupção moral. A tolerância
não é uma condescendência, mas sim a compreensão, aceitação e o reconhecimento
do direito que têm àqueles que não pensam como nós, de se expressarem de forma
diferente ou contrária às nossas crenças. A tolerância indiscriminada implica
em complacência covarde evidenciando uma clara conduta de conivência
inaceitável e transgressora dos princípios religiosos estabelecidos. Reconhecer
o direito de o nosso semelhante ser diferente, não nos obriga ser igual a ele.
No Ritual do Aprendiz maçom, quando na iniciação de um novo irmão, o Orador
da Loja, faz a leitura da Declaração de Princípios da Maçonaria, um deles “Proclama
que os homens são livres e iguais em direitos, e que a tolerância constitui o
principio cardeal nas relações humanas, para que sejam respeitadas as
convicções e a dignidade de cada um”.
Já num dos rituais dos graus mais avançados, encontramos uma frase
pronunciada por Zorobabel, transcrevendo o que lhe disse o Rei Ciro, quando na
sua presença: “Ide reedificar o Templo; que ele seja o Templo da Liberdade,
para todas as opiniões, e da tolerância, que é o alicerce da Fraternidade”.
É treinando seus adeptos que a Maçonaria combate intolerância, tirania,
fanatismo, brutalidade e ignorância. O fato de desenvolver a tolerância, não
significa que ela seja subserviente e sucumba diante da posição de homens mal-orientados,
mas bem intencionados, pois se assim fosse, ela já teria caído no esquecimento
há bastante tempo. No exercício da tolerância e em seu treinamento a Maçonaria
ensina que tolerância exige a definição de limites. Quando o maçom filosofa,
faz exercícios na arte de pensar, especula e teoriza dentre as mais variadas
linhas de pensamento, aí ele exercita a tolerância. Respeita e defende o que o
outro maçom diz e pensa, a tal ponto que afirma ser capaz até de sofrer
consequências para defender o pensamento de seu irmão.
O maçom é condicionado na prática a combater a tolerância absoluta
porque sabe que uma tolerância universal é moralmente condenável exatamente
porque esqueceria as vítimas em casos intoleráveis de violência e abuso dos
tiranos. Isto é, existem situações em que a tolerância em excesso perpetuaria o
martírio das pobres vítimas. Dentro dos limites ditados pela moral, tolerar
seria aceitar o que poderia ser condenado, seria deixar fazer o que se poderia
impedir ou combater. Nesta linha podem-se tolerar os caprichos de uma criança
ou as posições de um adversário, mas em nenhuma circunstancia o despotismo
alienante de uma pessoa ou instituição.
A tolerância só vale dentro de certos limites, que são os da sua
própria salvaguarda e da preservação de suas condições e possibilidades. Se o
maçom enveredasse por uma tolerância absoluta, mesmo para com os intolerantes,
e se não defendesse a sociedade tolerante contra seus assaltos, os tolerantes
seriam aniquilados, e com eles acabaria também a própria tolerância.
Ser tolerante não significa ser "vaquinha de presépio" e
aceitar posturas irresponsáveis, mesmo que não intencionais como algo natural e
que deve "passar batido". E também, ser Fraterno significa ter
respeito e ser respeitado, saber ser enérgico com o Irmão que comete um deslize
com relação aos seus pares - especialmente num Grupo cuja finalidade precípua é
a de debater assuntos em níveis elevados de interesse da comunidade maçônica,
visando sempre o conhecimento e a evolução. Sem qualquer resquício de
puritanismo ou de demagogia, mas fato é, que o cuidado e a cautela quando se
referem a nossa Ordem devem ser redobrados, até porque a Maçonaria já sofreu
muita perseguição ao longo da história e toda e qualquer ação que possa por em
risco a dignidade da nossa Instituição deve ser prontamente repelida. Isso sim
é sinal de responsabilidade, comprometimento e acima de tudo de fraternidade.
Antes de falar, escute. Antes de escrever, pense. Antes de gastar, ganhe e antes
de julgar, espere.
A tolerância como virtude depende do ponto de vista daqueles que não a
têm. O justo é guiado pelos princípios da Justiça e não pelo fato do injusto
não poder se queixar.
A tolerância é o que permite aos homens da Maçonaria viver em harmonia,
onde, se esta última não existir, certamente não há tolerância com limites. Em
consequência não existe amor, a única solução de todos os problemas da
humanidade. E onde não existe amor também não se manifesta o Grande Arquiteto
do Universo, o Deus que cada um venera a sua maneira, pois este só está onde as
pessoas se tratam como irmãos, demonstram e praticam o mais profundo amor entre
si.
“O Amor é paciente e prestativo, não é invejoso nem ostenta, não se
incha de orgulho e nada faz de inconveniente, não procura seu próprio
interesse, não se irrita nem guarda rancor. Não se alegra com a injustiça e se
rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. – Primeira
Epístola do apóstolo Paulo aos Coríntios, Capítulo 13, Versículos 4 a 7.
Concluindo meus irmãos, entendo que o Tolerar envolve “sacrifício” e
“perda aparente”; é a condição de alguém demonstrar afeto e amor para com o
semelhante, ainda mais se esse semelhante for um maçom. A tolerância é o
atributo virtuoso máximo que a maçonaria cultiva e que lhe dá o retorno máximo.
Dizeres de um sábio: “O mal que te faço não te faz mal; o mal que me fazes,
esse é o que te faz mal”.
A tolerância é a boa disposição dos que ouvem com paciência opiniões
opostas às próprias, e também suportar as faltas alheias. Constitui uma dádiva
preciosa e frágil, que deve ser cultivada para solidificar a noção de
fraternidade, igualdade e liberdade.
A prática da tolerância é difícil, mas é ai que está o seu valor —
tolerar alguém.
Bibliografia:
- Bíblia Sagrada de Estudo - Novo Volume I;
- Dicionário da Língua
Portuguesa de Laudelino Freire (1939)
- Dicionário Aurélio (1983);
- Dicionário de Cândido de
Figueiredo (1899);
- Dicionário Maçônico – Rizzardo da Camino (2013) – Ed. Madras;
- Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia -
Nicola Aslan;
- Revista Astréa;
- Rito Escocês Antigo e Aceito – 1º ao 33º - Rizzardo da Camino
– Ed. Madras;
- Ritual do GR.`. 1 do REAA do GOMS;
- Ritual do GR.’. 15 do Sup. Cons. Do Gr 33 do REAA da Maçonaria
para a Rep. Fed. do Brasil; e
Narciso Momenti – Gr.’. 15
do R\E\A\A\