domingo, 15 de maio de 2011

Não sou herói nem santo, apenas humano


Coisas da alma (52)
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Hélio Arakaki - Educador, Prof de Karate, Facilitador didata de Biodanza, Consultor para o desenvolvimento dos potenciais humanos em empresas - www.muryokan.com.br contato@muryokan.com.br



O mundo sempre necessitará de heróis. Através deles, nos inspiramos e nos motivamos a prosseguir diante das dificuldades e adversidades.


Durante um pouco mais da metade de minha vida procurei levar a vida encarnando alguns notáveis heróis. Só que procurei através de uma ridícula mistura de Bruce Lee com Dalai Lama. Quis ser um mestre destemido e um sábio equilibrado.


Que ingênuo, pensei depois, como se não soubesse que a ingenuidade é uma condição natural no ciclo de aprendizado e evolução de qualquer ser humano.


De certa forma, neste período de tempo vivi acreditando ser uma coisa idealizada a partir de referências humanas acima da normalidade. Coisas que a gente se inspira lendo livros consagrados graças a um forte esquema de marketing, assistindo filmes com exagero hollywoodiano, e o pior, convivendo com algumas pessoas que se dizem espiritualizadas, mas que descobre-se com o tempo serem tão vazias e superficiais.


Mas o tempo foi me forçando a me curvar para a dura realidade de que é perfeitamente normal ter medos e inseguranças. E o fato de que quem busca por uma psicoterapia não é gente fraca, e sim sensível por não suportar mais as incoerências e as inverdades em sua vida.


Dei conta o quanto é desumano tentar manter-me sempre sob controle diante de situações que me afetam. Assim como é certo que batendo no capacho se faz espalhar a poeira, mas é assim que removeremos todo o pó, considero ser procedente trazer a tona a poeira do descontrole do que fingir que está tudo bem.


Naquela parte de minha vida, em tudo que fazia, havia o dedo da vaidade. Muita vaidade. Como você é uma pessoa maravilhosa, um sábio, iluminado, equilibrado, forte etc, eram as palavras que me faziam viver no pedestal, até que um dia alguém teve a coragem de me dizer: admiro você que escreve e fala coisas tão bonitas, agindo dessa maneira!

Como foi difícil ouvir e aceitar tal afirmação. Mas tenho que admitir que foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Me fez perceber que manter as aparências é fácil para quem busca ser admirado ou agradar gregos e troianos, mas tal atitude tem um custo caro de não se ter amigos verdadeiros. Pessoas que compartilhamos grande afinidade não importam com o que temos ou quem somos, mas como simplesmente levamos a vida.


Algo que demorei muito a entender e aceitar é o fato de que quando aponto o dedo para alguém estou mostrando aquilo que nego em mim. Apontar e julgar o outro, é uma forma de fugir da responsabilidade de lidar com aquilo que percebo no outro e que está em mim também. É a famosa frase “olha o sujo falando do mal lavado”.

Percebi que junto com a dor do fim de um relacionamento, não é só a dor da ruptura que lamentamos, mas choramos também pela dor da rejeição e da humilhação. E aí o processo de se refazer se prolonga além do tempo que deveria ser.


Me ficou claro o perigo de agir nos momentos caóticos. Dois, cinco, dez segundos são o suficiente para desencadear atitudes com reações de conseqüências irreparáveis por toda uma vida. Uma estratégia que deu certo - pelo menos até agora - para não me precipitar e agir inconseqüentemente em meio à uma crise é imaginar como se eu estivesse vivendo um filme de trás para frente. Na cena, imagino-me amargurado, lamentando das conseqüências de uma atitude, e perguntando-me arrependido: por que me deixei levar pelo desespero?


Dentre muitas coisas que aprendi, considero de extrema importância saber cultivar o sentimento de gratidão. Principalmente nos relacionamentos que acabam, pois é através da gratidão que somos capazes de superar a dor e as mágoas, fazendo saltar aos nossos olhos as coisas maravilhosas que aconteceram na relação, que aliás, é o que vale a pena sempre recordar.


Finalmente, demorei a aceitar o fato de que se existe alguém que eu desejo o reconhecimento, esse alguém sou eu mesmo. E como isso me fez diferença na vida. Pois me tornei uma pessoa livre, capaz de realizações maravilhosas, momentos de sabedoria e bondade, mas também capaz de cometer erros infantis e até desejar maldades e coisas ditas proibidas.


E se você me afirmar que então o que escrevo é pura balela, não lhe afirmarei nem sim nem não, mas lhe direi essa frase :“ Humanamente nasci, humanamente vivo e humanamente morrerei. Não tenho a vocação para ser santo, sou simplesmente humano”.


Acompanhe todos os domingos das 8h às 9h da manhã (horário do MS) o programa “Viva Blink” apresentado por mim na Rádio Blink FM 102.7 ou ouvindo o podcast dos programas gravados no www.blink102.com.br

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