Por João Bosco Leal
‘Mas não tenho mais tanta pressa. Comecei a aprender a ser mais gentil com o meu passo. Afinal, não há lugar algum para chegar além de mim. Eu sou a viajante e a viagem’ – Ana Jacomo.
Lendo esse pensamento, fiquei admirado com a capacidade da autora de resumir, em poucas palavras, o que levamos muito para entender.
Décadas de erros e acertos, alegrias e tristezas, aproximações e afastamentos são necessárias para que se entenda a vida dessa maneira.
Procuramos coisas distantes, difíceis ou praticamente impossíveis de serem atingidas, sem prestar a mínima atenção naquelas de extrema importância, que já estão ao nosso lado.
Por cobranças no cumprimento de infindáveis regras sociais de como, onde e quando, muitos de nossos comportamentos são realizados contra a nossa vontade, na tentativa de agradar terceiros, ou a todos.
Somos extremamente críticos, buscamos a perfeição em tudo e em todos. Nossas ações nunca são satisfatórias para nós mesmos, que sempre entendemos poder ter feito mais, ganhado mais, corrido mais.
Mas para que? Que importância real teria, se algo tivesse acontecido de forma não idêntica, ou em tempo um pouco maior ou menor do que programado?
Muitas pessoas se aproximaram e compartilharam conosco de pouco ou muito da nossa viagem. Algumas nos alegraram e outras nos causaram sofrimento ou até nos provocaram ira.
Mesmo dos que já nasceram próximos a nós, alguns se afastaram, causando com isso tristezas ou alegrias, mas demoramos a entender que dos afastamentos que nos entristeceram, muitos poderiam ter sido evitados e foram provocados por nossa exclusiva responsabilidade.
Novos afastamentos ainda deverão ocorrer, mas as gentilezas – raramente realizadas-, ajudariam tanto nas oportunidades de nos reaproximarmos de alguns, como facilitariam a aproximação com outros.
Levamos décadas para termos a coragem de rir de nossos próprios erros, como rimos quando algo divertido ocorre com os outros. Sendo menos exigentes, poderíamos ter compartilhado de muitas alegrias, fazendo companhia aos que já estavam rindo, mesmo que naquele momento o motivo dos risos fôssemos nós.
Analisando o passado, não me lembro de nenhuma ocasião em que, mesmo tendo de correr bastante para um encontro agendado, alguém ganhou algo quando chegou antes do previsto, pontualmente, ou foi punido, por haver chegado um pouco mais tarde.
Muitos erros foram cometidos por todos, nas mais diversas áreas, mas percebo naqueles que já atingiram a maturidade, a tentativa fazer menos autocríticas, deixando de se penitenciarem por algo que tenha ocorrido e que atualmente não fariam. O mais importante é haver aprendido com eles, para que não se repitam.
Essa capacidade, que não se possui ou sequer é buscada na juventude, tranquiliza os que a têm, mas só é adquirida por aqueles já com muita experiência e menos ilusões.
Com as quedas aprendemos a levantar, nos tornamos diferentes, aprendemos a gostar de nós mesmos e só então, passamos a realmente poder gostar de outros.
Percebo só agora, o que deveria ter entendido antes, que nenhum objetivo na vida era mais importante que conhecer a mim mesmo.
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