terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O uso de incenso

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Sabe-se que o incenso é extraído de uma árvore nativa da Ásia e da África, denominada Boswellia Carteri (um arbusto na verdade, que chega a atingir até 3 metros de altura). A coleta do material é feita durante o verão, nos meses de fevereiro e março, mediante a perfuração dos seus troncos, para que dos orifícios possam brotar uma resina que fica endurecida pela exposição ao ar. No entanto não há informação de quando a humanidade começou a extrair o perfume das plantas aromáticas. Pesquisas revelaram evidências de que no período Neolítico, as flores e as ervas aromáticas eram empregadas na medicina e na culinária. Alguns povos começaram a utilizar as ervas e suas flores nos funerais.

O uso mais freqüente de que temos notícias, do uso das resinas, das flores e das próprias ervas é de que eram queimados a fim de produzir fumaça ou para fazer fumigamentos nos rituais oferecidos aos deuses. Os antigos haviam observado que o olor da fumaça resultante da queima das diversas plantas aromáticas, produziam efeitos ora calmantes, ora estimulantes ou alucinógenos, de forma que passaram a ser usadas nos rituais xamânicos ou mágicos e até para efeitos curativos.

Entre os egípcios antigos, inicialmente só os sacerdotes e as sacerdotisas podiam usar substâncias aromáticas e os incensos. As fragrâncias dos óleos eram usadas para fazer perfumes e também eram empregadas na medicina e no uso estético, assim como, para as consagrações ritualísticas.

Segundo se conta, o incenso egípcio mais famoso foi o Kyphi, que era queimado durante as cerimônias religiosas, bem como seu efeito servia para aliviar ansiedades, para dormir e fazer sonhar.

Com o decorrer do tempo as resinas e as ervas aromáticas passaram a ser queimadas também para purificar o ar dos ambientes, afastando o perigo das infecções.

Hipócrates, o médico grego (600 ac), tido como o “pai da medicina”, utilizava o incenso para curar a asma e para aliviar as dores do parto.

Na África o uso do incenso servia para acalmar as dores de estômago, assim como para melhorar o funcionamento do fígado e circulação do sangue.

Na Europa e em alguns povoados austríacos e suíços, usava-se queimar incensos nas casas, entre o Natal e a Epifania, por acreditarem que isso trazia garantia de boa saúde aos que ali habitavam.

Na Índia, por ocasião das meditações yoga, queima-se incensos, para, segundo os indianos, facilitar o encontro com a divindade. Também se usa o incenso para perfumar os fornos crematórios, como rito de passagem da vida terrena à vida espiritual. Os indianos também utilizam os incensos para curar reumatismos e as enfermidades nervosas.

Na Bíblia encontramos em Êxodo (30:34 - Disse mais o Senhor a Moisés: Toma especiarias aromáticas: estoraque, onicha e gálbano, especiarias aromáticas com incenso puro; de cada uma delas tomarás peso igual;) a indicação de que as especiarias aromáticas faziam parte da composição sagrada ofertada somente a Deus, tendo, por isso, se transformado num sinal de adoração. Aliás, o uso do incenso pode ser verificado não só na Bíblia Sagrada dos Cristãos, mas também no Alcorão e no Livro Etíope dos Reis.


Em Salmos encontra-se referência do ofertório a Deus, em oração e incenso: “Salmos 141
1 Ó Senhor, a ti clamo; dá-te pressa em me acudir! Dá ouvidos à minha voz, quando a ti clamo!
2 Suba a minha oração, como incenso, diante de ti, e seja o levantar das minhas mãos como o sacrifício da tarde!”

Em Mateus 2:11 (E entrando na casa, viram o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro incenso e mirra.) está registrado que os Três Reis Magos do Oriente, ofertara, além do ouro, o incenso a Jesus, para adorá-lo como o recém-nascido que seria tido como o Salvador do Mundo.

Em Apocalipse 8:1 – 4, lemos:
“1 Quando abriu o sétimo selo, fez-se silêncio no céu, quase por meia hora.
2 E vi os sete anjos que estavam em pé diante de Deus, e lhes foram dadas sete trombetas.
3 Veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar, tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para que o
oferecesse com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que está diante do trono.
4 E da mão do anjo subiu diante de Deus a fumaça do incenso com as orações dos santos.”

Os cristãos para se distinguirem do paganismo, nos primeiros tempos não usavam incenso nas suas liturgias, somente após a extinção do paganismo (no Século IV) é que o incenso passou a fazer parte dos seus atos litúrgicos.

Então, a partir do Século IV os rituais cristãos de consagração passaram a queimar incenso. Usam-no hoje, nas missas, para as honras ao altar, às relíquias e aos objetos considerados sagrados, bem como para propiciar, segundo eles, a subida das almas dos falecidos aos céus, por ocasião das exéquias.

Tanto os povos, grego e romano, tinham seus altares para a queima do incenso (foculus) aos seus ídolos, como sinal de adoração. Esses povos prestavam homenagem no culto ao imperador, fazendo a incensação a eles que eram tidos como deuses.

Na Grécia as vítimas do sacrifício eram incensadas para torná-las mais aceitáveis às divindades.

Por fim, temos notícia de que as pesquisas científicas já mostraram que o incenso quando está queimando desprende a substância denominada tetraidrocanabinol (THL), de poder desinfetante, mas também inebriante e anestésica, capaz, por exemplo, de atenuar dor de cabeça e a dor de dente. E que quando se aspira o fenol que a fumaça do incenso produz, essa substância atua no córtex cerebral onde está sediada a nossa consciência e onde se processam as informações, além disso atua também sobre o nosso sistema neurovegetativo, que controla a nossa respiração e por conseqüência o ritmo cardíaco, bem assim como as nossas funções do aparelho digestor e dos nossos intestinos. O THL do incenso estimula a serotonina que uma substância produzida pelo nosso cérebro, que atenua nossos impulsos nervosos e diminuem a freqüência das nossas ondas cerebrais, criando dessa forma um estado propício à concentração.

Os Rosacruzes afirmam que certos aromas têm efeito psicológico sobre nós, bem como estimulam e aceleram as funções das glândulas que regulam o fluxo das forças psíquicas do Cósmico por todo o sistema nervoso. Determinados odores, suaves, relaxam e parecem aquietar o corpo e liberar os poderes psíquicos, pois o odor do incenso tem algum efeito vibratório na atmosfera de um compartimento, ajudando a purificá-la afetando e neutralizando quaisquer vibrações inarmônicas que eventualmente existam, o que ajuda a meditação.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Nossas vidas


23 de janeiro de 2012

Por João Bosco Leal

Jornalista, reg. MTE nº 1019/MS

Centenas de vezes a vida já foi descrita como uma viagem única, exclusiva, na qual cada um vai para onde, como e com quem quer, arcando, durante o percurso, com as consequências de suas escolhas.


A viagem pode ser por trilhas, rios, mares ou auto-estradas, a pé, a cavalo, de barco, navio ou motorizada, mas sempre é uma viagem e o meio escolhido por quem a faz.


No meio de qualquer uma delas, alguns escolhem continuá-la de modo virtual e para isso utilizam-se dos mais diversos tipos de drogas hoje existentes, acelerando bastante o final de seu percurso. Outros, sem encontrar saída para sua ansiedade, interrompem bruscamente a sua, antes que o fim previsto o tivesse alcançado.


Durante a viagem notamos muitos exemplos de aproximações e afastamentos, sucessos e fracassos, amizades e conflitos, paz e guerra, mas sempre provocado por algo anterior.


Seria bem mais fácil se logo no inicio de sua caminhada todos já soubessem que tudo é exatamente como precisa ser e na grande maioria das vezes, uma consequência de escolhas passadas. Poderiam pensar antes de qualquer atitude, palavra ou gesto, para que no futuro não se encontrassem com muita frequência com o arrependimento.


O que se vê externamente quase nunca é o mais importante. Como em um automóvel que com o capô esconde seu motor, em quase tudo que existe o externo, material, é o visível, bonito, mas frágil, perecível, e o interno é o duradouro, que realmente possui valor.


Ressentimentos antigos podem ser apagados se realmente forem perdoados. As coisas mudam, as pessoas vão e vem, entram e saem de nossas vidas e o que é errado hoje pode não ser amanhã, quando os amigos atuais poderão já estar distantes e será possível curar o atualmente incurável.

No corpo ou a alma, as dores e os machucados sempre ocorrerão, mas se você permitir que isso ocorra, elas também passarão, algumas mais facilmente e outras nem tanto, mas poderão sarar e as emoções alegres sempre poderão ser relembradas.


Dores que nos corroeram durante anos, se você as aceitar como suas, poderão, no futuro, ser lembradas como momentos de tristeza. Buscando em nosso interior, somos capazes de perceber o que é e o que não é realmente importante, deve ser ignorado, esquecido e como podemos seguir adiante após cada queda no caminho.


A felicidade como descrita em livros e filmes só é possível ali, pois na vida real a felicidade é a vivência de momentos felizes, como o deslumbramento com um lindo por do sol, a delícia de um banho de mar, um abraço no entre querido, um beijo e todos os outros momentos que possam lhe provocar sorrisos, alegrias.


Nossas passagens ou viagens pela vida são diferentes para cada um, e de acordo com a maior, ou menor frequência e quantidade dos sentimentos de carinho, amizade, dores, alegrias, tristezas, paixões e amor que vivemos, costumamos dizer que somos mais ou menos felizes.


No entanto, é muito bom entender que todos podem influir bastante em seu futuro, plantando o que pretendem colher, na maior quantidade de áreas possível, física, educacional, cultural e de relacionamentos, pois as colheitas fartas sempre ajudarão a suportar momentos mais difíceis.


Como nas ondas oceânicas, nossas vidas estão sempre em movimento, com altos e baixos, e as arrebentações, mais ou menos explosivas, dependendo de cada um como chegará à praia.


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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O que pensava Bertrand Arthur William Russell, sobre as religiões, a existência de Deus, o cristianismo e assuntos correlatos.







Resumo dos principais pontos: Luiz Carlos Nogueira
nogueirablog@gmail.com




“Acredito que quando morrer, eu me putrefarei e nada em mim sobreviverá. Não sou jovem, e amo a vida. Mas desdenharei os calafrios do terror ao pensamento da aniquilação total. A felicidade não é, absolutamente, menor ou menos verdadeira apenas porque deve, necessariamente, chegar a um fim, e tampouco o pensamento e o amor perdem seu valor por não serem eternos.” (Bertrand Russell)



O filósofo ateísta Bertrand Arthur William Russell, escreveu de 1.899 a 1.954 vários ensaios sobre religião e assuntos correlatos, hoje reunidos em um livro sob o titulo “Porque não sou cristão”.

Meu objetivo aqui não é defender ou condenar o posicionamento desse filósofo; o meu intuito é de apenas mostrar ao leitor o conteúdo das suas idéias, cabendo a cada um, despindo-se do fanatismo fundamentalista, aceitá-las ou rejeitá-las, abrindo a mente para a reflexão, reunindo conhecimentos, sem partir para discussões improfícuas que não se resolverão neste sítio.

Pois bem, em comentário prefacial do referido livro traduzido por Brenno Silveira (de minha preferência, sem desmerecer os outros tradutores) para a Livraria Exposição do Livro – São Paulo – Copyright de 1957, o filósofo diz:

[...] Correram, em anos recentes, rumores de que eu me opunha menos à ortodoxia religiosa do que antigamente. Tais rumores são inteiramente destituídos de fundamento. Considero todas as grandes religiões do mundo – budismo, cristianismo, islamismo e comunismo – não só falsas, como prejudiciais. É evidente, como questão de lógica, que, já que elas diferem entre si, apenas uma delas pode ser verdadeira.”[...].


“[...] As objeções que se fazem à religião são de duas espécies: intelectuais e morais. A objeção intelectual é que não há razão para se supor que alguma religião seja verdadeira; a objeção moral é que os preceitos religiosos datam de um tempo em que os homens eram mais cruéis do que agora e que, por conseguinte, tendem a perpetuar desumanidades que a consciência moral de nossa época teria, de outro modo, superado.[...]”


[...] É verdade que os escolásticos inventaram o que declaravam ser argumentos lógicos provando a existência de Deus, e que tais argumentos, ou outros de teor semelhante, foram aceitos por muitos filósofos eminentes, mas a lógica a que esses argumentos tradicionais apelavam é um tipo de lógica aristotélica antiquada, hoje rejeitada, praticamente, por todos os lógicos, exceto os que são católicos.[...]”.


[...] A questão da verdade de uma religião é uma coisa, mas a questão de sua utilidade é outra,diferente. Estou tão firmemente persuadido de que as religiões são nocivas, como o estou de que são falsas.[...].

Em sua palestra proferida no dia 6 de março de 1927, na Prefeitura Municipal de Battersea, patrocinada pela Secção do sul de Londres da National Secular Society, o filósofo dissertou sobre o porque não era cristão, dizendo que seria bom saber o que se entende pela palavra “cristão”, já que ela é usada atualmente por um grande número de pessoas, de uma forma muito imprecisa. Para alguns, dizia: [...] não significa senão uma pessoa que procura viver uma vida virtuosa. Neste sentido, creio que haveria cristãos em todas as seitas e em todos os credos; mas não me parece que esse seja o sentido próprio da palavra, quando mais não fosse porque isso implicaria que todas as pessoas que não são cristãs – todos os budistas, confucianos, maometanos e assim por diante – não estão procurando viver uma vida virtuosa. Não considero cristã qualquer pessoa que tente viver decentemente de acordo com sua razão. Penso que se deve ter uma certa dose de crença definida, antes que a gente tenha o direito de se considerar cristão. Essa palavra não tem hoje o mesmo sentido vigoroso que tinha ao tempo de Santo Agostinho e de Santo Tomás de Aquino. Então, quando um homem se dizia cristão, sabia-se o que é que ele queria significar. As pessoas aceitavam toda uma série de crenças estabelecida com grande precisão, e acreditavam, com toda a força de suas convicções, em cada sílaba de tais crenças.”.


“Hoje em dia não é bem assim. Tem-se de ser um pouco mais vago quanto ao sentido de cristianismo. Penso, porém, que há dois itens diferentes e essenciais para que alguém se intitule cristão. O primeiro é de natureza dogmática – isto é, tem-se de acreditar em Deus e na imortalidade. Se não se acredita nessas duas coisas, não creio que alguém possa chamar-se, apropriadamente, cristão. Além disso, como o próprio nome o indica, deve-se ter alguma espécie de crença acerca de Cristo. Os maometanos, por exemplo, também acreditam em Deus e na imortalidade e, no entanto, dificilmente poderiam chamar-se cristãos. Acho que se precisa ter, no mínimo, a crença de que Cristo era, senão divino, pelo menos o melhor e o mais sábio dos homens. Se não tiverdes ao menos essa crença quanto a Cristo, não creio que tenhais qualquer direito de intitular-vos cristãos. Existe, naturalmente, um outro sentido, que poderá ser encontrado no Whitaker’s Almanack e em livros de geografia, nos quais se diz que a população do mundo se divide em cristãos, maometanos, budistas, adoradores de fetiches e assim por diante – e, nesse sentido, somos todos cristãos. Os livros de geografia incluem-nos a todos, mas isso num sentido puramente geográfico, que, parece-me, podemos ignorar. Por conseguinte, julgo que, ao dizer-vos que não sou cristão, tenho de contar-vos duas coisas diferentes: primeiro, por que motivo não acredito em Deus e na imortalidade e, segundo, porque não acho que Cristo foi o melhor e o mais sábio dos homens, embora eu Lhe conceda um grau muito elevado de bondade moral.[...]”


“[...] Sabeis, certamente, que a Igreja Católica estabeleceu como dogma que a existência de Deus pode ser provada sem ajuda da razão. É esse um dogma um tanto curioso, mas constitui um de seus dogmas. Tiveram de introduzi-lo porque, em certa ocasião, os livre-pensadores adotaram o hábito de dizer que havia tais e tais argumentos que a simples razão poderia levantar contra a existência de Deus, mas eles certamente sabiam, como uma questão de fé, que Deus existia.[...]”.


Assim surgiram os argumentos como o da Causa Primeira, ou seja, de que: [...] tudo o que vemos neste mundo tem uma causa e que, se retrocedermos cada vez mais na cadeia de tais causas, acabaremos por chegar a uma Causa Primeira, e que a essa Causa Primeira se dá o nome de Deus. [...], mas aí, prosseguindo, lança-se a questão de que se tudo o que existe tem que ter tido uma Causa Primeira, então “Quem fez Deus?”. [...]. Se tudo tem de ter uma causa, então Deus deve ter uma causa. Se pode haver alguma coisa sem uma causa, pode muito bem ser tanto o mundo como Deus, de modo que não pode haver validade alguma em tal argumento.[...]”.


Já quanto ao argumento da Lei Natural, dizia Russell:


“[...] Vemos, agora, que muitas coisas que considerávamos como leis naturais não passam, na verdade, de convenções humanas. Sabeis que mesmo nas mais remotas profundezas do sistema estelar uma jarda tem ainda três pés de comprimento. Isso constitui, sem dúvida, fato notabilíssimo, mas dificilmente poderíamos chamá-lo de lei da natureza. E, assim, muitíssimas outras coisas antes encaradas como leis da natureza são dessa espécie. Por outro lado, qualquer que seja o conhecimento a que possamos chegar sobre a maneira de agir dos átomos, veremos que eles estão muito menos sujeitos a leis do que as pessoas julgam, e que as leis a que a gente chega são médias estatísticas exatamente da mesma classe das que ocorreriam por acaso. Há, como todos nós sabemos, uma lei segundo a qual, no jogo de dados, só obteremos dois seis apenas uma vez em cerca de trinta e seis lances, e não encaramos tal fato como uma prova de que a queda dos dados é regulada por um desígnio; se, pelo contrário, os dois seis saíssem todas as vezes, deveríamos pensar que havia um desígnio. As leis da natureza são dessa espécie, quanto ao que se refere a muitíssimas delas. São médias estatísticas como as que surgiriam das leis do acaso – e isso toma todo este assunto das leis naturais muito menos impressionante do que em outros tempos. Inteiramente à parte disso, que representa um estado momentâneo da ciência que poderá mudar amanhã, toda a idéia de que as leis naturais subentendem um legislador é devida à confusão entre as leis naturais e humanas. As leis humanas são ordens para que procedamos de certa maneira, permitindo-nos escolher se procedemos ou não da maneira indicada; mas as leis naturais são uma descrição de como as coisas de fato procedem e, não sendo senão uma mera descrição do que elas de fato fazem, não se pode argüir que deve haver alguém que lhes disse para que assim agissem, porque, mesmo supondo-se que houvesse, estaríamos diante da pergunta: “Por que Deus lançou justamente essas leis naturais e – não outras?” Se dissermos que Ele o fez por Seu próprio prazer, e sem qualquer razão para tal, verificaremos, então, que há algo que não está sujeito à lei e, desse modo, se interrompe a nossa cadeia de leis naturais. Se dissermos, como o fazem os teólogos mais ortodoxos, que em todas as leis feitas por Deus Ele tinha uma razão para dar tais leis em lugar de outras – sendo que a razão, naturalmente, seria a de criar o melhor universo, embora a gente jamais pensasse nisso ao olhar o mundo – se havia uma razão para as leis ministradas por Deus, então o Próprio Deus estava sujeito à lei e, por conseguinte, não há nenhuma vantagem em se apresentar Deus como intermediário. Temos aí realmente uma lei exterior e anterior aos editos divinos, e Deus não serve então ao nosso propósito, pois que ele não é o legislador supremo.[...]”.


No que se refere à Prova Teológica da Existência de Deus, o filósofo assim se expressou: “[...] Vós todos conheceis tal argumento: tudo no mundo é feito justamente de modo a que possamos nele viver, e se ele fosse, algum dia, um pouco diferente, não conseguiríamos viver nele. [...] desde o tempo de Darwin, compreendemos muito melhor por que os seres vivos são adaptados ao meio em que vivem. Não é o seu meio que se foi ajustando aos mesmos, mas eles é que foram se ajustando ao meio, e isso é que constitui a base da adaptação. Não há nisso prova alguma de desígnio divino.[...]” [...]” “Achais, acaso, que, se vos fossem concedidas onipotência e onisciência, além de milhões de anos para que pudésseis aperfeiçoar o vosso mundo, não teríeis podido produzir nada melhor do que a Ku-Klux-Klan ou os fascistas?[...]”


“[...] uma pessoa de espírito científico diria acerca do universo. Diria: “Encontramos neste mundo muita injustiça e, quanto ao que a isso se refere, há razão para se supor que o mundo não é governado pela justiça. Por conseguinte, tanto quanto posso perceber, isso fornece um argumento moral contra a deidade e não a seu favor”. Sei, certamente, que os argumentos intelectuais sobre os quais vos estou falando não são, na verdade, de molde a estimular as pessoas. O que realmente leva os indivíduos a acreditar em Deus não é nenhum argumento intelectual. A maioria das pessoas acredita em Deus porque lhes ensinaram, desde tenra infância, a fazê-lo, e essa é a principal razão.[...]”.


“[...]O mundo, segundo nos dizem, foi criado por um Deus não só bom, como onipotente. Antes de ele haver criado o mundo, previu toda dor e toda a miséria que o mesmo iria conter. E ele, pois, responsável por tudo isso. É inútil argumentar-se que o sofrimento, no mundo, é devido ao pecado. Em primeiro lugar, isso não é verdade: não é o pecado que faz com que os rios transbordem ou que os vulcões entrem em erupção. Mas, mesmo que fosse verdade, isso não faria diferença. Se eu fosse gerar uma criança sabendo que essa criança iria ser um homicida maníaco, eu seria responsável pelos seus crimes. Se Deus sabia de antemão os pecados de que cada homem seria culpado, Ele foi claramente responsável por todas as conseqüências de tais pecados, ao resolver criar o homem. O argumento cristão habitual é que o sofrimento, neste mundo, constitui uma purificação do pecado, sendo, assim, uma boa coisa. Tal argumento não passa, naturalmente, de uma racionalização do sadismo; seja, porém, como for, é um argumento muito fraco. Eu convidaria qualquer cristão a que me acompanhasse ao pavilhão infantil de um hospital, a fim de observar o sofrimento que é lá suportado, para ver se continuaria a afirmar que aquelas crianças eram tão corruptas, moralmente, a ponto de merecer o que estavam sofrendo. Para que possa dizer tal coisa, um homem tem de destruir em si mesmo todos os sentimentos de misericórdia e de compaixão. Deve, em suma, tornar-se tão cruel como o Deus em que crê. Homem algum que acredite ser para o bem tudo o que acontece neste mundo de sofrimento poderá manter intactos os seus valores morais, já que está sempre encontrando escusas para a dor e a miséria.[...]”


No que respeita ao caráter de Cristo, Russell assim se expressou: “Desejo agora dizer algumas palavras sobre um tema que, penso com freqüência, não foi tratado suficientemente pelos racionalistas, e que é a questão de saber-se se Cristo foi o melhor e o mais sábio dos homens. É geralmente aceito como coisa assente que deveríamos todos concordar em que assim é. Não penso desse modo. Acho que há muitíssimos pontos em que concordo com Cristo muito mais do que o fazem os cristãos professos. Não sei se poderia concordar com Ele em tudo, mas posso concordar muito mais do que a maioria dos cristãos professos o faz. Lembrar-vos-eis que Ele disse: “Não resistais ao mau, mas, se alguém te ferir em tua face direita, apresenta-lhe também a outra”. Isto não era um preceito novo, nem um princípio novo. Foi usado por Lao-Tse e por Buda cerca de quinhentos ou seiscentos anos antes de Cristo, mas não é um princípio que, na verdade, os cristãos aceitem. Não tenho dúvida de que o Primeiro-Ministro (Stanley Baldwin), por exemplo, seja um cristão sumamente sincero, mas não aconselharia a nenhum de vós que o ferisse na face. Penso que, então, poderíeis descobrir que ele considerava esse texto como algo que devesse ser empregado em sentido figurado.
Há um outro ponto que julgo excelente. Lembrar-vos eis, por certo, de que Cristo disse: “Não julgueis, para que não sejais julgados”. Não creio que vós considerásseis tal princípio como sendo popular nos tribunais dos países cristãos. Conheci, em outros tempos, muitos juízes que eram cristãos sumamente convictos, e nenhum deles achavam que estava agindo, no que fazia, de maneira contrária aos princípios cristãos. Cristo também disse: “Dá a quem te pede, e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes”. É este um princípio muito bom. Vosso Presidente vos lembrou que não estamos aqui para falar de política, mas não posso deixar de observar que as últimas eleições gerais foram disputadas baseadas na questão de quão desejável seria voltar as costas ao que desejava lhe emprestássemos, de modo que devemos presumir que os liberais e os conservadores deste país são constituídos de pessoas que não concordam com os ensinamentos de Cristo, pois que, certamente, naquela ocasião, voltaram as costas de maneira bastante enfática.

Há ainda uma máxima de Cristo que, penso, contém nela muita coisa, mas não me parece seja muito popular entre os nossos amigos cristãos. Diz Ele: “Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, e dá-o aos pobres”. Eis aí uma máxima excelente, mas, como digo, não é muito praticada. Todas estas, penso, são boas máximas, embora seja um pouco difícil viver-se de acordo com elas. Quanto a mim, não afirmo que o faça – mas, afinal de contas, isso não é bem o mesmo que o seria tratando-se de um cristão.”


“[...] Há, a meu ver, um defeito muito sério no caráter moral de Cristo, e isso porque Ele acreditava no inferno. Quanto a mim, não acho que qualquer pessoa que seja, na realidade, profundamente humana, possa acreditar no castigo eterno. Cristo, certamente, tal como é descrito nos Evangelhos, acreditava no castigo eterno, e a gente encontra, repetidamente, uma fúria vinditiva contra os que não davam ouvidos aos seus ensinamentos – atitude essa nada incomum entre pregadores, mas que, de certo modo, se afasta da excelência superlativa. Não encontrareis, por exemplo, tal atitude em Sócrates. Encontramo-la bastante suave e cortês para com aqueles que não queriam ouvi-lo – e, na minha opinião, é muito mais digno de um sábio adotar tal atitude do que mostrar-se indignado. Provavelmente vos lembrareis das coisas que Sócrates disse quando estava agonizando, bem como das coisas que em geral dizia às pessoas que não concordavam com ele.
Vereis que, nos Evangelhos, Cristo disse: “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação ao inferno?”. Isso foi dito a gente que não gostava de seus ensinamentos. Esse não é, realmente, na minha opinião, o melhor tom, e há muitas dessas coisas acerca do inferno. Há, por certo, o texto familiar acerca do pecado contra o Espírito Santo: “Quem falar contra o Espírito Santo não será perdoado, nem neste século nem no futuro”. Este texto causou indizível infelicidade no mundo, pois que toda a espécie de criatura imaginava haver pecado contra o Espírito Santo e achava que não seria perdoada nem neste mundo, nem no outro. Não me parece, realmente, que uma pessoa dotada de um grau adequado de bondade em sua natureza teria posto no mundo receios e terrores dessa espécie.
Diz Cristo, ainda: “O Filho do homem enviará os seus anjos, e tirarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniqüidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes”. E continua a referir-se aos lamentos e ao ranger de dentes.[...]”


“Há outras coisas de menor importância. Há, por exemplo, a expulsão dos demônios de Gerasa, onde, certamente, não foi muito bondoso para com os porcos, fazendo com que os demônios neles entrassem e se precipitassem ao mar pelo despenhadeiro. Deveis lembrar-vos de que Ele era onipotente e teria podido simplesmente fazer com que os demônios fossem embora. Mas Ele prefere fazer com que entrem nos porcos. Há, ainda, a curiosa história da figueira, que sempre me deixa um tanto intrigado. Vós vos lembrais do que aconteceu com a figueira. “Pela manhã, quando voltava para a cidade, teve fome. E, vendo uma figueira junto do caminho, aproximou-se dela; e não encontrou nela senão folhas, e disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti”. E Pedro disse-Lhe: “Vê, Mestre: a figueira que amaldiçoaste secou”. Essa é uma história muito curiosa, pois que aquela não era a estação dos figos e, realmente, não se podia censurar a árvore. Quanto a mim, não me é possível achar que, em questão de sabedoria ou em questão de virtude, Cristo permaneça tão alto como certas outras figuras históricas que conheço. Nesses sentidos, eu colocaria Buda e Sócrates acima d’Ele.


“[...] Penso que o resultado claro e líquido de todos estes séculos de cristianismo foi tomar os homens mais egoístas, mais fechados em si mesmos, do que a natureza os fez – pois que os impulsos que naturalmente tiram o homem para fora das paredes de seu ego são os do sexo, a paternidade, o patriotismo e o instinto de rebanho. O sexo, a Igreja tudo fez para desacreditar e denegrir; o afeto de família foi desacreditado pelo Próprio Cristo e pelo grosso de Seus adeptos, e o patriotismo não pôde encontrar lugar entre as populações sujeitas ao Império Romano. A polêmica contra a família, nos Evangelhos, é um assunto que não recebeu a atenção que merece. A Igreja trata a Mãe de Cristo com reverência, mas Ele Próprio pouco revelou dessa atitude. “Mulher, que tenho eu contigo?” (João II. 4) é a Sua maneira de falar-lhe. Também diz que veio “separar o filho do seu pai, e a filha da sua mãe, e a nora da sua sogra – e que aquele que ama o pai ou a mãe mais do que a Ele não é digno d’Ele” (Mateus x. 35-7). Tudo isso significa uma ruptura no laço biológico da família a bem da fé – uma atitude que muito teve que ver com a intolerância que surgiu no mundo com a expansão do cristianismo.[...]


Russell alude ao fato de que as Igrejas retardam o progresso, dizendo: “[...]Tomemos apenas um fato. Concordareis comigo, se eu o citar. Não é um fato agradável, mas as Igrejas nos obrigam a referir-nos a fatos que não são agradáveis. Suponhamos que, neste mundo em que hoje vivemos, uma jovem inexperiente case com um homem sifilítico. Neste caso, a Igreja Católica diz: “Esse é um sacramento indissolúvel. Devem permanecer juntos por toda a vida”. E nenhum passo deve ser dado por essa mulher no sentido de evitar que dê à luz filhos sifilíticos. Isso é o que diz a Igreja Católica.[...]”


“[...]As Igrejas, como todos sabem, opuseram-se, enquanto ousaram fazê-lo, à abolição da escravidão e, salvo algumas poucas exceções bastante anunciadas, opõem-se, no presente, a todos os movimentos que têm por objetivo a justiça econômica.[...]”



“A religião baseia-se, penso eu, principalmente e antes de tudo, no medo. É, em parte, o terror de desconhecido e, em parte, como já o disse, o desejo de sentir que se tem uma espécie de irmão mais velho que se porá de nosso lado em todas as nossas dificuldades e disputas. O medo é a base de toda essa questão: o medo do mistério, o medo da derrota, o medo da morte. O medo é a fonte da crueldade e, por conseguinte, não é de estranhar que a crueldade e a religião tenham andado de mãos dadas. Isso por que o medo é a base dessas duas coisas. Neste mundo, podemos agora começar a compreender um pouco as coisas e a dominá-las com a ajuda da ciência, que abriu caminho, passo a passo, contra a religião cristã, contra as Igrejas e contra a oposição de todos os antigos preceitos. A ciência pode ajudar-nos a superar esse medo pusilânime em que a humanidade viveu durante tantas gerações. A ciência pode ensinar-nos, e penso que também os nossos corações podem fazê-lo, a não mais procurar apoios imaginários, a não mais inventar aliados no céu, mas a contar antes com os nossos próprios esforços aqui embaixo para tornar este mundo um lugar adequado para se viver, ao invés da espécie de lugar a que as igrejas, durante todos estes séculos, o converteram.”


Portanto, diz o filósofo: “Devemos apoiar-nos em nossos próprios pés e olhar o mundo honestamente – as coisas boas, as coisas más, suas belezas e suas fealdades; ver o mundo como ele é, e não temê-lo. Conquistar o mundo por meio da inteligência, e não apenas abjetamente subjugados pelo terror que ele nos desperta. Toda a concepção de Deus é uma concepção derivada dos antigos despotismos orientais. É uma concepção inteiramente indigna de homens livres. Quando vemos na igreja pessoas a menosprezar a si próprias e a dizer que são miseráveis pecadores e tudo o mais, tal coisa nos parece desprezível e indigna de criaturas humanas que se respeitem. Devemos levantar-nos e encarar o mundo honestamente. Devemos fazer do mundo o melhor que nos seja possível, e se o mesmo não é tão bom quanto desejamos, será, afinal de contas, ainda melhor do que esses outros fizeram dele durante todos estes séculos. Um mundo bom necessita de conhecimento, bondade e coragem; não precisa de nenhum anseio saudoso pelo passado, nem do encarceramento das inteligências livres por meio de palavras proferidas há muito tempo por homens ignorantes. Necessita de esperança para o futuro, e não de passar o tempo todo voltado para trás, para um passado morto, que, assim o confiamos, será ultrapassado de muito pelo futuro que a nossa inteligência pode criar.[...]”



LEITURAS RECOMENDADAS



DEUS NA NATUREZA – Autor: Camille Flamarion


Nesta obra, das mais profundas entre outras de sua autoria, Flammarion passa em revista todas as teorias científicas, filosóficas e religiosas que dizem respeito à Natureza e ao homem, para concluir, com clara argumentação, pela realidade imperiosa de um princípio imanente e criador: Deus, “a força inteligente, universal e invisível, que constrói sem cessar a obra da Natureza”. Aborda, nos cinco tomos em que está dividida, estudos que transmitem conhecimentos basilares aos espíritas, pois o sábio autor apóia-se em princípios da Natureza para proclamar a existência de Deus.


Loja Virtual da Federação Espírita Brasileira – Para comprar acesse:

http://www.feblivraria.com.br/Livros/Ciencia/Deus-na-natureza.html?acao=DT&dep=1190&secao=4357&prod_id=59254&orig=gooxml


DEUS UM DELÍRIO – Autor: Richard Dawkins

O biólogo Richard Dawkins usa seu conceito de memes (idéias que agem como os genes) e o darwinismo para propor explicações à tendência da humanidade de acreditar num ser superior. Rebate um a um, com base na teoria das probabilidades, os argumentos que defendem a existência de Deus (ou Alá, ou qualquer tipo de ente sobrenatural), dedicando especial atenção ao design inteligente, tentativa criacionista de harmonizar ciência e religião. Em "Deus, um Delírio" o autor mostra como a religião alimenta a guerra, fomenta o fanatismo e doutrina as crianças.
• Editora: Companhia das Letras
• ISBN: 9788535910704
• Origem: Nacional
• Ano: 2007
• Edição: 1
• Número de páginas: 528
• Acabamento: Brochura
• Formato: Médio
Submarino – Para comprar acesse:
http://www.submarino.com.br/produto/1/1972799/deus+,+um+delirio



quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

BÖN BUDISMO



Religião Bön


A religião original do Tibete é chamada Bon. É uma religião animista. Com a introdução do budismo no século VII, iniciou-se uma longa luta pela supremacia religiosa, luta esta que acabou sendo ganha pelo budismo, mas não sem que este recebesse marcada influência do Bon. A prática da consulta de oráculos, por exemplo, seguida até pelos Dalai Lamas, é um dos exemplos de influência Bon. Viajando pelo Tibete você vai notar que em vários pontos da estrada há montes de pedras com bandeiras com inscrições religiosas, chamadas Manis. Aí está outro exemplo desta religião animista.




A TRADIÇÃO BON TIBETANA


A tradição espiritual mais antiga do Tibet é a Bön. De acordo com as explicações Bönpo, Tönpa Shenrab, o fundador da religião Bön, é o mestre iluminado desta era. Ele disse que nasceu na terra mística de Olmo Lung Ring, cuja localidade permanece ainda um mistério. A terra é tradicionalmente descrita como dominada pelo Monte Yung-drung Gu-tzeg (Edifício das Nove Swastikas), que muitos identificam como o Monte Kailash a oeste do Tibet. Devido à sacralidade de Olmo Lung Ring e da montanha, tanto a swastika de sentido anti-horário quanto o número nove são de grande significado na religião Bön.


Acredita-se que Tönpa Shenrab primeiro estudou a doutrina Bön no céu, no final do qual ele rogou aos pés do deus da compaixão, Shenla Okar, para guiar o povo deste mundo. Conseqüentemente, com a idade de trinta e um anos ele renunciou ao mundo e tomou uma vida de austeridades, disseminando a doutrina para ajudar os seres imersos em um oceano de miséria e sofrimento. Neste esforço de espalhar a doutrina, ele chegou ao Tibet, na região do Monte Kailash, que é conhecido como a terra de Zhang Zhung, historicamente o assento principal de cultura e doutrina Bön. Registros sobre a vida de Tönpa Shenrab podem ser encontrados nas três principais fontes; mDo-’dus, gZer-migand gZi-brjid. As duas primeiras são tidas como textos Tesouros (gTer-ma) descobertos, de acordo com a história Bön, no século X ou XI. O terceiro pertence à llinhagem do sussurro (sNyan-brgyud) transmitida entre os adeptos.


As doutrinas ensinadas por Tonpa Shenrab são geralmente classificadas em dois tipos; primeiro, Os Quatros Portais e Um Cofre (sGo-bzhi mDzod-lizga), onde as quatro primeiras são: a doutrina Água Branca(Chabdkar) que lida com assuntos esotéricos; a doutrina Água Negra (Chab-nag) que lida com narrativas, magia, ritos funerais e ritos de resgate; a doutrina da Terra de Phan (‘Phanyul) que contém as regras monásticas e exposições filosóficas; a doutrina do Mentor Divino (dPon-gasa) contendo exclusivamente os ensinamentos da grande perfeição; e finalmente, o Cofre (mTho-thog) que engloba os aspectos essenciais de todos os quatro portais.


A segunda classificação, os Nove Caminhos do Bön (Bön theg-pa rim-dgu) é a seguinte: o Caminho da Predição (Phyva-gshen Theg-pa), que descreve sortilégio, astrologia, titual e prognóstico; o Caminho do Mundo Visual (sNang-shen theg-pa), que explica o universo psicofísico; o Caminho da Ilusão (‘Phrul-gshen theg-pa), que dá detalhes de ritos para se dispersar forças adversas; o Caminho da Existência (Srid-gshen theg-pa), que explica os rituais de funeral e morte; o Caminho de um Seguidor de um Programa (dGe-bsnyen theg-pa), que contém os dez princípios para uma atividade beneficiente; o Caminho de um Monge (Drnag-srnng theg-pa), no qual as regras e regulamentações monásticas são colocadas; o Caminho do Som Primordial (Adkar theg-pa), que explica a integração de um praticante exaltado numa mandala de iluminação superior; o Caminho do Shen Primordial (Ye-gshen theg-pa), que explica as guias mestras para a procura de um verdadeiro mestre tantrico, e, finalmente, o Caminho de Suprema Doutrina (Bla-med theg-pa), que discute somente a doutrina da grande perfeição.


Os Nove Caminhos foram depois sintetizados em três: os primeiros quatro constituíram os Caminhos Causais (rGyui-theg-pa), os quatro subseqüentes formaram os Caminhos Resultantes (‘Brns-bu’i-theg-pa) e o nono se tornou o Caminho Insuperável ou o Caminho da Grande Completude (Khyad-par chen-po’i-theg-pa or rDzogs-chen). Tudo isto é encontrado no cânone Bön compilados em mais de 200 volumes classificados em quatro sessões: os sutras (mDa), a perfeição dos ensinamnetos de sabedoria (‘Bum), os tantras (rGyud) e o conhecimento (mDzod). Além deles, o cânone lida com outros assuntos tais como os rituais, artes e trabalhos manuais, lógica, medicina, poesia e narativas. É interessante notar que na sessão do Conhecimento (mDzod) concernente à cosmologia e cosmogonia é bem particular do Bön, apesar de haver especulações acadêmicas de que exista uma forte afinidade com certas doutrinas Nyingma.


A história nos mostra que com o aumento do patrocínio real ao Budismo, a doutrina Bön foi desencorajada, e foi também perseguida e banida. Praticamente nada se sabe a respeito do Bön no período que vai do século VIII ao século XI. Entretanto, com a implacável devoção e esforço de verdadeiros seguidores como Drenpa Namkha (século IX), Shenchen Kunga (século X) e muitos outros, a doutrina Bön, a religião indígena de Tibet, foi resgatada do obscurantismo e re-estabelecida ao lado do Budismo no Tibet.


Desde o século XI, com o estabelecimento de mosteiros como Yeru Ensakha, Kyikhar Rishing, Zangri e os últimos Menri eYungdrung Ling no Tibet Central; e Nangleg Gon, Khyunglung Ngulkar e outros, mais de trezentos mosteiros Bön foram estabelecidos no Tibet antes da ocupação Chinesa. Destes, os mosteiros de Menri eYungdrung foram as principais universidades para o estudo e prática da doutrina Bön. Uma nova avaliação do Bön ocorreu no século XIX sob a assistência de Sharza Tashi Gyeltsen, cuja obra escrita compreendia em dezoito volumes que deram à tradição Bön um novo impulso. Seu seguidor Kagya Khyungtrul Jigmey Namkha treinou muitos discípulos não só na religião Bön, mas em todas as ciências Tibetanas. Entretanto, com a invasão Chinesa noTibet, como as outras tradições espirituais, o Bönismo também sofreu irreparáveis perdas.


Pelos eforços do Abade Lungtok Tenpai Gyeltsen Rinpoche, do Venerável Sangyey Tenzin e outros poucos monges mais velhos, uma pequena parte da comunidade Bön se re-estabeleceu com sucesso no mosteiro de Tashi Menri Ling em Dolanji nas colinas perto de Solan em Himachal Pradesh, India, com o aval de Sua Santidade o Dalai Lama e do Conselho para Assuntos Religiosos e Culturais. Por algum tempo este mosteiro foi o único centro importante onde os monges mais jovens podiam receber um treinamento completo dentro da filosofia Bön, mais disciplinas monásticas, e rituais e danças religiosas. Completados ainda com estudo de gramática, medicina, astrologia e poesia, os monges são ainda orientados com uma educação moderna.


Ao se concluir com sucesso o curso completo de estudos, que é acessado tanto por meios de exames escritos quanto dialéticos, um monge conquista o Grau Geshey (Doutorado em Bönismo). Este passa então a servir sua comunidade através de ensinamentos, de escritos e assim por diante.
Além do Mingye Yungdrungling existe também o Tashi Thaten Ling e outros quatorze mosteiros Bön na Índia e Nepal. Eforços têm sido feito para se estabelecer um Instituto Internacional do Bön no Nepal para fortalecer as atividades religiosas Bön e para apresentar sua doutrina para o resto do mundo.


Atualmente o Bonismo, apesar de ter perdido sua posição proeminente, possui muitos seguidores em muitas tribos Tibetanas e em algumas áreas isoladas. Os rituais e as crenças do Bonismo formam uma parte integral da cultura Tibetana. A tradição Bön tem recebido apoio de Sua Santidade o Dalai Lama, que recentemente fêz uma visita de dois dias à Dolanji, onde ficou impressionado pelo grau de conquistas educacionais. Além disto ele fêz uma declaração em 1988 na Conferência Tulku em Sarnath onde enfatizava a importância de se preservar a tradição Bön, como representante das fontes indígenas da cultura Tibetana, e reconhecendo o papel importante que teve na construção da identidade única do Tibet.


A RELIGIÃO BÖN


A religião Bön é uma seita de xamanismo anímico, um culto panteísta cuja crença é de que todos os sêres vivos possuem alma. Ela prevalecia no Tibet antes da introdução do Budismo no séc. VII. Depois disto o Budismo Tibetano absorveu algumas crenças e rituais do Bonismo, como a dependencia no oráculo, astrologia e panteísmo. Por exemplo, as seleções dos Tulkus (reencarnações) começava com um oráclo, astrologia, observações de visões em lagos sagrados, e algumas vezes os serviços de um oráculo-monje eram requisitados. Por outro lado o Bonismo foi modificado para o modelo Budista para se tornar um ramo do Budismo Tibetano, a seita preta.


CULTURA TIBETANA


A Morte: O cuidado com os mortos também tem suas peculiaridades. No Tibete existem cinco tipos de funerais. Somente os marginais e criminosos são sepultados da maneira que é usual no Ocidente. Acredita-se que a terra sobre o corpo impede o desenvolvimento da alma e a reencarnação torna-se impossível. A cremação é o método mais usado. Mas é um ritual caro; não existe muita matéria-prima combustível apropriada [para cremações] no Tibete. Deste modo, sem opção, os mortos dos pobres são atirados ao rio. Curiosamente, os santos mais venerados do Tibete não foram cremados nem jogados na correnteza; foram emparedados no interior dos templos e tumbas especiais são [verticais, supomos] elaboradas em sua honra.


O funeral mais comum é o Funeral Celestial. O corpo é levado ao topo de uma montanha onde seus músculos e ossos são estraçalhados a golpes de pedra. Depois de completamente mutilado, esmigalhado, esquartejado, o defunto é deixado à mercê das águias e outros rapinantes. As autoridades já tentaram proibir este tipo de funeral mas a população insiste e o rito brutal continua sendo o mais praticado.


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CULTURA TIBETANA

R u a E n g e n h e i r o R e b o u ç a s , 1 0 4 0
S ã o C a e t a n o d o S u l – SÃO PAULO
T e l . 4 2 3 2 – 5 6 3 0
Email: abct.contato@gmail.com
S i t e : www.maitreia.org


http://bongarudabr.wordpress.com

http://abct.wordpress.com

http://retirobardo.blogspot.com

http://sherabling.wordpress.com

Fonte: Bön Garuda Brasil - O Bön Budismo no Brasil – Clique aqui para conferir

ou acesse o site através deste link: http://bongarudabr.wordpress.com/2009/05/

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O Segredo dos Iniciados - Por Hugo Lapa

junho 19, 2009


por Hugo Lapa






Desde muito tempo, podemos mesmo dizer vários milênios, a humanidade convive com um conhecimento esoterico reservado a um número seleto de indivíduos. Esse conhecimento é considerado sigiloso, secreto ou proibido às massas. A maioria das pessoas encontrar-se-ia ainda distante desse conhecimento. As organizações esotéricas ou iniciáticas sempre consideraram o segredo como algo de extrema importância; uma importância vital e essencial e obrigam discípulos a prestar votos solenes de sigilo do que veem nos templos ou na instrução direta da relação guru-discípulo.

Esse conhecimento foi denominado por vários nomes ao longo da história e sua existência é comum a praticamente todas as culturas antigas e modernas. Até mesmo a ciência atual se vale do sigilo em muitas circunstâncias, atualmente em pesquisas armamentistas, como tecnologias de destruição em massa, como a bomba atômica. Não há dúvida de que esse tipo de conhecimento deveria ser reservado apenas a pessoas de moral elevada; pessoas de bem e sem qualquer intenção de provocar estragos a grupos humanos, países ou a humanidade em geral.

Muitas pessoas que ficam sabendo desse conhecimento secreto têm muitas dúvidas do porquê de sua existência; algumas chegam mesmo a desejar adquirir esse saber, pois algo muito profundo deve estar escondido aí. Outras pessoas chegam mesmo a atacar os portadores dos “mistérios”, taxando todos eles de charlatões, embusteiros e gananciosos. Chega-se a acreditar que os iniciados nos mistérios formariam uma classe superior em nossa sociedade e usariam de artíficios políticos e ideológicos para esconder certas verdades das massas, tendo como único objetivo a preservação de sua condição de superioridade, possivelmente conferida pelos conhecimentos ocultos.

Por outro lado, os iniciados afirmam que o objetivo do sigilo não é a criação de uma elite, uma classe detentora de poder suficiente para dominar uma parte do mundo ou quase a sua totalidade. Muitos ocultistas defendem o sigilo como algo imprescindível no esoterismo e procuram justificar esses motivos de várias formas. Outros ainda afirmam que o mistério não é algo intencional, mas faz parte da própria realidade de uma sabedoria mais profunda. Em outras palavras, só existe o conhecimento oculto porque, dizem alguns iniciados, as pessoas comuns são incapazes de percebe-los. Caso possuíssem capacidades psíquicas desenvolvidas; caso sua moral fosse refinada; caso sua consciência fosse elevada; caso sua intenção fosse pura e cristalina, qualquer indivíduo teria acesso à sabedoria que jaz oculta no coração do cosmos. Assim, não há uma ocultação de conhecimentos especiais, há uma inabilidade de se percebe-los e compreende-los.

Dizem os iniciados que tudo está plenamente revelado. Um dos maiores iniciados que passou pela Terra, Jesus, o Cristo, disse isso em palavras extremamente simples e mesmo assim só pôde ser compreendido por poucos indivíduos. Jesus disse que sua mensagem era destinada àqueles que tinham “olhos para ver e ouvidos para ouvir”. Com essa frase, Jesus deixa claro que o conteúdo dos seus ensinamentos não poderia ser compreendido por todas as pessoas, mas apenas aquelas que tivessem uma visão das coisas e uma capacidade de escuta mais profunda da vida. Há outra passagem onde Jesus faz uma referência mais explícita ao saber arcano. Diz ele aos seus discípulos: “A vós vos é dado conhecer os mistérios do Reino de Deus, mas aos outros apenas é dado conhecer por parábolas, para que, vendo, não vejam e, ouvindo, não entendam”. Fica claro nessa passagem que existiam duas formas de ensinar: uma aberta e pública, que qualquer pessoa poderia ouvir, ver e compreender. E outra mais restrita, onde apenas algumas pessoas seriam capazes de vislumbrar além do superficial e do aparente.

Nesta oportunidade vamos enumerar alguns dos principais motivos do sigilo, para que fique claro à maioria das pessoas que não são versadas em esoterismo e ocultismo:

1 – A primeira razão mais forte, já nos adiantamos nesse texto, é a clara noção de que o iniciado oculta o conhecimento pelo simples motivo de que o não-iniciado não poderia compreende-lo. De que adiantaria para um físico debater mecânica quântica com uma pessoa que nunca estudou qualquer noção básica de física? Para que possa existir algum entendimento a esse respeito, o iniciado deve modificar sua linguagem e adaptar certos conceitos dentro da realidade do leigo, transmitindo-o de modo que possa ser visualizado em parte através de meios não-técnicos. Assim, é importante enfatizar que o conhecimento é sempre transmitido de alguma forma, mas sempre de um modo acessível ao grau de consciência de cada indivíduo. Por este motivo, encontramos o saber oculto escondido em símbolos, alegorias, parábolas, mitos, contos de fadas, dentre outros. Jesus enfatizou a necessidade de se expressar em parábolas, pois essa era uma maneira de ser compreendido por todos. Como sua mensagem deveria ser universal, revestiu-se de um caráter simbólico, para que qualquer um pudesse ter acesso a ela, apesar de não conseguir entende-la prontamente, mas possivelmente após uma mais ampla reflexão. O mesmo ocorre quando um adulto se expressa para uma criança, principalmente ao falar de assuntos mais profundos. O universo psicológico infantil é rico em símbolos, as crianças soltam facilmente a sua imaginação e por isso, muitas vezes, entendem as coisas de uma forma diferente da forma do adulto. Por este motivo, os símbolos são o veículo que o iniciado se vale para transmitir algo que, por outros meios, seria muito difícil de assimilar. Assim, há um texto indiano que resume bem essa ideia: “Naquele tempo, Brama o senhor anunciou: A doutrina que vou revelar excede em muito as possibilidades de um espírito comum; segredo dos segredos, ela não deve ser divulgada, mas reservada ao homem de bem que, fechado para a ilusão do mundo, apenas deseja entende-la.”

2 – Outro motivo claro do sigilo é a possibilidade do não-iniciado distorcer o conhecimento revelado. Como o leigo tem pouca clareza, não possui o devido preparo e o conhecimento adequado, ele fatalmente iria distorcer e adulterar aquilo que aprendeu. O mesmo processo pode ser facilmente percebido na sociedade humana. Ensine a uma pessoa não versada em filosofia os conceitos mais profundos do platonismo. Inevitavelmente e sem qualquer intenção de faze-lo, há imensa probabilidade dos conceitos serem distorcidos, posto que, para apreender o sentido mais central e nuclear, é necessário conhecer um contexto maior, que só pode ser conquistado através de uma leitura mais apurada, algo que o leigo não possui. Dessa forma, caso o não-iniciado fosse passar o saber recebido a outra pessoa, inevitavelmente iria distorce-lo, ensinando de uma forma equivocada aquilo que recebeu.
3 – Mesmo que o conhecimento fosse revelado ao espírito comum, nenhum proveito ele poderia tirar disso, já que lhe carecem os meios de, em primeiro lugar, compreende-lo, e em segundo lugar, utiliza-lo de forma útil e proveitosa. Dessa forma, nenhum utilidade teria um conhecimento que não pode ser usado para um objetivo maior. Seria mero conhecimento ou cultura inútil, algo vazio de significado, uso e função.

4 – Revelar um conhecimento secreto a um homem superficial poderia ser perigoso para ele e para os outros. Há muitos conhecimentos que, caindo em mãos erradas, de aproveitadores e charlatães, poderiam causar estragos nas pessoas que dele fazem um emprego indevido. Por analogia, o conhecimento da fabricação da bomba atômica seria algo terrível nas mãos de terroristas. Todo poder outorgado à pessoas que não sabem usa-lo ou que desejam alguma vantagem pode ser extremamente arriscado e comprometedor. Ninguém duvida do estrago que um revólver poderia fazer nas mãos de um maníaco ou um psicopata, ou mesmo um carro que corre a 200 km por hora nas mãos de um motorista amador. Quanto maior o poder, mais apta a pessoa deve estar para fazer o uso correto daquilo que possui. Pierre Riffard diz: “A água afoga quem não sabe nadar e transporta quem sabe”. Um homem comum, recepcionando um conhecimento e uma técnica muito além de suas capacidades de penetração e dos efeitos que isso poderia gerar, pode arruinar sua vida, colocar em xeque sua integridade física e mental, além de levar outros com ele. Sabendo-se que o instrução arcana gera incrível poder, é necessário oculta-la de pessoas orgulhosas, arrogantes, que buscam apenas seus interesses pessoais e egoístas. O sábio Ibn Arabi diz: “Esse tipo de conhecimento espiritual deve ser encoberto para a maioria dos homens, devido a sua sublimidade. Por que essas profundezas são difíceis de atingir e os perigos são grandes”.

5 – Uma outra razão do sigilo seria a possibilidade de uma pessoa alheia ao círculo interno causar certa perturbação aos iniciados, ou mesmo ataca-los, critica-los e agredi-los de várias formas. Assistimos com pesar a esse tipo de investida contra a sabedoria esotérica em grandes proporções na Idade Média. Tudo o que entrasse em contradição com as regras pré-estabelecidas deveria ser banido de pronto. Obviamente nos dias de hoje felizmente tudo está mais flexível e por esse motivo, muito do que antes era oculto, agora começa a ser descortinado e ensinado abertamente. Os iniciados desejam ardentemente que a sabedoria arcana seja revelada o mais amplamente possível, mas isso só pode ser realizado no momento certo, quando existir um terreno fértil para que as sementes plantadas possam germinar livremente. Semear em terrenos secos e pobres em nutrientes nada poderá trazer de produtivo. Por isso, conhecimentos avançados podem ofuscar o homem comum. Clarificando sua consciência, ele pode não gostar de encarar seus limites e ver a verdade. Assim, pode se tornar agressivo por ter seu interior desnudado e agir contra aqueles que o tentaram ajudar mostrando-lhe sua própria realidade. Não vemos esse tipo de comportamento distribuido abundamente em todos os setores da vida humana? A luz pode ofuscar as trevas e as trevas podem reagir em forte oposição. Jesus fala abertamente sobre isso “Não lanceis aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos as vossas pérolas, para que não as calquem com os seus pés, e voltando-se contra vós, vos despedassem” (Matheus 7,6).

6 – Uma razão muito importante do sigilo é o valor da preparação que se deve dispensar à conquista da sabedoria. Os místicos e iniciados permanecem anos, décadas e mesmo várias existências corpóreas preparando-se para avançar em consciência e rrecepcionar uma sabedoria mais profunda dos mistérios da vida. É como um estudante que estuda horas diárias a matéria de uma prova que o habilitá para o ingresso numa universidade, onde obterá conhecimentos mais avançados. Diz Pierre Riffard: “A disciplina do arcano representa um exercício espiritual, uma prova iniciática.” Assim, muitas Ordens tradicionais e escolas de mistério possuem um sistema de graus de estudo e prática. Uma pessoa que se encontre no segundo grau e pule para o décimo grau, não terá a devida preparação e tampouco o entendimento para receber os ensinamentos concernentes ao grau mais adiantado. É necessário bastante tempo de estudo e prática, geralmente em forma de exercícios psicoespirituais, práticas de meditação e muitas outras formas de experimentação, tal como a transmutação do nosso karma. Toda essa preparação vai aos poucos refinando a consciência do praticante, tornando-a mais sensível ao ensinamento sutil, fazendo com que novas e profundas verdades, que antes passavam despercebidas, agora sejam panoramicamente vislumbradas. As Ordens Iniciáticas não procuram descrever a verdade para seus discipulos, elas ensinam que a verdade, enquanto verdade, é intransmissível pela via intelectual: apenas um saber direto pode ser eficaz. Por isso, as organizações e confrarias não conduzem seus alunos ao final da estrada, e evitam mencionar com detalhes o que será encontrado. Antes de tudo, os mestres dessas Ordens apontam o caminho que o discípulo deve percorrer e informam sobre os melhores meios para segui-lo. Assim, o conhecimento arcano é como um caminho, ele não representa um fim em si mesmo, mas uma passagem para algo além; algo que pode apenas ser apreciado pelo próprio indivíduo diretamente.


(HUGO LAPA)

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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

As pedras no caminho


16 de janeiro de 2012

Por João Bosco Leal

Jornalista, reg. MTE nº 1019/MS

Durante a vida encontramos várias pedras em nosso caminho e temos a oportunidade de fazer escolhas, como as opções que encontrei descritas por autor desconhecido, em uma das redes sociais mais freqüentadas atualmente:


“As crianças as aproveitam para com elas brincar; os distraídos que nelas tropeçam, reclamam e continuam; os cansados nela se sentam; os empreendedores as utilizam em construções; foram e podem ser usadas como armas; Davi, com uma matou Golias; Drummond dela fez poesia e Michelangelo delas fazia esculturas.”


Em todas as citações, o diferencial não foi a pedra, seu tamanho, posição ou composição, mas o ser humano que com ela se deparou.


Podemos aí observar, de maneira muito simples, que todas as pedras encontradas poderão, de várias formas, ser utilizadas ou não, só dependendo de nós, se a abandonaremos, ou como a utilizaremos.


Diariamente podemos verificar centenas de exemplos de atitudes ou reações diferentes em cada situação ocorrida na vida das pessoas.


São muito comuns aquelas que reclamam de tudo, como se o mundo todo fosse culpado por algo que lhe ocorreu. Com qualquer dificuldade que lhes ocorra outras se dizem infelizes, incapazes de olhar para baixo e ver o que é dificuldade real, encontrada por bilhões de pessoas ao redor do mundo.


Alguns param ao seu lado, as admiram, mas continuam, por não saber o que delas fazer. Brincando, outras as atiram na água onde jamais serão encontradas e há os que, preocupados com o próximo e para que ninguém mais nela tropece, as retiram do caminho.


Das pedras encontradas em seu caminho durante séculos, o homem aprendeu a tirar diversos minerais, metais e outras pedras, as preciosas, escavar túneis e diminuir distâncias. Delas tiramos o cimento e as pedras menores, britadas, utilizadas no concreto das obras.


As mesmas pedras do caminho criaram várias oportunidades, que foram aproveitadas de forma diferente por cada indivíduo. Alguns tropeçaram, outros caíram e muitos delas se utilizaram para seu aprendizado, conhecimento e crescimento.


As opções tomadas pelas pessoas nas diversas situações podem nos exemplificar como cada um constrói o próprio caminho, seu futuro, aproveitando ou desperdiçando oportunidades.


Davi jamais teria alcançado o sucesso caso tivesse se acovardado simplesmente por ver o tamanho do gigante. Altamente destrutiva quando rola montanha abaixo, o peso e o poder de uma pedra enorme são insignificantes se implodida.


As mais graves doenças jamais seriam vencidas se homens não tivessem experimentalmente tentado novos meios para combatê-las.


O homem não estaria voando em aeronaves enormes se no passado, para fugir da prisão com seu filho, homens como Dédalo, pai de Ícaro, não houvessem imaginado e criado asas a partir de ceras do mel de abelha e penas de gaivota. Após a fuga, contrariando conselhos do pai Ícaro buscava vôos cada vez mais altos em direção ao sol, até que, pela aproximação este derreteu a cera de suas asas fazendo com que caísse no mar. Ícaro aprendeu com essa experiência, mas jamais perdeu sua determinação.


Nosso aprendizado durante a vida é constante e as pedras devem ser utilizadas em nosso proveito, para encontrarmos novos caminhos e alternativas, não permitindo que nos machuque.


Nas pedras não ignoradas de nosso caminho sempre encontraremos aprendizado e crescimento, físico, cultural ou espiritual.


MATÉRIA ENVIADA PELO AUTOR, PARA PUBLICAÇÃO, SOB SUA RESPONSABILIDADE – VEJA-A NO SEU SITE, CLICANDO AQUI.

sábado, 14 de janeiro de 2012

BALANDRAU - quarto de hora de estudos

terça-feira, 3 de janeiro de 2012



Balandrau é o traje típico maçônico. É preconizado seu uso estrito em sessões maçônicas simples, ditas econômicas. Todo balandrau é de cor preta, com comprimento abaixo dos joelhos, mangas largas e compridas. O colarinho alto deverá está sempre fechado. O balandrau é palavra originada do latim medieval Balandrana, que definia a vestimenta de mangas largas abotoada na frente e, pelo uso, designava certas roupas usadas por confrarias, normalmente em cerimônias de cunho religioso.


Históricamente, as organizações de ofício, ditas "Maçonaria Operativa", adotavam o traje, tal qual os Collegiati dos Collegia Fabrourum e membros dos Ofícios Francos, dos séculos XIC e XV, com seu balandrau negro. Atualmente, a Maçonaria no Brasil de várias obediências tolera a veste talar, negra, de mangas longas, colarinho alto e fechada até o pescoço como opção ao terno escuro, por entender que só o avental seja paramento maçônico, alguns ritos como Emulation (erradamente chamado de York Inglês), não permitem o uso do balandrau, sendo exigido o uso do terno escuro.


O Art. 84 do RGF – estabelece em parágrafo único que admite-se “eventualmente” o uso do balandrau nas demais sessões desde que usado com calça preta ou azul-marinho, sapatos e meias pretas, e sem qualquer insígnia ou símbolo estampados.


Segue o trabalho apresentado por - Ir\ CARLOS ALBERTO DOS SANTOS, M\ M\
fonte Web



Abrindo o presente trabalho, nos valeremos do auxílio do resumo do verbete, conforme consta às folhas 152/153 do volume I do “GRANDE DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO DE MAÇONARIA E SIMBOLOGIA”, do saudoso Mestre e escritor maçom NICOLA ASLAN:


“Espécie de roupa ou beca com mangas, o Balandrau é fechado até o pescoço, sendo confeccionado de tecido preto que pode variar de acordo com o clima. O Balandrau é usado por certas irmandades em atos religiosos, tendo sido adotado como vestuário pelos Irmãos de várias Lojas do Brasil.

O Balandrau do Irm\ Experto, bastante comprido, é munido de uma capa ou mantelete e de um largo capuz, a fim de não ser reconhecido pelos profanos antes de receberem a Iniciação Maçônica.


O uso do Balandrau, segundo nos parece, é uma particularidade da Maçonaria brasileira, pois nenhum autor ou dicionarista maçônico, fora do Brasil, refere-se a ele como indumentária maçônica. A nosso ver, o uso do Balandrau remonta à última metade do século XIX, tendo sido introduzido na Maçonaria pelos Irmãos que faziam parte, ao mesmo tempo, de Irmandades Católicas e de Lojas Maçônicas, Irmãos estes que foram o pivô da famigerada Questão Religiosa, suscitada no Brasil em 1872.


Esta peça de vestuário parece ter sido adotada pelos maçons brasileiros como substituto barato e confortável do traje a rigor preto, exigido nas Cerimônias Maçônicas, que é o smocking com gravata borboleta e luvas brancas. Esta indumentária tinha a vantagem de poder ser confeccionada com qualquer tecido leve e barato, o que, além de não ser dispendiosos, permitia suportar, em tempo de canícula, altas temperaturas em recintos fechados. Estas razões ponderáveis o fizeram adotar por muitas Lojas no Brasil, e o seu uso não foi objeto de qualquer objeção por parte das altas autoridades maçônicas.


Assim, o uso do Balandrau não foi aprovado nem desaprovado; foi simplesmente tolerado, não constituindo, portanto, um traje litúrgico. Atualmente, nas Sessões Magnas, admite-se o traje de passeio em cores escuras, dando-se, porém, preferência ao preto.”


Apesar de o resumo acima quase dispensar outros esclarecimentos, acrescentaremos mais alguns dados, objetivando enriquecer e dissecar o assunto. Indispensável acrescentar que o Balandrau deve ser usado sempre com sapatos e meias pretos.

“O Balandrau é traje eminentemente maçônico, não sendo encontrado em lojas de modas, e iguala a todos os Iniciados, lembrando-lhes sempre sua condição de Maçons. Tendo o comprimento adequado, até os pés, devendo, preferencialmente, estar complementado pelo uso do capuz, tem, esotericamente, a função de manter a energia interna circulando, sem perdas para o exterior. Deixando à mostra somente as feições e mãos que, exprimindo inteligência, gestos e emoções, distinguem o Homem do restante da Criação, uma vez que somente aquele pode usar de expressões faciais e gesticulação para exteriorizar as faculdades e os sentimentos mais nobres de que é dotado.” (Nota: trecho extraído do livro “TEMAS PARA A REFLEXÃO DO MESTRE MAÇOM”, de Marcos Santiago).


Importante se frisar, ainda, que, apesar do seu uso já incluído nos “Usos e Costumes” maçônicos, não é difícil observar-se o “torcer de nariz” de alguns maçons “puristas”, que não aceitam o Balandrau, sendo rigorosos na exigibilidade do uso do terno.

Como o assunto diz respeito à indumentária maçônica, ou seja, o traje maçônico, importante que reproduzamos o pensamento do não menos culto e grande escritor maçônico, que foi o nosso Ir.: JOSÉ CASTELLANI, que dizia (No seu “DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO MAÇÔNICO”):


“BALANDRAU - substantivo masculino, designa a antiga vestimenta, com capuz e mangas largas, abotoada na frente e, também, certo tipo de roupa usada por membros de confraria, geralmente religiosas. O Balandrau é largamente utilizado em Maçonaria, durante as Sessões de Loja, sendo uma forma de uniformização; no Grau de Mestre Maçom, em quase todos os Ritos, é obrigatório para todos os maçons presentes à Sessão, enquanto o V.: M.: usa um manto de veludo negro. Embora alguns autores insistam em afirmar que o Balandrau não é veste maçônica, na realidade o seu uso remonta à primeira das associações organizadas de ofício (hoje chamada de Maçonaria de Ofício, ou Operativa), a dos ‘Collegia Fabrorum’, criada no século VI a.C., em Roma: quando as legiões romanas saíam para as suas conquistas bélicas, os ‘collegiati’ acompanhavam os legionários, para reconstruir o que fosse destruído pela ação guerreira, usando, nesses deslocamentos, uma túnica negra; da mesma maneira, os membros das confrarias operativas dos franco-maçons medievais, quando viajavam para outras cidades, feudos, ou países, usavam um Balandrau negro. Assim, o Balandrau, que é veste talar (deve ir até os talões, ou calcanhares), foi uma das primeiras vestes maçônicas, sendo plenamente justificado o seu uso nas Sessões de Loja”.


Transcreveremos, ainda, a seguir, um pequeno trecho (Pág. 136) do livro “A MAÇONARIA OPERATIVA”, do escritor NICOLA ASLAN, por julgá-lo um importante acréscimo:

A vestimenta do Maçom operativo medieval, conforme J. Fort Newton, citando “HISTORY OF MASONRY” de Steinbrenner é descrita no texto: ‘A vestidura consistia numa túnica curta e negra; no verão, de linho, e, no inverno, de lã, aberta aos lados, com uma gola à qual ia unido um capucho, ao redor da cintura traziam um cinturão de couro, do qual pendiam uma espada e um surrão”.

Segundo o escritor maçônico MARCOS SANTIAGO, em sua obra “TEMAS PARA REFLEXÃO DO MESTRE MAÇOM”, supracitada, à pagina 100, “...Em gravuras de época do século XVIII, vemos maçons trazendo o Avental por sobre calções bufantes, casacos com peitilhos rendados, e usando meias três quartos e sapatos alambicados, como se usava então; (...) se o personagem fosse realmente Maçom seria essa roupa sobre a qual envergaria o Avental nas reuniões de Loja”.

Acrescenta, ainda, o supracitado escritor que “mesmo considerando que há de haver um traje definido por sob o Avental, penso, quer por motivos históricos ou esotéricos ou simbólicos, que o indicado seria mais o Balandrau que o terno, o qual, aliás, para ser mesmo “terno” deve se compor de calça, paletó e colete (três peças). Este traje é de uso comum em várias situações do mundo profano, no que é uma imitação terceiro-mundista - dos que vivem em clima tropical – dos hábitos do primeiro mundo, de climas mais frios”.


O Balandrau, diferentemente do terno, é traje extremamente maçônico.

Fonte: Filhos de Hiram – Maçonaria Mística, Operativa e Especulativa – Clique aqui para conferir

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

EU SOU GRANDE INSPETOR GERAL E ELE É MEU SUBALTERNO.....







Luiz Carlos Nogueira
nogueirablog@gmail.com



Primeiramente peço aos leitores que atentem para o conteúdo do e.mail abaixo transcrito, que me foi enviado pelo irmão Bento Adriano Monteiro Duailibi. Depois, então narrarei um fato em que outro “irmão” colado no grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito (Grande Inspetor Geral da Ordem Maçônica), provavelmente não usa balandrau, mas somente ternos da melhor marca e os mais caros possíveis, para não destoar dos seus relógios Rolex ou talvez um Patek Phillippe Sky Moon Tourbillon, ou algum outro dessa linha. Um detalhe – esse “irmão” foi funcionário de uma instituição bancária (atualmente está aposentado) e, na ocasião em que eu o encontrei ele trajava camiseta pólo, calças jeans e tênis.

Eis o conteúdo do e.mail:


O Maçom e o Sábio Alfaiate


Um dia um homem recebeu a notícia de que seria iniciado Maçom.

Ficou tão eufórico que quase não se conteve.

- Serei um grande homem agora, disse a um amigo, e preciso de roupas novas, imediatamente.

Serão roupas que façam jus à minha nova posição na sociedade e em minha vida.

- Conheço um alfaiate perfeito para você, - replicou o amigo, - É um velho sábio que sabe dar a cada cliente o corte perfeito. Vou lhe dar o endereço.

E o novo Maçom foi ao alfaiate, que cuidadosamente tirou suas medidas.


Depois de guardar a fita métrica, o sábio alfaiate disse:

Há mais uma informação que preciso saber.

Há quanto tempo o senhor é Maçom ?


- Ora, o que isso tem a ver com a medida do meu balandrau ? - perguntou o cliente surpreso.

- Não posso fazê-lo sem obter esta informação, senhor. É que um Maçom recém iniciado fica tão deslumbrado que mantém a cabeça altiva, ergue o nariz e estufa o peito.

Assim sendo, tenho que fazer a parte da frente maior que a de trás. Ano mais tarde, quando está ocupado com o seu trabalho e os transtornos advindos da experiência o tornam sensato e olha adiante para ver o que vem em sua direção e o que precisa ser feito a seguir, aí então eu costuro o balandrau de modo que a parte da frente e a de trás tenham o mesmo comprimento. E mais tarde, depois que o senhor está curvado pela idade e pelos anos de trabalho cansativo, sem mencionar a humildade adquirida através de uma vida de esforços, então faço o balandrau de modo que as costas fiquem mais longas que a frente.

- Portanto, tenho que saber há quanto tempo o senhor foi iniciado para que a roupa lhe assente apropriadamente.

O novo Maçom saiu da alfaiataria pensando menos no balandrau e mais no motivo que levava seu amigo a mandá-lo procurar exatamente aquele sábio alfaiate.


T.•.F.•.A.•.


Agora, voltando ao encontro casual com aquele “irmão”, confesso que não consigo descrever como o meu estado de espírito ficou, porque decerto esse fulano quando iniciou na Maçonaria, ninguém lhe recomendou para fazer um balandrau do tipo descrito pelo alfaiate desse conto alegórico.

Em meu pensamento cometi um pecado, pois cheguei a compará-lo como uma anta fantasiada de pavão, ostentando um avental colorido, porque o sujeito em um dado momento, referindo-se a outro irmão maçom, disse: “Ora, eu sou grau 33, Grande Inspetor Geral e ele é meu subalterno...”

Subalterno?

Essa foi a expressão mais imbecil que eu já ouvi num contexto maçônico. Pois a Maçonaria Simbólica, composta dos graus 1, 2 e 3, não é subordinada à Maçonaria Filosófica, composta dos graus 4 a 33.

O pior é que aquele “irmão” contou tantas grandezas, pretendendo mostrar-se materialmente superior e intelectualizado — um sábio, talvez. Mas a grande lição que a Maçonaria nos ensina é a da igualdade e da fraternidade, assim como, incita-nos a vencer nossas paixões, esculpindo o nosso espírito para que se encaixe na sociedade humana como uma pedra bem trabalhada, a exemplo (alegórico, é claro) das que são colocadas nos espaços a que se destinam na construção de um edifício.

Pois bem, a esse “Maçom” “Grande Inspetor Geral da Maçonaria do Rito Escocês Antigo e Aceito”, recomendo a ler este trabalho do Irmão Ricardo Vidal:

O MAÇOM VAIDOSO E ARROGANTE

RICARDO VIDAL


(a) Baixa auto-estima e complexo de inferioridade


Nenhum ditador provocou ou vêm provocando tanto dano à Maçonaria quanto o maçom vaidoso, este sapador inveterado, este Cavalo de Tróia que a destrói por dentro, sem o emprego de armas, grilhões, ferros, calabouços e leis de exceção. Ele é indiscutivelmente o maior inimigo da Maçonaria, o mais nefasto dos impostores, o principal destruidor de lojas. Ele é pior do que todos os falsos maçons reunidos porque se iguala a eles em tudo o que não presta e raramente em alguma virtude.

Uma característica marcante que se nota neste tipo de maçom, logo ao primeiro contato, é a sua pose de justiceiro e a insistência com que apregoa virtudes e qualidades morais que não possui. Isso salta logo à vista de qualquer um que comece a comparar seus atos com as palavras que saem da sua boca. O que se vê amiúde é ele demonstrar na prática a negação completa daquilo que fala, sobretudo daquilo que difunde como qualidades exemplares do maçom aos Aprendizes e Companheiros, os quais não demora muito a decepcionar. Vaidoso ao extremo, para ele a Maçonaria não passa de uma vitrine que usa para se exibir, de um carro de luxo o qual sonha um dia pilotar. E, quando tem de fato este afã em mente, não se furta em utilizar os meios mais insidiosos para tentar alcançá-lo, a exemplo do que fazem nossos políticos corruptos.

Narcisismo em um dos extremos, e baixa auto-estima no outro, eis as duas principais características dos maçons vaidosos e arrogantes. No crisol da soberba em que vivem imersos, podemos separá-los em dois grupos distintos, porém idênticos na maioria dos pontos: os toscos ignorantes e os letrados pretensiosos.

A trajetória dos primeiros é assaz conhecida.

Por serem desprovidos do talento e dos atributos intelectuais necessários para conquistarem posição de destaque na sociedade, eles ingressam na Maçonaria em busca de títulos e galardões venais, de fácil obtenção, pensando com isso obter algum prestígio. Na vida profana, não conseguem ser nada além de meros serviçais, de mulas obedientes que cedem a todos os tipos de chantagem. Por isso, fazer parte de uma instituição de elite (isso mesmo, de elite!) como a Maçonaria produz neles a ilusão de serem importantes; ajuda a mitigar um pouco a dor crônica que os espinhos da incompetência e da mediocridade produzem em suas personalidades enfermas.

O segundo em quase tudo se equipara ao primeiro, porém com algumas notáveis exceções.

Capacitado e instruído, em geral ele é uma pessoa bem sucedida na vida. Sofre, porém, desse grave desvio de caráter conhecido pelo nome de “Narcisismo”, que o torna ainda pior do que o seu êmulo sem instrução. Ávido colecionador de medalhas, títulos altissonantes e metais reluzentes, este maçom é uma criatura pedante e intragável, que todos querem ver distante. No fundo ele também é um ser que se sente rejeitado; sua alma é um armário de caveiras e a sua mente um antro habitado por fantasmas imaginários. Julgando-se o centro do Universo, na Maçonaria ele obra para que todas as atenções fiquem voltadas para si, exigindo ser tratado com mais respeito do que os irmãos que atuam em áreas profissionais diferentes da dele. Pobre do irmão mais jovem e mais capacitado que cruzar o seu caminho, que ousar apontar-lhe uma falta, que se atrever a lançar-lhe no rosto uma imperfeição sua ou criticar o seu habitual pedantismo! O seu rancor se acenderá automaticamente e o que estiver ao seu alcance para reprimi-lo e intimidá-lo ele o fará, inclusive lançando mão da famosa frase, própria do selvagem chefe de bando: “Sabe com quem está falando!!!” Desse modo ele acaba externando outra vil qualidade, que caracteriza a personalidade de todo homem arrogante: a covardia.

O número de irmãos que detesta ou despreza este tipo de maçom é condizente com a quantidade de medalhas que ele acumula na gaveta ou usa no peito. Na vida profana seus amigos não são verdadeiros; são cúmplices, comparsas, associados e gente que dele se acerca na esperança de obter alguma vantagem. E nisso se insere a mulher com a qual vive fraudulentamente. Todos os que o rodeiam, inclusive ela, estão prontos a meter-lhe um merecido chute no traseiro tão logo os laços de interesse que os unem sejam desfeitos. O seu casamento é um teatro de falsidades e o seu lar um armazém de conflitos. Raramente familiares seus são vistos em nossas festas de confraternização. Quando aparecem, em geral contrariados, não conseguem esconder as marcas indeléveis de infelicidade que ele produz em seus rostos.

Em sua marcha incessante em busca de distinções sociais que supram a sua insaciável necessidade de auto-afirmação, é comum vermos este garimpeiro de metais de falso brilho farejando outras organizações de renome, tais como os clubes Lyons e Rotary, e gastando nessas corridas tempo e dinheiro que às vezes fazem falta em seu lar. A Maçonaria, que tem a função de melhorar o homem, a sociedade, o país, e a família, acaba assim se convertendo em uma fonte de problemas para os seus familiares; e ele, em uma fonte de problemas para a Maçonaria.

Um volume inteiro seria insuficiente para catalogar os males que este inimigo da paz e da harmonia pratica, este bacilo em forma humana que destrói nossa instituição por dentro, qual um cancro a roer-lhe as células, de modo que limitar-nos- emos a expor os mais comuns.

(b) Comportamento em loja

Incapaz de polir a Pedra Bruta que carrega chumbada no pescoço desde o dia em que nasceu, de aprimorar-se moral e intelectualmente, de lutar para subtrair-se das trevas da ignorância e dos vícios que corrompem o caráter; de assimilar conhecimentos maçônicos úteis, sadios e enobrecedores, para na qualidade de Mestre poder transmiti-los aos Aprendizes e Companheiros, o que faz o nosso personagem? Simplesmente coloca barreiras em seus caminhos, de modo a retardar-lhes o progresso! Ao invés de estudar a Maçonaria, para poder contribuir na formação dos Aprendizes e Companheiros, de que modo ele procede? Veda a discussão sobre assuntos com os quais deveria estar familiarizado, fomentando apenas comentários sobre as vulgaridades supérfluas do seu cotidiano! Ao invés de encorajar o talento dos mesmos, de ressaltar suas virtudes e estimular o seu desenvolvimento, o que faz ele? Procura conservá-los na ignorância de modo a escamotear a própria! Ao invés de defender e ressaltar a importância da liberdade de expressão e da diversidade de opiniões para a evolução da humanidade, como ele age? Censura arbitrariamente aqueles cujas idéias não estejam em harmonia ou sejam contrárias às suas! Ao invés de fomentar debates sobre temas de importância singular para o bem da loja em particular e da Maçonaria em geral, como age ele? Tenta impedir a sua realização por carecer de atributos intelectuais que o capacitem a participar deles! E, nos que raramente promove, como se comporta? Considera somente as opiniões daqueles que dizem “sim” e “sim senhor” aos seus raramente edificantes projetos!

Tal como o maçom supersticioso, este infeliz em cujo peito bate um coração cheio de inveja e rancor nutre ódio virulento e indissimulado pela liberdade de expressão, que constitui um dos mais sagrados esteios sobre os quais repousam as instituições democráticas do mundo civilizado, uma das bandeiras que a Maçonaria hasteou no passado sobre os cadáveres da intolerância, da escravidão e da arbitrariedade.

Dos atos indecentes mais comumente praticados por este falsário, o que mais repugna é vê-lo pregando “humildade” aos irmãos em loja, em particular aos Aprendizes e Companheiros, coberto da cabeça aos pés de fitões, jóias e penduricalhos inúteis, qual uma árvore de natal. Outro é vê-lo arrotando, em alto e bom som, ter “duzentos e tantos anos de Maçonaria” e exibindo o correspondente em estupidez e mediocridade. O terceiro é vê-lo trajando aventais, capas, insígnias, chapéus e colares, decorados com emblemas que lembram tudo, exceto os compromissos que ele assumiu quando ingressou em nossa sublime e veneranda instituição.

Cego, ignorante e vaidoso, nosso personagem não percebe o asco que provoca nas pessoas decentes que o rodeiam.

Como já foi dito, a Maçonaria serve apenas de vitrine para ele. Como não é possível permanecer sozinho dentro dela sem a incômoda presença de outros impostores –os quais não têm poder suficiente para enxotar–, ele luta ferozmente para afastar todo e qualquer novo intruso, imitando alguns animais inferiores aos humanos na escala zoológica, que fixam os limites de seus territórios com os odores de suas secreções e não toleram a presença de estranhos. Qualquer irmão que comece a brilhar ao lado desta criatura rasteira é considerado por ela inimigo. A luz e o progresso do seu semelhante o incomoda, fere o seu ego vaidoso. Por este motivo tenta obstaculizar o trabalho dos que querem atuar para o bem da loja; por isso recusa-se a transmitir conhecimentos maçônicos (quando os possui) aos Aprendizes e Companheiros, sobretudo aos de nível intelectual elevado, ou os ministra em doses pífias, para que futuramente não sejam tomados como exemplos e ofusquem ainda mais a sua mediocridade. Um maçom exemplar, íntegro, que cumpre rigorosamente os compromissos que assumiu quando ingressou em nossa Instituição, não raro converte-se em alvo de suas setas, pois seus olhos míopes não conseguem ver honestidade em ninguém; sua mente estragada o interpreta como potencial “concorrente”, que nutre interesses recônditos semelhantes aos seus.

O maçom arrogante mal conhece o significado de nossas belas e simples alegorias. Se as conhece, as despreza. Sua mente acha-se preocupada unicamente com o sucesso de suas empreitadas, em encontrar maneiras de estar permanentemente ao lado das pessoas cujos postos ambiciona. Fama e poder são os seus dois únicos objetivos, tanto na vida maçônica, como na profana. As palavras Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que compõem a Trilogia Maçônica, não fazem parte do seu vocabulário, e com freqüência é visto pisoteando os valores que elas encerram. A história, a filosofia e os objetivos de nossa Veneranda Instituição não lhe despertam o menor interesse, pois é frio, calculista, e não tem sensibilidade nem conhecimento para compreendê-los e assimilá-los. Ele é diametralmente oposto ao que deve ser o maçom exemplar, em todos os pormenores. É a antítese de tudo o que a Maçonaria apregoa e deseja de seus membros: uma criatura vil e rasteira que semeia a discórdia, afugenta bons irmãos, e termina por destruir ou fragmentar a loja (ou lojas), resultado às vezes de anos de trabalho árduo, caso ela teime em não se colocar sob a sua batuta ou se mostre contrária às suas aspirações egoístas.

A insolência desse tipo de maçom – e também o asco que destila –, vai crescendo conforme ele vai “subindo” nos altos graus (ou graus filosóficos), lixo maçônico fabricado por impostores no passado unicamente para explorar a estupidez e a vaidade de homens como ele. Sentindo-se importante por ter sido recebido em determinado grau, com a pompa digna de um rei, ele passa a considerar-se superior aos irmãos de graus “inferiores”, em particular aos Aprendizes e Companheiros, ignorando o que reza o segundo landmark, que estabelece a divisão da Maçonaria Simbólica em apenas três graus. Mas reservar um tempo para dedicar-se à sua loja, um momento para confraternizar com irmãos íntegros e honestos, ler algo de útil que possa servir de instrução a si e aos demais, essas são as suas últimas preocupações. O seu tempo disponível ele o reserva inteiramente às festinhas fúteis, nas quais pode ser notado e lisonjeado, onde pode ajuntar-se a outros maçons falsos e vulgares, prontos para enterrar-lhe um punhal nas costas na primeira oportunidade que surgir. Perceba o leitor com que velocidade esse “irmão” deveras atarefado arruma tempo quando é chamado para arengar em um tablado representando a Maçonaria! Note a pontualidade com que chega na passarela onde vai desfilar e ser fotografado com os seus paramentos. Observe como ele fica cheio de si quando é agraciado com uma rodela de lata qualquer ou vê o seu lindo rosto estampado nas páginas de alguma revista maçônica! Perceba como se curva aos pés dos que tem mais prestígio e poder do que ele! Note como ele os bajula!

Este prevaricador vagabundo não trabalha e não deixa os outros trabalhar para não ter de arregaçar as mangas também. Quando se mete a ministrar instruções aos Aprendizes e Companheiros ele o faz de modo precário, sem estar familiarizado com elas. Raramente sabe responder questões que os irmãos lhe dirigem. Tergiversa sempre com a mesma resposta: É preciso pesquisar! Ele não faz nada porque não sabe fazer nada, não quer aprender nada, e no íntimo não gosta da Maçonaria e não ama seus irmãos! Nossas "reuniões" são para ele um fardo. Nas vezes que comparece em loja, exige ser ouvido e jamais dá atenção ao que falam os demais, obrando para que a sua palavra sempre prevaleça nas decisões a serem tomadas. Quando o seu nome não consta na Ordem do Dia – o que significa que não terá a oportunidade de exibir a sua hipocrisia ou arengar as suas imposturas –, retira-se antes da "reunião" terminar ou, quando permanece, o faz com o olhar fixo no relógio.

Campeão em faltas e em delitos, quando este falso maçom comparece à loja ele o faz para dar palpites indevidos, censurar tudo e todos, propor projetos mirabolantes e soluções inconsistentes com os problemas que surgem em nossas relações. Jamais faz uso de críticas sadias e construtivas, aquelas que apontam erros e sugerem soluções para os mesmos.

(c) Comportamento na Sociedade

Passemos agora à exposição do comportamento deste detestável impostor na sociedade, outra praia onde adora se exibir, embora poucos o notem.

Ele circula pelas ruas do bairro onde vive de nariz empinado, cheio de empáfia, tentando vender a todos, sobretudo aos mais humildes, a falsa imagem de alguém assaz importante. Ostentando correntes, anéis, gravatas, broches e outros adereços maçônicos – alguns com peso suficiente para curvar o tórax –, tão logo se acerca de uma roda de amigos, ou melhor, de gente com paciência para aturá-lo, ele passa a ensejar conversas maçônicas desnecessárias, fazer alarde de sua condição de maçom e de ser membro de uma poderosa “gangue”, com o único propósito de colocar-se acima deles. Quando, porém, um profano lhe dirige algumas perguntas a respeito de nossa instituição, movido por uma sadia e natural curiosidade, ele responde geralmente o que não sabe, fitando-o de cima para baixo, com desprezo, como se estivesse encastelado sobre um pedestal de ouro.

Como o caracol, este tipo de maçom costuma deixar um rastro visível e brilhante por onde trafega, tornando muito fácil a identificação sua e do seu paradeiro, que é o que ele efetivamente deseja, embora afirme o contrário. Mas, para a sua infelicidade, pouca gente dá importância aos seus recados vaidosos. O automóvel, o lar e o local onde trabalha correspondem ao exoesqueleto deste animal, ao passo que os adereços e os objetos maçônicos que ele usa e espalha por todos os lados à gosma que libera. Impulsos provenientes das regiões recônditas do cérebro onde se alojam o seu complexo de inferioridade e a sua baixa auto-estima dizem a ele onde derramá-la.

Do mesmo modo que prostitui nossa instituição, transformando- a em templo da vaidade, ele corrompe também a natureza de muitos objetos inanimados, desvirtuando os propósitos para os quais foram concebidos. Os vidros do automóvel não servem para proteger os passageiros do vento e da chuva, mas para ostentar adesivos maçônicos escandalosos que avisam os transeuntes e os motoristas dos carros que estão na retaguarda que “alguém muito importante” maneja o volante. As paredes da sua casa não servem como divisórias, mas de out-doors para a colagem de diplomas maçônicos que levam o seu nome. O isqueiro ele usa para tentar acender um cigarro que talvez nem fume ou sabendo que ele não funciona mais (o importante é as pessoas notarem o compasso e o esquadro colados nele!). A caneta com compasso encravado na tampa ele usa para mostrar que é maçom àquele que está perto do papel no qual finge estar escrevendo alguma coisa. O relógio da sala não serve para mostrar a hora certa, mas para dizer aos visitantes que o seu dono é maçom. As estantes da sala não servem para acomodar bons livros, mas para armazenar troféus, medalhas, placas comemorativas, mimos e tudo o mais que avise que há um maçom por ali. O mesmo vale para pratos, talheres, lenços, gravatas, bonés, bolsas, bonecos, malas, bengalas e, pasmem, até revólveres e espingardas! (ver fotos) Enfim, qualquer objeto que possa lhe servir de propaganda ele o corrompe.


d) Prejuízo

O Maçom arrogante sabe muito bem que é um desqualificado moral, que carece das virtudes necessárias para dirigir homens de caráter, mas mesmo assim quer assumir o cargo de Venerável e nele perpetuar-se por tempo indeterminado, se possível. Insolente, julga-se o único com aptidão para empunhar o malhete, menoscabando a capacidade dos demais irmãos. Sempre que pode procura manobrar as eleições para que os cargos em loja sejam preenchidos por integrantes de sua medíocre camarilha, que, uma vez empossada, vai aprovar seus atos malsãos e alimentar a sua vaidade. Dessa maneira ele trava as rodas da loja, impedindo-a de progredir, de desfraldar as suas velas.

Nosso personagem costuma mais faltar do que comparecer às reuniões, como já foi dito. Quando o faz, é quase sempre para tentar colocar-se em destaque, humilhar alguém, violar regulamentos, e fazer prevalecer os seus caprichos pessoais.. É claro que ele não age só, pois se assim fosse a sua eliminação seria fácil e sumária. Ele conta com o respaldo de pequenos grupelhos de gente sórdida e submissa, que aprova suas ações, que corrompe e deixa-se corromper. Às vezes conta até com a cumplicidade dissimulada de alguns delegados, que, por motivos políticos ou de ordem pessoal, fazem vista grossa aos seus insidiosos manejos e prevaricam no que constitui uma das mais importantes missões dentro da Maçonaria.

Terminado o período de sua administração como Venerável este impostor passa a meter o nariz em assuntos que não mais lhe dizem respeito, usurpando funções de outros irmãos da loja, incluindo as do seu sucessor. Quer mandar mais do que os outros, quer ser o dono da loja; quer admitir candidatos sem escrutínio para engrossar a sua camarilha; quer manobrar a todos e violar leis. Expõe os Aprendizes e Companheiros a constantes querelas com outros Mestres, quase sempre motivadas pela vaidade e pela sede de poder.

Especialista em apontar erros nos outros, o maçom arrogante jamais admite um seu. Quando, porém, as circunstâncias tornam isso impossível, ele o faz rangendo os dentes e disparando setas em todas as direções, muitas vezes ferindo os poucos irmãos que o querem bem. Além de tudo é um indivíduo vingativo. Caso sofra uma contrariedade qualquer, ou veja descartada uma irracional conjectura sua, ele passa a fomentar intrigas e provocar cismas na loja. Aquele que for investigar as causas que levaram uma determinada oficina a abater colunas notará em seus escombros a marca indelével de sua mão, que muitas vezes deixa impressa com orgulho!

Elemento altamente desestabilizador e perigoso, o maçom vaidoso é o principal responsável pelo enfraquecimento das colunas de uma loja, pela fuga em massa de bons irmãos, e pela decadência da Maçonaria de uma forma geral. Quanto maior for o seu número agindo no corpo da Maçonaria, mais fraca, enferma e suscetível à contração de outros males ela se torna, mais exposta a escândalos e prejuízos ela fica. Sua eliminação é, portanto, condição si ne qua nom para a conservação da saúde de nossa Sublime Instituição.


GRUPO MAÇÔNICO ORVALHO DO HERMON
Fundado em 31 de maio de 2006 - ANO V
Rio de Janeiro - RJ - Brasil

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