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No cap. 9 da obra “E a Vida
Continua”, de André Luiz, o irmão Cláudio diz: “Qualquer aprendiz de ciência
elementar, no Planeta, não desconhece que a chamada matéria densa não é senão
a energia radiante condensada. Em última análise, chegaremos a saber que a
matéria é luz coagulada, substância
divina, que nos sugere a onipresença de Deus.” [1] (Grifos em itálico
originais). No cap. 1º. de “Evolução em Dois Mundos”, André
Luiz diz que: “... na essência, toda a matéria é energia tornada visível e
que toda a energia, originariamente, é força divina de que nos apropriamos
para interpor os nossos propósitos aos propósitos da Criação, ...” [2].
É comum, no movimento espírita, ouvirmos a idéia de que matéria pode
ser transformada em energia e vice-versa. Nós mesmos, outrora, afirmamos isso
[3], mas um estudo mais rigoroso sobre como a Física interpreta os fenômenos
de desmaterialização, de aniquilamento de pares de partículas-antipartículas,
ou reações de fissão ou fusão nucleares revelam o equívoco desta idéia. O
objetivo desta matéria, portanto, é esclarecer como a Física entende matéria, energia e tais fenômenos de transformação. Após, discutiremos como essas
idéias se relacionam com o que ensina o Espiritismo.
A palavra energia é tão antiga quanto Aristóteles, e seu conceito moderno emergiu de
estudos de Leibniz [4]. Nas palavras de um dos maiores físicos do século
passado, o conceito de energia pode ser entendido como:
“Existe um fato,
ou se desejar, uma lei que governa todos os fenômenos naturais conhecidos até
o presente. Não existe exceção a esta lei; ela é exata até onde se sabe. Esta
lei é chamada de conservação de energia; ela diz que existe uma certa quantidade
que chamaremos energia, que não se altera perante as diversas alterações a
que a natureza está sujeita. Esta é uma idéia completamente abstrata porque
ela é um princípio matemático que diz que existe uma quantidade numérica que
não se altera quando alguma coisa acontece. A energia não é uma descrição de
um mecanismo ou de algo concreto; é apenas um fato estranho que calculamos um
número, e quando terminamos de observar a natureza realizando seus truques e
calculamos o número de novo, ele é o mesmo.” Richard Feynman [4] (tradução
nossa).
A definição mais comum de matéria é a de qualquer coisa
que tenha massa e ocupe volume de espaço [5]. Segundo a
Física Moderna, a ocupação de
espaço por parte da
matéria decorre do fato dos elétrons, que possuem uma propriedade magnética
intrínseca chamada spin de valor semi-inteiro igual a 1/2, não poderem ocupar as mesmas
regiões espaciais em torno do núcleo de um átomo. Isso causa a sensação de
repulsa entre dois objetos. Partículas que possuem spin de valor
semi-inteiro (1/2, 3/2, 5/2, etc.) são chamadas de férmions, e os constituintes da matéria ordinária que conhecemos, como os prótons, neutrons e elétrons, são férmions. A
teoria quântica demonstra que os férmions não podem ocupar os mesmos estados
quânticos num sistema, incluindo-se a posição no espaço, explicando, assim, a
concepção de que “dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar”.
Entretanto, na natureza existe, também, outro tipo de partículas
chamadas bósons. Elas tem a
propriedade de possuir spin de valor inteiro (0, 1, 2, etc.). Ao contrário dos férmions, e por
mais incrível que possa parecer, os bósons podem ocupar o mesmo estado
quântico, incluindo ocupar a mesma região do espaço. Por causa dessas
propriedades, os bósons são considerados pela Física como as partículas “que
carregam a força”. O fóton, por exemplo,
que é um “quantum” de radiação eletromagnética, é o bóson que “carrega” a
força eletromagnética. Vários fótons de diferentes radiações eletromagnéticas
podem ocupar o mesmo espaço, a prova disso é o fato de termos num mesmo
ambiente ondas de rádio, TV, celular, etc., sem que uma interfira na
outra.
A teoria da Física que, nos dias de hoje, estuda as propriedades de
todos os tipos de partículas é chamada Modelo Padrão[5]. Segundo o
Modelo Padrão, a matéria dita ordinária (isto é, a
matéria que conhecemos) é composta por partículas elementares, isto é, partículas que não possuem estrutura interna e, por isso,
são chamadas de elementares. Por exemplo, os prótons não são partículas
elementares pois são formados por três quarks. Estes, por sua
vez, não seriam formados por outras partículas sendo, portanto, elementares.
Os chamados léptons, a cuja classe
pertence o elétron, também são partículas elementares. O Modelo Padrão foi
desenvolvido em 1970 e tem grande aceitação entre os físicos. Sua única
limitação, atualmente, é não descrever ainda a força de interação
gravitacional devido às massas das partículas. Acredita-se, que a descoberta
do chamado bóson de Higgs possa esclarecer esse ponto dentro do contexto
desta teoria[5].
Segundo o Modelo Padrão e, portanto, de acordo com o conhecimento da
Física atual, a matéria ordinária é tudo que é formado de férmions elementares, isto é, de quarks e léptons que possuem spin de valor semi-inteiro. Como os elétrons são léptons e os prótons e
neutrons são formados por quarks, todos os átomos conhecidos que formam a
matéria que conhecemos são formados de quarks e léptons, e portanto, de
férmions.
Mas, e os fótons e outros bósons que a Física de Partículas já descobriu?
Não seriam matéria? O que seriam? O Modelo Padrão simplesmente não as chama
de matéria, mas apenas de bósons. São, de fato, partículas reais, que fazem
parte da natureza física que conhecemos, mas apenas não são consideradas
matéria ordinária. Poder-se-ia inventar um nome para elas, mas comumente os
físicos as chamam de “partículas mediadoras”, pois elas são responsáveis por
carregar e transmitir a mensagem da força entre os férmions. Dentro do
sentido que empregamos a palavra matéria no Espiritismo, os bósons podem ser
considerados como “matéria”, porém com propriedades distintas dos objetos
materiais que conhecemos.
Cabe aqui uma questão oportuna. O que seria a chamada antimatéria ? Antimatéria é
matéria formada por antipartículas dos férmions. O que são “antipartículas”?
Antipartículas são as mesmas partículas com uma única diferença: possuem
carga elétrica de sinal inverso ao da respectiva partícula. Por exemplo, um
antielétron, também chamado de pósitron, é um elétron com carga
elétrica positiva. Um antipróton é um próton negativo. Portanto, em essência,
antimatéria é o mesmo que matéria, isto é, tem todas as mesmas propriedades
da matéria, pode formar corpos idênticos aos que conhecemos e estão sujeitos
às mesmas leis da matéria. Sabe-se que quando uma partícula e uma
antipartícula se tornam muito próximas, elas sofrem uma reação chamada de aniquilação. Nesta reação, as partículas são ditas desmaterializadas e dois fótons são produzidos. A reação inversa também é possível.
Antigamente se acreditava que os fluidos espirituais fossem formados de
antimatéria. Com base no que foi exposto acima, podemos perceber o equívoco
dessa idéia, como já demonstrado pelo amigo Ademir Xavier [6].
Outra pergunta importante: o que é a luz? A luz não é algo real, que vemos
e sentimos de diversas formas? A luz é, de fato, algo real. Ela é radiação
eletromagnética de determinada frequência. A radiação eletromagnética, por
sua vez, é uma oscilação sincronizada dos campos elétrico e magnético que se
propagam no vácuo, isto é, no espaço vazio. A luz, como todo sistema físico,
possui comportamento regido pela conhecida dualidade
onda-partícula da Mecânica
Quântica que diz que dependendo da forma como observamos ou preparamos um
experimento com a luz, o comportamento do sistema será do tipo ondulatório ou
do tipo corpuscular. O fóton, que como dissemos é a menor unidade de radiação
eletromagnética, é observado em fenômenos onde o aspecto corpuscular da luz
ocorre. E é isso o que a Física diz, que a luz é uma radiação eletromagnética
que em determinadas condições, se comporta como se fosse formada por um feixe
de partículas chamadas de fótons. A Física não chama a luz ou os fótons de
matéria pois a luz não ocupa espaço nem possui massa. Além disso, os fótons
são bósons e a matéria ordinária é considerada pela Física como sendo formada
de férmions. Dentro da consideração que fizemos anteriormente do conceito de
matéria no Espiritismo, a luz pode ser também considerada como “matéria”.
Como se isso não bastasse, a Ciência descobriu a existência de outros
tipos de matéria que não são formadas nem por férmions nem por bósons. As
chamadas matéria e energia escuras são exemplos de
matéria cujas propriedades escapam ao que expomos até aqui. Antes, porém, que
nos sintamos tentados a associar essas matérias
diferentes ao conceito de
fluido universal (FU) ou fluidos espirituais, é preciso lembrar que as
propriedades de ambas ainda não satisfazem àquilo que se espera do FU,
conforme estudos já publicados na revista FidelidadESPÍRITA [7]. De modo análogo, independente do que a Física venha a descobrir
como sendo a constituição íntima dessas matérias
diferentes, dentro do conceito de matéria do Espiritismo, elas podem ser
consideradas como “matéria”.
Antes de analisarmos a questão sobre a possibilidade de podermos
transformar matéria em energia, vamos ver o que a Física entende por massa. Massa é normalmente entendida como sendo a medida da inércia, isto
é, da dificuldade de alterar-se a dinâmica de um objeto. Einstein, com sua
famosa equação, E=mc2,
demonstra a relação entre a energia E e a massa m de um objeto, onde c é a velocidade da luz. Porém, de que energia e de que massa a teoria de
Einstein está falando? Entender isso é extremamente importante para
descobrirmos se energia pode se transformar em matéria e, posteriormente,
analisarmos se podemos chamar os fluidos espirituais de energias. Os artigos das referências 8 e 9 apresentam uma discussão história
muito rica sobre o assunto. Vamos aqui apresentar apenas as conclusões desse
estudo.
Einstein demonstrou que se um corpo de massa m perder ou ganhar
energia no valor E, a sua massa
total diminui ou aumenta na proporção m=E/c2.
Daí a equação E=mc2.
Assim, Einstein mostra que existe uma correlação direta entre a energia, dita de repouso de um corpo e a
medida de sua inércia, de sua massa de repouso. Notem que
usamos o adjetivo “repouso”, pois existe uma confusão entre os físicos a
respeito da possibilidade da massa de um corpo poder aumentar em função da
sua velocidade. O prof. Valadares mostra [8,9] que essa é uma interpretação
errada da Teoria da Relatividade de Einstein e que, na verdade, não importa
quão veloz é uma partícula, sua massa é sempre a mesma. Por exemplo, um
próton se deslocando a velocidades muito altas, próximas da velocidade da
luz, terá massa idêntica a de um próton em repouso. Einstein demonstrou que
no processo de conservação da energia total de um sistema, cada partícula
possui uma energia intrínseca chamada “energia de repouso”, dada pela equação E=mc2. Uma consequência dessa teoria é que a massa de um corpo não é necessariamente igual à soma das massas das
partículas que o compõem (grifamos para
enfatizar). Em um dado processo, o que se conservam, segundo a Física, é o
chamado momento (ou quantidade de
movimento) e a energia total do sistema. A massa total só se conserva se a
definimos de modo diferente do usual, o que deixamos para o leitor mais
interessado verificar nos artigos das referências 8 e 9.
Diante do que foi exposto acima, pode energia se transformar em matéria,
ou vice-versa? Para responder isso, considere como exemplo uma reação de
desmaterialização ou aniquilamento ocorrida com um sistema formado por um
elétron e um pósitron, isolados do resto do universo, como sugere o prof.
Valadares [8]. Nesse processo, o momento e a energia total se conservam. Em
outras palavras, antes da desmaterialização, o par elétron-pósitron possui
determinado valor para a energia, momento e massa totais. Após a
desmaterialização, dois fótons são produzidos e a energia, momento e massa
totais permanecem com o mesmo valor, cada. Que a energia e o momento se
conservam, isso entendemos perfeitamente. Mas como a massa total se conserva,
se o elétron e o pósitron foram destruídos e no lugar dois fótons, que
possuem massa de repouso nula, surgiram? É aí que precisamos prestar maior
atenção para entender como a Física interpreta o fenômeno de reação de
desmaterialização e verificar se houve ou não transformação de matéria em
energia.
O argumento chave para entender o que acontece é: “se a energia total
se conservou, isto é, se ela permaneceu a mesma, então nem se ganhou nem se
perdeu energia”. Portanto, se tivesse ocorrido a transformação de matéria em
energia, teríamos um aumento na energia total do sistema isolado. Como isso
não ocorre no fenômeno de desmaterialização, não houve conversão nem de
matéria, nem de coisa alguma em energia!
Apesar de sutil, é um
erro dizer que matéria pode ser transformada em energia, e vice-versa. O que
de fato houve foi uma transformação de duas partículas, o elétron e o
pósitron, em outro tipo de partícula: fótons. Em outras palavras, objetos
reais e concretos como o elétron e o pósitron, de acordo com a Física, só
podem se transformar em outros objetos reais e concretos, como os fótons.
Objetos reais não podem se transformar em entes abstratos como a energia.
Como lemos na explicação de Feynman, energia é um conceito puramente
abstrato. Energia, por sua vez, pode ser transformada em outros tipos de
energia ou transferida de um sistema físico a outro, mas energia não pode ser
transformada em matéria. Nesse cálculo desse “número” a que chamamos energia,
a fórmula E=mc2 precisa ser levado em conta para que a lei de conservação da energia
seja verificada no fenômeno de aniquilamento de par de partícula-antipartícula.
O mesmo raciocínio é válido com relação à massa, porém com a
observação de que a soma das massas de um sistema não necessita ser igual à
massa total do sistema, como mencionado anteriormente. Esse é o caso dos
fótons que são criados na reação de desmaterialização. Cada fóton,
separadamente, possui massa de repouso nula, mas o sistema formado por dois
fótons possui massa total igual à massa de dois elétrons. A explicação formal
para isso se encontra nos artigos das referências 8 e 9 e não estenderemos
aqui por razões de espaço.
Retornemos às frases contidas nas duas obras de André Luiz citadas no
primeiro parágrafo deste artigo, numerando-as: 1) “matéria densa não é senão
a energia radiante condensada”, 2) “matéria é luz coagulada”; e 3) “na
essência, toda a matéria é energia tornada visível”. Essas frases tem relação
com os conceitos de matéria, massa e energia de repouso de uma partícula, bem
como com a interpretação de processos de aniquilamento ou desmaterialização.
Sendo rigorosos com relação à Física, nenhuma das três frases acima
está rigorosamente correta. As frases 1) e 3) estão em conflito com o que a
Física, hoje, diz pelas razões explicadas nos parágrafos anteriores. A frase
2) parece correta em vista do fenômeno de aniquilamento de um par
partícula-antipartícula, onde partículas com massa de repouso não nula se
transformam em fótons, que são quanta de luz. Apesar da frase 2) ser a que
melhor se aproxima do entendimento atual dos físicos, não é correto deduzir
que a “matéria é luz coagulada”. O fato da matéria poder se transformar em
fótons não significa que as partículas sejam fótons “coagulados” ou
“condensados” antes do fenômeno de transformação. A matéria, de acordo com o
Modelo Padrão da Física de Partículas, é todo sistema físico formado por
partículas elementares. Essas partículas são elementares porque não possuem
estrutura interna, o que equivale a dizer que elas não são internamente
fótons, “luz coagulada”, ou qualquer outra coisa. Elas já são os tijolos
básicos da matéria. Elas possuem características individuais próprias como
massa, carga elétrica, energia de repouso e outras propriedades físicas
fixas. No caso da relação entre massa e energia (que é a que sugere que
matéria pode ser transformada em energia, e vice-versa), o que podemos dizer,
nas palavras do próprio Einstein, é que “A massa de um corpo é uma medida do
seu conteúdo energético”[8]. Uma partícula, então, contém energia na medida
proporcional à sua quantidade de massa, mas ela, a partícula, em si não é
energia.
Por outro lado, em vista da sutileza da interpretação atual da Física
dos conceitos de matéria, massa, energia e dos fenômenos como o de
aniquilamento, e sabendo que na época em que as frases 1), 2) e 3) foram
publicadas pela primeira vez, os físicos não tinham a compreensão de agora (o
Modelo Padrão foi desenvolvido em 1970, enquanto as obras de André Luiz foram
escritas e primeiramente publicadas nas décadas de 40 e 50), precisamos
reconhecer que essas frases estavam corretas no contexto do conhecimento
científico da época, exprimindo a idéia do fenômeno de desmaterialização ou
de aniquilamento de um par partícula-antipartícula, mas acima de tudo
enfatizando que a Ciência já reconhecia que a matéria não é algo rígido, duro
e perpétuo como nossos cinco sentidos poderiam sugerir. Se a forma dessas
frases não está correta perante o que ensina a Física de hoje, a mensagem que
seus autores pretenderam transmitir de que a matéria não é algo absolutamente
rígido é atual e confirmada por essa mesma ciência. Além disso, é preciso ter
em mente, como aliás nos lembra André Luiz no prefácio da obra Mecanismos
da Mediunidade [10], que a
Ciência do futuro substituirá a atual, e que é cedo para considerar que as
teorias atuais da Física sejam a palavra final sobre o que é a matéria.
Vamos, agora, analisar o que a Doutrina Espírita ensina sobre a
matéria. É oportuno reproduzirmos a questão 22 de O Livro dos Espíritos [11]:
22. Define-se geralmente a matéria como aquilo que tem extensão, que
pode impressionar os nossos sentidos, que é impenetrável. Essas definições
são exatas?
“Do vosso ponto
de vista são exatas, porque não falais senão do que conheceis. Mas a matéria
existe em estados que vos são desconhecidos. Pode ser, por exemplo, tão
etérea e sutil que nenhuma impressão vos cause aos sentidos. Contudo, é
sempre matéria, embora para vós não o seja.”
Essa resposta dos Espíritos tem um valor muito grande. Ela adianta em
mais de meio século o que a Ciência viria a descobrir sobre a natureza da
matéria. De fato, matéria existe em estados que eram desconhecidos da
humanidade à época de Kardec. Não somente a descoberta dos bósons, mas mesmo
entre os férmions existem partículas bastante sutis. Por exemplo, a partícula
chamada neutrino, que é um lépton
elementar, é tão leve que se acreditava não possuir massa, e é tão sutil que
trilhões deles são capazes de atravessar o planeta Terra inteiro como se não
existisse nada. Trilhões de neutrinos atravessam nosso corpo sem causar a
menor sensação. Embora não percebamos a sua existência, concordamos com os
Espíritos: o neutrino é sempre matéria.
Na questão 29, os Espíritos dizem que a ponderabilidade é um atributo
da matéria que conhecemos, mas “não da matéria considerada como fluido
universal”. Eles dizem também que “A matéria etérea e sutil que forma esse
fluido é imponderável para vós, mas nem por isso deixa de ser o princípio da
vossa matéria pesada”. Neste momento, o Espiritismo apresenta uma informação
que é nova para a Ciência. Os Espíritos afirmam que o FU é o princípio elementar
da matéria que conhecemos. Essa afirmativa contradiz o Modelo Padrão que diz
que as partículas elementares não são formadas de outra coisa. Isso nos
sugere algumas questões. Seriam as partículas elementares o FU? Ou estaria a
Física comprovando erros no Espiritismo? Em nosso ponto de vista, não podemos
responder a essas questões pois as teorias da Física, como o Modelo Padrão,
possuem limitações e sofrerão novos desenvolvimentos que podem culminar com
novas teorias. Um exemplo é a busca experimental por uma partícula que seria
a causa da massa de todas as outras, o bóson de Higgs. Além disso, outras
teorias como a de supercordas propõem que cada partícula elementar é um tipo
de corda que oscila em determinada
frequência. Não é um procedimento
científico a simples comparação entre o Modelo Padrão e o Espiritismo, para
então concluir que as partículas elementares são o FU. Seria preciso
trabalhar na demonstração de que tudo o que o Espiritismo diz do FU é
satisfeito pelas partículas elementares. Por exemplo, dizem os Espíritos
(questão 27) que sem o FU, a matéria estaria num perpétuo estado de divisão.
Como encaixar isso com as teorias da Física de Partícula? Apenas um trabalho
de pesquisa rigoroso pode vir a responder isso.
Por outro lado, a tese espírita do FU ser o princípio elementar de
toda a matéria não é desmentida pelos fenômenos de transformação da matéria
como o de aniquilamento de pares partícula-antipartícula. O fato de um tipo
de matéria poder se transformar em outro sugere a existência de uma matéria
prima universal que seja a base de toda a matéria incluindo, também, aquilo
que chamamos de matérias
diferentes quais sejam os
bósons, a matéria e energia escuras. Somente estudos mais profundos feitos
com o rigor científico poderão fornecer maiores certezas, como já comentado
em artigo anterior naFidelidadESPÍRITA [12].
Seria correto falar que os fluidos espirituais são energias? É correto
dizer que no passe recebemos “energias espirituais”? Por tudo o que vimos até
aqui, se o FU é a base tanto dos fluidos espirituais quanto da matéria, então
o FU deve ser identificado com a matéria e não com energia. Logo, não se pode
dizer que os fluidos são energia. Teriam os fluidos energia, assim como
matéria carrega energia? Acreditamos que sim, e que nos processos e fenômenos
envolvendo fluidos espirituais, leis análogas às de conservação de energia
devem existir e reger tais processos. Assim como Einstein demonstrou uma
relação entre a propriedade massa e energia de repouso de um objeto, talvez exista uma relação análoga
entre alguma propriedade física dos fluidos espirituais (algo relativo à sua
massa) e a energia intrínseca dos mesmos. Mas não podemos ir além disso.
Devemos aguardar que os pesquisadores da Física e do Espiritismo trabalhem
para nos trazer respostas. Não é um procedimento científico chamar os fluidos
de energia sem pesquisarmos profundamente o que são os fluidos, como
quantificar a energia contida neles, e como quantificar os fenômenos
fluídicos.
Para finalizar, observemos que os Espíritos dizem na questão 22a que a
“matéria é o laço que prende o espírito; é o instrumento de que este se serve
e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação.” Essa definição de matéria é
muito importante por duas razões. Primeiro porque afirma a interação entre o
espírito e a matéria. Segundo, porque apresenta uma razão filosófica da
existência da matéria: o de servir de instrumento de evolução espiritual para
o espírito.
Referências
[1] Francisco
Cândido Xavier, E a Vida
Continua..., pelo Espírito de André Luiz, FEB, 18ª edição, Rio de Janeiro, 1991.
[2] Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito de André Luiz, FEB,
11ª edição, Rio de Janeiro, 1989.
[3] Curso Ciência & Espiritismo, “Aula 7: Física e Espiritismo II:
energia e matéria. Referências científicas na pesquisa espírita”, Boletim do GEAE Número 489,
(2005).
[5] M. A. Moreira, “O Modelo Padrão da Física de Partículas”, Revista Brasileira de Ensino de Física 31, 1306 (2009).
[7] A. F. Da Fonseca, “Matéria e Energia Escura: não são o Fluido
Universal”, Revista
FidelidadESPÍRITA Dezembro, p. 18,
(2003).
[8] J. A. Valadares, “O Conceito de Massa. I. Introdução Histórica”, Revista Brasileira de Ensino de Física 15, 110 (1993).
[9] J. A. Valadares, “O Conceito de Massa. II. Análise do
Conceito”, Revista
Brasileira de Ensino de Física 15, 118 (1993).
[10] Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, Mecanismos da Mediunidade, pelo Espírito de André Luiz, FEB,
11ª edição, Rio de Janeiro, 1990.
[11] A. Kardec, O Livro dos
Espíritos, FEB, 1ª edição Comemorativa do Sesquicentenário, Rio de Janeiro,
2006.
[12] A. F. Da Fonseca, “O Fluido Universal e as teorias cosmológicas”, Revista FidelidadESPÍRITA Novembro, p. 16,
(2003).
[13] Os artigos das referências 5, 7 e 8 podem ser baixados
gratuitamente a partir do sítio da revista: www.sbfisica.org.br/rbef
Este artigo foi publicado em duas partes na revista FidelidadESPÍRITA 91 (Abril), p. 6
(2010); e 92 (Maio), p. 20 (2010).
(*) Prof. Dr. Alexandre Fontes da Fonseca
UNESP, campus de Bauru, SP.
Físico formado pela Unicamp
onde também realizou os cursos de mestrado e doutorado. Realizou
pós-doutoramento no Instituto de Física da USP, NanoTech Institute e no
Department of Materials Sciences and Engineering of The University of Texas
at Dallas. Atualmente, é professor de Física no Departamento de Física da
Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de
Bauru, SP. É cientista, físico e espírita."
Obs:
Artigo transcrito com autorização do autor por e.mail
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