terça-feira, 29 de outubro de 2013

D. DUARTE E A BÍBLIA - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA













Não há, no mundo Ocidental, família que não possua, pelo menos, um exemplar da Bíblia, mesmo as que se declaram agnósticas.

A divulgação do Livro, mormente o Novo Testamento, foi de tal forma feita, que praticamente não existe quem não conheça passagens do Evangelho.

Bem sei, que a maioria das Bíblias, encontram-se guardadas nas estantes, já que a leitura Desta, ainda é rara entre católicos, apesar das recomendações constantes da Igreja, para que seja diária.

Mas, na Idade Média, não foi assim. A Bíblia era para uso exclusivo de mosteiros e palácios. Os crentes tinham conhecimento Dela, pelos sermões e homilias.

A descoberta da imprensa, facilitou a difusão.

Mesmo assim, parte da literatura medieval sofreu influência do Livro.

Na “ Arte de Bem Cavalgar Toda a Sela”, D. Duarte cita passagens do Evangelho, assim como no “Leal Conselheiro”.

Não admira, já que o rei possuía, na biblioteca, excertos do “Evangelho “, e seu pai, El-Rei D. João, chegou a traduzir “ Salmos” para a linguagem de então.

D. Duarte era, para a época, rei de elevada cultura. Fundou a primeira biblioteca real, no paço, e escreveu várias e curiosos livros. No seu reinado foi nomeado Cronista -Mor, Fernão Lopes.

Sabe-se que nessa livraria havia vários livros da Bíblia, entre eles:” Actos Apóstolos “, o “Livro dos Salmos” e “ Géneses”, todos em latim.

Há dúvidas se existia, no paço, exemplar da Bíblia completa; é de crer que não, mas que D. Duarte conhecia excertos, não há duvida, pois chega a citá-los no “ O Leal Conselheiro”.

Recomendava D. Duarte que não se devia ler muito de uma acentada, para se poder compreender e meditar melhor, e não enfartar a mente.

Recomendava a leitura do Evangelho, e esclarecia que há passagens obscuras, que nem os entendidos podem explicar, sem receio de errarem; mas, diz o rei, que se não percebermos, um versículo, passemos a outro.

Assevera D. Duarte que sempre aprendemos com a leitura do Evangelho, e se O conhecermos bem, podemos esclarecer os que não podem ou não tiveram oportunidade de O lerem.

Devido à Bíblia, a língua portuguesa está impregnada de hebraísmos e expressões desse povo.

Na opinião do rei, a leitura do Evangelho não é perda de tempo, muito pelo contrário.

Infelizmente, apesar de estarmos a séculos da Idade Média, ainda há muitos crentes que adquirem a Bíblia para engalanarem a estante.

Certa ocasião fui visitar senhora de elevada cultura. Sabendo que era católico, quis deslumbrar-me, mostrando uma Bíblia ilustrada de Doré, ricamente encadernada a couro e de vistosas folhas doiradas.

Ao entregar-ma, declarou eufórica: - “ Agora meu marido já tem uma Bíblia à sua altura!”

Essa mulher apreciava os livros, como muitos avaliam os homens: pelas vestes e aspecto exterior.

Pensava a boa senhora, que o marido ficava mais ilustre por possuir luxuosa Bíblia.

Esses livros, de elevado custo, em regra, não são para serem lidos, apenas servem para deslumbrar as visitas.






HUMBERTO PINHO DA SILVA   - Porto, Portugal



domingo, 20 de outubro de 2013

Os Vivos e os Mortos - Por Eliphas Levi



Passando por um cemitério certo dia, Cristo encontrou um jovem ajoelhado, chorando diante de uma cruz. Ao vê-lo, Jesus compadeceu-se de sua dor e aproximando-se lhe perguntou: “Por que choras?”Voltando-se e apontando um túmulo, o jovem respondeu: “Minha mãe está enterrada aqui há três dias”. “Não, meu filho, tua mãe não está aí”, respondeu-lhe Jesus. “Aí só se depositou a última vestimenta que ela agora abandonou. Por que choras, pois, sobre um despojo inservível? Levanta-te e segue teu caminho, pois tua mãe te espera”.
O rapaz sofredor moveu tristemente a cabeça e disse: “Não, esperarei aqui a morte e irei reunir-me a ela”. “A morte espera a morte, e a vida vai atrás da vida! Não entristeças, com uma dor egoísta e estéril, a alma daquela que te precedeu, não atrases seu caminhar até Deus com teu desespero e tua inércia. Seu amor ainda vive em teu coração, e não a terás perdido se a fizeres viver dignamente em ti. Em vez de chorar por tua mãe, ressuscita-a. Não me olhes com admiração, nem penses que estou brincando com tua dor. Aquela cuja perda lamentas está perto de ti. Um dos véus que separavam vossas almas caiu; resta um ainda, e, separados só por esse véu, deveis viver um para o outro. Tu trabalharás para ela e ela rogará por ti”.
“Como trabalharei para ela?”, perguntou o órfão, “agora que está sob a terra, não tem necessidade de mais nada”.
“Enganas-te meu filho, confundindo o corpo com a vestimenta. Ela tem agora, mais que nunca, necessidade de inteligência e de amor, no mundo onde vive. Tu es a vida de seu coração e a preocupação de seu espírito, e ela te chama em sua ajuda. Para ter o direito de descansar, é preciso trabalhar. Se não trabalhares por tua mãe, torturarás sua alma. Por isso te disse: ‘Levanta-te e caminha’; porque a alma de tua mãe se levantará e caminhará contigo, e tu a ressuscitarás em ti se fizeres frutificar seu pensamento e seu amor. Ela tem um corpo na terra: é o teu; tu tens uma alma no céu: é a dela. Que essa alma e esse corpo caminhem juntos e tua mãe reviverá. Crê, filho meu, o pensamento e o amor não morrem jamais, aqueles a quem julgas mortos vivem mais que tu se pensam e, ainda mais, se amam”.
“Se a idéia da morte te entristece e te espanta, refugia-te no seio da vida. Ali encontrarás todos aqueles que te amam. Os mortos são os que não pensam e não amam, pois trabalham para a corrupção, e a corrupção por sua vez, os consome. Deixa, pois, aos mortos a tarefa de chorar pelos mortos, e vive com e para os vivos. O amor é o laço que une as almas, e quando esse laço é puro, ele é indestrutível. Tua mãe te precede no caminho até Deus, mas, está presa a ti. E, se tu dormes no sofrimento egoísta, ela se verá obrigada a esperar-te e por isso sofrerá. Mas, eu te digo, em verdade, que todo bem que puderes fazer, será levado em conta para sua alma, enquanto que se fizeres o mal, ela sofrerá voluntariamente a dor. Por isso repito: se a amas, vive para ela”.
O jovem, então, levantou-se. Suas lágrimas cessaram de correr e contemplou a face de Jesus com admiração, pois o rosto do Cristo estava radiante de inteligência e de amor, a imortalidade resplandecendo em seus olhos. Tomando o jovem pela mão, Jesus lhe disse: “Vem!” Conduziu-o em seguida ao topo de uma colina que dominava a cidade inteira e exclamou: “Olha o verdadeiro campo dos sepulcros! Ali, nesses palácios que entristecem o horizonte, há mortos pelos quais é preciso chorar, mais do que por aqueles cujos restos jazem aqui; pois aqueles não descansam.
Agitam-se em meio à corrupção e disputam seu pasto com os vermes. São semelhantes a um homem enterrado vivo”.
“O ar celeste falta à seus pulmões e a terra gravita sobre eles. Estão fechados nas estreitas e miseráveis instituições que fizeram para si mesmos, como entre as paredes de um caixão. Jovem que choravas e cujas lágrimas minhas palavras secaram, chora e geme agora sobre os mortos que ainda sofrem. Chora sobre aqueles que se crêem vivos e que são cadáveres atormentados. A esses há que gritar com voz poderosa: ‘Saiam de vossas tumbas!’ Oh! Quando soará a trombeta do anjo? O anjo que deve despertar o mundo é o anjo da inteligência. O anjo que deve salvá-lo é o anjo do amor. A luz será, então, como o relâmpago que brilha no Oriente e refulge, ao mesmo tempo, no Ocidente”.
“À sua voz, o corpo de Cristo que é o pão fraterno, será revelado a todos, e as águias se reunirão ao redor do corpo que deve alimentá-los. Então, o verbo humano, liberto dos interesses egoístas, se unirá ao Verbo Divino; e a palavra unificada, ressoando no mundo inteiro, será a trombeta do anjo. Os vivos se levantarão, os vivos a quem se acreditava mortos e que sofrerão esperando a libertação, e todo o que não é morto se porá a caminho e irá para diante do Senhor; enquanto que o vento varrerá as cinzas dos que já não o são”.
“Jovem, mantém-te disposto, e guarda-te de morrer. Vive para aqueles que amas, ama àqueles que vivem, e não chores pelos que subiram um grau mais na escala da vida, chora pelos mortos. Tua mãe te amava; te ama, por conseguinte, muito mais neste instante em que seu pensamento e seu amor estão livres das pesadas barreiras da terra. Chora pelos que não pensam em ti e não te amam. Pois te digo, em verdade, que a humanidade só tem um corpo e uma alma, e vive onde quer que se trabalhe e se sofra. Um membro insensível ao bem-estar e à dor dos outros membros está morto e deve ser suprimido em breve”.
Ditas estas palavras, o Cristo desapareceu da vista do jovem que, depois de ficar alguns instantes imóvel, como que sob a impressão de um sonho, empreendeu silenciosamente o caminho de volta à cidade, pensando: “Vou procurar os vivos entre os mortos. E farei bem a todos aqueles que sofrem, sofrendo com eles e amando-os, a fim de que minha mãe o saiba e me bendiga no Céu; pois agora compreendo que o Céu não está distante de nós e que a alma é para o corpo o que o céu material é para a terra”.
O céu, que rodeia e sustém a terra, bebe na imensidão, assim como nossa alma se embriaga do próprio Deus. E os que vivem no mesmo pensamento e no mesmo amor, não podem separar-se jamais.
Transcrito do Site: Sociedade das Ciências Antigas: http://www.sca.org.br/uploads/news/id88/VivoseMortos.pdf
Publicado na revista "O Lotus Branco" (Dezembro de 1917)


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O QUE SÃO OS DRUIDAS ?













Luiz Carlos Nogueira














Os dicionários dizem que os druidas eram antigos sacerdotes dos povos gauleses e bretões (Caldas Aulete). Segundo alguns, a doutrina druídica teria surgido na Bretanha e depois ao longo do tempo foi introduzida na Gália.

A palavra druida é de origem céltica, e conforme o historiador romano Plínio - o velho, ela está relacionada com o carvalho, que na realidade era uma árvore sagrada para eles.

H. D'arbois de Jubainville (1), sobre a origem do druidismo, diz que: “Alguns estudiosos colocam a origem do druidismo na Hiperbórea, região localizada no Setentrião (Círculo Ártico), que faria parte do continente da Atlântida. Suas raízes remontam a uma pré-história do druidismo há, aproximadamente, 26.000 a.C, junto de um povo aventureiro, de raça branca, quando já eram sábios, tinham extraordinários poderes psíquicos e as chaves de conhecimentos cósmicos e terrenos. Com as diversas glaciações, a temperatura do planeta foi diminuindo e os hiperboreanos foram forçados a migrar para o sul, na direção das Gálias. Em contato com os lígures, esses sábios passaram a ser conhecidos como os Semnothées, que significa "os adoradores de Deus". Por seus conceitos monoteístas da Divindade como Poder Supremo, eles se distinguiam dos povos pagãos.


Num texto de autoria de José Laércio do Egito (que se identifica como F.R.C - Irmão Rosacruz), encontrado na Internet, recolhi a seguinte informação acerca de os druidas serem ou não monoteístas (2):

“No contexto religioso os druidas eram sacerdotes e sacerdotisas dedicados ao aspecto feminino da divindade, a Deusa Mãe. Embora cultuassem a Deusa Mãe mesmo assim admitiam que todos os aspectos expressos a respeito da Divindade eram ainda percepções imperfeitas do Divino. Assim, todos os deuses e deusas do mundo nada mais eram do que aspectos de um só Ser Supremo - qualquer que fosse a sua denominação visto sob a ótica humana. (Destaque e grifo meu. Observo ainda, que  “aspectos de um só Ser Supremo” quer significar monoteísmo?).

Andréa Èire (5), uma estudiosa e aficcionada do druidismo, bate o pé dizendo que: “Os druidas clássicos pré-cristãos eram politeístas e, como todo sacerdote pagão, veneravam os espíritos da Natureza, deuses tribais, deuses da paisagem e os ancestrais. O druidismo moderno é igualmente politeísta, pois se baseia nas crenças dos druidas clássicos e não nos druidas do renascimento do século 19.”

As opiniões divergem quanto a questão de os druidas serem monoteístas ou politeístas. Por exemplo, Adílio Jorge Marques, outro rosacruz, diz que: Os druidas praticavam em sua doutrina a lei de um Deus único e incognoscível – logo, não representável; ou seja, o monoteísmo, propagado de maneira irrefutável pelo grande Akhenathon.”(3)

Thomas Bulfinch (6) também informa que: “Os druidas ensinavam a existência de um deus, a quem davam o nome de "Be'ai", que, segundo os entendidos, significa "a vida de tudo" ou "a fonte de todos os seres" e que parece ter afinidade com o Baal dos fenícios.” “[...]Os escritores latinos afirmam que os druidas também cultuavam numerosos deuses inferiores.”

Outras informações encontradas no livro de José Laércio, nos faz compreender algumas coisa, como a de que: A Igreja Católica, inspirada pela Conjura, demonstrou grande ódio aos Druidas que, tal qual outras culturas, foram consideradas pagãs, bruxos terríveis, magos negros que faziam sacrifícios humanos e outras coisas cruéis. Na realidade nada disso corresponde à verdade, pois quando os primeiros cristãos chegaram naquela região foram muito bem recebidos, até porque a tradição céltica conta que José de Arimatéia discípulo de Jesus viveu entre eles e levado até lá o Santo Graal (Taça usada por Jesus na Última Ceia).

Em torno disto existem muitos relatos, contos, lendas e mitos, especialmente ligados à Corte do Rei Arthur e a Távola Redonda. São inúmeros os contos, entre eles, aqueles relativos à Corte do Rei Arthur, onde vivera Merlin, o mago, e a meia-irmã de Arthur, Morgana, que eram Druidas.

A religião druídica na realidade era uma expressão mais mística da religião céltica. Esta era mais mágica, por isso mais popular, com formas de rituais mais rústicos, e muito mais ligado à natureza ambiental, à terra que era tratada com carinho bem especial. A mais popular das expressões religiosas dos celtas constituiu-se a Wicca, que o Catolicismo fez empenho em descrever como um conjunto de rituais satânicos.”(2)

Outras informações que chegaram até nós, como as de Plínio “O Velho” (historiador romano), do grego Diodoro Sículo (historiador grego) e outros romanos e gregos, deram conta de que os sacerdotes druidas teriam sido dotados do dom da clarividência e que nos vôos espirituais tinham os mesmos tipos de visões dos xamãs e, portanto, podiam dizer profecias. Além disso, teriam sido excelentes filósofos religiosos, físicos e magos.

Para completar, os druidas detinham um vasto domínio sobre todos os estudos, sem esquecer que eram exímios feiticeiros e versados nas artes da magia, com o que podiam fazer encantamentos, mudar suas fisionomias e tornarem-se invisíveis por meio de uma espécie de bruma que produziam.(4)

Diz a lenda, que um rei da Bretanha teria mandado um druida fazer o seu vôo espiritual, para ver onde o exercito irlandês estava acampado. Feito isso, o druida pôde fazer um relato sobre as estratégias militares para o rei.

Portanto, sabe-se que quando o exercito de Júlio César, o imperador romano, conquistou as Gálias, temeroso das ações dos druidas, mandou extermina-los, o que os obrigou a fugirem para os países mais distantes, como País de Gales, Inglaterra e Irlanda.

Os druidas teriam se misturado como o cristianismo e permanecido na Irlanda até o século 16, tendo alguns deles exercido suas influências até o século 20, quando teriam desaparecido para todo o sempre. Quanto ao desaparecimento dos druidas, fica aqui um ponto de interrogação, porquanto existem atualmente as chamadas escolas druidicas que reclamam para si, o reconhecimento de que sejam uma continuação dos antigos druidas.

Há os que dizem que os druidas acreditavam na reencarnação (sem karma e não da mesma forma que os espíritas crêem)(5) e por isso suas atitudes perante a morte era de total despreocupação, pois, entendiam que se tratava apenas de uma passagem de um estado de vida material, para outro espiritual, quando não passavam de um corpo para outro (não confundir com a metempsicose ou teoria da transmigração da alma).

Mas uma das coisas importantes, está registrada por Bulfinch: “Os druidas eram mestres de moralidade como de religião. Um valioso exemplo de seus ensinamentos éticos foi conservado nas Tríades dos bardos gaélicos, e dele podemos deduzir que a idéia que faziam da inteira moral era justa em seu conjunto, e que eles adotavam e ensinavam muitas regras de conduta nobres e valiosas. Também eram os cientistas e sábios da sua época e de seu povo.”


1-) Jubainville, H. D'arbois de.Os Druidas, os deuses celtas com formas de animais, Madras Editora, São Paulo, 2013.

2-) José Laércio do Egito - http://users.hotlink.com.br/egito/druidas.htm - (acessado dia 17/10/2013)

3-) Marques, Adílio Jorge – Filosofia dos Sábios Druidas, Revista O Rosacruz, editada pela Ordem Rosacruz, AMORC, outono 2013, nº 284.

4-) Rutherford, Ward. El Mistério de los druidas, La sabiduría de los magos celtas por fin descifrada. Barcelona, 1994. Ediciones Martinez Roca, S.A. Colección Enigmas de la Historia.

5-) Site: Desmitificando os Celtas e os Druidas


6-) Bulfinch, Thomas, O Livro de Ouro da Mitologia, História de Deuses e Heróis; tradução de David Jardim Júnior — 26ª  ed. — Rio de janeiro, 2002

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Temor da Morte – Joana de Ângelis


O temor da morte é resultado da ignorância a respeito da vida.

Tradicionalmente renegada como sendo o fim, considerada como o momento de prestação de contas, normalmente apavorante, em razão do comportamento existencial durante a jornada terrestre, quase sempre reprochável, ou aniquilamento da consciência, a morte se transformou em hedionda realidade da qual, porém, ninguém consegue eximir-se.
 Para morrer, basta encontrar-se vivo.

Em algumas culturas ancestrais e em diversas atuais, procura-se mascarar a morte, ora realizando-se cultos prolongados e afligentes, noutros momentos produzindo-se festas de libertação do corpo, ainda, outras vezes, promovendo-se cerimoniais, maquilando-se o cadáver para dar-lhe melhor aparência, como se isso fosse importante, com o objetivo de diminuir-se a dor do seu enfrentamento.
 Quando se tem consciência do significado real da morte, na condição de passaporte para a vida, a alegria da imortalidade substitui a angústia do eterno adeus, ou da promessa do juízo final, ou ainda, a respeito do nunca mais...

Se o corpo pudesse prolongar a sua permanência na Terra, como agradaria a alguns aficionados da ilusão, mas apenas temporariamente, como isso seria terrível para os portadores de enfermidades degenerativas, de distúrbios psicóticos profundos, de deformidades congênitas, de paralisias, de transtornos psicológicos destrutivos, da miséria social e econômica, das expiações em geral.

Para quem se compraz na fantasia da ignorância, pretendendo manter a eterna juventude, desfrutar dos esgotantes prazeres, permanecer em foco onde quer que se encontre, seria, aparentemente, muito bom e compensador. No entanto, tudo quanto se faz repetitivo, num continuum demorado, corre o risco de tornar-se tedioso, de produzir o vazio existencial por falta de significado psicológico...
 A Divindade, ao estabelecer os limites orgânicos, em razão das energias que vitalizam a matéria, proporciona tempo e oportunidade necessários para o desenvolvimento ético-moral e espiritual do ser humano.

Mediante as existências sucessivas, adquirem-se os valores inalienáveis para a conquista do bem-estar, da harmonia, da individuação.

Com a sua constituição imortal, o Espírito progride e alcança os patamares superiores da vida, podendo fruir todas as bênçãos que se lhe encontram ao alcance.

A felicidade não é deste mundo – assevera o Eclesiastes, demonstrando, que sim, existe a plenitude, mas não a anelada pelo corpo físico no mundo material.

A consciência da sobrevivência à disjunção molecular proporcional real alegria de viver e de lutar, ensejando um grandioso significado à existência que se adorna de possibilidades que facultam a conquista do estado numinoso.

Alguns objetam que esse comportamento pode proporcionar acomodação ao sofrimento, aceitação passiva das ocorrências perturbadoras, pensando-se que as futuras reencarnações tudo resolvem.

Pelo contrário, ocorre, pois que a consciência de si faculta ampliação dos horizontes mentais, enriquecimento emocional superior, esperança de alcançar-se as metas dignificantes da vida, à medida que se luta por consegui-las.
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Morre-se a cada instante, em razão das contínuas transformações que ocorrem no organismo.

Centenas de milhões de células decompõem-se e morrem, em minutos, ensejando o surgimento de outras tantas, até o momento quando a energia vital em deperecimento resultante do desgaste diminui e se consome, ensejando a morte de todo o organismo.

Em uma lúcida comparação, toda vez quando o sono fisiológico toma o organismo e obscurece a consciência, defronta-se uma forma de morte, sem grande variação a respeito daquela que encerra o ciclo terrestre.

O medo da morte, de alguma forma, é atávico, procedente da caverna, quando o fenômeno biológico sucedia e o homem primitivo não o entendia, desconhecendo a razão da sua ocorrência.

Do desconhecido sucesso às informações que foram sendo recolhidas ao longo dos milênios, os mitos e arquétipos remotos se encarregaram de criar funestos conceitos a seu respeito.

Nada obstante, nesse mesmo período, ocorrem, as memoráveis comunicações espirituais cujas informações são encontradas em algumas escritas rupestres, assim também originando-se o culto aos Espíritos, como uma forma de os manter vivos, de os tranquilizar, de os encaminhar ao mundo de origem.

Guardadas hoje as proporções, cerimônias religiosas, as recomendações litúrgicas e os ritos constituem um aperfeiçoamento daqueles cultos primitivos, nos quais, durante um largo período, realizavam-se holocaustos de animais e de seres humanos, afim de acalmar aqueles que se proclamavam deuses e responsáveis pelos acontecimentos em geral.

Houve, sem dúvida, um grande progresso na celebração dos cultos aos mortos, permanecendo ainda, lamentavelmente, a ignorância em torno da imortalidade.

Retornando ao convívio com aqueles que ficaram na Terra, dispõe-se de claras e significativas informações a respeito da sobrevivência do ser, de como contribuir em seu benefício, substituindo a pompa e as extravagâncias muito do agrado da insensatez pelas orações ungidas de amor e de respeito pela sua memória, recordando-o com carinho, trabalhando-se em benefício do próximo, em homenagem ao que representa na afetividade.
 A reverência ao corpo fixou-se de tal maneira no comportamento humano, que a arte utilizou-se desse fenômeno, para preservar o carinho dos que permaneceram no mundo, afinal, por pouco tempo, porque também foram convocados a seguir para o Além, através dos monumentos colossais, dos mausoléus ricamente decorados, das capelas revestidas de mosaicos e de mármores de altos preços... Os artistas aumentarem esse tipo de .culto, estimulando as decorações com estátuas imponentes ou comovedoras, utilizando do bronze, do ferro, do ouro e de outros metais, como de pedras preciosas, de pinturas faustosas, para expressar a grandiosidade do desencarnado, muitas vezes em situações deploráveis no mundo espiritual, como decorrência da vida que levou na Terra...

Ainda aí, vemos uma forma de dissimular a morte, dando um aspecto festivo aos despojos já consumidos pelos fenômenos naturais...

...E todos esses recursos poderiam ser encaminhados para diminuir o sofrimento de milhões de criaturas enfermas, esfaimadas, excluídas do conjunto social...

Infelizmente, porém, a morte é um dos fatores que empurram as pessoas fracas e despreparadas para os enfrentamentos normais da existência, para a depressão, para a revolta, para a violência.

Ninguém conseguirá driblar a morte, por mais que o intente.
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Pensa com frequência e tranquilidade na tua desencarnação.

Considera que o momento, por mais distante se te apresente, chegará fatalmente. Recorda os teus desencarnados com carinho, envolvendo-os em ternura e orações.

Fala-lhes mentalmente a respeito da realidade na qual se encontram e de como se devem comportar, procurando o apoio dos seus Guias e a proteção do Senhor da Vida.

Morrendo e retornando, logo depois, Jesus cantou o hino da imortalidade gloriosa que culmina a Sua trajetória na Terra de maneira insuperável.

Joanna de Ângelis. Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica de 25 de maio de 2010, na residência de Josef Jachulak, em Viena, Áustria

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

PERDER JESUS - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA

  






Dizem-me que há sacerdotes tão atarefados com as obrigações desta vida, que se esquecem, muitas vezes, da outra.

O mesmo ocorre naqueles que se encontram perto do sagrado: a familiaridade, leva-os a olvidarem Cristo.

Esquecer Jesus, sendo reprovável, é humano, já que Sua Mãe O esqueceu, também, no templo. Só que Maria, confiou no pai, e cristãos há, que desconfiando do Pai, confiam nos homens.

Perde-se Jesus, perdendo a fé, e perde-se, quantas vezes, na Igreja, porque há quem invoque o nome de Cristo, por orgulho.

Participa-se por vezes em Movimentos e funda-se obras de assistência, para honrar vaidades, e não a Deus.

Propósito igual, verifica-se nos políticos, e até em alguns ministros de Deus.

Não servem, mas servem-se do crente para alcançarem prestígio social.

Infelizmente, também, há “duplos” na Igreja. Oram no templo, mas não têm sentido cristão, na vida.

Neste caso o termo leigo, é sinónimo de ignorância, já que não entendem que para alcançarem a Vida, mister é levar o espírito do Evangelho à vida.

Acompanha, em alguns crentes, outro escândalo: a divisão dos cristãos. Escândalo que não provêm da separação - em certa medida, pode ser benéfico, - mas pensar que é senhor da Verdade, esquecendo que há outras Verdades, ainda que a Verdade seja uma.

Admiro-me que sendo Deus ou Alá, como dizem os irmãos da Arábia: Amor, os crentes, pelejem e odeiem-se. Como se Deus proclamasse: Odiai-vos uns aos outros…e não: Amai-vos uns aos outros.

Como pode o pagão acreditar no Senhor, com tais crentes?

Também na Igreja, se perde Cristo, se os fiéis seguem seus desejos e não a vontade de Dele.

Há manual de instrução, que não pode ser alterado, nem adulterado, que é a Bíblia. Livro que inclui os Evangelhos.

Os que A não seguirem deixam de ser discípulos.

Não há pareceres, apenas o ensino de Jesus, Filho do Altíssimo, é válido.

O Escândalo nasce em qualquer parte, mas se tem origem no templo, escandaliza o mundo e afronta o Céu, afastando descrentes do Caminho.

Pautar a conduta pelo Evangelho - ainda que, certas vezes, não seja fácil, - é a vereda correta para prosseguir a jornada até ao sono eterno.





HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal


publicado por solpaz às 10:11
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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Nômade


Trago comigo um mapa e uma mala,
o mapa não me diz para onde vou,
A mala, que vivo a arrumar e,
devia me conhecer, não me diz quem sou.

Fernando Bandeira

(Imagem: devirnomadeviagem.blogspot.com)







Fonte: Blogue do Lado Avesso: http://ismaelmachado.blogspot.com.br/

terça-feira, 1 de outubro de 2013

SER MÍSTICO – Nelson Jonas








"Ser Místico é não dizer o que faz,
Nem o que vai fazer - é ser anônimo.
É superar os medos do eu pelo mergulho no ser.
É não ter a necessidade de demonstrar o que sabe,
É falar pouco e escutar muito,
É passar por louco e ser inteligente,
Ser confiante e não dependente,
Justo e autêntico,
Manso e confidente.
Um bom Místico
Não caça o futuro com ansiedade,
Não leva rasteira do passado,
Não fica preso à memória:
Vive só por hoje.
Pisa no escuro do desconhecido,
Não foge de seu deserto,
Arrisca-se à incerteza,
Não troca o Pássaro do Ser pelos pássaros do ter.
Ser Místico é dizer "Aum",
É ser diferente sem fazer uso de marcas registadas.
Ser Místico é Ser história.
É ter simplicidade e pureza,
Humildade e modéstia,
Coragem e bravura,
Fidelidade e esperança.
Ser Místico é ver Deus no nascer do sol
No brilho da lua e das estrelas ao anoitecer.
É ouvir a Voz de Deus
Na sinfonia dos pássaros em parceria com o vento,
E na voz do pedinte em meio ao mau tempo.
É sentar-se quieto e atento
No pulsar do Ser que o faz ser.
Ser Místico é descobrir através do silêncio
Uma nova maneira de viver.
É saber responder:
Quem sou, de onde vim e para onde vou.
Ser Místico é ter vocação,
Ser religioso, sem religião;
Ser poético e apolítico,
Amante do amor incondicional,
Da natureza e da liberdade.
Ser Místico é buscar acima de tudo
A Voz Silenciosa de Deus
Em seu próprio interior. "

Nelson Jonas
Hermetismo