terça-feira, 15 de outubro de 2013

Temor da Morte – Joana de Ângelis


O temor da morte é resultado da ignorância a respeito da vida.

Tradicionalmente renegada como sendo o fim, considerada como o momento de prestação de contas, normalmente apavorante, em razão do comportamento existencial durante a jornada terrestre, quase sempre reprochável, ou aniquilamento da consciência, a morte se transformou em hedionda realidade da qual, porém, ninguém consegue eximir-se.
 Para morrer, basta encontrar-se vivo.

Em algumas culturas ancestrais e em diversas atuais, procura-se mascarar a morte, ora realizando-se cultos prolongados e afligentes, noutros momentos produzindo-se festas de libertação do corpo, ainda, outras vezes, promovendo-se cerimoniais, maquilando-se o cadáver para dar-lhe melhor aparência, como se isso fosse importante, com o objetivo de diminuir-se a dor do seu enfrentamento.
 Quando se tem consciência do significado real da morte, na condição de passaporte para a vida, a alegria da imortalidade substitui a angústia do eterno adeus, ou da promessa do juízo final, ou ainda, a respeito do nunca mais...

Se o corpo pudesse prolongar a sua permanência na Terra, como agradaria a alguns aficionados da ilusão, mas apenas temporariamente, como isso seria terrível para os portadores de enfermidades degenerativas, de distúrbios psicóticos profundos, de deformidades congênitas, de paralisias, de transtornos psicológicos destrutivos, da miséria social e econômica, das expiações em geral.

Para quem se compraz na fantasia da ignorância, pretendendo manter a eterna juventude, desfrutar dos esgotantes prazeres, permanecer em foco onde quer que se encontre, seria, aparentemente, muito bom e compensador. No entanto, tudo quanto se faz repetitivo, num continuum demorado, corre o risco de tornar-se tedioso, de produzir o vazio existencial por falta de significado psicológico...
 A Divindade, ao estabelecer os limites orgânicos, em razão das energias que vitalizam a matéria, proporciona tempo e oportunidade necessários para o desenvolvimento ético-moral e espiritual do ser humano.

Mediante as existências sucessivas, adquirem-se os valores inalienáveis para a conquista do bem-estar, da harmonia, da individuação.

Com a sua constituição imortal, o Espírito progride e alcança os patamares superiores da vida, podendo fruir todas as bênçãos que se lhe encontram ao alcance.

A felicidade não é deste mundo – assevera o Eclesiastes, demonstrando, que sim, existe a plenitude, mas não a anelada pelo corpo físico no mundo material.

A consciência da sobrevivência à disjunção molecular proporcional real alegria de viver e de lutar, ensejando um grandioso significado à existência que se adorna de possibilidades que facultam a conquista do estado numinoso.

Alguns objetam que esse comportamento pode proporcionar acomodação ao sofrimento, aceitação passiva das ocorrências perturbadoras, pensando-se que as futuras reencarnações tudo resolvem.

Pelo contrário, ocorre, pois que a consciência de si faculta ampliação dos horizontes mentais, enriquecimento emocional superior, esperança de alcançar-se as metas dignificantes da vida, à medida que se luta por consegui-las.
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Morre-se a cada instante, em razão das contínuas transformações que ocorrem no organismo.

Centenas de milhões de células decompõem-se e morrem, em minutos, ensejando o surgimento de outras tantas, até o momento quando a energia vital em deperecimento resultante do desgaste diminui e se consome, ensejando a morte de todo o organismo.

Em uma lúcida comparação, toda vez quando o sono fisiológico toma o organismo e obscurece a consciência, defronta-se uma forma de morte, sem grande variação a respeito daquela que encerra o ciclo terrestre.

O medo da morte, de alguma forma, é atávico, procedente da caverna, quando o fenômeno biológico sucedia e o homem primitivo não o entendia, desconhecendo a razão da sua ocorrência.

Do desconhecido sucesso às informações que foram sendo recolhidas ao longo dos milênios, os mitos e arquétipos remotos se encarregaram de criar funestos conceitos a seu respeito.

Nada obstante, nesse mesmo período, ocorrem, as memoráveis comunicações espirituais cujas informações são encontradas em algumas escritas rupestres, assim também originando-se o culto aos Espíritos, como uma forma de os manter vivos, de os tranquilizar, de os encaminhar ao mundo de origem.

Guardadas hoje as proporções, cerimônias religiosas, as recomendações litúrgicas e os ritos constituem um aperfeiçoamento daqueles cultos primitivos, nos quais, durante um largo período, realizavam-se holocaustos de animais e de seres humanos, afim de acalmar aqueles que se proclamavam deuses e responsáveis pelos acontecimentos em geral.

Houve, sem dúvida, um grande progresso na celebração dos cultos aos mortos, permanecendo ainda, lamentavelmente, a ignorância em torno da imortalidade.

Retornando ao convívio com aqueles que ficaram na Terra, dispõe-se de claras e significativas informações a respeito da sobrevivência do ser, de como contribuir em seu benefício, substituindo a pompa e as extravagâncias muito do agrado da insensatez pelas orações ungidas de amor e de respeito pela sua memória, recordando-o com carinho, trabalhando-se em benefício do próximo, em homenagem ao que representa na afetividade.
 A reverência ao corpo fixou-se de tal maneira no comportamento humano, que a arte utilizou-se desse fenômeno, para preservar o carinho dos que permaneceram no mundo, afinal, por pouco tempo, porque também foram convocados a seguir para o Além, através dos monumentos colossais, dos mausoléus ricamente decorados, das capelas revestidas de mosaicos e de mármores de altos preços... Os artistas aumentarem esse tipo de .culto, estimulando as decorações com estátuas imponentes ou comovedoras, utilizando do bronze, do ferro, do ouro e de outros metais, como de pedras preciosas, de pinturas faustosas, para expressar a grandiosidade do desencarnado, muitas vezes em situações deploráveis no mundo espiritual, como decorrência da vida que levou na Terra...

Ainda aí, vemos uma forma de dissimular a morte, dando um aspecto festivo aos despojos já consumidos pelos fenômenos naturais...

...E todos esses recursos poderiam ser encaminhados para diminuir o sofrimento de milhões de criaturas enfermas, esfaimadas, excluídas do conjunto social...

Infelizmente, porém, a morte é um dos fatores que empurram as pessoas fracas e despreparadas para os enfrentamentos normais da existência, para a depressão, para a revolta, para a violência.

Ninguém conseguirá driblar a morte, por mais que o intente.
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Pensa com frequência e tranquilidade na tua desencarnação.

Considera que o momento, por mais distante se te apresente, chegará fatalmente. Recorda os teus desencarnados com carinho, envolvendo-os em ternura e orações.

Fala-lhes mentalmente a respeito da realidade na qual se encontram e de como se devem comportar, procurando o apoio dos seus Guias e a proteção do Senhor da Vida.

Morrendo e retornando, logo depois, Jesus cantou o hino da imortalidade gloriosa que culmina a Sua trajetória na Terra de maneira insuperável.

Joanna de Ângelis. Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica de 25 de maio de 2010, na residência de Josef Jachulak, em Viena, Áustria

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