quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Iniciação e Busca do Saber - Por Carlos Raposo




"Forget all your Sorrows Don't live in the Past And Look to the Future Cos life goes too Fast
You know!" (Hard Road, Black Sabbath)

Os motivos que lançam quem quer que seja à iniciação são vários: sabedoria, encanto ou poder pessoal, ajuda ao próximo, evolução da humanidade ou ainda um fascínio qualquer, curiosidade, falta de outra coisa que fazer, ociosidade, etc. Enfim, tais motivos sempre oscilarão entre extremos que vão desde os mais nobres anseios até as mais vis e inconfessáveis perversões, habitantes dos mundos de Hades de nosso ser.

Parece existir, contudo, uma característica romântica bem peculiar e comum àqueles que anseiam por iniciação: todos procuram e almejam um conhecimento especial, um misterioso saber, algo capaz de transcender as possibilidades normais do ser humano. Diga-se ainda mais, pois além de seu inefável atributo transcendental, esse precioso conhecimento teria a capacidade de libertar quem o possuir dos diversos grilhões aos quais está atada a infeliz humanidade. Depois de adquirido tal conhecimento, o Iniciado, agora um espiritualizado Adepto, estaria livre para agir conforme sua desvelada natureza. Fazendo uso do bom e velho clichê, ele então usaria seus novos poderes conforme bem entendesse, seja para o bem seja para o mal.

Segundo o Evangelho de Tomás, Jesus, se referindo ao Saber, diz "Que aquele que busca não deverá deixar de buscar até que ele o encontre; quando o encontrar, se emocionará e assim contemplará e reinará sobre o universo". O padre espanhol Molinos, sobre o mesmo tema, também nos inspira, dizendo que "o espírito da sabedoria, enchendo os homens com doçura, governa-os com coragem e ilumina com excelência os que se submetem a sua direção". Por tal saber, uma soma enorme de homens e mulheres dedicam a própria vida, em uma busca às vezes alucinada, a qual tem produzido um considerável número de loucos e santos, tem causado tristeza e alegria, ira e paz, derrotas e glórias; mas sempre, em todos os casos, tem exigido muito sacrifício, tanto pessoal quanto coletivo. Pelas páginas da história, são fartos os relatos de martírio, são numerosos os nomes citados como exemplos de total resignação em favor de um saber qualquer. Mesmo quando o preço a ser pago pelo saber é a própria vida, ainda assim, isso não seria razão suficiente para inibir a demanda empreendida pelo buscador convicto. Como já afirmado, o mesmo ocorre em nível de coletividade, quando dificuldades imensas são superadas, apenas para se obter ou manter um conhecimento adquirido. Não será vão aqui citar o exemplo dado por uma comunidade inteira de Judeus residentes em algum ponto do sul da Arábia. Após a criação do Estado de Israel, essa comunidade, emigrando à terra considerada Santa pela religião hebréia, foi obrigada a se desfazer de praticamente todos os seus bens. Porém, presente entre as raras posses as quais seus membros se recusam a abandonar, estava o "Livro do Esplendor", o Zohar, obra cuja origem remonta ao século XIII, mas cujo estudo é mantido vivo até os nossos dias, por certa classe de cabalistas.

Enfim, o conhecimento e a tradição, o saber propriamente dito, serão sempre tidos como preciosos e reverenciados até o final dos tempos. A busca pelo saber, consequentemente, é da natureza humana. Não constituirá, portanto, um erro querer ou aspirar conhecimentos e dons espirituais, sejam estes quais forem. Pelo contrário, se de fato houvesse um número cada vez maior de pessoas verdadeiramente interessadas nos reais dons espirituais, muito estaria diferente neste mundo em que vivemos.

Onde houver a possibilidade de aprendizado, lá estará a humana criatura, experimentando, analisando e estudando, tentando assimilar tudo que for capaz. Mesmo se o Saber, continuando lá, em algum misterioso e reservado lugar, mesmo que ele esteja no mais recôndito esconderijo do espaço infinito, nos desafiando, tal como o insólito monólito de Kubrik, o homem nunca cessará a sua demanda.

Várias são as vias e modos de conhecimento. Umas das estradas mais freqüentadas ultimamente tem sido aquela taxada pelo incômodo rótulo "ocultismo". Essa é uma das formas que o homem encontrou para, livre de influências outras senão aquela advinda do próprio saber, preservar e transmitir o conhecimento; sendo o próprio ocultismo o resultado da elaboração de uma série de ensinamentos, os quais, quando reunidos e formando um todo, passam a assumir a denominação genérica de Ciência Arcana ou Filosofia Oculta. Uma série de ritos sistemáticos, as assim chamadas Iniciações, também foram associados à Ciência Arcana, sempre no intuito supremo de transmitir o saber. Deste modo, qualquer ser humano de boa vontade, que se faça digno e preparado para absorver seu simbolismo, poderia ter acesso aos mais profundos níveis de conhecimento ali oferecidos.

Mas parece que muitos não encontram no glamour oferecido pelas ditas Ciências Arcanas as respostas à necessidade de crescimento espiritual. Isso acontece com freqüência, pois normalmente espera-se da nobre Ciência um retorno imediato, uma resposta conclusiva e definitiva às questões básicas do viver e sobre o saber.

Por tal, esta Ciência costuma trazer em si mesma um curioso paradoxo: o caminho do fácil difícil. Ela é o caminho fácil, pois, provavelmente, não exista assunto mais debatido e em moda do que os temas esotéricos: quem quer que queira uma bola de cristal, pronto, manuais e mais manuais o ajudarão a ver tudo na tal bolinha; quem quer que queira um arzinho de iniciação, pronto, dúzias e mais dúzias de ordens rosacruzes e templárias de plantão virão afoitas oferecer seus serviços. Enfim, continuamente haverá oferta para qualquer tipo de curioso satisfazer parte de seus anseios místicos.

Também a Ciência Arcana é uma vereda difícil, pois, quem nela se aprofunda sabe que a senda do conhecimento é um caminho que logo se desvela bem mais custoso do que se supunha numa primeira análise. E como nos sugere Blake "as preces não lavram o campo e os louvores não os ceifam". Por tal, o caminho do sábio se revelará, cedo ou tarde, muito árduo.

A aventura iniciática de todos parece ter etapas bem definidas, quase sempre bem particulares a cada um dos buscadores.

Se abrimos a porta de nossa casa a qualquer um que por ventura ali esteja passando, poderemos receber tanto um impostor quanto um nobre, tanto um farsante quanto um Iniciado. E assim se dá com o Ocultismo, pois na ânsia de vermos resolvidas nossas contundentes questões transcendentais, abrimos a porta de nosso ser a qualquer chance que nos pareça pelo menos razoável.

Normalmente o tino daquele que está movido por tal ânsia, se vê direcionado a alguma das chamadas Escolas de Mistério, porquanto nelas é comum se encontrar os mais diversos tipos de apelos clamando por sua atenção, todos prometendo a conquista dos mais sublimes predicados espirituais.

Deste modo, o então iniciando, com o mesmo primaveril entusiasmo de um calouro, livre de qualquer tipo de conceitos e juízos místicos predefinidos, começa sua jornada na trilha dos mistérios. Infelizmente, algumas vezes, a euforia que o move é tão sinceramente desprovida de sentido crítico, que uma das principais virtude humanas, o bom-senso, quando em conflito com a ânsia de aprender, vai sendo aos poucos esquecida, dando paulatinamente lugar a toda sorte de incoerências doutrinárias de fundo místico-religioso.

É que o que normalmente acontece em grande parte de tais organizações raramente escapa do ilusório. Além disso, toda sorte de bordões do tipo "aqui não se doutrina, só se orienta", é usado tanto para condicionar os participantes a um ambiente de suposta harmonia e lúdica veracidade, quanto para camuflar as reais forças que movem e dão sustento a grande maioria das ditas ordens esotéricas.

Como conseqüência, à força da insistente doutrina que lhe é empurrada, invariavelmente um emaranhado de argumentos falhos e lugares comuns, todos devidamente mergulhados em uma variação sem fim de silogismos pueris, acaba por penetrar pela mente do candidato, corrompendo sua própria vontade e comprometendo suas ambições pessoais, doutrinando-o e "orientando-o", conduzindo-o a um condicionamento servil, apenas para o engrandecimento, em si, da organização. Tudo isso causa por fim, no antigo candidato, uma tosca combinação de apatia e dependência, gerando uma submissão de dar dó.

Vale ressaltar que isso, mesmo sendo uma razoável exposição do que normalmente acontece, é uma generalização, não correspondendo, portanto, ao que se passa em absolutamente todas as organizações existentes. Porém, o mais importante em todos os casos é ter consciência que independente do meio no qual o homem estiver, existe algo que, quando presente em seu espírito, dificilmente permitirá qualquer tipo de condicionamento servil, impedindo que o Ser seja maculado pela influência do ambiente. Esse algo é a atitude do candidato. E isso, repetindo, será o mais importante.

Para tal, necessário é, tão somente, que o buscador tenha total e plena confiança em si próprio, nunca esperando, de forma alguma, como nos aconselha Maquiavel, pensar poder se recobrar de uma queda apenas porque acredita que encontrará quem o levante, ou mesmo o carregue.

Caso o candidato esteja de fato ciente daquilo almejado e caso todo o peso do simbolismo venha lhe tocar, mesmo de modo leve e sutil, ele então saberá que nada poderá conduzi-lo, que a ninguém caberá a tarefa de orientá-lo em definitivo, pois todos estarão juntos no mesmo anseio primevo de busca pelo saber.

Este estado de consciência provocará, então, uma atitude especial, fazendo com que o buscador assuma um definitivo compromisso consigo mesmo (melhor seria dizer um inquestionável estado perceptivo) entendendo assim as diversas situações e fatos, pertinentes aos vários ambientes nos quais ele estiver, como se fosse um simples e perene acordo entre ele e a sua divindade pessoal. Em certos Círculos, tal ajuste, ou acordo, é conhecido pela denominação "A Última das Juras".

Intuirá também que o saber não é algo definido e estático, mas sim uma variedade infinita de impressões que, ao mesmo tempo, moldam e se adaptam ao Sábio. Ele saberá que seu ser estará em eterno movimento (uma verdadeira metamorfose ambulante, como bem o diria nosso querido Raul Seixas), aprendendo pelo experimento, pela observação e estudo, e ensinando tão somente pelo exemplo vivo no qual o buscador se tornou.

Deste modo ele fará as vias do simbólico lótus, o qual nascendo na vasa e permanecendo com suas raízes imersas em lodo e lama, ali mesmo encontra o alimento necessário a lhe permitir o rompimento das estruturas, das superfícies para, a partir daí, unicamente seguindo os desígnios de sua própria natureza, buscar a luz do sol.

Devemos, desta forma, estar bem atentos e conscientes do que representa para nossa vida o meio no qual nascemos e crescemos. Assim poderemos identificar e avaliar as informações por nós recebidas, e delas extrair tudo o que de fato precisamos para nosso avanço espiritual.

O meio no qual está inscrito o buscador, contudo, e apesar dessas restrições, tem papel deveras importante em sua formação. Em sociedades como a de nosso querido e maltratado país, por exemplo, quando praticamente toda a população se vê as voltas com a ignóbil e estéril falta de opção, "tupi-or-not-tupi", "ser ou ser" cordeiro, fica muito difícil crer, ou até mesmo imaginar, que o bom e sofrido cidadão de nível mediano, devido unicamente a retração de inteligência que lhe é brutalmente imposta, tenha sequer a capacidade de avaliar as parcas informações que recebe. Uma lástima.

Um outro agravante muito sério é erguido pelos fatores econômicos. Salvo raríssimas exceções (e, felizmente, elas existem), quase tudo que gira pelo universo da humanidade está necessariamente de acordo com o que é ditado pelos óbvios padrões de nosso mundo, cada vez mais neurótico-capitalista. De modo que se algo não dá lucro (e quanto maior melhor), não serve para existir. Será difícil supor que o misticismo - seja ele de qual tipo for, tenha ele o apelo que tiver - escape destas duras diretrizes.

E quando se observa, mesmo de relance, as estruturas de algumas entidades "filantrópicas" - no caso do Brasil, entidades "filantropicais" -, nota-se os claros indícios do oportunismo mascarado pelo grande álibi do chavão "caridade" ou "ajuda" ao próximo. Outra lástima bem desagradável.

Todavia, mesmo com toda a dificuldade existente, a necessidade premente de se saber falará mais alto no coração humano e no espírito do sincero buscador. E, por fim, como já dito, o sentimento determinativo de seu sucesso na senda estará na atitude e no apreço que ele tiver em relação ao que considera Sagrado. A busca do saber sempre será uma forte parte ativa da essência humana. E provavelmente todos terão, de uma forma ou de outra, chance de adquirir a tão almejada sapiência.

Porém, também seja dito, se é certo que a muitos será dada a chance de conquistá-la, igualmente é certo que nem tantos suportarão as conseqüências impostas pelo estado "saber".

Em que se pese toda a diversidade de conceitos e opiniões a respeito de como acontece a busca do saber, além das realizações e desilusões inerente à própria demanda do conhecimento, lembro de uma pequena e curiosa lenda atribuída àqueles fantásticos gigantes mitológicos de um olho só, os Ciclopes; a qual retrata, com notável precisão, a cábula que pode estar vinculada ao saber. Segundo essa lenda, conta-se que os Ciclopes eram seres alegres e felizes. Nessa época, eles possuíam os dois olhos, como todos os outros seres da região em que viviam.

Movidos por sua natureza investigativa, diz-se que os Ciclopes saíram em sua busca do conhecimento e da sabedoria maior. Assim, durante a jornada repleta de acontecimentos e aventuras, após muito procurarem, eles se depararam com um Grande Mestre, o Senhor dos Mundos Obscuros.

Os Ciclopes, então, contaram ao Mestre os seus anseios e perguntaram se este poderia, de alguma forma, ajudá-los. O Mestre, agindo de acordo com sua sinistra natureza, declarou possuir tal saber, o conhecimento dos conhecimentos, o maior dos segredos entre todos os segredos. "E este segredo será de vós. Tudo porém tem um preço!", disse com majestade o temível Grande Senhor dos Mundos Obscuros.

Entusiasmados diante da real possibilidade de conseguirem o tão almejado segredo, os Ciclopes, se declararam dispostos a pagar o preço necessário, fosse qual fosse seu valor, para finalmente terem a posse do cobiçado conhecimento. Nenhum esforço seria medido por eles para pagar o preço devido.

O Senhor dos Mundos Obscuros, então, propôs trocar o grande segredo por um olho dos Ciclopes.

A barganha foi feita e o logro obtido.

Os Ciclopes, assim, com um só olho, e de posse do Supremo Conhecimento, logo retornariam da longa jornada, à região de origem deles.

Os outros habitantes daquela região logo notaram o diferente aspecto dos gigantes. Porém, o que mais se fazia perceber naquelas colossais criaturas não eram os novos e estranhos traços das suas faces, mas sim a terrível mudança do estado de espírito deles. Onde antes estavam a alegria e a felicidade, agora habitam a tristeza e a sisudez.

Os demais moradores da região dos Ciclopes, acostumados com a habitual cortesia daqueles soberbos seres, não entendiam os motivos da drástica mudança de atitude. "O que terá acontecido a eles?" perguntavam atônitos entre si. Até que um dos gigantes, contou como fora a jornada em busca do conhecimento. Contou a respeito do anseio de sua raça pelo saber e pelo Sumo Conhecimento. Falou como eles decidiram partir na demanda de suas altas aspirações e também como ocorreu o fatídico encontro com o Grande Mestre. Narrou como se sucedeu a barganha que lhes fora proposto pelo terrível Mestre dos Mundos Abissais e, finalmente, sobre o tão desejado Saber, o Conhecimento que afinal lhes fora entregue: "o maior dos segredos, entre todos os segredos", disse de forma tristonha e melancólica o imenso Ciclope.

Foi quando alguém, dentre aqueles que escutavam o gigante, perguntou: "mas porque agora, ó colossal criatura, andais triste como o crepúsculo, porque agora os dias e as noites não têm mais importância para ti e por qual motivo a própria vida já não exerce encanto sobre todos da tua nobre raça, e justamente agora que vós possuís tão precioso saber?"

Ao que respondeu o Ciclope que o Saber que lhes fora conferido, era muito especial mas também deveras cruel; o maior dos segredos, entre todos os segredos; tão terrível quanto o seu Guardião, o Mestre dos Mundos Obscuros. Este era o Único Saber, e este consistia apenas do conhecimento preciso e completo de como e quando ocorreria a própria morte. A nobre raça dos Ciclopes agora estava condenada a nascer já perfeitamente ciente de como e quando se daria a própria morte. Desta feita, nada mais importava para aquelas grandes criaturas da região. Nada mais tinha importância. Por isso a tristeza e a melancolia agora seriam suas únicas e eternas companheiras.

O fardo era demais. E se fosse permitido a eles apenas mais um desejo, todos, sem exceção, escolheriam algo muito simples: ignorância...

Mas é claro que essa lenda apenas expõe um lado da questão. O triste lado da questão, é verdade. E devemos estar cientes disso. Contudo também é verdade que, embora dando o que pensar, essa lenda nunca inibirá (amém!) a ambição da humanidade pelo saber.

E mais, muito antes que qualquer conhecimento ou objetivo final seja alcançado, devemos estar atentos ao presente, a jornada, que é a própria vida. Pois que o grande aprendizado está, em si, no caminho a ser percorrido, no passo a passo e não apenas naquilo a ser, por fim, alcançado.

Se em todo o processo invocamos anjos ou demônios, se elevamos as mãos aos céu e oramos ao Deus Pai ou se, ajoelhados, entoamos aos gritos as "Litanias de Satã", de Baudelaire, ao final, isso até parecerá pouco ter importado. Assim, tristezas e alegrias devem se comungadas com o mesmo respeito e gratidão. Também valerá cultivar um respeito, não muito exagerado, é certo, por tudo no caminho. Não exagerar na seriedade é uma boa dica que vem de Hemingway, pois, segundo ele, as sementes do que seremos já nascem conosco, porém sempre pareceu que os que não levam a vida totalmente a sério têm as sementes cobertas por um solo generoso e bem adubado. E essa também é a nossa opinião.

E ainda no que diz respeito as tristezas que estão presentes na senda, não se ocupar em demasia com elas é um bem que se aprende, afinal, a vida é rápida e o futuro sempre existirá com possibilidades promissoras. E, como nos ensina Borges, ditosos são aqueles que sabem que o sofrimento não é uma coroa de glória.

Também vale ressaltar que o espírito de busca deverá continuamente estar alimentado por aquele fogo primaveril de quem inicia a jornada. De outra feita, correremos o sério risco de nos perder nas estéreis conjecturas do labirinto de nossa própria mente, sucumbindo, lentamente, ao entorpecimento do entusiasmo que é causado, duplamente, pelo peso de certas conquistas e de algumas descobertas.

Se todos nós que queremos, com todas nossas forças, desvendar os mistérios de nossa própria existência, estamos ou não apenas revivendo histórias já contadas e recontadas por outros tantos, isso na verdade nunca será de relevância. A busca pelo saber, por si só, o saber pelo saber, isto basta a muitos.

Tão pouco também terá valor a tola suposição de ser o saber maior uma lúdica e vã quimera, pois o Homem continua sendo o maior de todos os seres fantásticos.

"Ai de mim! da Filosofia,

Medicina, jurisprudência,

E, mísero eu! da teologia,

O Estudo fiz, com máxima insistência.

Pobre e simplório aqui estou,

E sábio como antes sou!"

Assim grita o Fausto de Goethe, quando inicia sua jornada em busca do saber maior. E mesmo sendo ele, um grande Doutor, entre tantos outros doutores, com toda a sua humana sapiência, partiu em busca dos mistérios da existência. Sejamos ou não pequenos Faustos em agonia, nós nunca escaparemos desta dupla aventura: de impor à vida os desígnios de nossas vontades e, em contrapartida, de receber as suas injunções.

Outrossim, foi deixado de propósito para este final as eternamente válidas e simples palavras de Pessoa, nos dizendo que "tudo vale a pena, se a alma não é pequena".

Carlos Raposo é escritor, pesquisador da História das Religiões, Filosofia Oculta e das Ciências Herméticas. Desde 1980 participou ativamente de várias Organizações de natureza mística, mágica e iniciática, sejam elas Herméticas, Maçônicas, Rosacrucianas, Thelêmicas, Teosóficas, Templárias ou Gnósticas. Após vários anos de estudo, prática e dedicação em diversas Ordens, por opção estritamente pessoal, tem se dedicado tanto ao estudo do Budismo Tibetano e do Taoísmo, quanto ao 'Ofício de Pedreiro', trabalho este exercido juntamente com outros Adeptos da Arte Real.

Nos anos 90 foi editor chefe da Revista Safira Estrela, a Revista da Filosofia Oculta, cujas edições estão esgotadas. Esta publicação, foi bastante apreciada pelo meio ocultista brasileiro, devido a seu caráter intenso, independente e ousado, abordando temas polêmicos, sempre objetivando a divulgação com qualidade do ocultismo e do esoterismo.

Atualmente, Carlos Raposo é responsável pelo Site Atemagicka e colaborador da Revista Sexto Sentido. Também atua como moderador das seguintes Listas de Discussão: Arte Magicka, uma das maiores Listas brasileiras de temática ocultista e da Lista Arte Real, cujo escopo abarca temas Maçônicos de modo geral.

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