sexta-feira, 29 de abril de 2011

A HUMANIDADE EM PLENO SÉCULO XXI AINDA NÃO CONSEGUIU SE LIVRAR DOS FUNDAMENTALISMOS.



Por Luiz Carlos Nogueira

nogueirablog@gmail.com

Em primeiro lugar é preciso entender que o fundamentalismo não é uma doutrina, ele é sim uma forma de interpretá-la e de viver consentaneamente com ela.

Os fundamentalistas se apegam estritamente à letra fria de um texto ou normas ditas sagradas, doutrinas políticas, etc. sem examinar-lhes o espírito.

Assim podemos inferir que esse termo ou designação “fundamentalismo” significa a simples adesão a uma determinada doutrina teológica ou qualquer outra, sem admitir quaisquer questionamentos de ordem intelectual ou racional.

Esse termo "fundamentalismo" surgiu como uma designação para e por aqueles que o defendiam, apregoando uma lista de credos teológicos desenvolvidos por um movimento protestante nos Estados Unidos, mais exatamente no alvorecer do século XX, pretendendo dirimir as controvérsias fundamentalistas modernistas que despontavam.

Na verdade esse movimento começou entre os conservadores teólogos Presbisterianos no Seminário Teológico de Princeton no final do século XIX, espalhando-se depois entre conservadores Batistas e de outras denominações evangélicas por volta de 1910-1920, tendo como finalidade reafirmar antigas crenças desses cristãos que as defendem contra o Darwinismo, a teologia liberal e o alto criticismo, assim como as de outros movimentos considerados como ameaças ao cristianismo.

Da Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana em 1910, surgiu a doutrina que ficou conhecida como os "cinco fundamentos", que são:

Daí para frente o termo “fundamentalismo” se generalizou para significar toda e qualquer adesão intransigente a qualquer credo, contrapondo-se às críticas que lhes são feitas. Contudo, o termo é mais aplicado no que diz respeito às religiões e com sentido pejorativo, porquanto o fundamentalista religioso, como já vimos, acredita nos seus dogmas, tomando-os como verdades absolutas que não admitem discussões que lhes contrariem. Assim, por extensão de sentido esse termo passou a ser usado por outras ciências para significar uma crença irracional e exagerada, dogmatizada e até mesmo fanática em relação às opiniões divergentes, como por exemplo, nas questões ligadas à política, economia, globalização e livre mercado.

Aliás, conforme o Dicionário Caldas Aulete, o fundamentalismo também está definido como: “3 Fig. Qualquer sistema (político, econômico etc.) que se apresenta como portador exclusivo da verdade e de solução única para problemas.”

É assim que o uso do termo fundamentalista não é só empregado para descrever grupos Cristãos, mas também é utilizado para se referir aos muçulmanos.

Todavia, os muçulmanos não se sentem bem quando lhes chamam fundamentalistas, referindo-se a grupos islâmicos, colocando-os no mesmo contexto, porque o termo “islâmico” generaliza todos os religiosos seguidores do Alcorão, sendo que os escritores ocidentais usam esse termo referindo-se a grupos extremistas.

Todo fundamentalista tem atitudes e adota o seu ponto de vista como sendo de caráter absoluto, sentindo-se o único detentor da verdade. Para ele não existe outra verdade que não a sua, por isso é intolerante, despreza e se torna agressivo para com quem não nutre a mesma crença e fé que a dele. Essa é a razão de tantos conflitos religiosos que tem destruído inúmeras vítimas.

Na questão fundamentalista religiosa trago como exemplo o cristianismo e o islamismo por serem as duas maiores do mundo, seguidas pelo judaísmo.

Ora, o Velho Testamento está impregnado da mentalidade fundamentalista que, com base nos seus textos, não tolerava qualquer desvio de opinião, muito menos a liberdade de religião. Tanto isso é verdade que Jesus foi crucificado por pregar uma nova mensagem que não estava de acordo com os ensinamentos de Moisés. Além disso, o Mestre de Nazaré foi considerado impuro por se ter tocado nos leprosos para lhes curar as chagas. Também foi acusado de haver transgredido a lei do sábado, porque curou os doentes nesse dia. Assim é que essas “transgressões” eram punidas com a pena de morte, por conta da interpretação fundamentalista da Lei de Moisés.

O próprio Mestre Jesus não era fundamentalista, conforme se pode ver em Lucas 10:27 “Respondeu-lhe ele: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.”

O próximo ao qual se referia era qualquer uma pessoa, independente do sexo, raça, cor, posição social ou da religião que abraçasse.

Portanto as religiões ditas cristãs deveriam observar os ensinamentos de Jesus, que a ninguém discrimina, as suas prédicas com o sermão da montanha e as exortações ao amor feitas pelo apóstolo Paulo (I Coríntios 13).

Da mesma forma o Islamismo original nunca foi guerreiro ou fundamentalista, mas sim tolerante, afirmando que todas as criaturas são de Deus e por isso devem se ajudar mutuamente. O Alcorão que é o seu Livro Sagrado (tido como a revelação verbal, transmitida por Deus, em árabe, ao profeta Maomé), demonstra um grande respeito por Jesus e Maria, conforme se depreende das Suratas 2 e 3:

"AL BÁCARA"
(A VACA)
Revelada em Madina, 286 versículos.
2ª SURATA

“Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

[...]

253 De tais mensageiros preferimos uns aos outros. Entre eles, se encontram aqueles a quem Deus falou, e aqueles que elevou em dignidade. E concedemos a Jesus, filho de Maria, as evidências, e o fortalecemos com o Espírito da Santidade. Se Deus quisesse, aqueles que os sucederam não teriam combatido entre si, depois de lhes terem chegado as evidências. Mas discordaram entre si; uns acreditaram e outros negaram. Se Deus quisesse, não teriam digladiado; porém, Deus dispõe como quer.”

"AAL ‘IMRAN"
(A FAMÍLIA DE IMRAN)
Revelada em Madina; 200 versículos.
3ª SURATA

“Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso.

[...]

45 E quando os anjos disseram: Ó Maria, por certo que Deus te anuncia o Seu Verbo, cujo nome será o Messias(148), Jesus, filho de Maria, nobre neste mundo e no outro, e que se contará entre os diletos de Deus.”

Como já me referi, o fundamentalismo também se dá no campo da ideologia política e econômica, como é o caso da globalização econômica cujos tentáculos se lançam sobre todos os povos, sob a falsa alegação da interdependência necessária das necessidades humanas, o que na verdade forçam as dependências às grandes corporações por conta dos seus capitais especulativos, dominando as economias dos países, desestabilizando-os para a única satisfação dos seus interesses, sem se importarem com o bem comum das pessoas que terminam por serem excluídas. Nisso até as questões ecológicas são desconsideradas comprometendo a sustentabilidade do nosso planeta.

Como se pode ver, o fundamentalismo não acontece apenas no âmbito religioso; ele está presente em todos os campos da sociedade humana, como sendo o paladino da verdade científica, cultural, política, econômica e até mais além que só Deus sabe.

Por conseguinte, enquanto concatenava meus pensamentos para escrever este artigo, ocorreu-me que os ateus poderiam ser fundamentalistas. E pesquisando na Internet deparei com a CRÍTICA Blog de Filosofia (http://blog.criticanarede.com/2008/09/pode-um-ateu-ser-fundamentalista.html), no qual o Sr. Rolando Almeida fez a seguinte pergunta: Pode um ateu ser fundamentalista?

De tal sorte copiei a parte da pergunta, assim como o comentário feito pelo Sr. Vitor Guerreiro, para responder à pergunta, por considerar uma boa colocação. Ei-las (pergunta e resposta):

15 de Setembro de 2008

Pode um ateu ser fundamentalista?



Ao ler o livro de 2007 de A. C. Grayling, Against all gods, Six polemics on Religion and an Essay on Kindness, lembrei-me de colocar aqui um interessante problema levantado num dos capítulos do livro e que gostaria de deixar à consideração dos leitores: Pode um ateu ser um fundamentalista? Escrevam as vossas teses devidamente argumentadas na caixa de comentários.

Rolando Almeida

13 comentários:

Vitor Guerreiro disse...

“Em primeiro lugar, precisamos de uma definição explícita de ‘fundamentalismo’. À falta de uma melhor, proponho esta — ‘recusa de rever os fundamentos ou as crenças mais básicas’. Digamos que o fundamentalismo é um anti-revisionismo por princípio. Quem está habituado às macaquices da política sabe que normalmente se abomina o revisionista não em função de as suas ideias serem melhores ou piores mas pelo simples facto de estar a rever alguma crença fundamental.

Dito isto, podemos reformular assim a pergunta original: ‘pode um ateu ser o género de pessoa que recusa rever as suas crenças fundamentais?’

Agora precisamos de uma definição explícita de ‘ateu’. O que é um ateu? À falta de melhor, fiquemos com isto — ‘um ateu é alguém que crê na inexistência de deuses pessoais ou entidades sobrenaturais de qualquer género, pessoais ou impessoais’.

A resposta parece ser ‘sim’. Os ateus são como os chapéus: há muitos! Um ateu fundamentalista é alguém que, como qualquer outro fundamentalista, acredita na verdade de certas proposições, independentemente dos argumentos que as sustentam ou refutam. Para qualquer crença, é possível ter essa crença com base em argumentos (não interessa aqui a força dos argumentos nem a verdade da crença) ou com base na fé.

Ser ateu, infelizmente, não é estar vacinado contra a ideologia e os modos ideológicos de aceitar e defender coisas.

16 de Setembro de 2008 04:47”

Nos últimos tempos grassou pelo planeta o fundamentalismo da ideologia política do neoliberalismo, apresentando-se como a única solução para erradicar todas as carências da humanidade, sendo que a sua lógica, na prática, é de tornar-se acumulador de bens e serviços, o que veio criar graves desigualdades e injustiças sociais, quando não explorando mãos-de-obra baratas, também as dispensando. E ainda não podemos nos esquecer de que também essa ideologia criou sistemas predadores da natureza.

O neoliberalismo se apresentou e ainda se apresenta como uma política democrática, porém, técnicamente pratica uma ditadura econômica, cria o desejo de consumo de coisas desnecessárias para a massa populacional, que acredita que fora do consumo não há salvação para sua sanidade psicológica e emocional.

É exatamente o fundamentalismo sob todos os seus aspectos, que tem provocado as guerras, a fome, os lares desfeitos, a não realização da Justiça, sofrimentos de toda ordem, agravos ao meio ambiente, etc, etc. porque ele nasce da arrogância do ser humano.

Um comentário:

  1. NASCI NO MEIO DO FUNDAMENTALISMO, A CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL FOI CRIADA EM 1910 EM SANTO ANTONIO DA PLANTINA POR LOUIS FRANCESCONI, UM AMERICANO DESSIDENTE DA IGREJA PRESBITERIANA TRADICIONAL E MAIS TARDE JUNTAMENTE COM OS IRMÃOS VALDETES VIERAM PARA O BRASIL ONDE IMPLANTARAM ESSA DENOMINAÇÃO CCB,POR OUTRO LADO CONHECI OS BATISTAS ONDE SOU EX-SEMINARISTA E COMPLETEI QUATRO SEMESTRES E ALI TBÉM ESTÁ BEM FINCADO O FUNDAMENTALISMO... HJE SOU UM TANTO CÉTICO E PREFIRO VIVER...SEM SENTIMENTO DE CULPA E SEM REMORSOS OU TRAUMAS... TUDO QUE VC ESCREVEU ESTÁ CORRETO E LHE DOU PARABÉNS PELA BELA PESQUISA E CONHECIMENTO... PAZ PROFUNDA!

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