Sarah la Kali
A primeira menção histórica a respeito de Sarah la Kali foi encontrada em um texto escrito em 1521, por Vincent Philippon intitulado, A Lenda das Santas-Marias. Suas páginas manuscritas encontram-se agora na biblioteca de Arles. Nesta versão da lenda, Sarah vivia em Camargue, sul da França (sem mais detalhes) entre ciganos do clã Sinte.
De acordo com outra narrativa, Sarah era de nascença uma egípcia e foi para a Palestina como escrava de José de Arimatéia. Este, que no ano 50 d.C empreendeu fuga da perseguição romana aos cristãos, viajando através do mar em uma pequena embarcação acompanhado de Maria Jacobina (irmã de Maria de Nazaré), Maria Salomé(mãe dos apóstolos João e Tiago) e Maria (mãe de Jesus). Eles se depararam com uma tempestade severa e segundo essa versão da lenda, Sarah guiou a todos, por meio da leitura das estrelas, para a costa distante, no sul da França.
Em outra lenda que nós, ciganos Sinte, acreditamos muito mais ...Sarah la Kali foi uma cigana que estava acampada na costa ao sul da França, quando o barco em questão se aproximou. E o contato entre ela e as "marias vindas do mar" se deu da seguinte forma: de acordo com Franz Ville, autor do livro (Tziganes, editado em Bruxelas 1956): " Uma de nossa gente foi quem recebeu a primeira revelação e essa pessoa foi Sarah la Kali. Nascida em uma família cigana, Sarah la Kali foi a pessoa principal de seu clã em Rhone (antigo nome da atual cidade de Saint Marie de La Mer). Ela foi escolhida como sacerdotisa-iniciada nos elementos Terra, Água e Ar e é por esse motivo que se vestia de preto, daí seu nome Sarah la Kali (em Romanês, Kali significa preto). Conhecedora de todos os segredos a ela transmitidos, e diga-se de passagem eram muitos os segredos; pois nós, ciganos, a esse tempo já conhecíamos os fundamentos de várias religiões e dominávamos várias formas de ocultismo. Nessa época uma vez por ano, os ciganos Sinte colocavam em seus ombros a estátua de ISHTAR (a filha da Lua) e entravam no mar para receber suas bençãos ( fato que atualmente ocorre com a imagem de Sarah la Kali). Ainda há registros nas tradições orais em Romani desta parte da lenda:
" um dia Sarah la Kali teve visões que a informaram: as "marias" que estiveram presentes à morte de Jesus viriam para sua região e que ela as ajudaria. Sarah viu-as chegando em um barco. O mar estava bravio e ameaçava afundar a embarcação. Sarah lançou seu lenço nas ondas e, usando o mesmo, caminhou sobre as águas ajudando as "marias" a desembarcarem em segurança.
A bem da verdade Saintes-Maries-de-la- Mer , ou "santas marias do mar ", é uma pequena vila de pescadores localizada no centro-sul da costa do mediterrâneo, França, na região de Camargue de Bouches-du-Rhone. Escavações arqueológicas e lendas locais indicam que a região tem sido venerada como um lugar sagrado por uma sucessão de culturas, incluindo os celtas, romanos, cristãos e, mais recentemente, nós, os ciganos. Uma vez que era o local sagrado da deusa tríplice celta – ligada às águas ( a deusa tríplice é o cerne das religiões pagãs e está presente em diversas culturas). Na cultura celta, há várias deusas que assumem esse papel de deusa tríplice, trazendo em si as três fases da vida: nascimento, crescimento e morte. São representadas por uma mulher que traz em si a adolescente, a mãe e a anciã. O três ou a tríade, antes mesmo de ser usado no Cristianismo, era a base da magia e religião celta, pois se baseava não só nas três fases da vida, mas também nas estações (que no início eram contadas como três – sendo que uma dependia da Terra, outra da Água e a última do Ar ). Em época celta a cidade possuía uma deusa da primavera conhecida pelo nome de Oppidum Priscum Ra. A adoração a deusa tríplice da água foi substituída por templos romanos dedicados a Artemis, Cibele e Ísis. Já em 542 dC, a cidade era conhecida como Saintes-Maries-de-la-Barca, em 1838, recebeu seu nome atual: o de “Saint Maries de la mer”. Fontes históricas mencionam uma igreja do século 9 construída na vila, mas muito pouco se sabe sobre a história da cidade antes do século 14, por causa de sua localização remota. Não se sabe exatamente quando e por que a igreja da vila se tornou o local mais sagrado dos ciganos"manushes" , algum tempo após sua chegada na Europa no início dos anos 1400.
Outros aspectos de Sarah la Kali:
Quando nas lendas aparece a referência de que ela foi escolhida como sacerdotisa iniciada, na realidade isso equivale a dizer: ela era a personificação de uma Shakti. E dentro dos conceitos atávicos que trouxemos do norte da Índia, como personificação de uma Shakti, Sarah la Kali exercia a proteção dos oprimidos e perseguidos e é por isso que alguns clãs ciganos peregrinam rumo ao "santuário" de Sarah la Kali, em Saint Marie de la Mer, na França.
Fonte: Embaixada Cigana do Brasil - Clique aqui para conferir
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