Luiz Carlos Nogueira
nogueirablog@gmail.com
Conforme o Dicionário
Caldas Aulete, define-se filosóficamente, o substantivo masculino — Deísmo —
como um “Sistema ou atitude dos que admitem a existência de um Deus, mas que
negam a autoridade de qualquer Igreja”
Para os deístas, há
um Deus criador do universo que não interfere diretamente no mundo, porquanto o
mesmo é governado pelas leis naturais Dele emanadas e que a ciência reconhece
muitas delas, por meio da química e da física. É justamente por conta disso,
que os deístas não reclamam sacerdotes para o mundo, pois o ser humano não
precisa de intermediários, já que as Leis de Deus se cumprem, e para isso basta
observarmos a harmonia dos astros e planetas, sustentados por uma força
invisível e guiados como que por uma consciência que tudo envolve, desde a
microscópica ameba .
E em não havendo
necessidade de sacerdotes, também não há necessidade de rituais ou qualquer
coisa parecida. Porém, entre os deístas as opiniões não são necessariamente
iguais, mas no geral refutam a idéia de que a Bíblia revela a Palavra de Deus.
Segundo eles, não há como saber os planos de Deus para a humanidade e as
religiões não passam de invenções humanas, como um meio de controle social.
A
maioria dos deístas, se não exagero, afirma que, se uma revelação realmente tenha
acontecido para alguém, então ela só poderá valer apenas para esse alguém que a
recebeu, não significando que possa se transformar numa verdade absoluta e
universal, para se tentar impô-la a todos.
O Deísmo, no campo
das investigações metafísicas converge para a lógica e enfrenta as questões
sobre a existência de Deus através da razão, que é completamente distanciada das
religiões teístas que professam a fé dogmática, que acreditam nas revelações
divinas e nas tradições nunca questionadas. Para os deístas, Deus se revela
através da ciência e das Leis da Natureza.
O fato de alguém
simplesmente não acreditar nas religiões, isto só não a coloca sob a
denominação de deísta. Da mesma forma, como ser deísta não é simplesmente a
pessoa acreditar em Deus. É necessário que tal pessoa veja o mundo e a vida
nele inserida, sob o ponto de vista científico – portanto, racional, de sorte
que pode conceber a idéia de que Deus, não interferindo no mundo, deixa-o
seguir o seu curso natural amparado por suas leis que a ciência conhece muitas
delas.
Para um grande número de
deístas que conheço, se existem milagres — a própria vida, a inteligência
humana, a harmonia dos mundos, a consciência ainda que rudimentar dos vegetais,
as organizações das estruturas geométricas dos cristais, etc. etc, — são
milagres. Não há necessidade de alguém fazer um bule voar, para dizermos que isso seria um milagre, porque
o mais difícil, para não dizer impossível, seria alguém fazer inverter a lei da
gravidade. De tal sorte, fora disso, para os deístas, tudo o que aparentemente
é um milagre — não é senão fruto das leis naturais emanadas de Deus.
É interessante trazer a
lume, como Plotino, filósofo[1] que
viveu no período de 205 a
270 d.C, glorificado como “o pai do neoplatonismo”, filosofava sobre Deus,
referindo-se a Ele como o UNO:
[...]
“O Uno é todas as coisas e não é
nenhuma delas. Ele é o princípio (archê) de todas as coisas; e, se não é
nenhuma delas, no entanto é todas as coisas de um modo transcendente, pois de
certo modo, elas estão no Uno. Ou melhor, nem todas estão nele, mas estarão.
Então, como todas as coisas provêm do Uno, que é simples e não tem em sí
multiplicidade alguma e nem mesmo dualidade alguma? É pelo fato de nada haver
nele que todas as coisas provêm dele. Para que o Ser possa existir, o Uno não é ser, mas sim o gerador do Ser.[..]”
[...]
“Portanto, o Uno não é a Inteligência, mas está antes da Inteligência. Pois
a Inteligência é algo que faz parte dos seres, mas o Uno não é algo, uma vez
que está antes do algo. E o Uno também não é o Ser, pois o Ser tem, de certo
modo, uma forma, que é a do Ser; mas o Uno é privado de forma, mesmo de forma
inteligível. Uma vez que a natureza do Uno gera todas as coisas, ele não é
nenhuma delas. Assim, não se pode dizer nem que ele é alguma coisa, nem que é
qualificado ou quantificado, nem que é Inteligência ou Alma. Ele não é movido,
mas tampouco está em repouso; não está num lugar, nem no tempo. Ele está em si
mesmo, tendo a forma da unicidade. Ou melhor: é sem forma (amorphon), anterior
a toda a forma, anterior ao movimento e anterior ao repouso, pois tais coisas
se encontram no Ser, e são elas que fazem com que ele seja múltiplo.”
“[...] tais definições não passam de nossas próprias percepções e estados
que tentamos exprimir, nós que circulamos exteriormente ao seu redor, às vezes
nos apoximando, às vezes nos afastando d’Ele devido ao enigma no qual está
envolvido.”
“A maior causa dessa dificuldade decorre do fato de a compreensão do Uno
não poder se dar nem pelo raciocínio (logismoi), nem pela percepção intelectual
— como ocorre com os outros objetos do pensamento -, mas por uma presença que é
superior a qualquer raciocínio.[...]”
Segundo pensam os deístas, Deus não dá
prêmios e nem castigos às pessoas, pelos seus atos, porque acreditam que cada
um é responsável por suas ações e, portanto, se sujeitam às consequências que
delas possam advir. É algo parecido como a Lei da Causa e Efeito, ou a Lei do
Carma, segundo a qual, cada um colhe o que planta.
Por essa forma de pensar, os deístas não
rezam para pedir benesses ao Deus desconhecido — suas preces são feitas sim —
mas de agradecimento.
[1] Tratados
das Enéadas/Plotino; tradução, apresentação, introdução e notas de Américo
Sommerman. — São Paulo: Polar Editorial, 2000.
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