Luiz Carlos Nogueira
Lembro-me de um pequeno conto alegórico,
porém não do nome do autor ou se era um texto anônimo, mais ou menos assim: tratava-se
de um discípulo que reclamava para o seu mestre, perguntando-lhe ao mesmo tempo,
o que ele deveria fazer para se tornar um santo mais rapidamente, já que ele
tinha feito voto de pobreza e vivia enclausurado, tinha apenas uma túnica
branca, fazia prolongados jejuns e quando comia a sua ração, nunca a consumia
toda, dormia no chão, muitas vezes ao relento, sem nenhum forro e travesseiro,
castigava o corpo com um cilício, ou seja, fazia coisas que nem o diabo se
sentia bem de ver.
O mestre chamou-lhe para perto de uma
janela de onde podia avistar um pátio mais abaixo, E então disse ao discípulo:
vês lá embaixo, aquele cavalo branco magro? Pois bem, ele também faz um enorme
esforço puxando uma carroça com muitas coisas extremamente pesadas em cima,
leva muitas chibatadas do seu dono, não bebe água quase o dia inteiro enquanto
puxa a carroça, come uma ração muito pobre e pouca. Ao final do dia é recolhido
naquele pequeno terreno onde fica fechado até ao amanhecer quando recomeça todo
o seu suplício. Durante a noite rola no chão porque lhe dói a barriga e por
causa das suas dores musculares, que tenta aliviá-las — mas nem por isso ele se
tornou um santo. O que é pior ainda, é que se você chegar perto e
descuidadamente assustá-lo, ele pode lhe dar um coice capaz de lhe quebrar os
ossos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário