Luiz
Carlos Nogueira
Conta-se que dois indianos, um jovem e forte e o outro já
idoso, encontraram-se casualmente pelo caminho por onde peregrinavam.
O idoso possuía um enorme bigode que nunca raspou desde
que começou a nascer debaixo do seu nariz. Porque não dizer que nos dias de
hoje poderia até ter entrado para o antigo Guinness
Book of Records (atualmente: Guiness
World Recods)
Pois bem, o idoso tinha o extremo cuidado com o seu
grande bigode, durante o tempo todo da sua peregrinação em busca da sabedoria e
de Deus. Tanto era o seu, digamos, amor pelo seu bigode, que o jovem lhe
perguntou: por qual razão tens esse bigode tão longo que te causa muito
trabalho para cuidá-lo?
Ora! Disse o quase ancião, convicto: E por que tu me
aborreces com essa pergunta? Não sabes que ele é a testemunha das minhas
penosas provas, pelas quais venho passando? Que ele simboliza toda a sabedoria
que já adquiri?
Ao que disse o rapaz, como se fora um genuíno mineiro,
embora fosse indiano: Uai?! E quem pode afiançar que o tamanho do teu bigode corresponde
à tua sabedoria?
Mas o peregrino idoso, demonstrando arrogância redarguiu:
Cala-te, tu és muito jovem e nada sabes dessas coisas! Ser-te-á proveitoso se
assim o fizeres, pois poderás então me acompanhar se quiseres aprender alguma
coisa!
Percebendo que de nada adiantaria replicar, o jovem
resolveu seguir o idoso silenciosamente, adentrando por uma floresta.
Mas eis que de repente, no meio da estrada havia um
grande buraco coberto pelas folhagens. O idoso precipitou-se no vazio ficando
preso por um lado do seu grande bigode, na fenda de um ressecado tronco de
árvore quebrado. Vendo que o idoso só poderia ser salvo se desembaraçasse o seu
bigode do referido tronco, o jovem peregrino estendeu-lhe a mão entregando-lhe
uma faca, dizendo para que o mesmo lhe desse as mãos e cortasse o bigode, para
se salvar.
Mas, categórico e irado o idoso peregrino recusou a fazer
o que o jovem lhe havia proposto, dizendo-lhe: Que dizes óh infiel!? Esqueceste
de ele (o bigode) é a prova do que já conquistei?
Logo em seguida, ouviu-se um estalo e o velho tronco de
árvore soltou-se levando consigo o velho peregrino para o fundo do buraco, onde
se quebrou todo e morreu.
Dizem que é comum os Mestres Ascensos da Grande Loja
Branca (como se houve falar por aquelas bandas), costumavam observar esses
peregrinos que buscavam a iluminação. Dessa forma o “Mestre X” que acompanhou
todo o movimento cármico da dupla (no qual ele não pode interferir),
manifestou-se dizendo ao jovem peregrino: Não te culpes e nem te inquietes pela
estultice do teu companheiro de caminhada, pois a ti pode ser conferida uma
nobre honra!
Mas, “Mestre X”, não posso entender o que me estás
dizendo!
Ora, meu jovem! Apesar de muito novo, acabaste de
aprender como os seres humanos que dizem estar na busca da iluminação, da
sabedoria e de Deus, podem trocá-las pelas tolas conquistas da senda. O que era
afinal um bigode para não ser cortado em troca da vida? Afinal o que ele
representava não era nada menos do que a vaidade, a presunção e a ilusão da sua
própria grandeza, porquanto tudo quanto se conquista no caminho para buscar a
Deus — não é Deus. A iluminação sim, leva à sabedoria, e a sabedoria leva a
Deus.
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