quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O peregrino que encontrou a morte apenas para não cortar o bigode


 

 


 

 





Luiz Carlos Nogueira





Conta-se que dois indianos, um jovem e forte e o outro já idoso, encontraram-se casualmente pelo caminho por onde peregrinavam.

O idoso possuía um enorme bigode que nunca raspou desde que começou a nascer debaixo do seu nariz. Porque não dizer que nos dias de hoje poderia até ter entrado para o antigo Guinness Book of Records (atualmente: Guiness World Recods)

Pois bem, o idoso tinha o extremo cuidado com o seu grande bigode, durante o tempo todo da sua peregrinação em busca da sabedoria e de Deus. Tanto era o seu, digamos, amor pelo seu bigode, que o jovem lhe perguntou: por qual razão tens esse bigode tão longo que te causa muito trabalho para cuidá-lo?

Ora! Disse o quase ancião, convicto: E por que tu me aborreces com essa pergunta? Não sabes que ele é a testemunha das minhas penosas provas, pelas quais venho passando? Que ele simboliza toda a sabedoria que já adquiri?

Ao que disse o rapaz, como se fora um genuíno mineiro, embora fosse indiano: Uai?! E quem pode afiançar que o tamanho do teu bigode corresponde à tua sabedoria?

Mas o peregrino idoso, demonstrando arrogância redarguiu: Cala-te, tu és muito jovem e nada sabes dessas coisas! Ser-te-á proveitoso se assim o fizeres, pois poderás então me acompanhar se quiseres aprender alguma coisa!

Percebendo que de nada adiantaria replicar, o jovem resolveu seguir o idoso silenciosamente, adentrando por uma floresta.

Mas eis que de repente, no meio da estrada havia um grande buraco coberto pelas folhagens. O idoso precipitou-se no vazio ficando preso por um lado do seu grande bigode, na fenda de um ressecado tronco de árvore quebrado. Vendo que o idoso só poderia ser salvo se desembaraçasse o seu bigode do referido tronco, o jovem peregrino estendeu-lhe a mão entregando-lhe uma faca, dizendo para que o mesmo lhe desse as mãos e cortasse o bigode, para se salvar.

Mas, categórico e irado o idoso peregrino recusou a fazer o que o jovem lhe havia proposto, dizendo-lhe: Que dizes óh infiel!? Esqueceste de ele (o bigode) é a prova do que já conquistei?

Logo em seguida, ouviu-se um estalo e o velho tronco de árvore soltou-se levando consigo o velho peregrino para o fundo do buraco, onde se quebrou todo e morreu.

Dizem que é comum os Mestres Ascensos da Grande Loja Branca (como se houve falar por aquelas bandas), costumavam observar esses peregrinos que buscavam a iluminação. Dessa forma o “Mestre X” que acompanhou todo o movimento cármico da dupla (no qual ele não pode interferir), manifestou-se dizendo ao jovem peregrino: Não te culpes e nem te inquietes pela estultice do teu companheiro de caminhada, pois a ti pode ser conferida uma nobre honra!

Mas, “Mestre X”, não posso entender o que me estás dizendo!

Ora, meu jovem! Apesar de muito novo, acabaste de aprender como os seres humanos que dizem estar na busca da iluminação, da sabedoria e de Deus, podem trocá-las pelas tolas conquistas da senda. O que era afinal um bigode para não ser cortado em troca da vida? Afinal o que ele representava não era nada menos do que a vaidade, a presunção e a ilusão da sua própria grandeza, porquanto tudo quanto se conquista no caminho para buscar a Deus — não é Deus. A iluminação sim, leva à sabedoria, e a sabedoria leva a Deus.

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