terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A LENDA DE NEFERHOTEP E A SEMELHANÇA COM A LENDA DE HIRAM ABIFF











Luiz Carlos Nogueira




Segundo os veículos noticiosos, por volta dos meados de 2005, foi encontrada por arqueólogos franceses, nas ruínas do antigo templo de Karnak, no Egito, uma estátua de tamanho natural, ou seja, de um metro e oitenta centímetros de altura, esculpida em pedra calcária, que seria do faraó Khasekhemre Neferhotep I, que teria reinado aproximadamente entre 1.696 a 1.686 a.C. 

Portanto, Neferhotep I foi rei entre a 13ª e 14ª dinastias do Egito. Ele era filho de um sacerdote do templo de Abido, o que deve ter contribuído para sua subida ao trono, já que não havia sangue real em sua família.

A estátua desse rei foi feita com um adorno em sua cabeça, que era denominada de nemes, tendo em suas mãos uma maçã. Atualmente há uma legenda informando (??) que Neferhotep I, foi o 22.º faraó da XIII dinastia (c. 1783 até após 1640 a.C.).

Pois bem, segundo algumas fontes, há uma narração em um papiro da época do reinado do faraó Seti II (faraó da XIX dinastia egípcia, que governou entre cerca de 1200 e 1194 a.C.), que havia naquela época, conflitos entre um grupo de construtores do Vale dos Artesãos no antigo Egito, quando Neferhotep era um dos dois capatazes  das construções da necrópole de Deir el Medina, sendo que Paneb, seu filho adotivo, cobiçava-lhe o cargo.

Neferhotep e sua esposa Uabkhet, não tiveram filhos, por isso, além de adotar Paneb, o fizeram casar com Uabet, parente muito próxima de Hay, que era um outro capataz, para que o adotado pudesse dar continuidade à sua linhagem.

Ora, Neferhotep era um destacado capataz descendente de uma respeitável linhagem de mestres construtores, muito conhecida pela sua especialidade, razão pela qual já prestavam serviços para diversas dinastias de faraós, no Vale dos Artesões. Aliás, ele, como a maioria dos construtores operativos em Deir el Medina, era muito hábil na construção de edificações sagradas, tais como templos e sepulcros.

A capatazia de Neferhotep, ele a herdou de seu pai Nebnefer (que também era um chefe construtor), por isso lhe era dado grande prestígio naquela região. Essa ocupação lhe rendia bons ganhos, além de proporcionar a posse de terras na quais era estabelecido com sua família. De tal sorte, aos capatazes competia escolher seus serventes (aprendizes), quase sempre originários da própria família, como irmãos e filhos.

Ocorreu que Paneb, o filho adotivo de Neferhotep, assim como o seu irmão (tio de Paneb) mais novo, Amennakhte, começaram a disputar a sucessão ao cargo de capataz e, por consequência, tudo o mais que competia a cargo, além do prestígio.

Num papiro existente no British Museum, segundo informações, está registrado um relato no qual Amennakhte teria imputado a Pane, várias transgressões quando litigavam pela sucessão de Neferhotep.

Conta-se que Paneb, não obstante tivesse sido um excelente capataz, além de mulherengo, costumava se embriagar e por isso tornava-se colérico e extremamente violento, por conseguinte, era de má índole, aliás, tinha, além disso e apesar de ser instruído, o vício de furtar e roubar, conforme o seu tio adotivo Amennakhte, o teria denunciado. Segundo esse seu tio, Paneb desviara mobílias utensílios da tumba real para utilizá-los em seu próprio sepulcro que estava construindo. Até o ferramental de propriedade real, Paneb carregava consigo. Até os empregados que ele contratava para cortar pedras para as obras da tumba do Rei Seti II, tinham que furtar todos os dias, algumas pedras para serem utilizadas na sua própria tumba. Paneb furtava até dos seus empregados.

Outro ponto negativo do caráter de Paneb, era o de extorquir de todas as formas os seus operários, forçando-os a fabricar sua mobília funerária e até outros objetos, como também de serem obrigados a alimentar o seu gado. Até os objetos de tecelagens, devia ser produzidos para ele, pelas esposas dos seus operários.

Foi nesse seu clima que Paneb, ambicionando o Cargo de Capataz, assim como teria acontecido com Hiram Abiff, quando os três celerados rufiões Jubelas, Jubelos e Jubelum, queriam arrancar-lhe os segredos do seu posto de Mestre Construtor, acabaram por assassiná-lo.

Conforme era estruturada a sociedade de operários do Vale dos Artesões, que trabalhavam no ofício de pedreiros, havia um Vizir com dois Capatazes que dirigiam, cada um, a sua equipe, exatamente como a Maçonaria opera com o Venerável Mestre, que a preside, e dois Vigilantes, que por suas vezes dirigem as suas Colunas.

Assim também eram os que trabalhavam na necrópole real da 13ª dinastia, denominados “Servidores no Grande Lugar”, que eram dirigidos por dois Capatazes, sendo um para cada equipe, como na Maçonaria deve haver 2 Vigilantes — um para cada coluna, sob a presidência do Venerável Mestre. Assim é que, os Capatazes eram também chamados de “Chefe da Equipe no Local da Verdade”

A direção dos operários do Vale dos Artesões, era atribuída aos 2 Capatazes indicados pelo Vizir (assim como na Maçonaria os Vigilantes são indicados pelo Venerável Mestre — uma para cada coluna), sendo um para cada equipe, evitando dessa forma as concentração de uma só pessoa no canteiro de obras.

Ora, assim como na Maçonaria em que a lenda diz que Hiram prestava culto numa espécie de sanctum, ou lugar destinado a JHVH[1], Neferhotep prestava seu culto ao seu deus, na "Câmara de MAAT". Como se pode ver ambos os mestres construtores (Neferhotep e Hiram) achavam-se sob as ordens dos seus reis, para executar suas construções e outras tarefas sagradas — o que motivou a inveja de alguns Companheiros de Ofício e por isso desejavam usurpar-lhes o lugar.

Na lenda de Hiram Abiff, o que os seus matadores queriam era obter a senha ou palavra de passe, que os autorizaria a ingressar na Câmara reservada ao Mestre Construtor e assim descobrir seu segredo da arte de construir. Ora, como se pode observar tudo não passa de um ensinamento mediante uma alegoria moral, pois é evidente que não seria possível a esses companheiros assassinos, ascenderem profissionalmente naquela época longínqua, meramente apropriando-se de uma senha (palavra de passe, palavra de mestre).

Ademais, esses celerados haveriam de saber que para se transporem para um grau mais elevado, exigir-se-ia ritualística apropriada, além do que, se eventualmente os três pudessem e ainda se fosse possível magicamente, tendo obtido tal senha antes de completarem seu período de aprendizado, obterem regalias indevidas, Hiram Abiff poderia ter-lhes dado uma palavra falsa — se existisse uma verdadeira.

De tal forma — fica claro que sobre a transmissão de uma senha ou palavra de passe, não pode ter naquele contexto histórico, qualquer fundamento ou lógica.

Por esse motivo, tanto Neferhotep quanto Hiram Abiff — Chefes Construtores  foram assassinados por três celerados Companheiros de Ofício, que alegoricamente representam a ignorância, o fanatismo e a ambição. Nesse contexto é que a Lenda de Hiram contém ensinamento para mostrar os três maus companheiros do Homem.

Eis então, que os Companheiros de Ofício, traidores, já eram conhecidos pelos seus maus comportamento, sendo que a Confraria, após envidar esmerados esforços, encontra-os e seus crimes são descobertos, acabando por serem executados por seu sacrilégio, assim como Paneb.

Como se vê, há coincidências entre a narrativa resumida do reinado de Nefrhotep I  e a Lenda Maçônica de Hiram Abiff. De sorte que, para a Maçonaria Moderna, a probabilidade de que a Lenda de Hiram Abiff, tenha tido como fonte os episódios que teriam marcado o reinado de Nefrhotep I, é bastante razoável; se bem que há outras lendas também envolvendo ou relacionadas com a arte ou ofício de construir.

Tanto os episódios dos Mestres Nefrhotep I e Hiram Abiff, servem-nos como advertência de que o mal pode habitar o coração dos homens e, fazer deles seus servos, como tantos que assistimos massacrarem pessoas que não os aprovam como tiranos .




[1] Javé e também Jeová, é o nome da divindade dos israelitas, traduzido para o nosso idioma como “Deus”, que habitava  no Sanctum Sanctorum (Santo dos Santos) no Templo de Salomão.  MAAT era a divindade egípcia que representava a verdade e a justiça, fazendo lembrar também o dever de retidão de caráter,  conforme é ensinada pela Franco Maçonaria Especulativa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário