quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Kaspar Hauser – alegoria, mito ou história real?




Kaspar Hauser, retrato a pastel por J.F.C  Kreul, em 1830.










Luiz Carlos Nogueira













Conta-se através de inumeráveis obras e artigos publicados, que por volta do ano de 1812, uma criança teria sido abandonada pelos pais e, quando por volta dos seus 15 anos, foi encontrada na praça  Unschlittplatz, em Nuremberg, Alemanha do século XIX, com um carta endereçada a um capitão daquela Cidade, dizendo que o menino chamava-se Kasper Hauser, e que o mesmo teria laços de parentesco com a família real de Baden. A carta resumia um pouco da história de Kasper, que trazia consigo um livreto de orações.

Um pouco da sua história estava contida naquela carta, mas ele contava que havia estado toda a sua vida até aquela data, vivendo numa masmorra escura, sem nenhum contato com outras pessoas, a não ser com um homem que o alimentava somente com pão e água, sem, no entanto, mostrar-se ao menino.

Assim, o caso Kaspar tronou-se rapidamente famoso, até porque falava-se que ele poderia ser um príncipe da familia real de Baden, e que possivelmente teria sido  sequestrado do seu berço.

Por ter sido isolado do convívio humano por toda a sua vida,  até quando apareceu naquela praça, Kaspar já com mais ou menos 15 anos de idade, não conseguia conversar ou expressar-se em algum idioma. Por conseguinte apareceram pessoas que lhe ensinaram as palavras, sendo que o mesmo foi-se desenvolvendo à medida do seu convívio social, passando a expressar-se pausadamente. Assim pôde-se verificar que ele apenas não podia se comunicar porque desconhecia o uso da palavra, mas tinha a mente sadia

Nesse ponto, parece ser uma forma alegórica de ensinar a importância das palavras, como forma de comunicação, que melhor possibilita a inclusão social do indivíduo. Também seria uma forma de explicitar que a privação do conhecimento de de conceitos e raciocínios, impedem ou dificultam as pessoas assim como Kapar, de diferenciar os sonhos da realidade, conforme ocorria durante o período em que ele passou preso na escuridão da masmorra. Aqui lembra-nos a Alegoria da Caverna exposta por Platão em seus Diálogos.

Outros fatores ocasionados pelos tempo em que o personagem esteve privado do convívio humano, talvez tenha sido uma forma dessa história remeter-nos à questão de um dos sete pecados capitais (a gula), pois segundo se conta, Kasper tinha aversão à alimentação com carne e de beber álcool, por ter estado submetido a viver apenas de pão e água .

Kaspar, por ter aprendido a falar, a ler, a conhecer a música e a se comportar em tão pouco tempo, tornou-se famoso na Europa, o que lhe teria rendido o título de “O Filho da Europa”. Por conta disso ele teria obtido um desenvolvimento do lado direito do cérebro, ou seja, o seu lado direito do cérebro teria ficado maior do que o direito, o que lhe teria possibilitado obter avanços no campo da música. Nesse particular, parece-me também que é uma forma alegória de incentivar ao aprendizado da arte da lógica, da gramática, da retórica, da dialética e da música, para o desenvolvimento do espírito humano.

Conta-se finalmente, que Kaspar Hauser teve tutores com os quais viveu até ser assassinado com uma facada no peito, em dezembro de 1833, nos jardins do palácio de Ansbach. Na história não ficaram esclarecidas as cirunstâncias, a autoria e as motivações do crime, não obstante tivesse havido uma promessa de recompensa de 10.000 Gulden (c. 180.000,00 Euros), oferecida pelo rei Luís I da Baviera  para quem pegasse o assassino. Neste particular fica demonstrado um dos sete pecados capitais que levam o homem à desgraça — a inveja, que “é o desejo exagerado por posses, status, habilidades e tudo que outra pessoa tem e consegue. É considerada pecado porque uma pessoa invejosa ignora suas próprias bênçãos e prioriza o status de outra pessoa no lugar do próprio crescimento espiritual. O invejoso ignora tudo com que foi abençoado e possui para cobiçar o que é do próximo”.


Para quem quiser conhecer um pouco mais da história de Kasper Hauser, recomendo o filme de Werner Herzog, "Jeder für sich und Gott gegen alle", ou seja, "Cada um por si e Deus contra todos"), de 1974, lançado em português com o título "O Enigma de Kaspar Hauser".

Nenhum comentário:

Postar um comentário