Kaspar
Hauser, retrato a pastel por J.F.C Kreul, em 1830.
Luiz Carlos Nogueira
Conta-se através de inumeráveis obras e artigos
publicados, que por volta do ano de 1812, uma criança teria sido abandonada
pelos pais e, quando por volta dos seus 15 anos, foi encontrada na praça Unschlittplatz, em Nuremberg, Alemanha do século XIX, com um carta endereçada a um
capitão daquela Cidade, dizendo que o menino chamava-se Kasper Hauser, e que o
mesmo teria laços de parentesco com a família real de Baden.
A carta resumia um pouco da história de Kasper, que trazia consigo um livreto
de orações.
Um pouco da sua história
estava contida naquela carta, mas ele contava que havia estado toda a sua vida
até aquela data, vivendo numa masmorra escura, sem nenhum contato com outras
pessoas, a não ser com um homem que o alimentava somente com pão e água, sem,
no entanto, mostrar-se ao menino.
Assim, o caso Kaspar tronou-se
rapidamente famoso, até porque falava-se que ele poderia ser um príncipe da
familia real de Baden, e que possivelmente teria sido sequestrado do seu berço.
Por ter sido isolado do convívio
humano por toda a sua vida, até quando
apareceu naquela praça, Kaspar já com mais ou menos 15 anos de idade, não
conseguia conversar ou expressar-se em algum idioma. Por conseguinte apareceram
pessoas que lhe ensinaram as palavras, sendo que o mesmo foi-se desenvolvendo à
medida do seu convívio social, passando a expressar-se pausadamente. Assim
pôde-se verificar que ele apenas não podia se comunicar porque desconhecia o
uso da palavra, mas tinha a mente sadia
Nesse ponto, parece ser uma
forma alegórica de ensinar a importância
das palavras, como forma de comunicação, que melhor possibilita a inclusão social
do indivíduo. Também seria uma forma de explicitar que a privação do
conhecimento de de conceitos e raciocínios, impedem ou dificultam as pessoas
assim como Kapar, de diferenciar os sonhos da realidade, conforme ocorria durante o período
em que ele passou preso na escuridão da masmorra. Aqui lembra-nos a Alegoria da Caverna
exposta por Platão em seus Diálogos.
Outros fatores
ocasionados pelos tempo em que o personagem esteve privado do convívio humano,
talvez tenha sido uma forma dessa história remeter-nos à questão de um dos sete
pecados capitais (a
gula), pois segundo se conta, Kasper tinha aversão à alimentação com carne e de beber álcool, por ter estado submetido a viver apenas
de pão e água .
Kaspar, por ter aprendido a
falar, a ler, a conhecer a música e a se comportar em
tão pouco tempo, tornou-se famoso na Europa, o que lhe teria rendido o título
de “O Filho da Europa”. Por conta disso ele teria obtido um desenvolvimento do
lado direito do cérebro, ou seja, o seu lado direito do cérebro teria
ficado maior do que o direito, o que lhe teria possibilitado obter
avanços no campo da música. Nesse particular, parece-me também que é uma forma
alegória de incentivar ao aprendizado da arte da lógica, da gramática, da
retórica, da dialética e da música, para o desenvolvimento do espírito humano.
Conta-se finalmente, que
Kaspar Hauser teve tutores com os quais viveu até ser assassinado com uma facada no peito, em dezembro de 1833,
nos jardins do palácio de Ansbach. Na história não
ficaram esclarecidas as cirunstâncias, a autoria e as motivações do crime, não
obstante tivesse havido uma promessa de recompensa de 10.000 Gulden (c. 180.000,00 Euros),
oferecida pelo rei Luís I da Baviera para quem pegasse o assassino. Neste
particular fica demonstrado um dos sete pecados capitais que levam o homem à
desgraça — a inveja, que “é o desejo exagerado por posses, status, habilidades
e tudo que outra pessoa tem e consegue. É considerada pecado porque uma pessoa
invejosa ignora suas próprias bênçãos e prioriza o status de outra pessoa no
lugar do próprio crescimento espiritual. O invejoso ignora tudo com que foi
abençoado e possui para cobiçar o que é do próximo”.
Para quem quiser conhecer um
pouco mais da história de Kasper Hauser, recomendo o filme de Werner Herzog, "Jeder
für sich und Gott gegen alle", ou seja, "Cada um por
si e Deus contra todos"), de 1974,
lançado em português com o título "O Enigma de Kaspar Hauser".
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