terça-feira, 7 de junho de 2011

Viver a natureza do ser,às vezes, um ato pavoroso - Por Hélio Arakaki

E.mail recebido do professor Hélio Arakaki, para publicação:

deHélio Arakaki helio@muryokan.com.br
paraLuiz Carlos Nogueira
data7 de junho de 2011 12:02
assuntoCoisas da alma (55) - "Viver a natureza do ser, às vezes, um ato pavoroso"

ocultar detalhes 12:02 (2 horas atrás)




Coisas da alma (55)
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Hélio Arakaki - Educador, Prof de Karate, Facilitador didata de Biodanza, Consultor para o desenvolvimento dos potenciais humanos em empresas - www.muryokan.com.br contato@muryokan.com.br


Viver a natureza do ser,às vezes, um ato pavoroso



Possuo três cachorrinhos, todos de raças pequenas. O Murphy, um pincher com 8 anos e já ranzinza, o Nick, um mestiço de lhasa com poodle de um pouco mais de dois anos e o Hatiko, isso mesmo, o mesmo nome do cachorro do emocionante filme Sempre ao seu lado, um lhasa apso de pouco mais de quatro meses de idade.


Bem, os dois novinhos são sapecas. Passam o dia todo brincando. E o Murphy, já velhinho, querendo ficar no seu canto sossegado, fica doidinho com a bagunça dos dois.


Como nos últimos tempos tenho vivido em meio às turbulências, às vezes, vendo os mais novos dormindo ou brincando, penso:como gostaria de levar a vida desses animaizinhos, sem pressão e nem preocupações, ao contrário do Murphy, irritadiço ao extremo.


Na verdade, um pensamento covarde este meu. Uma forma de negação da realidade. E é da negação que surge a atração pela alienação, um estratégia escapista para evitar a confrontação com a verdade -muitas vezes dolorida - dos fatos.


Platão dizia ser a ignorância a fonte do sofrimento humano. Daí a importância de mantermo-nos consciente e lúcidos, principalmente, nos momentos de extrema pressão e dificuldade.


Mas, convenhamos, como é difícil manter a lucidez nos momentos caóticos, não?


A lucidez surge a partir do estado de consciência.


A consciência é um dom humano, nos faculta a possibilidade de atribuir um significado transcendente a tudo aquilo que fazemos para sobreviver através dos instintos, como comer, beber, dormir e copular. O que já não acontece com os animais.


Os animais não podem dar um toque de refinamento às suas manifestações instintivas. Tal refinamento trata-se de uma condição estritamente humana.


É através da nossa consciência que transformamos o simples ato de beber uma xícara de chá ou de chocolate ou uma taça de vinho, em um momento de eterno prazer. Que fazemos do ato de comer um momento delicioso em que saboreamos aromas e sabores diversos. Que tornamos o mecânico ato sexual em um momento sublime de fusão e comunhão amorosa.


Por outro lado, a consciência nos permite realizar boas escolhas. Mas por que então muitas vezes negamos a fazê-las ou fazemos repetidamente as escolhas erradas?


A resposta não se justifica na consciência, mas na inexistência dela.


Aprofundando na questão. Todas as nossas escolhas são influenciadas por aquilo que temos como preferências, sendo elas estabelecidas a partir das experiências que nos causaram prazer ou dor.


Como somos naturalmente atraídos pelas coisas prazerosas e tendemos a rejeitar tudo aquilo que nos causa dor e desconforto, podemos ser tentados a deixar de fazer contato com a realidade.


Mas a negação nos torna alienados, uma opção em ignorar a realidade que nos incomoda ou que nos desafia ou que nos deixa desconfortáveis, preferindo viver um faz de conta de que está tudo bem.


A alienação é um processo dissociativo que nos leva a viver uma vida pela metade ou uma vida toda de inverdade, pois o viver pleno é obtido através da integração dos opostos, ou seja, quando nos dispomos a aceitar a realidade na sua totalidade e, principalmente, a aceitar quem somos por inteiro, de novo citando a Luisa: ” Já o ser, ah, o ser...Que delícia apenas ser! Com todas as angústias e prazeres que o ser proporciona. .. Sejamos apenas. Sejamos luz ou treva, flor ou raiz...”


Os animais, bem como toda manifestação de vida, cumprem a sua existência seguindo um roteiro cósmico marcado pelo determinismo biológico, mas perfeitamente integrados na sua natureza e, por isso, com a natureza. E assim é que os pássaro embelezam os nossos ouvidos, as árvores nos banqueteiam com frutos e sombras, as flores nos sorriem desabrochando.


E a nós, abençoados pelo benção da inteligência, podemos , ao aceitarmos a realidade dos desafios e das dificuldades, transcender a dualidade que permeiam as nossas escolhas para podermos viver a vida com mais profundidade e totalidade e, assim, fazer revelar a nossa verdadeira natureza: ser nós mesmos com todos os riscos e conseqüências diante da realidade que nos cobra atitudes responsáveis a todo o momento (como invejo os meus cãezinhos).


Portanto, ser a expressão mais pura da nossa natureza enquanto ser, creio eu, é um dos desafios mais fascinante e ao mesmo tempo pavoroso para o ser humano.


Para amenizar, um conto zen.


Dois monges estavam lavando suas tigelas no rio quando perceberam um escorpião que estava se afogando. Um dos monges imediatamente pegou-o e o colocou na margem. Mas ele foi picado. Ele voltou para terminar de lavar sua tigela e novamente o escorpião caiu no rio. O monge salvou o escorpião e novamente foi picado.


O outro monge então perguntou:"Amigo, por que você continua a salvar o escorpião quando você sabe que sua natureza é agir com agressividade, picando-o?"


"Porque," replicou o monge, "agir com compaixão é a minha natureza."


Acompanhe todos os domingos das 8h às 9h da manhã (horário do MS) o programa “Viva Blink” apresentado por mim na Rádio Blink FM 102.7 ou ouvindo o podcast dos programas gravados no www.blink102.com.br

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