Luiz Carlos
Nogueira
Não sou sufi, mas nas minhas pesquisas recolhi as informações
de que essa Doutrina (se assim podemos denominar), vem de longas eras,
provavelmente do século XI. Trata-se de um dos principais ramos da Tradição
Esotérica, que segundo se afirma, o conhecimento da sua essência possibilita ao
Homem encontrar o caminho para a sua verdade, que estaria oculta em seu interior.
Segundo autoridades
no assunto, não há uma compreensão de ordem intelectual do Sufismo, que não se
trata exatamente de uma religião, filosofia ou seita, mas pode-se dizer que é
uma tradição esotérica muito importante, nascida do islamismo, desde o século
citado, que se mantém viva até nossos dias, especialmente no Oriente Médio.
Os que seguem tal
Doutrina, têm por meta a busca espiritual, o autoconhecimento, com vistas à
verdade suprema. Por isso o Sufismo não adota os aspectos formais como é
próprio das religiões. Não tem símbolos, imagens ou representações, templos ou
quaisquer coisas como sagradas. Seus ensinamentos se fixam na sua essência
própria que nos remete à realização interior, sendo basicamente uma tradição
oral que se transmite através de lendas ou alegorias, parábolas e histórias bem
articuladas.
Assim, conta-se
uma antiga lenda, que no tempo de Moisés (O legislador bíblico) havia um
dervixe que ficava dias e noites em estado de adoração, embora nada possuísse
de sensibilidade pelas coisas espirituais. Mas cultivava uma espessa e longa
barba que cofiava de momento a momento enquanto estava rezando.
Mas certo dia
encontrou-se com Moisés e aproximando-se do mesmo, fez-lhe o seguinte pedido: “Óh paxá do Sinai (do monte Sinai)! Pergunte a Deus para que me diga, por que não
consigo experimentar nem satisfação e nem êxtase espiritual!”
Então, Moisés como
mediador entre Deus e o seu povo, escalando o Sinai foi ter-se com o Altíssimo,
falando-Lhe sobre a pergunta do dervixe.
É
claro, Deus desaprovou a petição dizendo: “Se
bem tenha procurado união comigo, esse dervixe está constantemente pensando na
sua longa barba”.
Descendo
do monte, Moisés foi ao encontro do dervixe e repetiu as palavras de Deus. Mas
o dervixe, não contente, começou a arrancar os fios da sua barba chorando
convulsivamente. Foi aí que o anjo Gabriel foi informar isso a Moisés,
dizendo-lhe: “Ainda agora o teu sufi está pensando
na barba. Não pensou em outra coisa enquanto rezava, e sente-se ainda mais
apegado a ela agora que a está arrancando!”
Ó tu, que cuidas haver deixado de te preocupar com a tua
barba, estás mergulhado num oceano de aflição. Quando puderes pensar nela com
alheamento, terás o direito de cruzar, navegando, esse oceano. Mas se nele
mergulhares com a tua barba, ser-te-á difícil sair dele.
Em outras palavras, o que a lenda mostra é como se o dervixe
estivesse nadando no oceano, mas com as suas barbas muito longas e encharcadas,
pesando muito, que sequer consentiria raspá-las, fatalmente teria que se afogar.
De tal sorte que, da lenda se entende que aquele que pretende
alcançar a iluminação, não deve trocar a busca de Deus pelas vaidades exteriores, ajuntando pesos que nos
ajudam a afundar no tormentoso oceano da vida.
Não são as posses
é que importam, mas sim o sentido e as atitudes do homem perante o que
conquistou. Não é sábio não desfazermos até do peso excessivo dos nossos
pretensos conhecimentos, dando mais valor as nossas posses do que a vida,
confiando na ilusão de grandeza.
(Adaptação do texto contido no livro A
CONFERÊNCIA DOS PÁSSAROS, CIRCULO DO LIVRO S.A. São Paulo, Brasil, Edição
integral , 1988. Título do original: “The conference of the birds” Copyright ©
da tradução inglesa 1954 C. S. Nott Tradução: Octavio Mendes Cajado, a partir
da tradução inglesa de C. S. Nott. Capa: layout de Natanael Longo de Oliveira. Tradução
cedida para o Círculo do Livro por cortesia da Editora Cultrix Ltda., mediante
acordo com Routledge & Kegan Paul Ltd.)
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