terça-feira, 8 de maio de 2012

O DERVIXE QUE TINHA ORGULHO DE POSSUIR INIGUALÁVEL BARBA LONGA















Luiz Carlos Nogueira

















Não sou sufi, mas nas minhas pesquisas recolhi as informações de que essa Doutrina (se assim podemos denominar), vem de longas eras, provavelmente do século XI. Trata-se de um dos principais ramos da Tradição Esotérica, que segundo se afirma, o conhecimento da sua essência possibilita ao Homem encontrar o caminho para a sua verdade, que estaria oculta em seu interior.

Segundo autoridades no assunto, não há uma compreensão de ordem intelectual do Sufismo, que não se trata exatamente de uma religião, filosofia ou seita, mas pode-se dizer que é uma tradição esotérica muito importante, nascida do islamismo, desde o século citado, que se mantém viva até nossos dias, especialmente no Oriente Médio.

Os que seguem tal Doutrina, têm por meta a busca espiritual, o autoconhecimento, com vistas à verdade suprema. Por isso o Sufismo não adota os aspectos formais como é próprio das religiões. Não tem símbolos, imagens ou representações, templos ou quaisquer coisas como sagradas. Seus ensinamentos se fixam na sua essência própria que nos remete à realização interior, sendo basicamente uma tradição oral que se transmite através de lendas ou alegorias, parábolas e histórias bem articuladas.

Assim, conta-se uma antiga lenda, que no tempo de Moisés (O legislador bíblico)  havia um dervixe que ficava dias e noites em estado de adoração, embora nada possuísse de sensibilidade pelas coisas espirituais. Mas cultivava uma espessa e longa barba que cofiava de momento a momento enquanto estava rezando.

Mas certo dia encontrou-se com Moisés e aproximando-se do mesmo, fez-lhe o seguinte pedido: “Óh paxá do Sinai (do monte Sinai)!  Pergunte a Deus para que me diga, por que não consigo experimentar nem satisfação e nem êxtase espiritual!”

Então, Moisés como mediador entre Deus e o seu povo, escalando o Sinai foi ter-se com o Altíssimo, falando-Lhe sobre a pergunta do dervixe.

É claro, Deus desaprovou a petição dizendo: “Se bem tenha procurado união comigo, esse dervixe está constantemente pensando na sua longa barba”.

Descendo do monte, Moisés foi ao encontro do dervixe e repetiu as palavras de Deus. Mas o dervixe, não contente, começou a arrancar os fios da sua barba chorando convulsivamente. Foi aí que o anjo Gabriel foi informar isso a Moisés, dizendo-lhe: “Ainda agora o teu sufi está pensando na barba. Não pensou em outra coisa enquanto rezava, e sente-se ainda mais apegado a ela agora que a está arrancando!”

Ó tu, que cuidas haver deixado de te preocupar com a tua barba, estás mergulhado num oceano de aflição. Quando puderes pensar nela com alheamento, terás o direito de cruzar, navegando, esse oceano. Mas se nele mergulhares com a tua barba, ser-te-á difícil sair dele.

Em outras palavras, o que a lenda mostra é como se o dervixe estivesse nadando no oceano, mas com as suas barbas muito longas e encharcadas, pesando muito, que sequer consentiria raspá-las, fatalmente teria que se afogar.

De tal sorte que, da lenda se entende que aquele que pretende alcançar a iluminação, não deve trocar a busca de Deus pelas vaidades exteriores, ajuntando pesos que nos ajudam a afundar no tormentoso oceano da vida.

Não são as posses é que importam, mas sim o sentido e as atitudes do homem perante o que conquistou. Não é sábio não desfazermos até do peso excessivo dos nossos pretensos conhecimentos, dando mais valor as nossas posses do que a vida, confiando na ilusão de grandeza.

(Adaptação do texto contido no livro A CONFERÊNCIA DOS PÁSSAROS, CIRCULO DO LIVRO S.A. São Paulo, Brasil, Edição integral , 1988. Título do original: “The conference of the birds” Copyright © da tradução inglesa 1954 C. S. Nott Tradução: Octavio Mendes Cajado, a partir da tradução inglesa de C. S. Nott. Capa: layout de Natanael Longo de Oliveira. Tradução cedida para o Círculo do Livro por cortesia da Editora Cultrix Ltda., mediante acordo com Routledge & Kegan Paul Ltd.)

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