Luiz Carlos Nogueira
Há um livro muito interessante, que teria sido encontrado por volta do ano de 1747, no mosteiro do Lama do Tibete, em Lhasa, e publicado sob o título de: A Vos Confio[1], cujo autor é desconhecido, mas que é um repositório de conselhos úteis para que o ser humano trabalhe o seu caráter e aprimore o seu espírito.
Dessa obra recolhi os dizeres que constituem o título desta matéria, contido no capítulo que trata da aplicação ou da diligência, onde se aborda a fugacidade do tempo, dando ênfase ao momento presente, porque os dias passados esvaziaram-se para sempre e os que estão por vir, pode ser que não cheguem para nós, no estado presente do nosso ser. Portanto, esse capítulo exorta-nos a empregarmos o nosso presente estado, sem lamentarmos as perdas do passado, nem tampouco ansiarmos pelo que ainda vai acontecer ou que talvez não acontecerá, até porque não nos é dado saber o nosso próximo estado, mas apenas podemos agir no momento presente, de forma que estejamos dispostos para o que virá.
Só o aqui e o agora, o instante presente nos pertence. Mas cada estado futuro será conforme aquilo que criamos no presente. Daí o incitamento: “O que resolveres fazer, que o faça imediatamente. Não deixes para a tarde o que poder fazer pela manhã”.
O ócio produz carência e dor, mas quando se trabalha pelo Bem, haverá alegria e prazer. Portanto, ser aplicado ou diligente em nossos projetos, isso concorrerá para suprir ou pelo menos reduzir as necessidades. Só ao homem e à mulher laboriosos, cabem o triunfo e a prosperidade.
E segue o aconselhamento, dizendo que o indolente é uma carga para si mesmo, e suas horas se esvaem sem proveito, enquanto divaga e deambula sem saber para onde ir e o que fazer, sendo que os seus dias passam como uma sombra projetada de uma nuvem no céu, e não fica nenhuma recordação porque a sombra não deixa marcas depois que passa.
Assim fica o indolente com o corpo sem forças por não se exercitar. Embora deseje ação, não encontra mais forças para se movimentar. A mente se encontra como se estivesse na escuridão e por isso tem pensamentos confusos. Não consegue obter conhecimento porque não tem diligência.
Se lhe dá vontade de comer alguma castanha, não a satisfaz porque não gostaria de ter o trabalho que quebrar a casca. Por essa inércia preguiçosa, sua casa fica em desordem, e se tem empregados, estes cometem desperdícios que o ajudam a caminhar para a ruína; apercebe-se da situação, meneia sua cabeça como sinal de desaprovação, mas não toma nenhuma atitude. Dessa forma a ruína ocorrerá, sobrando-lhe somente o arrependimento e a vergonha da sua inação.
Questionamentos inúteis que produzem a inação, exemplificados como num dos contos budistas em A Doutrina de Buda[2], ilustram o presente tema:
“Suponhamos um homem trespassado por uma flecha envenenada e que seus parentes e amigos tenham resolvido chamar um cirurgião para retirar a seta e pensar a ferida.
Mas o ferido objetou dizendo: “Esperem um pouco. Antes que retirem a flecha, quero saber quem a atirou. Foi homem ou mulher? Foi algum nobre ou camponês? De que era feito o arco? O arco que atirou a flecha era grande ou pequeno? Era ele feito de madeira ou bambu? De que era feita a corda do arco? Era ela feita de fibra ou tripa? A seta era de rota ou junco? Que penas eram usadas? Antes que extraiam a seta, quero saber tudo a respeito dessas coisas.” Assim, que lhe poderá acontecer?
Antes que todas estas informações possam ser obtidas, seguramente, o veneno terá tempo de circular em todo o sistema e o homem poderá morrer. A primeira providencia a ser tomada é retirar a flecha, para que seu veneno não se espalhe.
O ensinamento de Buda esclarece aquilo que é importante saber e aquilo que não o é. Isto é, o Dharma de Buda orienta os homens a aprender aquilo que deveriam aprender, a remover aquilo que deveriam remover, e dedicar-se em esclarecer aquilo que deve ser esclarecido.
Portanto, os homens deveriam primeiro discernir que questão é de primordial importância, que problema deve ser solucionado primeiro, que questão lhe é mais urgente. Para fazer tudo isso, devem primeiro treinar suas mentes, isto é, devem procurar o controle mental.”
[1] A VÓS CONFIO, Título Original: UNTO THEE I GRANT, Revisado por Sri Ramatherio, Tradução: Ceslawa M. Nycz, F.R.C. Capa: Vilmar Lopes, coordenação e supervisão de Charles Vega Parucker, Grande Mestre da Ordem Rosacruz – AMORC, Editora Renes, Rio de Janeiro, 3ª Edição - Junho, 1988,
[2] A Doutrina de Buda, 3ª ed., 1982, da Fundação Educacional e Cultural Yehan Numata Mitutoyo Sul América Ltda. Av. João Carlos da Silva Borges, CEP 04726-002 1240, CX. Postal 4255, Santo Amaro, São Paulo-SP, Brasil Tel: 5643-7755 Fax: 5641-3722.
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