Luiz Carlos Nogueira
O Novo
Testamento faz referência a um personagem chamado de Simão “O Mago”, epíteto
este que lhe foi conferido pelos seus contemporâneos, inclusive, segundo alguns
historiadores, também, pelos Chefes da Igreja Cristã (como os Padres da Igreja,
tais como: Irineu, Epifânio, São Justino e especialmente na obra anônima Philosophunema), por causa dos seus
admiráveis poderes teúrgicos. Embora não sendo unanimidade, os estudiosos
desses assuntos, dizem que Simão “O Mago”, juntamente com Marcião de Sinope, tinham tendências gnósticas, e muito embora as ideias
que apresentavam desse segmento religioso ainda não estivessem formadas e totalmente
consolidadas, eram, por isso, tidos como pseudo-gnósticos ou proto-gnósticos.
Ambos teriam conquistado muitos seguidores. Menandro
de Antioquia, discípulo de Simão, teria passado a
fazer parte desse grupo de seguidores.
Conta-se o apóstolo Pedro
teria admoestado Simão “O Mago” em Samaria (At.
8: 9-24), conforme o texto bíblico contido no capitulo 8, em Atos dos
Apóstolos, porque Simão teria tentado comprar dos apóstolos, o poder de operar
milagres. Assim a conduta de Simão foi considerada pecaminosa pela pela teologia cristã,
passando a ser denominada de simonia (ato
de Simão), termo que define especificamente o comércio ou tráfico de coisas
sagradas e espirituais, tais como sacramentos, dignidades, indulgências e
benefícios eclesiásticos, e que estaria no centro das críticas e discussões que
levaram à Reforma protestante no século XVI.
O episódio da contenda travada entre Pedro e Simão, está
assim contida no capítulo 8, versículos 5-24, do Ato dos Apóstolos:
"5 E, descendo Filipe à
cidade de Samaria, lhes pregava a Cristo.
6 E as multidões unanimemente prestavam
atenção ao que Filipe dizia, porque ouviam e viam os sinais que ele fazia;
7 Pois que os espíritos
imundos saíam de muitos que os tinham, clamando em alta voz; e muitos
paralíticos e coxos eram curados.
8 E havia grande alegria naquela cidade.
9 E estava ali um certo homem, chamado Simão,
que anteriormente exercera naquela cidade a arte mágica e tinha iludido a gente
de Samaria, dizendo que era uma grande personagem;
10 Ao qual todos atendiam,
desde o mais pequeno até ao maior, dizendo: Este é a grande virtude de Deus.
11 E atendiam-no a ele, porque já desde muito
tempo os havia iludido com artes mágicas.
12 Mas, como cressem em
Filipe, que lhes pregava acerca do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, se
batizavam, tanto homens como mulheres.
13 E creu até o próprio Simão;
e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e, vendo os sinais e as
grandes maravilhas que se faziam, estava atônito.
14 Os apóstolos, pois, que
estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram
para lá Pedro e João.
15 Os quais, tendo descido,
oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo.
16 (Porque sobre nenhum deles
tinha ainda descido; mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus.)
17 Então, lhes impuseram as
mãos, e receberam o Espírito Santo.
18 E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos
apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro,
19 Dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele
sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo.
20 Mas disse-lhe Pedro: O teu dinheiro seja contigo para
perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro.
21 Tu não tens parte nem sorte nesta palavra, porque o
teu coração não é reto diante de Deus.
22 Arrepende-te pois dessa tua iniquidade e ora a Deus,
para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração;
23 Pois vejo que
estás em fel de amargura e em laço de iniquidade.
24 Respondendo,
porém, Simão disse: Orai vós por mim ao Senhor, para que nada do que dissestes
venha sobre mim."
Disseram
alguns que Simão “O Mago” se rivalizava com o Cristo, e que se proclamava representante da Gnose,
tendo como companheira, Helena, que teria sido prostituta, mas era a encarnação
de Sophia e de Helena de Troia, já que acreditava na Reencarnação e
que no elemento Fogo está o fundamento de todas as coisas,
em especial a origem da Alma.
Simão afirmava que a única chave para a ascensão aos Céus — é o conhecimento.
Segundo Helena Petrovna Blavatsky[1],
no sistema de Simão e seu sucessor Meneandro, é que tornou possível saber o que
a “Magia” significava para os inciados daquela época. Ele, Simão e os gnósticos
afirmavam que o mundo foi criado pelos “Anjos Inferiores”, aos quais
denominavam de “Eões”[2].
Portanto, esse Anjos Inferiores, deviam imitar a Divina Potência em sua ação,
convertendo-se em princípios emanadores, como o seu Progenitor, para dar vida a
novos seres, o que é comparável à Arvore da Vida da Kabbalah, sobre a qual não
sou versado.
Menandro dizia que os Anjos Inferiores eram emanações de
ENNOIA (O Pensamento Planejador), que lhe ensinou a Ciência da Magia, assim
como dominar os anjos criadores do mundo inferior. Noticiou-se (Eusébio,
Hist.Eccles., liv.III, cap.26) que os seus discípulos depois de iniciados,
tornavam-se como “ressucitados de entre os mortos”, e, portanto “não mais
envelheciam”, adquirindo a ‘imortalidade”. Desse modo a ressurreição que Menandro
prometia, era a passagem das trevas da ignorância para a luz da verdade (Lux Ex Tenebris), ou seja, o despertar
do espírito imortal do ser humano para a vida interna e externa. Blavatsky
afirma tratar-se da Ciência da Râja-Yoga — a Magia.
Já Simão “O Mago” afirmava que o Deus do Velho Testamento é um Demiurgo. Há notícias também, que ele para
provar a validade de sua doutrina fazia demonstrações de levitação. E num texto
apócrifo, diz-se que Pedro (São Pedro) qundo travou um embate contra o
mago da Samaria que questionava suas habilidades "voadoras", teria
subido no alto de uma torre, e depois deu o seu derradeiro vôo. O que se sabe, é
Simão é considerado o primeiro profeta Gnóstico.
O que se pode apurar concretamente é que Simão “O Mago”
tornou-se personagem controversa da literatura antiga
e medieval e
da propaganda cristã. Em síntese do que foi dito a seu respeito está no livro Apologia (c. 150) de Justino Mártir. Fonte esta, na qual se declara
que Simão dizia que ele era a "manifestação do Deus Supremo" – e o
seu sucessor Menandro (o
gnóstico), repetia a mesma coisa - e ainda que Helena, companheira de Simão
teria sido a primeira concepção de sua mente, da qual anjos e poderes foram
gerados.
Há também os que dizem que o sistema filosófico de Simão estaria
baseado numa cosmogonia sírio-fenícia
e compreendida na angelologia e
astrologia. Por fim, conforme São Justino
teria afirmado sobre a existência de um altar consagrado a Simão “O Mago”, na Ilha do Tibre, esse fato foi
constatado em 1574.
[1] A Doutrina Secreta, Síntese de Ciência, Filosofia e
Religião, vol. VI, Editora Pensamento, São Paulo, 1993, pág.108
[2] Eões, ou
ainda Aeon ou Aeons [Aion
em grego; Æon, em
latim: o tempo, a eternidade] -.
Períodos de tempo [neste sentido, é equivalente ao Aeon em castelhano
"evo";] emanações
procedentes da essência divina, e
de seres celestiais; entre os gnósticos eram
gênios e anjos. [Aeon também é o primeiro Logos
(Doutr. Secr, I,
375.), "Eternidade" no
sentido de um período aparentemente interminável de tempo, mas
que, no entanto, tem um limite, ou um Kalpa, ou Manvantara (ID,
I, 92). Os Eons
(espíritos estelares), que emanam do desconhecido dos gnósticos, são seres de inteligentes
ou divinos, idênticos ao Dhyan Chohans da
doutrina esotérica. (Id,
III, 160).] (Glossário Teosófico de H.P.B.).
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