sábado, 1 de junho de 2013

Simão "O Mago"






Luiz Carlos Nogueira







O Novo Testamento faz referência a um personagem chamado de Simão “O Mago”, epíteto este que lhe foi conferido pelos seus contemporâneos, inclusive, segundo alguns historiadores, também, pelos Chefes da Igreja Cristã (como os Padres da Igreja, tais como: Irineu, Epifânio, São Justino e especialmente na obra anônima Philosophunema), por causa dos seus admiráveis poderes teúrgicos. Embora não sendo unanimidade, os estudiosos desses assuntos, dizem que Simão “O Mago”, juntamente com Marcião de Sinope, tinham tendências gnósticas, e muito embora as ideias que apresentavam desse segmento religioso ainda não estivessem formadas e totalmente consolidadas, eram, por isso, tidos como pseudo-gnósticos ou proto-gnósticos. Ambos teriam conquistado muitos seguidores.  Menandro de Antioquia, discípulo de Simão, teria passado a fazer parte desse grupo de seguidores.

Conta-se o apóstolo Pedro  teria admoestado Simão “O Mago” em Samaria (At. 8: 9-24), conforme o texto bíblico contido no capitulo 8, em Atos dos Apóstolos, porque Simão teria tentado comprar dos apóstolos, o poder de operar milagres. Assim a conduta de Simão foi considerada pecaminosa pela pela teologia cristã, passando a ser denominada de simonia (ato de Simão), termo que define especificamente o comércio ou tráfico de coisas sagradas e espirituais, tais como sacramentos, dignidades, indulgências e benefícios eclesiásticos, e que estaria no centro das críticas e discussões que levaram à Reforma protestante no século XVI.
O episódio da contenda travada entre Pedro e Simão, está assim contida no capítulo 8, versículos 5-24, do Ato dos Apóstolos:

"5 E, descendo Filipe à cidade de Samaria, lhes pregava a Cristo.
 6 E as multidões unanimemente prestavam atenção ao que Filipe dizia, porque ouviam e viam os sinais que ele fazia;
7 Pois que os espíritos imundos saíam de muitos que os tinham, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos eram curados.
 8 E havia grande alegria naquela cidade.
 9 E estava ali um certo homem, chamado Simão, que anteriormente exercera naquela cidade a arte mágica e tinha iludido a gente de Samaria, dizendo que era uma grande personagem;
10 Ao qual todos atendiam, desde o mais pequeno até ao maior, dizendo: Este é a grande virtude de Deus.
 11 E atendiam-no a ele, porque já desde muito tempo os havia iludido com artes mágicas.
12 Mas, como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens como mulheres.
13 E creu até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou de contínuo com Filipe; e, vendo os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito.
14 Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João.
15 Os quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo.
16 (Porque sobre nenhum deles tinha ainda descido; mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus.)
17 Então, lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo.
18 E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro,
19 Dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo.
20 Mas disse-lhe Pedro: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro.
21 Tu não tens parte nem sorte nesta palavra, porque o teu coração não é reto diante de Deus.
22 Arrepende-te pois dessa tua iniquidade e ora a Deus, para que porventura te seja perdoado o pensamento do teu coração;
 23 Pois vejo que estás em fel de amargura e em laço de iniquidade.
 24 Respondendo, porém, Simão disse: Orai vós por mim ao Senhor, para que nada do que dissestes venha sobre mim."

Disseram alguns que Simão “O Mago” se rivalizava com o Cristo, e que se proclamava representante da Gnose, tendo como companheira, Helena, que teria sido prostituta, mas era a encarnação de Sophia e de Helena de Troia, já que acreditava na Reencarnação e que no elemento Fogo está o fundamento de todas as coisas, em especial a origem da Alma. Simão afirmava que a única chave para a ascensão aos Céus — é o conhecimento.
Segundo Helena Petrovna Blavatsky[1], no sistema de Simão e seu sucessor Meneandro, é que tornou possível saber o que a “Magia” significava para os inciados daquela época. Ele, Simão e os gnósticos afirmavam que o mundo foi criado pelos “Anjos Inferiores”, aos quais denominavam de “Eões”[2]. Portanto, esse Anjos Inferiores, deviam imitar a Divina Potência em sua ação, convertendo-se em princípios emanadores, como o seu Progenitor, para dar vida a novos seres, o que é comparável à Arvore da Vida da Kabbalah, sobre a qual não sou versado.

Menandro dizia que os Anjos Inferiores eram emanações de ENNOIA (O Pensamento Planejador), que lhe ensinou a Ciência da Magia, assim como dominar os anjos criadores do mundo inferior. Noticiou-se (Eusébio, Hist.Eccles., liv.III, cap.26) que os seus discípulos depois de iniciados, tornavam-se como “ressucitados de entre os mortos”, e, portanto “não mais envelheciam”, adquirindo a ‘imortalidade”. Desse modo a ressurreição que Menandro prometia, era a passagem das trevas da ignorância para a luz da verdade (Lux Ex Tenebris), ou seja, o despertar do espírito imortal do ser humano para a vida interna e externa. Blavatsky afirma tratar-se da Ciência da Râja-Yoga — a Magia.
Já Simão “O Mago” afirmava que o Deus do Velho Testamento é um Demiurgo. Há notícias também, que ele para provar a validade de sua doutrina fazia demonstrações de levitação. E num texto apócrifo, diz-se que Pedro (São Pedro) qundo travou um embate contra o mago da Samaria que questionava suas habilidades "voadoras", teria subido no alto de uma torre, e depois deu o seu derradeiro vôo. O que se sabe, é Simão é considerado o primeiro profeta Gnóstico.
O que se pode apurar concretamente é que Simão “O Mago” tornou-se personagem controversa da literatura antiga e medieval e da propaganda cristã. Em síntese do que foi dito a seu respeito está no livro Apologia (c. 150) de Justino Mártir. Fonte esta, na qual se declara que Simão dizia que ele era a "manifestação do Deus Supremo" – e o seu sucessor Menandro (o gnóstico), repetia a mesma coisa - e ainda que Helena, companheira de Simão teria sido a primeira concepção de sua mente, da qual anjos e poderes foram gerados.

Há também os que dizem que o sistema filosófico de Simão estaria baseado numa cosmogonia sírio-fenícia e compreendida na  angelologia e astrologia. Por fim, conforme São Justino teria afirmado sobre a existência de um altar consagrado a Simão “O Mago”, na Ilha do Tibre, esse fato foi constatado em 1574.




[1] A Doutrina Secreta, Síntese de Ciência, Filosofia e Religião, vol. VI, Editora Pensamento, São Paulo, 1993, pág.108
[2] Eões, ou ainda Aeon ou Aeons [Aion em grego; Æon, em latim: o tempo, a eternidade] -. Períodos de tempo [neste sentido, é equivalente ao Aeon em castelhano "evo";] emanações procedentes da essência divina, e de seres celestiais; entre os gnósticos eram gênios e anjos. [Aeon também é o primeiro Logos (Doutr. Secr, I, 375.), "Eternidade" no sentido de um período aparentemente interminável de tempo, mas que, no entanto, tem um limite, ou um Kalpa, ou Manvantara (ID, I, 92). Os Eons (espíritos estelares), que emanam do desconhecido dos gnósticos, são seres de inteligentes ou divinos, idênticos ao Dhyan Chohans da doutrina esotérica. (Id, III, 160).] (Glossário Teosófico de H.P.B.).

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