Luiz Carlos Nogueira
Segundo Curuppumullage Jinarajadasa[i]:
“Talvez seja na antiga religião do Egito
que vamos encontrar as mais extraordinárias ideias - extraordinárias para os
cristãos - acerca da morte”, pois, no Antigo Egito as pessoas tinham muita convicção
da existência da vida além túmulo. Tanto que era costume desde muito cedo prepararem
seus túmulos para serem colocados quando morressem.
Também, se fossem pessoas de muitos recursos
financeiros, providenciavam para que fossem gravados nas paredes dos seus
túmulos, os principais registros que costumavam colecionar, a respeito dos
acontecimentos que consideravam importantes durante suas existências terrenas.
E era comum entre as pessoas mais instruídas, se iniciarem em cerimônias
através das quais pudessem obter noções da vida post mortem.
Jinarajadasa dá como possível, a informação
de que alguns ensinamentos místicos adotados num determinado grau da Maçonaria,
teriam sido transcritos ou adaptados do Livro dos Mortos do Antigo Egito, cujos
determinados capítulos foram encontrados em cada múmia em seus sarcófagos. Por
exemplo, com a múmia Ani, existente no Museu de Londres, foi encontrado um
papiro contendo vários capítulos e ilustrações desse livro, no qual contém
representações de cerimoniais para serem realizados depois da morte de um
egípcio (ou egípcia). Na referida cerimônia a personalidade-alma da pessoa
morta era conduzida pelo deus Anúbis, para ser submetida ao julgamento do deus
Osíris.
O julgamento consistia de colocar num prato
de uma balança, um pequeno jarro simbolizando o coração do julgando; e, no
outro prato, uma pena simbolizando a Verdade, de tal sorte que se os pratos da
balança permanecessem na posição horizontal, a personalidade-alma da pessoa em
julgamento estaria livre para viver no além-túmulo com os outros também considerados
bem-aventurados. Mas, se no julgamento, a pena da Verdade eleva-se e o coração
da personalidade-alma baixa na balança, ela é condenada e lançada à boca de um
monstro, descrito na cena, para que ela pereça completamente e seja aniquilada.
O deus Toth que ficava com uma tabuleta, perto da balança, na qual deveria
escrever o julgamento.
Havia, antes do julgamento, um momento solene
em que a personalidade-alma devia proferir a chamada “Confissão a Maat"[ii],
cuja fórmula era a seguinte:
Confissão
a Maat
“Glória a
Ti, Ó Grande Deus, Mestre de toda Verdade! Venho à Tua presença,
Ó meu
Deus, para diante de Ti tomar consciência de Teus decretos.
Eu Te
conheço e comungo contigo e com Tuas Quarenta e Duas leis que habitam contigo
nesta Câmara de Maat...
E nessa
verdade que venho comungar contigo, e Maat está em meu pensamento e em minha
alma.
Por
ti destruí a maldade.
Não fiz
nenhum mal à humanidade.
Não
oprimi os membros de minha família.
Não
forjei o mal em lugar da Justiça e da Verdade.
Não
convivi com homens indignos.
Não pedi
para ser considerado o primeiro.
Não
obriguei pessoa alguma a um trabalho excessivo em meu favor.
Não
apresentei meu nome para ser objeto de honrarias.
Não
espoliei os pobres tomando seus bens.
Não fiz
homem algum passar fome.
Não fiz
ninguém chorar.
Não
infligi qualquer sofrimento a um homem ou animal.
Não
espoliei nenhum templo de suas oblações.
Não
adulterei nenhum padrão de medida.
Não
invadi os terrenos de outros.
Não
roubei terras.
Não adulterei
os pesos da balança para enganar o vendedor.
Não
falsifiquei a indicação do ponteiro para enganar o comprador.
Não tirei
o leite da boca das crianças.
Não
desviei a água de onde ela devia correr.
Não
apaguei a chama quando ela devia queimar.
Não repeli
Deus em Suas manifestações.”
“Sou
puro! Sou puro! Sou puro!
Minha
pureza é a pureza da Divindade do Templo Sagrado.
Por isso
o mal não me acometerá neste mundo, eis que conheço as leis de Deus que são
Deus. Cro-Maat!”
[i]
Os Sete Véus Sobre a Consciência; traduzido pela equipe do “Serviço de
Divulgação Teosófica da Sociedade Teosófica no Brasil”, Editado pela Cooperativa
Cultural dos Esperantistas, Gráfica Editora Esperanto, RJ, 1952.
[ii]
Maat: Palavra egípcia que significa verdade.
O Símbolo Maat era uma pena. Cro-Maat
significa “A verdade se manifestará”, ou “Assim seja”. A Confissão a Maat foi
extraída da confissão que era feita na Câmara de Maat, nos Templos Egípcios de
Iniciação, e que se encontra no Livro dos Mortos do Antigo Egito. (Glossário
Rosacruz, 1ª Ed. 1967, preparada por Ruth Phelps, bibliotecária de pesquisa da
Amorc)
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