Deus é a inteligência suprema
e causa primária de todas as coisas.
É eterno, infinito, imutável,
imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.
Pesquisa publicada pela Revista Veja, edição 1489, de
2.4.1997, revela que noventa e nove entre cada cem brasileiros acreditam em
Deus.
Como os adúlteros, os
estelionatários, os assassinos, os assaltantes, os egoístas, os maledicentes,
os mentirosos, os prepotentes, os violentos, os agressivos, todos os que se
comprometem em deslizes morais, constituem bem mais de um por cento da
população, a conclusão é óbvia:
Essa gente toda é o que é, não
obstante acreditar em Deus.
Espantoso!
Teoricamente, a crença num
poder supremo que nos criou, que nos governa, que nos vê, que julga nossas
ações, impondo- -nos penas ou recompensas, é o grande instrumento para disciplinar
o comportamento humano.
Essa contradição não é
novidade.
Já em sua Epístola Universal
(2:19) o apóstolo Tiago diz que o diabo (o Espírito mau) também crê em
Deus, e até treme! Nem por isso deixa de fazer diabruras.
Fácil entender.
A presença de Deus é algo
muito vago para o homem comum, às voltas com seus problemas e interesses.
A própria inexorabilidade da
Justiça Divina, não obstante enfatizada pelas religiões, não o impressiona,
suficientemente, a ponto de conter seus impulsos desajustados.
Situa-se como o motorista que
conhece o código de trânsito, sabe que há multas pesadas para os infratores,
porém não se sensibiliza.
A fiscalização é precária,
distante...
***
Pior tem acontecido ao longo
da História.
Gente esperta, que diz
acreditar em Deus, serve-se dele para satisfazer suas ambições e desejos.
Em seu nome, guerreiros e
religiosos vêm produzindo estragos imensos.
Já no tempo de Moisés, em
nome de Deus, os judeus passavam a fio de espada, em terra inimiga, tudo o
que tivesse fôlego — homens e mulheres, velhos e moços, aves e animais...
Durante a Idade Média, em
nome de Deus, inquisidores mandavam para a fogueira pessoas que se atreviam
a contestar seus interesses.
Nas Cruzadas, em nome de
Deus, os cristãos da Europa dizimaram populações imensas, com a “piedosa”
intenção de libertar o solo sagrado da Palestina.
Ainda hoje, em nome de
Deus, fanáticos promovem banhos de sangue em várias regiões do mundo.
Devemos isso às concepções
antropomórficas desenvolvidas pelas religiões — um Deus à imagem e semelhança
do homem, como um soberano celeste a governar o Universo, com as mesmas
paixões e limitações que nos caracterizam.
Um Deus tão passional e
impotente que, em determinado momento, como está na Bíblia,
arrependeu-se de nos ter criado e até pensou em acabar com a raça humana.
Por isso as pessoas acreditam
em Deus — isso é intrínseco, o sentimento do filho que intuitivamente admite a
existência do pai que o gerou — mas não conseguem viver como seus filhos.
Falta-lhes esclarecimento e
motivação, ausentes nas fantasias que lhes são oferecidas.
***
A Doutrina Espírita propõe
uma visão diferente.
Deus não é o soberano
celeste, distante, inacessível, que tem preferências, insensível às dores
humanas.
Deus é o cérebro criador, a
inteligência cósmica que edificou o Universo e sustenta a vida.
O livro Gênesis, na Bíblia,
revela que fomos criados à sua imagem e semelhança.
Simbolicamente está perfeito.
O que identifica nossa
filiação é o poder criador, presente em nossas iniciativas, a se manifestar em
nossas ações.
Somos, por isso, senhores de
nosso destino, mas submetidos a Leis Divinas que determinam colhamos todo o bem
que semeamos, tanto quanto o mal se voltará contra nós se o exercitarmos.
Isso ocorre inexoravelmente,
não num futuro distante, remoto, na vida espiritual, em etéreo tribunal...
O julgamento é instantâneo e
permanente.
Somos julgados por nossos
sentimentos, pensamentos e ações a cada momento, incessantemente,
experimentando, inelutavelmente, a felicidade ou a infelicidade, a
euforia ou a depressão, a alegria ou a tristeza, de conformidade com nossas
motivações.
É fácil constatar isso.
Experimentemos cultivar,
durante todo um dia, apenas pensamentos bons, sentimentos nobres, ações
edificantes...
Por 24 horas proponhamo-nos
superar os interesses imediatistas, a ajudar o necessitado, a colaborar com o
colega de trabalho, a respeitar as pessoas, a não falar mal de ninguém, a
perdoar as ofensas...
Durante 1.440 minutos,
comportemo-nos como filhos de Deus, o Pai de infinito amor e misericórdia que,
como ensina Jesus, faz nascer o Sol para bons e maus, e descer a chuva sobre
justos e injustos...
Passemos todo um dia dessa
forma e, à noite, quando encostarmos a cabeça no travesseiro, experimentaremos
abençoada tranquilidade e dormiremos o sono dos justos.
Será tão gratificante que
desejaremos viver assim todos os dias!
***
Nos comentários à questão
treze, em O Livro
dos Espíritos, Allan Kardec explica por que Deus é eterno, infinito,
imutável, imaterial, único, onipotente e soberanamente justo e bom.
A maior dificuldade está em
entender como o Criador pode ser justo e bom se há tanta injustiça e
maldade no mundo.
Como pode permitir que
crianças morram de fome?
Que ditadores oprimam
populações imensas?
Que ricos mercadores explorem
seus subordinados?
Que bandidos aterrorizem as
pessoas?
Que torturadores façam tantas
vítimas?
Ante essas dúvidas, muitos se
desesperam e perdem a fé, principalmente ao enfrentarem tragédias pessoais, que
envolvam a morte de familiares, a doença, a perda dos bens materiais, a
privação da liberdade...
Onde está esse Senhor Supremo
que não os atende?!
Que pai é esse que não
satisfaz suas necessidades nem resolve seus problemas?!
Sentem-se entregues à própria
sorte!
Se Deus existe, reclamam, não
está nem um pouco preocupado com seus filhos que lutam e choram no mundo.
Aqui, amigo leitor, nenhuma
doutrina filosófica ou religiosa nos satisfará, se não considerarmos nossa
condição de seres em evolução, transitando pela Terra.
Passamos por múltiplas
experiências reencarnatórias. Colhemos em cada uma delas o que semeamos nas
anteriores, crescendo espiritualmente, desenvolvendo potencialidades, rumo à
angelitude, como a pedra bruta submetida ao buril que a transformará num
diamante.
A partir dessas noções
começamos a entender que Deus semeou em nosso coração algo de sua grandeza — a justiça
e a bondade, que devemos desenvolver por iniciativa própria, valorizando
nossas aquisições.
Jamais seremos felizes enquanto
não o fizermos.
Trecho
extraído do livro “Espiritismo, uma nova era”, de Richard Simonetti, , editado
pele Federação Espírita Brasileira (FEB), que pode ser adquirido pela Loja
Virtual da entidade, acessando: http://www.feblivraria.com.br/cgi-bin/loja.pl
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