sábado, 11 de agosto de 2012

VISÃO DIFERENTE - Richard Simonetti




Deus é a inteligência suprema e causa primária de todas as coisas.
É eterno, infinito, imutável, imaterial, único, oni­potente, soberanamente justo e bom.

Pesquisa publicada pela Revista Veja, edição 1489, de 2.4.1997, revela que noventa e nove entre cada cem brasileiros acreditam em Deus.

Como os adúlteros, os estelionatários, os assassinos, os as­saltantes, os egoístas, os maledicentes, os mentirosos, os prepo­tentes, os violentos, os agressivos, todos os que se comprometem em deslizes morais, constituem bem mais de um por cento da população, a conclusão é óbvia:

Essa gente toda é o que é, não obstante acreditar em Deus.

Espantoso!

Teoricamente, a crença num poder supremo que nos criou, que nos governa, que nos vê, que julga nossas ações, impondo- -nos penas ou recompensas, é o grande instrumento para disci­plinar o comportamento humano.

Essa contradição não é novidade.

Já em sua Epístola Universal (2:19) o apóstolo Tiago diz que o diabo (o Espírito mau) também crê em Deus, e até treme! Nem por isso deixa de fazer diabruras.

Fácil entender.

A presença de Deus é algo muito vago para o homem co­mum, às voltas com seus problemas e interesses.

A própria inexorabilidade da Justiça Divina, não obstante enfatizada pelas religiões, não o impressiona, suficientemente, a ponto de conter seus impulsos desajustados.

Situa-se como o motorista que conhece o código de trân­sito, sabe que há multas pesadas para os infratores, porém não se sensibiliza.

A fiscalização é precária, distante...


***

Pior tem acontecido ao longo da História.

Gente esperta, que diz acreditar em Deus, serve-se dele para satisfazer suas ambições e desejos.

Em seu nome, guerreiros e religiosos vêm produzindo es­tragos imensos.

Já no tempo de Moisés, em nome de Deus, os judeus passa­vam a fio de espada, em terra inimiga, tudo o que tivesse fôlego — homens e mulheres, velhos e moços, aves e animais...

Durante a Idade Média, em nome de Deus, inquisidores mandavam para a fogueira pessoas que se atreviam a contestar seus interesses.

Nas Cruzadas, em nome de Deus, os cristãos da Europa di­zimaram populações imensas, com a “piedosa” intenção de liber­tar o solo sagrado da Palestina.

Ainda hoje, em nome de Deus, fanáticos promovem banhos de sangue em várias regiões do mundo.

Devemos isso às concepções antropomórficas desenvolvi­das pelas religiões — um Deus à imagem e semelhança do ho­mem, como um soberano celeste a governar o Universo, com as mesmas paixões e limitações que nos caracterizam.

Um Deus tão passional e impotente que, em determinado momento, como está na Bíblia, arrependeu-se de nos ter criado e até pensou em acabar com a raça humana.

Por isso as pessoas acreditam em Deus — isso é intrínseco, o sentimento do filho que intuitivamente admite a existência do pai que o gerou — mas não conseguem viver como seus filhos.

Falta-lhes esclarecimento e motivação, ausentes nas fanta­sias que lhes são oferecidas.

***

A Doutrina Espírita propõe uma visão diferente.

Deus não é o soberano celeste, distante, inacessível, que tem preferências, insensível às dores humanas.

Deus é o cérebro criador, a inteligência cósmica que edifi­cou o Universo e sustenta a vida.

O livro Gênesis, na Bíblia, revela que fomos criados à sua imagem e semelhança.

Simbolicamente está perfeito.

O que identifica nossa filiação é o poder criador, presente em nossas iniciativas, a se manifestar em nossas ações.

Somos, por isso, senhores de nosso destino, mas submetidos a Leis Divinas que determinam colhamos todo o bem que semea­mos, tanto quanto o mal se voltará contra nós se o exercitarmos.

Isso ocorre inexoravelmente, não num futuro distante, re­moto, na vida espiritual, em etéreo tribunal...

O julgamento é instantâneo e permanente.

Somos julgados por nossos sentimentos, pensamentos e ações a cada momento, incessantemente, experimentando, inelu­tavelmente, a felicidade ou a infelicidade, a euforia ou a depressão, a alegria ou a tristeza, de conformidade com nossas motivações.

É fácil constatar isso.

Experimentemos cultivar, durante todo um dia, apenas pensamentos bons, sentimentos nobres, ações edificantes...

Por 24 horas proponhamo-nos superar os interesses imediatistas, a ajudar o necessitado, a colaborar com o colega de trabalho, a respeitar as pessoas, a não falar mal de ninguém, a perdoar as ofensas...

Durante 1.440 minutos, comportemo-nos como filhos de Deus, o Pai de infinito amor e misericórdia que, como ensina Jesus, faz nascer o Sol para bons e maus, e descer a chuva sobre justos e injustos...

Passemos todo um dia dessa forma e, à noite, quando en­costarmos a cabeça no travesseiro, experimentaremos abençoada tranquilidade e dormiremos o sono dos justos.
Será tão gratificante que desejaremos viver assim todos os dias!

***

Nos comentários à questão treze, em O Livro dos Espíri­tos, Allan Kardec explica por que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente e soberanamente justo e bom.

A maior dificuldade está em entender como o Criador pode ser justo e bom se há tanta injustiça e maldade no mundo.

Como pode permitir que crianças morram de fome?

Que ditadores oprimam populações imensas?

Que ricos mercadores explorem seus subordinados?

Que bandidos aterrorizem as pessoas?

Que torturadores façam tantas vítimas?

Ante essas dúvidas, muitos se desesperam e perdem a fé, principalmente ao enfrentarem tragédias pessoais, que envolvam a morte de familiares, a doença, a perda dos bens materiais, a privação da liberdade...

Onde está esse Senhor Supremo que não os atende?!

Que pai é esse que não satisfaz suas necessidades nem re­solve seus problemas?!
Sentem-se entregues à própria sorte!

Se Deus existe, reclamam, não está nem um pouco preocu­pado com seus filhos que lutam e choram no mundo.

Aqui, amigo leitor, nenhuma doutrina filosófica ou religio­sa nos satisfará, se não considerarmos nossa condição de seres em evolução, transitando pela Terra.

Passamos por múltiplas experiências reencarnatórias. Co­lhemos em cada uma delas o que semeamos nas anteriores, cres­cendo espiritualmente, desenvolvendo potencialidades, rumo à angelitude, como a pedra bruta submetida ao buril que a trans­formará num diamante.

A partir dessas noções começamos a entender que Deus semeou em nosso coração algo de sua grandeza — a justiça e a bondade, que devemos desenvolver por iniciativa própria, valori­zando nossas aquisições.

Jamais seremos felizes enquanto não o fizermos.


Trecho extraído do livro “Espiritismo, uma nova era”, de Richard Simonetti, , editado pele Federação Espírita Brasileira (FEB), que pode ser adquirido pela Loja Virtual da entidade, acessando: http://www.feblivraria.com.br/cgi-bin/loja.pl

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